A vontade é a faculdade soberana
da alma, a força espiritual por excelência, e pode mesmo dizer-se que é a
essência da sua personalidade. Seu poder sobre os fluidos é acrescido com a
elevação do espírito. No meio terrestre, seus efeitos sobre a matéria são
limitados, porque o homem se ignora e não sabe utilizar-se das forças que estão
em si; porém, nos mundos mais adiantados, o ser humano, que já tem aprendido a
querer, impera sobre a natureza inteira, dirige facilmente os fluidos, produz
fenômenos, metamorfoses que vão até o prodígio. No espaço e nesses mundos, a
matéria apresenta-se sob estados fluídicos de que apenas podemos ter uma ideia
vaga. Assim como na Terra certas combinações químicas se produzem unicamente
sob a influência da luz, assim também, nesses meios, os fluidos não se unem nem
se ligam senão por um ato da vontade dos seres superiores.
Se a vontade exerce tal
influência sobre a matéria bruta e sobre os fluidos rudimentares, tanto melhor
se compreenderá seu império sobre o perispírito e os progressos ou as desordens
que nele determina, segundo a natureza de sua ação, tanto no curso da vida como
após a desencarnação.
Todo ato da vontade, reveste uma
forma, uma aparência fluídica, que se grava no invólucro perispirítico.
Torna-se evidente que, se esses atos fossem inspirados por paixões materiais,
sua forma seria material e grosseira. As moléculas perispirituais, impregnadas,
saturadas dessas formas, dessas imagens, materializam-se a seu contato,
espessam-se cada vez mais, aproximam-se, condensam-se. Desde que as mesmas
causas se reproduzam, os mesmos efeitos acumulam-se, a condensação acelera-se,
os sentidos enfraquecem-se e atrofiam-se, as vibrações diminuem de força e
reduzem-se. Por ocasião da morte acha-se o espírito envolvido por fluidos opacos
e pesados que não mais deixam passar as impressões do mundo exterior e
tornam-se para a alma uma prisão e um túmulo. Esse é o castigo preparado pelo
próprio espírito; essa situação é obra sua e somente cessa quando aspirações
mais elevadas, o arrependimento, a vontade de melhorar, vêm romper a cadeia
material que o enjaula.
Efetivamente, se as paixões
baixas e materiais perturbam, obscurecem o organismo fluídico, os pensamentos
generosos, em um sentido oposto, as ações nobres apuram e dilatam as moléculas
perispiríticas. Sabemos que as propriedades da matéria aumentam com seu grau de
pureza. O perispírito rarefazendo-se, ganha sutileza e sensibilidade; seu poder
de irradiação e sua energia aumentam proporcionalmente e permitem-lhe que
escape às atrações terrestres. O espírito adquire, então, sentidos novos, com
cujo auxílio poderá penetrar em meios mais puros, comunicar-se com seres mais
etéreos. Essas faculdades, esses sentidos, que franqueiam o acesso das regiões
felizes, podem ser conquistados e desenvolvidos por qualquer alma humana, visto
todas possuírem os seus germes imperecíveis. As nossas vidas sucessivas, cheias
de trabalhos e de esforços, tem por alvo fazer desabrochar em nós essas
faculdades.
Tudo pode à vontade exercida no
sentido do bem e de acordo com as leis naturais. Muito também pode para o mal.
Nossos maus pensamentos, nossos desejos impuros, nossos atos culpáveis,
corrompem, por neles se refletirem os fluidos que nos rodeiam, e o contato
destes produz mal-estar e impressões desagradáveis nas pessoas que de nós se
aproximam, pois todo organismo sofre a influência dos fluidos ambientes. Do
mesmo modo, sentimentos de ordem elevada, pensamentos de amor, exortações
calorosas vão penetrar os seres que nos cercam, sustentá-los e vivificá-los. Assim
se explica o império exercido sobre as multidões pelos grandes missionários e
pelas almas eminentes. Embora os maus também assim possam exercer a sua
influência funesta, podemos sempre conjurar esta última por volições em sentido
inverso e através de resistência enérgica da nossa vontade.
Um conhecimento mais completo
das potências da alma e de sua aplicação deverá modificar totalmente as nossas
tendências e os nossos atos. Sabendo que todos os fatos da nossa vida se
inscrevem conosco, testemunham pró ou contra nós, dirigiremos a cada um deles
uma atenção mais escrupulosa. Esforçar-nos-emos desde então por desenvolver os
nossos recursos latentes e por agir por nosso intermédio sobre os fluidos
espalhados no espaço, de modo a depurá-los, a transformá-los para o bem de
todos, a criar em torno de nós uma atmosfera límpida e pura, inacessível aos
fluidos viciados. O espírito que não age, que se deixa levar pelas influências
materiais, fica débil e incapaz de perceber as sensações delicadas da vida
espiritual. Acha-se em uma inércia completa depois da morte; as perspectivas do
espaço não oferecem a seus sentidos velados senão a obscuridade e o vácuo. O
espírito ativo, preocupado em exercer suas faculdades por um uso constante,
adquire forças novas; sua vista abrange horizontes mais vastos, e o círculo de
suas relações alarga-se gradualmente.
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