Com o auxílio de algumas prováveis
noções que sobre o destino do ser adquirimos, podemos elevar-nos à pesquisa de
algumas das grandes leis do Universo. Vimos que a evolução é o grande princípio
da lei universal. Todas as leis que a regem parecem reduzir-se a três
essenciais: a lei do esforço, a lei da solidariedade, a lei do progresso.
1-
A lei do esforço – Segundo essa lei,
todo ser chegado a um rudimento de sensibilidade e de consciência deve
contribuir ativamente para o progresso evolutivo. Seu desenvolvimento pede
esforços perpétuos inumeráveis, os quais constituem o próprio mérito desse
desenvolvimento.
A filosofia naturalista por vezes
torceu, numa certa medida, o sentido geral dessa lei, reduzindo-a, toda ela, à
luta pela vida. Em realidade, a luta pela vida não passa de um modo especial da
lei de esforço, de outro modo vasta e
geral. Quanto ao resto, os naturalistas modernos de mais a mais se põem de
acordo, no sentido de dar à seleção natural não o papel primordial e
indispensável na evolução, mas um simples desempenho favorecedor dessa
evolução. De um mundo a outro, a lei do
esforço é a causa das grandes diferenças de pormenores e, num mesmo mundo,
responde por inumeráveis discrepâncias ali verificadas quanto à forma. É ela –
a lei do esforço – o fator essencial
das numerosas e consideráveis desigualdades das partes evolucionárias. Resulta
ela na ativação da evolução, criando as variedades e desigualdades.
2- Lei de solidariedade – Por si, não é nem menos importante nem
menos evidente que a lei de esforço,
implicando na solidária evolução de todas as partes constituintes de um
universo. Essas partes – as mais diversas, como as mais afastadas – só podem
evolver umas com as outras e umas pelas outras.
Os efeitos dessa lei podem ser
observados por tudo e em tudo: entre os mundos de um mesmo sistema (e também,
provavelmente, entre os sistemas vizinhos), fixados em volta de um ou de muitos
astros centrais, e solidários pela atração, bem como por certos fenômenos
magnéticos ou elétricos etc.; entre as porções constituintes de um mesmo mundo,
forçosamente solidários material, intelectual e moralmente; entre os minerais,
os vegetais e os animais, inseparáveis uns dos outros, apesar do grau diferente
de evolução, pelo só fato das necessidades orgânicas e funcionais. Entre as
porções constituintes de um ser organizado. Com efeito, é sabido que, na
realidade, um ser é constituído por um agregado de seres elementares e
solidários no conjunto.
Há, além disso, no ser, matéria, força e
inteligência, ou seja – na hipótese de se admitirem as teorias monistas –
aparências diversas do princípio único, mas sempre inseparáveis e solidárias no
seu progresso.
Agora se compreende o propósito e a
necessidade das encarnações, da associação da alma e do corpo. Ambos não podem
evoluir senão correlativa e simultaneamente.
A lei
de solidariedade subdivide-se em leis secundárias:
a.
Lei de
atração entre os mundos e os átomos;
b. Lei de
afinidade ou de simpatia, pela qual a solidariedade entre as partes
evolucionárias é tão mais ativa e potente quanto mais aproximadas, por sua fase
e seu nível e evolução, o forem essas partes.
Assim, a inteligência é solidária da
força, sobretudo, e a força, da matéria, o que faz com que esta seja o intermediário
necessário para a ação daquela sobre a matéria. Existe, graças a essa divisão
da lei de solidariedade, gradação de
solidariedade do animal ao homem; do selvagem ao homem civilizado; deste ao
compatriota, aos parentes etc. Tal é a lei
de solidariedade plena. E ela apresenta uma consequência capital: atenua os
deploráveis efeitos da luta pela vida e restabelece, no conjunto, a igualdade
nos pormenores, destruída pela lei do
esforço.
A solidariedade não é um simples
princípio de moral, mas uma necessidade absoluta, a mola real, a engrenagem
essencial da evolução.
É por não haver, às claras, colocado a lei de solidariedade ao lado da luta
pela vida que o transformismo pode, tão frequentemente, ser mal interpretado; e
foi por isso que ele provocou o estonteante julgamento de uma certa escola: “a
natureza é imortal”!
Vimos como as noções novas sobre o
destino individual fazem antecipadamente surgir a lei de solidariedade, colocando-a no primeiro plano, na evolução
progressiva da natureza e dos seres. Todo ser adiantado possui a consciência,
ou ao menos a intuição dessa grande lei: “Aquele é o melhor – diz Guyau –, o
que mais consciência tem de sua solidariedade com os outros seres e com o
todo”.
3 - Lei de desenvolvimento
indefinido – Essa lei só pode ser admitida com um caráter de probabilidade
e não de certeza.
Parece, de fato, que necessariamente ela
resulta das noções que sobre o destino dos mundos e dos seres acabamos de
expor. Não se concebe uma possível regressão geral, nem o estancar do processo
evolutivo.
Se verdadeira é essa lei, o mundo
inteiro deve evoluir, quaisquer que sejam as condições físicas ou químicas
exteriores, se bem que sempre conforme a essas condições. O mundo inteiro deve
originar manifestações vitais e intelectuais.
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