Salvo melhor
juízo e sujeito a correções, passo-lhe o comentário elaborado por Simão Pedro
de Lima[1].
1 -
Sobre o Espírito Cárita
Não se pode dizer quem, de fato,
foi esse Espírito quando encarnado. Há quem diga, por tradição, que, no
passado, esse Espírito tenha sido a figura de Irene, que foi martirizada em
Roma no ano 305, quando das perseguições do Imperador Diocleciano. Canonizada
por sua religião, veio a ser conhecida como Santa Irene - ela e suas irmãs
foram convertidas ao Cristianismo. Diocleciano determinou perseguição aos
cristãos, e ela foi acusada de possuir "livros proibidos" e, por isso
mesmo, foi condenada à fogueira, enquanto suas irmãs foram degoladas à sua
frente.
Como disse, é uma informação desprovida de provas, que se deve
considerar apenas e tão somente como especulativa, valendo-se do fato que, na
mensagem reproduzida abaixo, do Espírito Cárita, estar colocado que ele (o
Espírito) foi martirizado em Roma.
2 -
Sobre a Prece de Cáritas
A prece de Cáritas foi psicografada na noite de Natal, 25 de dezembro,
do ano de 1873, ditada pelo Espírito Cáritas. A prece de cáritas não se
encontra no livro O Evangelho Segundo o
Espiritismo, mas ela (a prece) está no livro Rayonnements la Vie Spirituelle, de autoria da W. Krell, que, além
dessa prece, psicografou, ainda, as comunicações: Como servir a religião espiritual e A esmola espiritual. Esse livro ainda é editado na Bélgica.
Wallace Leal V. Rodrigues, que
foi um dos que traduziram a prece, se valeu da segunda edição do livro
referido, editado pela Union Spirite Belga/1949. Nessa edição a palavra é
CARRIT. Segundo ele, como em francês ou francês-belga não há duplo erre (RR), o
nome correto para o Espírito seria Cárita. Devido ao aportuguesamento desse
vocábulo, acabou por ficar Cáritas, como é mais conhecido no Brasil. Nas
traduções de O Evangelho Segundo o
Espiritismo manteve-se Cárita.
A médium, Madame W. Krell, era
respeitada em sua época, tida como uma excelente médium, o que nos leva a dar
crédito à prece como sendo do mesmo Espírito que ditou as mensagens que se
encontram no Evangelho Segundo o
Espiritismo.
3 -
Algumas observações
A palavra caridade é o
aportuguesamento da palavra cárita, que, por sua vez deriva da palavra Caritates, cujo significado é Amor. Por isso encontra-se no texto
contido na carta do apóstolo Paulo aos Coríntios as duas traduções: caridade e
amor . "Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não
tivesse amor" ou, em outras traduções, "ainda que eu falasse a língua
dos homens e dos anjos se não tivesse caridade". São duas palavras cujo
significado é o mesmo. Por isso caridade não é o ato material, mas o ato
revestido de sentimento.
Em função do significado da
palavra Cáritas (aportuguesada) ser amor, esse nome foi utilizado por uma
organização católica, de âmbito internacional, chamada Cáritas Internacional,
que no Brasil se chama Cáritas do Brasil, cuja missão é amparar as pessoas
necessitadas por meio de educação, instrução e qualificação profissional. A
primeira instituição Cáritas surge na Alemanha, em 1897, e o nome da
instituição foi inspirado na afirmação de São Paulo: "Caritas Christus
urget nos!" (2Cor 5:14). Traduzindo: “O amor de Cristo nos impulsiona”.
Veja que o nome Cáritas foi
utilizado pelo Espírito e também por um órgão religioso católico, creio que
ambos inspirados no significado da palavra, que é AMOR.
Com esse significado, ou seja, amor, uma das mensagens do Espírito
Cárita, contida no O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capítulo XII, item 13, toma
uma feição mais carinhosa, meiga e, ao mesmo tempo, de profundo significado
para a beneficência: Vejamo-la:
“Chamo-me Caridade (Amor); sigo o caminho principal que conduz a Deus”.
Acompanhai-me, pois conheço a meta a que deveis todos visar.
Dei esta manhã o meu giro habitual e, com o coração amargurado, venho
dizer-vos: Oh! meus amigos, que de misérias, que de lágrimas, quanto tendes de
fazer para secá-las todas! Em vão, procurei consolar algumas pobres mães,
dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! há corações bons que velam por vós; não sereis
abandonadas; paciência! Deus lá está; sois dele amadas, sois suas eleitas. Elas
pareciam ouvir-me e volviam para o meu lado os olhos arregalados de espanto; eu
lhes lia no semblante que seus corpos, tiranos do Espírito, tinham fome e que,
se é certo que minhas palavras lhes serenavam um pouco os corações, não lhes
reconfortavam os estômagos. Repetia-lhes: Coragem! Coragem! Então, uma pobre
mãe, ainda muito moça, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e a
estendeu no espaço vazio, como a pedir-me que protegesse aquele entezinho que
só encontrava, num seio estéril, insuficiente alimentação.
Alhures vi, meus amigos, pobres velhos sem trabalho e, em consequência,
sem abrigo, presas de todos os sofrimentos da penúria e, envergonhados de sua
miséria, sem ousarem, eles que nunca mendigaram, implorar a piedade dos
transeuntes. Com o coração túmido de compaixão, eu, que nada tenho, me fiz
mendiga para eles e vou, por toda a parte, estimular a beneficência, inspirar
bons pensamentos aos corações generosos e compassivos. Por isso é que aqui
venho, meus amigos, e vos digo: Há por aí desgraçados, em cujas choupanas falta
o pão, os fogões se acham sem lume e os leitos sem cobertas. Não vos digo o que
deveis fazer; deixo aos vossos bons corações a iniciativa. Se eu vos ditasse o
proceder, nenhum mérito vos traria a vossa boa ação. Digo-vos apenas: Sou a
caridade e vos estendo as mãos pelos vossos irmãos que sofrem.
Mas, se peço, também dou e
dou muito. Convido-vos para um grande banquete e forneço a árvore onde todos
vos saciareis! Vede quanto é bela, como está carregada de flores e de frutos!
Ide, ide, colhei, apanhai todos os frutos dessa magnificente árvore que se
chama beneficência. No lugar dos ramos que lhe tirardes, atarei todas as
boas ações que praticardes e levarei a árvore a Deus, que a carregará de novo,
porquanto a beneficência é inexaurível. Acompanhai-me, pois, meus amigos, a fim
de que eu vos conte entre os que se arrolam sob a minha bandeira. Nada temais;
eu vos conduzirei pelo caminho da salvação, porque sou - a Caridade (o amor). -
Cárita, martirizada em Roma. (Lião, 1861.)”.
[1]
SIMÃO PEDRO DE LIMA – Professor universitário,
historiador e contabilista, com Mestrado em Educação Superior e três
Especializações em Administração (na área de Gestão Empresarial), História
Moderna e Economia Contemporânea. Atualmente, é membro da “Sociedade Espírita
Casa do Caminho”, em Patrocínio (MG), onde exerce as atividades administrativas
e doutrinárias e membro do Conselho Regional Espírita do Alto Paranaíba - MG,
onde auxilia na área de assuntos da mediunidade.
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