sexta-feira, 31 de julho de 2015

As crianças da Nova Era[1]






JOSÉ LUCAS
Óbidos, Portugal

Allan Kardec, o sábio francês que compilou os ensinamentos dos Espíritos, em cinco livros, aparecendo assim a Doutrina dos Espíritos, Doutrina Espírita ou Espiritismo, faz referência num desses livros, em “A Gênese”, às crianças da Nova Era que viriam para a Terra, na mudança por que estamos a passar. Como lidar com estas crianças?
As escolas não sabem como lidar com as crianças, os professores desesperam, os pais atingem o limite mental, os consultórios de psicologia e psiquiatria enchem-se.
A queixa é comum e rotineira: “Já não sei como lidar com a minha filha, o meu filho Os professores queixam-se do mesmo e “fazem das tripas coração” para conseguir a atenção das crianças e jovens de hoje”.
Em última análise, medicam-se as crianças com ritalina ou outros medicamentos que, “drogando” as crianças, acabam por ser um sossego para pais, educadores e professores. Este erro crasso pode ser fatal para estas crianças.
Todo o desassossego vigente tem a ver com a fase de transição por que estamos a passar na Terra, onde, neste 3º milênio, o planeta Terra passará de planeta de expiação e provas (ver O Evangelho segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec) para um planeta de regeneração, mudança esta que se fará com a reencarnação de Espíritos mais evoluídos e comprometidos com a paz, enquanto aqueles que agora fomentam guerras e ódios serão transferidos para outros planetas mais condizentes com o seu estado mental.
Nesta fase de transição, o antigo modelo de educação não funciona, pois estas almas, mais exigentes, precisam de novos paradigmas educativos.
O antigo sistema de educação no lar não funciona, exigindo mais e melhor, por parte dos pais.
Como ajudar estas crianças, muitas delas portadoras de um sexto sentido (mediunidade), quando os pais, médicos e professores não conhecem a doutrina espírita, não entendem o que se passa?
Falando com Raquel Henriques, professora reformada, hoje monitora de um grupo de jovens no Centro de Cultura Espírita, nas Caldas da Rainha, ela se refere assim: “estes grupos de crianças e de jovens, nos centros espíritas, servem para dar uma visão holística à criança e ao jovem, dar bases seguras e firmes para o dia de amanhã, pouco importando que amanhã ela venha a ser espírita ou não”. Raquel Henriques diz mais: que “as crianças de hoje têm sede de noções de espiritualidade, precisam conhecer a reencarnação, a imortalidade e a comunicabilidade dos Espíritos, para perceberem as dissemelhanças existentes na Terra, com lógica, racionalmente, e não de uma forma dogmática, indiscutível”.
Sem o conhecimento do Espiritismo, como entender a lógica da vida, de uma forma justa e equitativa?
José Carlos relata um caso: a sua filha de 8 anos, apaixonada por animais, ao ver um cão morto na estrada (indo de carro na companhia do irmão mais velho 3 anos e da sua mãe), começou a chorar com pena do cão. Como não se conseguisse fazer com que ela se acalmasse, o irmãozinho disparou: “deixa lá, não vês que ele vai voltar a reencarnar? Só morreu o corpo dele, não chores”. E a miúda lá foi enxugando as lágrimas, recordando os conceitos fruídos nas reuniões de crianças espíritas.
Este fato faz-nos pensar na imensa responsabilidade que temos na divulgação do Espiritismo, junto das escolas, dos pais, dos médicos, até que um dia, finalmente, as pessoas, de um modo geral, descubram que afinal são seres eternos, temporariamente num corpo de carne, com a missão de aprender, evoluir intelectual e espiritualmente, em prol de um devir mais feliz, vida após vida, em busca de orbes mais felizes.
“Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sem cessar, tal é a Lei”.
A educação espírita é precioso tesouro que deixaremos nas mãos dos nossos filhos.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Provações abençoadas[1]




Excluindo-se as expiações pungitivas e indispensáveis ao reequilíbrio espiritual, as provações constituem abençoado elenco de experiências iluminativas, graças às quais é possível uma existência digna, avançando no rumo da felicidade.
Normalmente, durante o seu transcurso ocorrem fenômenos de dor e de sombra ajustados ao programa de recuperação moral do ser equivocado ou rebelde.
A dor sempre acerca-se-lhe benfazeja e opera-lhe as transformações interiores que o capacitam a melhor discernir para agir entre o bem e o mal, o correto e o danoso, amadurecendo-o psicologicamente para novos e oportunos empreendimentos libertadores.
O curso existencial é rico de alegrias e de descobrimentos dos tesouros da vida, que proporcionam beleza e motivações múltiplas para os contínuos tentames.
Vez que outra apresentam-se as provações que podem ser consideradas com testes de avaliação do desenvolvimento intelecto-moral, como técnica pedagógica para fixar a aprendizagem, como recurso de promoção para estágio superior.
Bem recebidos esses contributos da evolução, o Espírito enrijece-se nas lutas, adquirindo resistência para os enfrentamentos com as tendências inferiores que periodicamente ressumam do inconsciente, herança poderosa que são do passado, e que necessitam ser liberadas sem qualquer prejuízo.
O hábito, porém, do bem-estar e o natural anelo pelo prazer, assinalam esses momentos de aflição de maneira tão profunda, que passam a ser evocados com maior facilidade do que todo aquele arsenal de alegrias e preciosas conquistas.
Muitos indivíduos desassisados vivem a remoer mentalmente os acontecimentos afligentes, a comentá-los com tanta frequência que dão a impressão de haver sido a sua caminhada uma via crucis sem trégua.
Detêm-se em relatórios amargos dos momentos difíceis, como se fossem anjos perseguidos em sua imácula pureza, num atestado de rebeldia e ingratidão para com o Pai Soberano que os favoreceu com preciosos recursos capazes de anular aqueles pequenos incidentes, aliás, necessários ao processo de auto identificação e de vinculação de segurança com a Vida.
São tantas as concessões de paz e de saúde, de inteligência e de arte, de pensamento e de trabalho, de convivência agradável com as demais pessoas, que praticamente desaparecem as ocorrências que foram penosas enquanto duraram, deixando benefícios incalculáveis.
Essa postura raia, às vezes, à condição patológica de masoquismo, em face do prazer mórbido de privilegiá-las em detrimento das ocorrências felizes e favorecedoras de alegria.
Esse, sem dúvida, é um comportamento injustificável quando se trata de um cristão em particular ou de um espiritista em especial, por conhecerem ambos as razões morais que desencadeiam tais acontecimentos.
Uma atitude lúcida deve oferecer ao indivíduo o sentimento de gratidão pela ocorrência do sofrimento, chegando até mesmo a amá-lo, em razão dos benefícios que proporciona.
A admirável senhora Helen Keler, embora cega, surda e muda, viveu em constante alegria, tomando-se uma semeadora de esperança e de bom humor para milhões de outros seres atormentados nas suas expiações retificadoras, havendo dedicado a existência a encorajar o próximo através de memoráveis discursos e livros formosos.
Louis Braille, igualmente padecendo de cegueira, transformou os seus limites em bênção para os companheiros invidentes, criando o alfabeto para o tato, de resultados surpreendentes, que hoje lhe guarda o nome.
Beethoven, em surdez total, utilizou-se do silêncio profundo para compor as últimas sinfonias da sua existência e, particularmente, a 9ª, a coral, considerada como um verdadeiro coroamento da sua obra.
Vicente Van Gogh atormentado pela esquizofrenia, cuja existência foi um fracasso, conseguiu, no entanto, pintar com esmero e realismo, refletindo o seu estado interior. . .
O Aleijadinho, apesar da injunção perversa da hanseníase, transformou pedras em estátuas deslumbrantes, pintando com maestria e tomando-se um artista incomum. .
Apesar da tuberculose que o consumia, Louis Pasteur prosseguiu nas suas investigações em tomo dos micróbios, oferecendo incalculáveis benefícios à saúde da humanidade. . .
Ninguém atravessa os caminhos humanos isento dos sofrimentos que fazem parte da própria constituição orgânica em face do desgaste a que está sujeita, dos conflitos psicológicos, resultados das vivências passadas, das contaminações que produzem enfermidades, das injunções defluentes da vida na Terra, planeta de provas e de expiações e não paraíso por enquanto. . .
Mulheres e homens valorosos que foram enviados à Terra com limitações e impedimentos quase superlativos, demonstraram a grandeza de que eram portadores, transformando a existência em um hino de alegria, tomando-se missionários do amor e da ciência, da tecnologia, da arte, da fé religiosa, estimulando o progresso e trabalhando em seu beneficio.
Possuidor de mil recursos preciosos, o indivíduo não tem porque queixar-se das dificuldades que o promovem quando enfrentadas com sabedoria e superadas, dando-lhe dignidade e elevação moral.
As provações devem ser abençoadas por aqueles que as experimentam, porque nada acontece que não tenha razões poderosas para a sua ocorrência, e, naquilo que se refere ao sofrimento, é claro que tem ele o papel de educador rigoroso, porém, gentil, indispensável ao crescimento espiritual dos seres humanos.
Reflexiona, quando nas tuas dores, as ocorrências da vida de Jesus, e compreenderás que Ele, sem culpa, lição viva de amor e de abnegação, experimentou agressões e escárnio, apedrejamento e coroa de espinhos, calúnias e perseguições, culminando na cruz da desonra, sem qualquer reclamação. . .
Naturalmente que Ele não padeceu enfermidades, conflitos e ansiedades porque era puro, jamais havendo-se comprometido com o erro e com o crime, o que é diferente dos habitantes do planeta terrestre que procedem das sombras da ignorância e do primarismo, avançando no rumo da luz imarcescível.
Abençoa, pois, as tuas provações, e sê feliz em todos os momentos da tua vida.

Joanna de Ângelis


[1] Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do dia 1º de Junho de 2009, em Zurique, Suíça.

quarta-feira, 29 de julho de 2015

SUÍCIDIO - UMA VISÃO ESPÍRITA[1]




Dar fim à própria vida, abrir mão de todas as possibilidades, por uma possível paz, é o caminho que muitos seguem, de forma consciente ou não; mas, ao invés de se mostrar uma solução, transforma-se num longo caminho de dor, sofrimento e libertação.
Francisco Aranda Gabilan

É impressionante e até mesmo perguntas aterrador que tenhamos que chamar de “atual” o tema relativo ao suicídio, seja voluntário, seja indireto. Mas, lastimavelmente, é atual mesmo: é um mal crescente, atingindo toda humanidade.
Sua ocorrência sempre foi constante, desde o passado remoto e em todos os segmentos sociais e étnicos, até mesmo, crianças. Existem relatos de suicídios, tanto individuais, quanto coletivos, em várias culturas indígenas.
Daí a sua atualidade. Aliás, não é por outra razão que o assunto tem sido objeto de preocupação de antropólogos, sociólogos, médicos, psiquiatras, psicólogos, enfim de todos os ramos de ciência do Ser – e obviamente, dos Espíritas, sempre atentos às chagas da humanidade.
É exemplo disso o número de palestras, debates e artigos que solicitam aos espíritas sobre o assunto, incluindo o número de que sempre surgem sobre o mesmo tema. Vale dizer, numa palavra: se há perguntas, é porque o tema necessita de ampla abordagem.

1. Como os Espíritos e o Espiritismo consideram o suicídio?
R: Usando unicamente os ensinos dos Espíritos constantes da Codificação, o suicídio é tido como um crime aos olhos de Deus (Livro Céu e Inferno, cap. 5), e que importa numa transgressão da Lei Divina (Livro dos Espíritos, pergunta 944) e constitui sempre uma falta de resignação e submissão à vontade do Criador (idem, pergunta 953-a). Desse modo, “jamais o homem tem o direito de dispor da vida, porquanto só a Deus cabe retirá-lo do cativeiro da Terra, quando o julgue oportuno. O suicida é qual o prisioneiro que se evade da prisão, antes de cumprida a pena; quando preso de novo, é mais severamente tratado. O mesmo se dá com o suicida que julga escapar às misérias do presente e mergulha em desgraças maiores” (Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo XXVII, item 71).

2. Por que os Espíritos tratam desse assunto com certa constância?
R: Primeiramente, como já afirmamos, porque ele é tema sempre atual, pois que o suicídio tem sido marca constante de nossa civilização; segundo, que é o mais importante: a doutrina dos Espíritos, tem um caráter consolador absoluto: através do fato mediúnico (no dizer do cultíssimo Herculano Pires, o fato mediúnico é literalmente uma segunda ressurreição) o espírito volta à carne, não a que deixou no túmulo, mas a do médium que lhe oferece, num gesto de amor, a oportunidade de retorno aos corações que deixou no mundo (Livro Mediunidade, capítulo 5), é permitido que os próprios suicidas venham dizer-nos que eles não morreram e afirmam que não só não solucionaram o problema que os levou ao ato extremo, como ainda estão “vivos” e, de quebra, com dois problemas: o antigo e o novo, gerado pela violação das leis da Vida. Assim, o Espiritismo trabalha preventivamente para que as pessoas saibam das responsabilidades em praticar atos que possam agravar sua situação futura e não para condená-las ao martírio eterno.

3. Quais as causas que levam o Ser ao suicídio?
R: A incredulidade, a falta de fé, a dúvida, as ideias materialistas. Em suma, crer que o Nada é o futuro, como se o Nada pudesse oferecer consolação, como se fosse remédio para supostamente abreviar o sofrimento, crença que, na verdade, se constitui em covardia moral.

4. Quais as consequências do suicídio para o Espírito?
R: Em primeiro lugar, é preciso aclarar-se que o suicídio não apaga a falta cometida, mas, ao contrário, em vez de uma haverá duas; em segundo, que o Espírito, quando se dá conta do ato cometido, constata que nada valeu, ficando literalmente desapontado com os efeitos obtidos e que não eram os buscados, pois se certifica que a vida não se extinguiu e que continua mais real que nunca. Terceiro, e que é bastante doloroso, o suicídio agrava todos os sofrimentos: “depois de prolongados suplícios, nas regiões purgatórias, frequentemente, após diversas tentativas frustradas de renascimento, readquirem o corpo de carne, mas transportam neles deficiências do corpo espiritual, cuja harmonia desajustaram. Nessa fase, exibem cérebros retardados ou moléstias nervosas obscuras”, segundo Emmanuel em Leis de Amor, capitulo VI.

5. Então, não há esperança de recuperação para o suicida?
R: Claro que há – total! Deus é Amor e Ele outorga a todas as Criaturas a maior expressão da Sua Bondade Infinita: a possibilidade de os Seres evoluírem sempre, incessantemente; permite que as existências se sucedam ofertando as oportunidades infinitas de reajuste e reforma; e isso é possível através do mais efetivo veiculo da Lei de Evolução: a reencarnação.
Portanto, os familiares do suicida de ontem ou de hoje não se exasperem, ao contrário, mantenham viva a esperança de que é possível a remissão das faltas e que o Pai de Misericórdia propiciará os meios de fazer com que o próprio autor do ato extremo se reconheça Espírito Eterno e indestrutível, e que a calma, a resignação e a fé serão os mais seguros preservativos contra as ideias autodestrutivas. Não será demais que se lhes repita: Deus é Bondade Infinita e, portanto, não permite que Suas Criaturas sofram indefinidamente e que esse sofrimento poderá ser abreviado mais rapidamente mercê de orações sinceras e cheias de amor de todos quantos querem que se restabeleça o Bem.

(Revista Espiritismo e Ciência 11, páginas 06-08)


[1] Entre o Pecado e a Evolução – Francisco Aranda Gabilan

terça-feira, 28 de julho de 2015

Primeiro roubo em 50 anos causa comoção em vilarejo britânico[1]





Canna é uma pequena ilha de apenas 7 km de extensão na Escócia onde vivem cerca de 20 pessoas. Um lugar bastante tranquilo, que foi abalado por um roubo na última semana.
O incidente aconteceu em uma loja gerenciada por voluntários que vendia comidas, produtos de higiene pessoal e outros utensílios. Doces, pilhas e chapéus de lã artesanais foram roubados, e a loja foi revirada pelos ladrões.
Parece pouco, mas o roubo chocou os moradores de Canna, que não viam nada parecido acontecer por ali havia 50 anos.
No Facebook, a Comunidade de Desenvolvimento da Ilha de Canna disse estar "extremamente decepcionada" com o incidente.
A loja ficava destrancada durante a noite para que pescadores pudessem utilizar o wi-fi local e comprar itens de primeira necessidade enquanto descansavam no píer até o dia seguinte. O pagamento era feito na "caixa da honestidade": eles deixavam o dinheiro junto com um bilhete descrevendo o que haviam comprado.
No entanto, após o roubo, os responsáveis pela loja já estão pensando em trancá-la durante as madrugadas.
A polícia escocesa afirmou que quer falar com todas as pessoas que atracaram no píer durante o final de semana.

Raridade
Um porta-voz da polícia local disse que o incidente deve ter acontecido entre 20h da sexta-feira e 8h do sábado.
"Vários itens foram roubados, incluindo os chapéus artesanais de lã, confeitos e produtos de higiene pessoal. Um inquérito foi instaurado e vamos começar a ouvir moradores e outras pessoas que passaram pelo píer entre os dias do incidente."
A última vez que um roubo foi registrado em Canna foi na década de 1960, quando uma placa de madeira esculpida na igreja local foi levada. O caso nunca foi resolvido, e a placa nunca foi encontrada. A polícia escocesa não tem registros computadorizados para confirmar o caso.
Desde então, houve um pequeno incidente em 2008, quando um policial assumiu ter cometido duas agressões e uma "violação de paz" naquele ano. Fora isso, nenhum roubo, assalto ou qualquer coisa parecida aconteceu em Canna até a última semana.
A gerente da loja, Julie McCabe, disse ao jornal Aberdeen Press and Jounal que o incidente provocou comoção na comunidade. "Eu cheguei e percebi que muitas coisas não estavam lá. Todos os doces tinham sumido. Estou chocada, não sei como alguém pode fazer isso com a nossa comunidade", afirmou.
"Estamos pensando em colocar câmeras, mas não queremos fazer isso porque vai contra toda a ideia de honestidade que temos aqui. Quando você vive em uma pequena ilha, você precisa confiar no seu vizinho e em todas as pessoas que circulam ali."
A instituição National Trust for Scotland, responsável pela ilha, também se manifestou sobre a situação. "Sentimos muito por esse incidente na loja de Canna, onde a comunidade se esforça bastante para manter o negócio. Felizmente, incidentes como esse são extremamente raros, e Canna é um lugar muito seguro."

A HONESTIDADE NÃO NECESSITA DE ELOGIOS – É OBRIGAÇÃO HUMANA
Jorge Hessen[2]* comenta

Não experimento qualquer regozijo quando leio as notícias sobre pessoas que são festejadas por atos de honestidade. Isso significa que ser honesto é ser exceção numa maioria desonesta. Despertou-nos a atenção um recente roubo ocorrido em Canna, uma pequena ilha da Escócia. O imprevisto ocorreu em uma loja gerenciada pelos próprios fregueses, que vendia comidas, produtos de higiene pessoal e outros utensílios. Produtos como doces, pilhas e chapéus de lã artesanais foram roubados, sendo a loja revirada pelos ladrões. Parece coisa pequenina para nós brasileiros, mas o roubo assombrou os residentes de Canna, que não viam nada parecido acontecer por ali havia meio século.
A loja permanece aberta em tempo integral e o pagamento da compra dos produtos é feito na “boa fé” ou "caixa da honestidade": os fregueses deixam o dinheiro junto com um bilhete descrevendo o que compraram. Se confrontarmos a realidade do Brasil, seja na educação, na saúde, na ética, na honestidade com outros países sérios, surgem desculpas sempre esfarrapadas quais: o Brasil é “especial”, é a “pátria do Evangelho”(!??...), é continental, tem uma história “mística” etc... A cantilena é incansavelmente repetida.
Não obstante saibamos que o Brasil como território é um paraíso, um lugar formoso; de uma natureza exuberantemente cativante, com rios, cachoeiras, florestas, ilhas e mares de nos fazem suspirar. Mas, inventamos “trocentas” desculpas para nossos déficits e barbáries morais. Em face disso, é urgente uma insurreição moral, entronização do cultivo da honestidade, destruição do status do embuste, o fim da vulgaridade inebriante, notadamente a que tange para a degeneração ética através de permissões para a pilhagem, a falcatrua, a corrupção em todos os covis institucionais do País.
Acredite se puder, mas recentemente decifrei uma “pesquisa” garantindo que os brasileiros, na sua maioria, são “honestos”. Isso mesmo, honestos! Seria cômico se não fosse trágico tal resultado. É risível confiar em tal “pesquisa”! Os questionários abordavam circunstâncias como não devolver o troco recebido a maior, sonegar imposto de renda, estacionar na vaga destinada a idosos e deficientes físicos, apossar-se de canetas, lápis, borrachas, elásticos e envelopes da empresa ou órgão público onde trabalha, ficar com o dinheiro de uma carteira achada na rua, “furar” a fila no embarque do ônibus, exceder o limite de velocidade ou avançar o sinal de trânsito, usar cópia ilegal de softwares de computador, dirigir quando bebeu acima do limite permitido etc, etc, etc, etc, etc...
Tal “pesquisa” realizada no “Coração do mundo”(!?) concluiu que os brasileiros são mais honestos que os europeus submetidos à mesma “pesquisa”. É óbvio que tal “pesquisa” no Brasil não é a radiografia da realidade: os brasileiros, com as justas ressalvas, são capazes de múltiplos atos desonestos. Ora, num país em que ainda impera a chamada “Lei de Gerson” em que o fim é obter vantagem, o meio utilizado não faz diferença. As respostas dos “entrevistados” atestam um fato inquietante que além de desonestos os “entrevistados” são ao mesmo tempo mentirosos.
Impossível negar que a grande maioria dos brasileiros praticam os pequenos atos de desonestidade contidas nas perguntas da “pesquisa”, porém, raros são capazes de admitir que o cometeriam. Diante de tantas evidências, seria justo hastearmos a bandeira de um povo incorruptível?... E como transformar essa conjuntura? É elementar, meu caro Watson!, diria Sherlock Home, é necessário que assumamos a consciência de que não somos sinônimo de reputação “NOTA DEZ”, em seguida, cultivarmos as transformações necessárias em nossa índole comportamental. Desonestidade é, especialmente, desrespeito pelo próximo e todo ato desonesto provoca algum tipo de prejuízo à sociedade.
No país em que o valor máximo da vida pode ser depositado em instituições financeiras, onde o sensualismo e o culto ao corpo físico substituíram os valores do espírito, onde a honestidade é desmoralizada sem piedade pelo indesejável “jeitinho”, continuaremos bem longe da harmonia social. Apesar disso, é preciso confiar no futuro. Importa assumirmos sincera confiança nos homens que vivem nestas plagas abençoadas e no porvir edificarmos os alicerces do edifício do Evangelho de Jesus na Pátria do “Cruzeiro do Sul”.
Tudo no Universo encontra-se em constante metamorfose e aprimoramento, por isso o progresso é uma das finalidades da vida. Na natureza não ocorrem saltos. Algumas etapas devem ser percorridas para ser possível atingir-se a fase subsequente. Tais conquistas não são obras do acaso e nem brotam de um momento para o outro. Todavia, a honestidade é justamente uma das primeiras virtudes a serem conquistadas por quem deseja a paz e a felicidade na sociedade.
Ser honesto implica confirmar fidelidade em todos os aspectos da existência. O homem honesto realiza as tarefas que lhe cabem, com ou sem testemunhas e aplausos, até porque, ao agir honestamente, ninguém faz mais do que a obrigação.


[1] Notícia publicada na BBC Brasil, em 17 de junho de 2015.
[2] Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (dois livros publicados), Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.