sexta-feira, 12 de junho de 2015

Etiologias do transtorno de pânico[1]


LEONARDO MACHADO
leomachadot@gmail.com
Recife, Pernambuco (Brasil)

O transtorno de pânico é uma doença por demais afligente, mas seu prognóstico não é tão desfavorável assim, uma vez que os dados da literatura médica apontam resultados impressionantes e motivadores de recuperações.
 O transtorno de pânico é uma síndrome caracterizada pela ocorrência de ataques de pânico classicamente recorrentes, imprevisíveis e espontâneos. Estes são episódios distintos de medo ou ansiedade que cursam associados a diversos sintomas somáticos, como palpitações e sudorese. Eles se apresentam tão dolorosos para o indivíduo que chegam a levá-lo a ter sensação de morte. A sua etiologia, entretanto, permanece ainda desconhecida para a medicina convencional. 
Nada obstante, estudos com o genoma humano identificaram loci de risco sugestivos em 1q, 7p15, 10q, 11p e 13q. Já o sistema nervoso autônomo, nesta síndrome, ao que se percebe, exibe um tônus simpático aumentado (este é um sistema de “alerta” que gera variadas modificações no corpo), adapta-se mais lentamente a estímulos repetidos (o interessante é conseguir adaptar-se mais rapidamente ao meio) e responde excessivamente a estímulos moderados (o ideal seria ter o equilíbrio). Isto implica dizer que, certamente, estes pacientes têm uma sensibilidade exacerbada aos sintomas somáticos, e isto desencadeia um estado de vigilância crescente que precipita os ataques. Sabe-se, também, que o tronco cerebral (composto pelo mesencéfalo, pelo bulbo e pela ponte), o sistema límbico e o córtex pré-frontal são as partes mais importantes, na abrangência do sistema nervoso central, na gênese de pânico. Neuroendocrinamente falando, pode-se ver que, além de outras anormalidades, pelo menos três sistemas neurotransmissores estão envolvidos: a noradrenalina, a serotonina e o ácido gama-aminobutírico (GABA). Recentemente, através de pesquisas com imagens cerebrais, como a tomografia por emissão de pósitrons, percebe-se que os ataques de pânico estão associados a uma vasoconstrição cerebral.
Até aqui, porém, só se evidenciaram etiologias somáticas. No entanto, estas causas podem ser chamadas, como costumo fazer, de causas-consequência, de causas-instrumento ou de causas-meio, já que não logram equacionar o problema fundamental do início, sempre explicando os porquês a partir do momento em que se iniciaram os fenômenos. Imperioso, portanto, levar em conta os fatores psicossociais. 
O medo é uma das principais forças motivadoras da conduta humana, porque é ele um fator de preservação da vida.
Observando-se, assim, as teorias cognitivo-comportamentais, ver-se-á que, segundo o condicionamento clássico, um estímulo nocivo que ocorre com um estímulo neutro pode resultar na evitação do segundo. Estas teorias, contudo, apesar de serem boas para explicar a severidade dos ataques de pânico, não conseguem satisfazer, como também não o fazem as etiologias mais biológicas supracitadas, a seguinte indagação: por que existe o primeiro ataque de pânico? 
Desse modo, necessário se faz entender as etiologias psicológicas específicas. Nesta perspectiva, pois, o medo e a ansiedade são as figuras principais na etiologia. E, apesar de serem bastante similares, eles possuem singularidades que os distinguem.    
O medo é uma das principais forças motivadoras da conduta humana. Isso porque ele é um fator de preservação da vida, de defesa e de proteção, que advém do aumento do instinto de autodefesa, de conservação. Assim, quando bem dirigido, ele se transforma em prudência e em equilíbrio, ajudando nas tomadas de decisão, ao menos no início da jornada evolutiva. Quando, porém, desmedido, avulta em expressões psicopatológicas em forma, por exemplo, de distúrbio de pânico.
A ansiedade, por sua vez, apesar de ter a sua definição bastante difícil de ser feita, mesmo por questões etimológicas, é um estado emocional desprazeroso caracterizado por sentimentos de antevisão desagradável de um perigo iminente. Não se sabe, no entanto, o porquê. Antes, é um estado de angústia geral, de antecipação do sofrimento, que carece de motivo óbvio. 
Afora estas duas forças, uma outra entidade merece destaque, a culpa. Isso porque esta, certamente, está intimamente ligada à gênese daquelas. A culpa geraria o medo, por diversos processos, e estes, quando jogados ao inconsciente profundo, poderiam fazer surgir a ansiedade, no momento em que aparecessem manifestações corpóreas. 
É no Espírito imortal que, segundo o Espiritismo, se encontra a origem de todo processo aflitivo, especialmente nas psicopatologias.
Esta tríade, culpa-medo-ansiedade, pode ter sua origem na infância, como, aliás, assinalou Sigmund Freud, através de processos educativos equivocados, por exemplo, que incutem medo, por base na educação ameaçadora ou baseada nas trocas e nas recompensas; ou que geram projeções por parte dos pais nos filhos, por base no educar a criança como se esta fosse uma continuação dos genitores, formando nesta culpas caso não se faça o esperado. Outrossim, pode-se originar por perdas neste período, quer sejam físicas, especialmente pela morte dos pais; geográficas, mormente pelos divórcios; ou sentimentais, quando os pais privam os rebentos de suas companhias, fazendo, no entanto, comércio emocional com os presentes comprados com o dinheiro que ganham às custas da falta de convívio familiar. E, em indivíduos emocionalmente mais frágeis, a própria condição vulnerável do planeta Terra que está sujeito a tantos abalos naturais, associada às notícias-lixo da mídia que exaltam o esdrúxulo e o grotesco, podem lograr gerar estes estados descontrolados, e, por isso mesmo, psicopatológicos.  
A este ponto, contudo, necessário se faz uma reflexão sobre a natureza humana essencial, e, assim, imperioso é reformular os conceitos trazidos pelos compêndios que se destinam ao estudo da psique, acrescentando neles as palavras espírito e perispírito. Quando isto acontecer, inúmeros problemas insolúveis lograrão obter soluções. Uma vez que é no Espírito imortal que se encontra a origem de todo processo aflitivo, especialmente nas psicopatologias. Valioso, portanto, é lembrar as palavras do eminente Allan Kardec: “tomando em consideração apenas o elemento material ponderável, a Medicina, na apreciação dos fatos, se priva de uma causa incessante de ação. No conhecimento do perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis” (*). 
Dessa maneira, admitida a existência do espírito e do envoltório etéreo que o reveste, chega-se, facilmente, à dedução da realidade reencarnatória do mesmo. A este ponto, consegue-se entender que aquela tríade (culpa-medo-ansiedade), igualmente, pode ter a sua origem nas tramas espirituais, já que o distúrbio do pânico se encontra enraizado no ser que desconsiderou as Leis de Deus, e, porque estas estão grafadas na consciência do indivíduo, mesmo que a justiça humana não consiga observar o delito, o próprio infrator o guarda em suas teias psíquicas. 
A soma de processos educativos e vivências equivocados em diversas reencarnações contribui para o aparecimento do pânico.
Desse modo, porque ficou impune, em vidas translatas, reencarna-se, atendendo a uma necessidade íntima de se livrar da culpa, com uma predisposição fisiológica, imprimindo nos genes a necessidade da reparação dos delitos. Esta culpa, mesmo que não identificável no presente com uma causa óbvia, gera terrível angústia que faz o indivíduo ter uma tendência de autopunição, como recurso frustrante de se livrar dela. Além disso, origina o medo de ser identificado. E este medo sendo bombardeado, na tentativa de ser esquecido, para o inconsciente profundo gera a ansiedade motivadora das manifestações somáticas. Além disso, a própria soma de processos educativos e vivências equivocados em diversas reencarnações contribui para o aparecimento do pânico. 
Semelhante estado, a seu turno, abre as barreiras psíquicas do indivíduo às intervenções de Espíritos desencarnados. Instalada a obsessão, portanto, a vítima passa a ser bombardeada, através de um intercâmbio parasitário, com clichês de aterrorizantes imagens que se vão fixando, até se tornarem vivas e ameaçadoras. Estas imagens, por sua vez, podem ser obtidas, pelas entidades espirituais, dos refolhos do inconsciente do indivíduo infrator, quando este se enquadra no parágrafo anterior, ou mesmo não ter relação profunda com os erros do pretérito, sendo criações dos obsessores e aceitações dos obsidiados; outrossim, uma mescla destas situações.
Dessa maneira, sem sombra de dúvidas, como se pode observar, o transtorno de pânico é uma doença por demais afligente. Mas, felizmente, o seu prognóstico não é tão desfavorável assim. Os dados da literatura médica apontam resultados impressionantes e motivadores de recuperações. E, se estes só levam em conta os benefícios dos fármacos e as psicoterapias, o que dizer das possibilidades curadoras da associação destes tratamentos à terapêutica espiritual? 

Referências:
1. Kaplan, Harold I. Sadock, Benjamin J. Grebb, Jack A. trad. Dayse Batista. Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7. ed. 6ª reimpressão. Porto Alegre: Artmed, 1997, capt. 16.2, p.553-562.
2. Harrison medicina interna. Editores Dennis L. Kasper... [et al.]. 16. ed. Rio de Janeiro: McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda., 2006, capt. 371, p.2672-2674.
3. Moore, Burness E. Fine, Bernard D. Termos e conceitos psicanalíticos. 3. ed. Porto Alegre : Artes Médicas, 1992, p.17-18.
4. Grünspun, H. Distúrbios neuróticos da criança - Psicopatologia e Psicodinâmica. 1. ed. capt.15, p.455-456.
5. Machado, A. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2005, cap.20, 27, 28, p.195, 270-271, 277.
6. Franco, Divaldo P. Amor, imbatível amor. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 2. ed. Bahia : Editora LEAL, 1998, capt.10, p.195-198.
7. Franco, Divaldo P. Autodescobrimento – uma busca interior. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 11. ed. Bahia : Editora LEAL, 1995, capt.9, p.117-120.
8. Franco, Divaldo P. Conflitos existenciais. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. 1. ed. Bahia : Editora LEAL, 2005, capt.4, 6, 8, p.49-62, 73-82, 97-106.
9. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. 76. ed. Rio de Janeiro : FEB, perguntas 459 e 621. (pela ordem de citação).
10. Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. 62. ed. Rio de Janeiro : FEB, parte II, capt.I, ponto 54, p.78. (*)

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