Destituída de finalidade seria a
vida que se diluísse na tumba, como efeito do fenômeno da morte. Diante de
todas as transformações que se operam nos campos da realidade objetiva, como
das alterações que se processam na área da energia, seria utópico pensar-se que
a fatalidade do existir é o aniquilamento. Embora as disjunções moleculares e
as modificações na forma, tudo se apresenta em contínuo vir a ser, num
intérmino desintegrar-se — reintegrando-se —que oferece, à Vida, um sentido de eternidade,
além e antes do tempo, conforme as limitadas dimensões que lhe conferimos.
Nesse sentido, especificamente,
o complexo humano apresenta-se através de faixas de movimentação instável, qual
ocorre com o corpo; em mecanismos de sutilização, o perispírito; e de
aprimoramento, quando se trata do Espírito, este último, aliás,
inquestionavelmente imortal.
A aquisição da consciência é o
resultado de um processo incessante, através do qual o psiquismo se agiganta desde o sono,
na força aglutinadora das moléculas, no mineral; à sensibilidade, no vegetal; ao instinto,
no animal; e à inteligência, à razão, no homem. Nesta jornada
automática, funcionam as inapeláveis Leis da Evolução, em a Natureza,
defluentes da Criação.
Chegando ao patamar humano, esse
psiquismo, de início rudimentarmente pensante, atravessa inúmeras experiências
pessoais, que o tornam herdeiro de si mesmo, em um encadeamento de
aprendizagens pelo mergulho no corpo e abandono dele, toda vez que se rompam os
liames que retêm a individualidade.
Este processo de renascimentos,
que os gregos denominavam de palingenésico, constitui um avançado sistema de
crescimento intelecto-moral, fomentador da felicidade.
Graças a ele, a existência
humana se reveste de dignidade e de relevantes objetivos que não podem ser
interrompidos. Toda vez que surge um impedimento, que se opera um transtorno ou
sucede uma aparente cessação, a oportunidade ressurge e o recomeço se
estabelece, facultando ao aprendiz o crescimento que parecia terminado.
Face a este mecanismo, os
fenômenos psicológicos apresentam-se em encadeamentos naturais, e elucidam-se
inumeráveis patologias psíquicas e físicas, distúrbios de comportamento,
diferenças emocionais, intelectuais e variados acontecimentos, nas áreas
sociológica, econômica, antropológica, ética etc.
O processamento da aquisição
intelectual faz-se ao largo das experiências de aprendizagem, mediante as quais
o Eu consciente adiciona conteúdos culturais, ao mesmo tempo que desenvolve as
aptidões jacentes, para as diversas categorias da técnica, da arte, da ética,
num incessante aprimoramento de valores.
A anterioridade do Espírito ao
corpo, brinda-lhe maior soma de conhecimentos do que os apresentados pelos
principiantes no desiderato físico.
A genialidade de que uns
indivíduos são portadores, em detrimento dos limites que se fazem presentes em
outros seres do mesmo gene, demonstra que os psiquismos aí expressos diferem em
capacidade e lucidez.
Embora herdeiro dos caracteres
da raça — aparência, morfologia, cabelos, olhos, etc. —, os valores
psicológicos, intelecto-morais não são transmissíveis pelos genes e
cromossomos, antes, são atributos da individualidade eterna, que transfere de
uma para outra existência corporal o somatório das suas conquistas salutares ou
perturbadoras.
Não há como negar-se a
influência genética na evolução do ser, os impositivos do meio, dos costumes e
dos hábitos, entretanto, impende observar que o corpo reproduz o corpo, não a
mente, a consciência, que só o Espírito exterioriza.
A introdução do conceito reencarnacionista
na Psicologia dá-lhe dimensão invulgar, esclarecimento das dificuldades na
argumentação em torno do Inconsciente, dos arquétipos, individual e coletivo,
estudando o homem em toda a sua complexidade profunda e, mediante a
identificação do seu passado, facultando-lhe o descobrimento e utilização das
suas possibilidades, do seu vir-a-ser.
Nos alicerces do Inconsciente
profundo encontram-se os extratos das memórias pretéritas, ditando comportamentos atuais, que somente uma análise regressiva
consegue detectar, eliminando os conteúdos perturbadores, que respondem por
várias alienações mentais.
No capítulo dos impulsos e
compulsões psicológicas, o passado espiritual exerce uma predominância
irrefreável, que leva aos grandes rasgos do devotamento e da abnegação, quanto
à delinquência, à agressividade, à multiplicidade de personificações
parasitárias, mesmo excluindo-se a hipótese das obsessões.
Na imensa panorâmica dos
distúrbios mentais, especialmente nas esquizofrenias, destacam-se as
interferências constritoras dos desencarnados que se estribam nas leis da cobrança pessoal, certamente
injustificáveis, para desforçar-se dos sofrimentos que lhes foram anteriormente
infligidos, em outras existências, pelas vítimas atuais.
Diante das ocorrências do déjà-vu, os remanescentes
reencarnacionistas estabelecem parâmetros sutis de lembranças que retornam à
consciência atual como lampejos e clichês de evocações, ressumando dos
conteúdos da inconsciência — ou da memória extracerebral, do perispírito —
oferecendo possibilidades de identificação de pessoas, acontecimentos, lugares
e narrativas já vividos, já conhecidos, antes experimentados... Desfilam,
então, os fenômenos psicológicos das simpatias
e das antipatias, dos amores
alucinantes e dos ódios devoradores, que ressurgem dos arquivos da memória
anterior ante o estímulo externo de qualquer natureza, que os desencadeiam,
tais: um encontro ou reencontro; uma associação de ideias — a atual revelando a
passada — uma dissensão ou um diálogo; qualquer elemento que constitua ponte de
ligação entre o hoje e o ontem.
Excetuando-se os conflitos que
têm sua psicogênese na vida atual, a expressiva maioria deles procede das
jornadas infelizes do ser eterno, herdeiro de si mesmo, que transfere as
fobias, insatisfações, consciência de culpa, complexos, dramas pessoais, de uma
para outra reencarnação através de automatismos psicológicos, responsáveis pelo
equilíbrio das Leis que governam a Vida.
Diante de tais acontecimentos,
considerando-se os fenômenos místicos, as ocorrências paranormais, os êxtases
naturais e os provocados, aos quais a Psicologia organicista dava gêneses
patológicas, nasceu, mais ou menos recentemente, a denominada quarta força em Psicologia — sucedendo
(ou completando) o Behaviorismo, a Psicanálise e a Psicologia Humanista —, que
é a Escola Transpessoal. Entretanto, já no começo do século, Burcke, desejando
enquadrar em uma só denominação estes e outros eventos psicológicos, cunhou o
conceito de consciência cósmica, a
fim de os situar em um só capítulo, tornando-se, de alguma forma, pioneiro, na
área da Psicologia Transpessoal, que abrange, entre outras, as percepções extrassensoriais,
além da área da consciência.
Nesta conceituação, a morte é
fenômeno biológico a transferir o ser de uma para outra realidade, sem
consumpção da vida.
O ser humano, diante da visão
nova e transpessoal, deixa de ser a
massa, apenas celular, para tornar-se um complexo com predominância do
princípio eterno. A decisiva contribuição dos seus pioneiros, entre os quais,
Maslow, Assagioli — com a sua Psicossíntese —, Sutich, Wilber, Grof e outros,
oferece excelentes recursos para a psicoterapia, liberando a maioria dos
pacientes dos seus conflitos e problemas que desestruturam a personalidade.
Neste admirável amálgama da
integração dos mais importantes Insights
das Doutrinas psicológicas do Ocidente com as Tradições Esotéricas do Oriente,
agiganta-se o Espiritismo, pioneiro de uma Psicologia Espiritualista dedicada
ao conhecimento do homem integral, na sua valiosa complexidade — Espírito, perispírito
e matéria — ampliando os horizontes da vida orgânica, a se desdobrarem além do
túmulo e antes do corpo, com infinitas possibilidades de progresso, no rumo da
perfeição.
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