LEONARDO MACHADO
leomachadot@gmail.com
Recife, Pernambuco (Brasil)
O transtorno de pânico é uma doença por demais afligente, mas seu
prognóstico não é tão desfavorável assim, uma vez que os dados da literatura
médica apontam resultados impressionantes e motivadores de recuperações.
O transtorno de pânico é uma
síndrome caracterizada pela ocorrência de ataques de pânico classicamente
recorrentes, imprevisíveis e espontâneos. Estes são episódios distintos de medo
ou ansiedade que cursam associados a diversos sintomas somáticos, como
palpitações e sudorese. Eles se apresentam tão dolorosos para o indivíduo que
chegam a levá-lo a ter sensação de morte. A sua etiologia, entretanto,
permanece ainda desconhecida para a medicina convencional.
Nada obstante, estudos com o genoma humano identificaram loci de risco
sugestivos em 1q, 7p15, 10q, 11p e 13q. Já o sistema nervoso autônomo, nesta
síndrome, ao que se percebe, exibe um tônus simpático aumentado (este é um
sistema de “alerta” que gera variadas modificações no corpo), adapta-se mais
lentamente a estímulos repetidos (o interessante é conseguir adaptar-se mais
rapidamente ao meio) e responde excessivamente a estímulos moderados (o ideal
seria ter o equilíbrio). Isto implica dizer que, certamente, estes pacientes
têm uma sensibilidade exacerbada aos sintomas somáticos, e isto desencadeia um
estado de vigilância crescente que precipita os ataques. Sabe-se, também, que o
tronco cerebral (composto pelo mesencéfalo, pelo bulbo e pela ponte), o sistema
límbico e o córtex pré-frontal são as partes mais importantes, na abrangência
do sistema nervoso central, na gênese de pânico. Neuroendocrinamente falando,
pode-se ver que, além de outras anormalidades, pelo menos três sistemas neurotransmissores
estão envolvidos: a noradrenalina, a serotonina e o ácido gama-aminobutírico
(GABA). Recentemente, através de pesquisas com imagens cerebrais, como a
tomografia por emissão de pósitrons, percebe-se que os ataques de pânico estão
associados a uma vasoconstrição cerebral.
Até aqui, porém, só se evidenciaram etiologias somáticas. No entanto,
estas causas podem ser chamadas, como costumo fazer, de causas-consequência, de
causas-instrumento ou de causas-meio, já que não logram equacionar o problema
fundamental do início, sempre explicando os porquês a partir do momento em que
se iniciaram os fenômenos. Imperioso, portanto, levar em conta os fatores
psicossociais.
O medo é uma das principais forças motivadoras da conduta humana,
porque é ele um fator de preservação da vida.
Observando-se, assim, as teorias cognitivo-comportamentais, ver-se-á
que, segundo o condicionamento clássico, um estímulo nocivo que ocorre com um
estímulo neutro pode resultar na evitação do segundo. Estas teorias, contudo,
apesar de serem boas para explicar a severidade dos ataques de pânico, não
conseguem satisfazer, como também não o fazem as etiologias mais biológicas
supracitadas, a seguinte indagação: por que existe o primeiro ataque de pânico?
Desse modo, necessário se faz entender as etiologias psicológicas
específicas. Nesta perspectiva, pois, o medo e a ansiedade são as figuras
principais na etiologia. E, apesar de serem bastante similares, eles possuem
singularidades que os distinguem.
O medo é uma das principais forças motivadoras da conduta humana. Isso
porque ele é um fator de preservação da vida, de defesa e de proteção, que
advém do aumento do instinto de autodefesa, de conservação. Assim, quando bem
dirigido, ele se transforma em prudência e em equilíbrio, ajudando nas tomadas
de decisão, ao menos no início da jornada evolutiva. Quando, porém, desmedido,
avulta em expressões psicopatológicas em forma, por exemplo, de distúrbio de
pânico.
A ansiedade, por sua vez, apesar de ter a sua definição bastante difícil
de ser feita, mesmo por questões etimológicas, é um estado emocional
desprazeroso caracterizado por sentimentos de antevisão desagradável de um
perigo iminente. Não se sabe, no entanto, o porquê. Antes, é um estado de
angústia geral, de antecipação do sofrimento, que carece de motivo óbvio.
Afora estas duas forças, uma outra entidade merece destaque, a culpa.
Isso porque esta, certamente, está intimamente ligada à gênese daquelas. A
culpa geraria o medo, por diversos processos, e estes, quando jogados ao
inconsciente profundo, poderiam fazer surgir a ansiedade, no momento em que
aparecessem manifestações corpóreas.
É no Espírito imortal que, segundo o Espiritismo, se encontra a origem
de todo processo aflitivo, especialmente nas psicopatologias.
Esta tríade, culpa-medo-ansiedade, pode ter sua origem na infância,
como, aliás, assinalou Sigmund Freud, através de processos educativos
equivocados, por exemplo, que incutem medo, por base na educação ameaçadora ou
baseada nas trocas e nas recompensas; ou que geram projeções por parte dos pais
nos filhos, por base no educar a criança como se esta fosse uma continuação dos
genitores, formando nesta culpas caso não se faça o esperado. Outrossim,
pode-se originar por perdas neste período, quer sejam físicas, especialmente
pela morte dos pais; geográficas, mormente pelos divórcios; ou sentimentais,
quando os pais privam os rebentos de suas companhias, fazendo, no entanto,
comércio emocional com os presentes comprados com o dinheiro que ganham às
custas da falta de convívio familiar. E, em indivíduos emocionalmente mais
frágeis, a própria condição vulnerável do planeta Terra que está sujeito a
tantos abalos naturais, associada às notícias-lixo da mídia que exaltam o
esdrúxulo e o grotesco, podem lograr gerar estes estados descontrolados, e, por
isso mesmo, psicopatológicos.
A este ponto, contudo, necessário se faz uma reflexão sobre a natureza
humana essencial, e, assim, imperioso é reformular os conceitos trazidos pelos
compêndios que se destinam ao estudo da psique, acrescentando neles as palavras
espírito e perispírito. Quando isto acontecer, inúmeros problemas insolúveis
lograrão obter soluções. Uma vez que é no Espírito imortal que se encontra a
origem de todo processo aflitivo, especialmente nas psicopatologias. Valioso,
portanto, é lembrar as palavras do eminente Allan Kardec: “tomando em
consideração apenas o elemento material ponderável, a Medicina, na apreciação
dos fatos, se priva de uma causa incessante de ação. No conhecimento do
perispírito está a chave de inúmeros problemas até hoje insolúveis” (*).
Dessa maneira, admitida a existência do espírito e do envoltório etéreo
que o reveste, chega-se, facilmente, à dedução da realidade reencarnatória do
mesmo. A este ponto, consegue-se entender que aquela tríade
(culpa-medo-ansiedade), igualmente, pode ter a sua origem nas tramas
espirituais, já que o distúrbio do pânico se encontra enraizado no ser que
desconsiderou as Leis de Deus, e, porque estas estão grafadas na consciência do
indivíduo, mesmo que a justiça humana não consiga observar o delito, o próprio
infrator o guarda em suas teias psíquicas.
A soma de processos educativos e vivências equivocados em diversas
reencarnações contribui para o aparecimento do pânico.
Desse modo, porque ficou impune, em vidas translatas, reencarna-se,
atendendo a uma necessidade íntima de se livrar da culpa, com uma predisposição
fisiológica, imprimindo nos genes a necessidade da reparação dos delitos. Esta
culpa, mesmo que não identificável no presente com uma causa óbvia, gera
terrível angústia que faz o indivíduo ter uma tendência de autopunição, como
recurso frustrante de se livrar dela. Além disso, origina o medo de ser
identificado. E este medo sendo bombardeado, na tentativa de ser esquecido,
para o inconsciente profundo gera a ansiedade motivadora das manifestações
somáticas. Além disso, a própria soma de processos educativos e vivências
equivocados em diversas reencarnações contribui para o aparecimento do
pânico.
Semelhante estado, a seu turno, abre as barreiras psíquicas do
indivíduo às intervenções de Espíritos desencarnados. Instalada a obsessão,
portanto, a vítima passa a ser bombardeada, através de um intercâmbio
parasitário, com clichês de aterrorizantes imagens que se vão fixando, até se
tornarem vivas e ameaçadoras. Estas imagens, por sua vez, podem ser obtidas,
pelas entidades espirituais, dos refolhos do inconsciente do indivíduo
infrator, quando este se enquadra no parágrafo anterior, ou mesmo não ter
relação profunda com os erros do pretérito, sendo criações dos obsessores e
aceitações dos obsidiados; outrossim, uma mescla destas situações.
Dessa maneira, sem sombra de dúvidas, como se pode observar, o
transtorno de pânico é uma doença por demais afligente. Mas, felizmente, o seu
prognóstico não é tão desfavorável assim. Os dados da literatura médica apontam
resultados impressionantes e motivadores de recuperações. E, se estes só levam
em conta os benefícios dos fármacos e as psicoterapias, o que dizer das
possibilidades curadoras da associação destes tratamentos à terapêutica
espiritual?
Referências:
1. Kaplan, Harold I.
Sadock, Benjamin J. Grebb, Jack A. trad. Dayse Batista. Compêndio de
Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7. ed. 6ª
reimpressão. Porto Alegre: Artmed, 1997, capt. 16.2, p.553-562.
2. Harrison medicina interna. Editores Dennis L. Kasper... [et al.]. 16. ed. Rio de Janeiro:
McGraw-Hill Interamericana do Brasil Ltda., 2006, capt. 371, p.2672-2674.
3. Moore, Burness E. Fine, Bernard D. Termos e conceitos psicanalíticos.
3. ed. Porto Alegre : Artes Médicas, 1992, p.17-18.
4. Grünspun, H. Distúrbios neuróticos da criança - Psicopatologia e
Psicodinâmica. 1. ed. capt.15, p.455-456.
5. Machado, A. Neuroanatomia funcional. 2. ed. São Paulo: Editora
Atheneu, 2005, cap.20, 27, 28, p.195, 270-271, 277.
6. Franco, Divaldo P. Amor, imbatível amor. Pelo Espírito Joanna de
Ângelis. 2. ed. Bahia : Editora LEAL, 1998, capt.10, p.195-198.
7. Franco, Divaldo P. Autodescobrimento – uma busca interior. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. 11. ed. Bahia : Editora LEAL, 1995, capt.9,
p.117-120.
8. Franco, Divaldo P. Conflitos existenciais. Pelo Espírito Joanna de
Ângelis. 1. ed. Bahia : Editora LEAL, 2005, capt.4, 6, 8, p.49-62, 73-82,
97-106.
9. Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos. 76. ed. Rio de Janeiro : FEB,
perguntas 459 e 621. (pela ordem de citação).
10. Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns. 62. ed. Rio de Janeiro : FEB,
parte II, capt.I, ponto 54, p.78. (*)
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