terça-feira, 26 de maio de 2015

Fobia social[1]



Pressionado pelas constrições de vária ordem, exceção feita aos fenômenos patológicos, na área da personalidade, o indivíduo tímido, desistindo de reagir, assume comportamentos fóbicos.
Neuroses e psicoses se lhe manifestam, atormentando-o e gerando-lhe um clima de pesadelo onde quer que se encontre.
A liberdade, que lhe é de fundamental importância para a vida, perde o seu significado externo, face às prisões sem paredes que são erguidas, nelas encarcerando-se.
Da melancolia profunda ele passa à ansiedade, com alternâncias de insatisfação e tentativas de autodestruição, e da desconfiança sistemática tomba, por falta de resistências morais, diante dos insucessos banais da existência. Nem mesmo o êxito nos negócios, na vida social e familiar, consegue minimizar-lhe o desequilíbrio que, muitas vezes, aumenta, em razão de já não lhe sendo necessário fazer maiores esforços para conseguir, considera-se sem finalidade que justifique prosseguir.
Os estados fóbicos desgastam-lhe os nervos e conduzem-no às depressões profundas. São vários estes fenômenos no comportamento humano.
Surge, porém, no momento, um que se generaliza, a pouco e pouco, o denominado como fobia social, graças ao qual, o indivíduo começa a detestar o convívio com as demais pessoas, retraindo-se, isolando-se.
A princípio, apresenta-se como forma de mal-estar, depois, como insegurança, quando o homem é conduzido a enfrentar um grupo social ou o público que lhe aguarda a presença, a palavra.
O grau de ansiedade foge-lhe ao controle, estabelecendo conflitos psicológicos perturbadores.
A ansiedade comedida é fenômeno perfeitamente natural, resultante da expectativa ante o inusitado, face ao trabalho a ser desenvolvido, diante da ação que deve ser aplicada como investimento de conquista, sem que isto provoque desarmonia interior com reflexos físicos negativos.
Quando, então, se revela, desencadeada por problemas de somenos importância, produzindo taquicardias, sudorese álgida, tremores contínuos, estão ultrapassados os limites do equilíbrio, tornando-se patológica.
A fobia social impede uma leitura em voz alta, uma assinatura diante de alguém que acompanhe o gesto, segurar um talher para uma refeição, pegar um vaso com líquido sem o entornar... O paciente, nesses casos, tem a impressão de que está sob severa observação e análise dos outros, passando a detestar as presenças estranhas até os familiares e amigos mais íntimos.
Em algumas circunstâncias, quando o processo se encontra em instalação, a concentração e o esforço para superar o impedimento auxiliam-no, facultando-o somente relaxar-se e adquirir naturalidade após constatar que ninguém o observa, perdendo, assim, o prazer do diálogo, face à tensão gerada pelo problema.
A tendência natural do portador de fobia social é fugir, ocultar-se malbaratando o dom da existência, vitimado pela ansiedade e pelo medo.
O homem é o único animal ético existente.
Para adquirir a condição de uma consciência ética é convidado a desafios contínuos, graças aos quais discerne o bem do mal, o belo do feio, o lógico do absurdo, imprimindo-se um comportamento que corresponda ao seu grau de compreensão existencial.
Aprofundando-se no exame dos valores, distingue-os, passando a viver conforme os padrões que estabelece como indispensáveis às metas que persegue, porquanto pretende constituir-lhe a felicidade.
A fim de lograr o domínio desses legítimos valores, aplica outra das suas características essenciais, que é o de ser um animal biossocial.
A vida de relação com os demais indivíduos é-lhe essencial ao progresso ético.
Isolado, asselvaja-se ou entrega-se a uma submissão indiferente, perniciosa.
As imposições do relacionamento social exterior, sem profundidade emocional, respondem por esta explosão fóbica, face à ausência de segurança afetiva entre os indivíduos e à competição que grassa, desenfreada, fazendo que se veja sempre, no atual amigo, o potencial usurpador da sua função, o possível inimigo de amanhã.
Tal desconfiança arma as pessoas de suspeição, levando-as a uma conduta artificial, mediante a qual se devem apresentar como bem estruturadas emocionalmente, superiores às vicissitudes, capazes de enfrentar riscos, indiferentes às agressões do meio, porque seguras das suas reservas de forças morais.
Gerando instabilidade entre o que demonstram e aquilo que são realmente, surge o pavor de serem vencidas, deixadas à margem, desconsideradas. O mecanismo de fuga da luta sem quartel apresentasse-lhes como alternativa saudável, por poupar-lhes esforços que lhes parecem inúteis, desde que não se sentem inclinadas a usar dos mesmos métodos de que se creem vítimas.
Simultaneamente, as atividades trepidantes e as festas ruidosas mais afastam os amigos, que dizem não dispor de tempo para o intercâmbio fraternal, a assistência cordial, receosos, por sua vez, de igualmente tombarem, vitimados pelo mesmo mal que os ronda, implacável.
Nestas circunstâncias, mentes desencarnadas, deprimentes, se associam aos pacientes, complicando-lhes o quadro e empurrando-os para as psicoses profundas, irreversíveis.
A desumanização do homem, que se submete aos caprichos do momento dourado das ilusões, conspira contra ele próprio e o seu próximo, tornando esta a geração do medo, a sociedade sem destino. a


[1] O Homem Integral – Joanna de Ângelis / Divaldo Franco – Bahia, Centro Espírita Caminho da Redenção, 1990

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