quinta-feira, 30 de julho de 2015

Provações abençoadas[1]




Excluindo-se as expiações pungitivas e indispensáveis ao reequilíbrio espiritual, as provações constituem abençoado elenco de experiências iluminativas, graças às quais é possível uma existência digna, avançando no rumo da felicidade.
Normalmente, durante o seu transcurso ocorrem fenômenos de dor e de sombra ajustados ao programa de recuperação moral do ser equivocado ou rebelde.
A dor sempre acerca-se-lhe benfazeja e opera-lhe as transformações interiores que o capacitam a melhor discernir para agir entre o bem e o mal, o correto e o danoso, amadurecendo-o psicologicamente para novos e oportunos empreendimentos libertadores.
O curso existencial é rico de alegrias e de descobrimentos dos tesouros da vida, que proporcionam beleza e motivações múltiplas para os contínuos tentames.
Vez que outra apresentam-se as provações que podem ser consideradas com testes de avaliação do desenvolvimento intelecto-moral, como técnica pedagógica para fixar a aprendizagem, como recurso de promoção para estágio superior.
Bem recebidos esses contributos da evolução, o Espírito enrijece-se nas lutas, adquirindo resistência para os enfrentamentos com as tendências inferiores que periodicamente ressumam do inconsciente, herança poderosa que são do passado, e que necessitam ser liberadas sem qualquer prejuízo.
O hábito, porém, do bem-estar e o natural anelo pelo prazer, assinalam esses momentos de aflição de maneira tão profunda, que passam a ser evocados com maior facilidade do que todo aquele arsenal de alegrias e preciosas conquistas.
Muitos indivíduos desassisados vivem a remoer mentalmente os acontecimentos afligentes, a comentá-los com tanta frequência que dão a impressão de haver sido a sua caminhada uma via crucis sem trégua.
Detêm-se em relatórios amargos dos momentos difíceis, como se fossem anjos perseguidos em sua imácula pureza, num atestado de rebeldia e ingratidão para com o Pai Soberano que os favoreceu com preciosos recursos capazes de anular aqueles pequenos incidentes, aliás, necessários ao processo de auto identificação e de vinculação de segurança com a Vida.
São tantas as concessões de paz e de saúde, de inteligência e de arte, de pensamento e de trabalho, de convivência agradável com as demais pessoas, que praticamente desaparecem as ocorrências que foram penosas enquanto duraram, deixando benefícios incalculáveis.
Essa postura raia, às vezes, à condição patológica de masoquismo, em face do prazer mórbido de privilegiá-las em detrimento das ocorrências felizes e favorecedoras de alegria.
Esse, sem dúvida, é um comportamento injustificável quando se trata de um cristão em particular ou de um espiritista em especial, por conhecerem ambos as razões morais que desencadeiam tais acontecimentos.
Uma atitude lúcida deve oferecer ao indivíduo o sentimento de gratidão pela ocorrência do sofrimento, chegando até mesmo a amá-lo, em razão dos benefícios que proporciona.
A admirável senhora Helen Keler, embora cega, surda e muda, viveu em constante alegria, tomando-se uma semeadora de esperança e de bom humor para milhões de outros seres atormentados nas suas expiações retificadoras, havendo dedicado a existência a encorajar o próximo através de memoráveis discursos e livros formosos.
Louis Braille, igualmente padecendo de cegueira, transformou os seus limites em bênção para os companheiros invidentes, criando o alfabeto para o tato, de resultados surpreendentes, que hoje lhe guarda o nome.
Beethoven, em surdez total, utilizou-se do silêncio profundo para compor as últimas sinfonias da sua existência e, particularmente, a 9ª, a coral, considerada como um verdadeiro coroamento da sua obra.
Vicente Van Gogh atormentado pela esquizofrenia, cuja existência foi um fracasso, conseguiu, no entanto, pintar com esmero e realismo, refletindo o seu estado interior. . .
O Aleijadinho, apesar da injunção perversa da hanseníase, transformou pedras em estátuas deslumbrantes, pintando com maestria e tomando-se um artista incomum. .
Apesar da tuberculose que o consumia, Louis Pasteur prosseguiu nas suas investigações em tomo dos micróbios, oferecendo incalculáveis benefícios à saúde da humanidade. . .
Ninguém atravessa os caminhos humanos isento dos sofrimentos que fazem parte da própria constituição orgânica em face do desgaste a que está sujeita, dos conflitos psicológicos, resultados das vivências passadas, das contaminações que produzem enfermidades, das injunções defluentes da vida na Terra, planeta de provas e de expiações e não paraíso por enquanto. . .
Mulheres e homens valorosos que foram enviados à Terra com limitações e impedimentos quase superlativos, demonstraram a grandeza de que eram portadores, transformando a existência em um hino de alegria, tomando-se missionários do amor e da ciência, da tecnologia, da arte, da fé religiosa, estimulando o progresso e trabalhando em seu beneficio.
Possuidor de mil recursos preciosos, o indivíduo não tem porque queixar-se das dificuldades que o promovem quando enfrentadas com sabedoria e superadas, dando-lhe dignidade e elevação moral.
As provações devem ser abençoadas por aqueles que as experimentam, porque nada acontece que não tenha razões poderosas para a sua ocorrência, e, naquilo que se refere ao sofrimento, é claro que tem ele o papel de educador rigoroso, porém, gentil, indispensável ao crescimento espiritual dos seres humanos.
Reflexiona, quando nas tuas dores, as ocorrências da vida de Jesus, e compreenderás que Ele, sem culpa, lição viva de amor e de abnegação, experimentou agressões e escárnio, apedrejamento e coroa de espinhos, calúnias e perseguições, culminando na cruz da desonra, sem qualquer reclamação. . .
Naturalmente que Ele não padeceu enfermidades, conflitos e ansiedades porque era puro, jamais havendo-se comprometido com o erro e com o crime, o que é diferente dos habitantes do planeta terrestre que procedem das sombras da ignorância e do primarismo, avançando no rumo da luz imarcescível.
Abençoa, pois, as tuas provações, e sê feliz em todos os momentos da tua vida.

Joanna de Ângelis


[1] Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do dia 1º de Junho de 2009, em Zurique, Suíça.

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