domingo, 31 de maio de 2015

HOMÍCIDIOS ESPIRITUAIS[1]


 Cláudio Bueno Silva

Uma revelação importante que os espíritos trouxeram aos homens é a que diz respeito à influência que aqueles exercem sobre estes.
 A uma pergunta que lhes foi feita, os habitantes do mundo invisível disseram que influem nos atos humanos muito mais do que se possa pensar por aqui, na Terra.
Essa revelação espantosa, da qual boa parte dos homens sequer suspeita, está contida em “O Livro dos Espíritos”, obra produzida pelos próprios espíritos e coordenada por Allan Kardec, depois de muita observação e estudos criteriosos.
 Estes seres do outro mundo chegaram a afirmar que essa influência é tal, que muito frequentemente são eles que nos dirigem.
  Embora Deus nos garanta a liberdade de pensar e agir, de fazer as nossas escolhas, nos dois lados da vida, essa informação não deixa de ser contundente. Por isso a questão das influências recíprocas precisa ser conhecida e estudada atentamente por todas as pessoas. Porque, segundo os espíritos, essa permuta é muito intensa e está presente em quase todas as circunstâncias da vida, ajudando a desencadear o bem ou o mal, dependendo das motivações que nutrem as relações entre os seres.
 Pensando neste assunto, relacionei-o com o noticiário policial das tevês e jornais da atualidade.
Praticamente todos os dias são divulgados dramas horrendos de variada espécie, mas com preponderância dos crimes de morte, que causam comoção e choque na sociedade de bem, pelas suas características de barbárie.
 Há casos tão escabrosos que nos custa acreditar tenham sido provocados por pessoas normais, que circulam nas ruas, compram em shoppings, andam de metrô, levam e buscam os filhos à escola, enfim
 Em muitos episódios desse tipo, o nível de brutalidade, cálculo e frieza é tanto, que é difícil associar a façanha criminosa a pessoas com diploma universitário, bem apessoadas, sem antecedentes e até com bom histórico de rotina familiar. Mas, não são apenas estas que promovem barbaridades, pois não é o nível social, econômico e cultural que impede as pessoas de cometerem desatinos graves. O motivo fundamental é moral e tem a ver com a evolução espiritual do indivíduo.
 Claro que não se pode avaliar o caráter de uma pessoa por coisas que ela nunca fez e muito menos pelos seus atributos exteriores, que podem muito bem ser ditados apenas pelo verniz social.
 Mas, o intrigante é constatar que esses protagonistas delinquem, na maioria das vezes, por causas e motivos absolutamente fúteis. Parece não fazer sentido algum! Será que agem sozinhos, por conta própria? O que haverá por trás desses crimes chocantes praticados por pessoas que demonstram insensibilidade para com a vida do outro, aparentando não se importar com as consequências?
 O espírito Manoel Philomeno de Miranda, através da psicografia de Divaldo Franco, fornece curiosas informações sobre o assunto no seu livro Tormentos da Obsessão[2].
 Baseadas na lei de afinidade e semelhança, que aproxima as pessoas encarnadas e desencarnadas, dão-se as influências recíprocas, que podem variar de um extremo a outro: da benéfica intuição de um bom espírito, à perseguição premeditada de um espírito mau.
 Conforme orienta Manoel Philomeno, o intercâmbio espiritual está na raiz de inumeráveis males que afetam a coletividade humana. Na forma da obsessão, onde um ser influencia maléfica e continuadamente a outro, ocorrem muitos desses crimes, cujas causas espirituais não são sequer suspeitadas pela maioria.
 Espíritos vingativos, obsediando pessoas, jogam-nas contra seus desafetos e inimigos. E, nas tramas, onde muitas vezes uns devem aos outros, enredados entre si, os maus espíritos se utilizam das fragilidades morais das suas vítimas, para dar cabo da vida de outros, naquilo que Philomeno de Miranda chamou de assassinato de cunho espiritual, no capítulo Reminiscências, do citado livro.
 Assim, através de interferências na conduta mental e moral de quem obsedia, essas entidades a serviço do mal seguem armando-lhes as mãos para a consumação dos nefastos crimes.
 Na verdade, em muitas situações, os crimes têm dois autores, um encarnado (teleguiado) e outro desencarnado. O que sabem somente aqueles que já tomaram conhecimento das profundas relações entre os dois mundos, e por isso se cuidam.



[2] Tormentos da Obsessão, de Manoel P. de Miranda, psicografia de Divaldo Franco, LEAL Editora, 2001.


Sobre a Cremação de Corpos[1]



ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
           
Solange Volpato, em carta publicada nesta mesma edição, pergunta-nos qual é o entendimento espírita sobre cremação de cadáveres humanos.
Embora a cremação seja uma prática antiga em nosso mundo, Allan Kardec não tratou desse tema, o que equivale a dizer que a Doutrina Espírita não tem uma posição firmada sobre o assunto. O que existe são opiniões pessoais, umas favoráveis, outras contrárias à referida prática.
Léon Denis, um dos mais importantes autores espíritas, era claramente favorável à inumação – ou seja, o sepultamento –, uma vez que a cremação provoca desprendimento mais rápido, mais brusco e violento da entidade desencarnante, podendo ser mesmo dolorosa para a alma apegada à Terra.
Determinados Espíritos, como sabemos, permanecem por algum tempo imantados ao corpo material após o transe da morte, como acontece principalmente com os suicidas. O desatamento do cordão fluídico nem sempre se consuma num curto espaço de tempo. Nessas condições, o morto é como se fosse um morto-vivo cuja percepção sensória, para sua desventura, continuaria presente e atuante. A cremação viria causar-lhe um angustiante trauma, o que implicaria "aumentar a aflição ao aflito".
No mesmo sentido manifestou-se sobre o tema o conhecido escritor e estudioso espírita Richard Simonetti, que entende que, embora o cadáver não transmita sensações ao Espírito, este experimentará obviamente "impressões extremamente desagradáveis" se no ato crematório estiver ainda ligado ao corpo.
Paul Bodier, o renomado autor de “A Granja do Silêncio”, dizia que "a incineração, tal como se pratica entre nós, é, com efeito, prematura demais". Talvez, por isso a inumação devesse ser o processo normal, só se cremando os cadáveres com sinais evidentes de putrefação.
Das manifestações oriundas do plano espiritual a respeito de cremação, duas merecem citação.
No programa Pinga-Fogo na TV Tupi, levado ao ar no ano de 1971, em resposta a uma pergunta dirigida a Chico Xavier, o saudoso médium declarou que, segundo Emmanuel, "a cremação é legítima para todos aqueles que a desejam, desde que haja um período de, pelo menos, 72 horas de expectação para a ocorrência em qualquer forno crematório".
Merece destacar a recomendação do benfeitor espiritual acerca do tempo de espera necessário para que o processo de cremação não seja lesivo ao Espírito desencarnante: 72 horas, antes que a cremação seja efetuada. Certamente, o tempo de espera por ele sugerido levou em consideração os aspectos negativos levantados por Léon Denis e Richard Simonetti.
Resta-nos, no entanto, uma dúvida: estará realmente o Espírito desencarnante inteiramente desligado do corpo, findo o tempo mencionado?
Muitos anos depois, Irmão X – pseudônimo utilizado pelo Espírito de Humberto de Campos – examinou o tema na mensagem intitulada “O problema da cremação”, psicografada por Chico Xavier e publicada no livro Escultores de Almas, lançado em 1987.
Eis um trecho dessa obra:
“Se a lei divina fornece um prazo de noves meses para que a alma possa renascer no mundo com a dignidade necessária, e se a legislação humana já favorece os empregados com os benefícios do aviso prévio, por que razão o morto deve ser reduzido à cinza com a carne ainda quente?”
Sabemos que há cadáveres dos quais, enquanto na Terra, estimaríamos a urgente separação, entretanto, que mal poderá trazer aos vivos o defunto inofensivo, sem qualquer personalidade nos cartórios?
Não seria justo conferir pelo menos três dias de preparação e refazimento ao peregrino das sombras para a desistência voluntária dos enigmas que o afligem na retaguarda?
Acreditamos que ainda existe bastante solo no Brasil e admitimos, por isso, que não necessitamos copiar apressadamente costumes em pleno desacordo com a nossa feição espiritual.
Meditando na pungente situação dos recém-desencarnados, observo quão longe vai o tempo em que os mortos eram embalados com a doce frase latina: - Requiescat in pace.
Não basta agora o enterro pacífico! É imprescindível a apressada desintegração dos despojos! E se a lei não for suavizada, com as setenta e duas horas de repouso e compaixão para os desencarnados, na laje fria de algum necrotério acolhedor, resta aos mortos a esperança de que os saltitantes conselheiros da cremação de hoje sejam amanhã igualmente torrados. “(Do livro Escultores de Almas, obra psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier)”.
Na revista “O Consolador” o tema cremação foi tratado em inúmeras ocasiões, como nos textos abaixo, cuja leitura recomendamos ...a todos que se interessam pelo assunto:





sábado, 30 de maio de 2015

A Eficácia da Prece e da Meditação[1]



A prece não é apenas o pedido para alcançar o que desejamos. É muito mais do que isso. Deve, portanto, merecer muito mais consideração do que se lhe tem dado. O que tendes a fazer para tornar a prece uma verdadeira força é pôr de parte o que é material e fixar o vosso pensamento e espírito no Eterno. Quando assim fizerdes, vereis que muito do que haveis incluído, na vossa prece, desaparece pela sua inoportunidade; e maiores e mais amplos são os resultados, pela força do vosso poder criador.
A prece é verdadeiramente criadora, como um exercício da vontade, conforme se vê nos milagres de Nosso Senhor, tal como a alimentação dos cinco mil. E quando a prece é feita com fé, então o objeto é criado e ela é atendida. Isto é, o objetivo corresponde ao subjetivo, de tal modo, que se dá uma verdadeira criação.
Isto não acontece quando a prece é mal dirigida; então, a projeção da vontade resvala numa tangente e o resultado é apenas proporcional aos raios dispersos que atingem o objetivo. Também quando a prece é feita com intuitos poucos dignos, torna-se proporcionalmente enfraquecida e encontra, ao mesmo tempo, aqui deste lado, uma força de vontade oposta ou reguladora, conforme a natureza do caso, e desse modo não consegue o almejado fim.
Tudo isto vos poderá parecer muito vago; não o é a nós. Deveis saber que há aqui, nomeados para a prece, guardas cujo dever é analisar e escolher as oferecidas pelos habitantes da Terra separá-las em classes e grupos, e passa-las adiante para serem examinadas por outros e atendidas de acordo com o seu merecimento e força.
Para que isso se faça com perfeição é preciso proceder a um estudo das vibrações da prece, como os vossos cientistas o fazem sobre as vibrações do som e da luz. Do mesmo modo que esses cientistas se acham habilitados a analisar, separar e classificar os raios de luz, assim somos também capazes de fazê-lo em relação às vossas preces.
E como há alguns raios com os quais, como confessam, não podem lidar, há também preces que se nos apresentam sob tão profundo aspecto, que ficam fora do alcance dos nossos estudos e conhecimentos.  Estas nos passamos para os de gradação mais elevada, para que as tratem, em vista do seu maior saber. E não penseis que elas são sempre encontradas entre as preces dos sábios, mas, entre as das crianças, cujos pedidos e suspiros merecem a mesma consideração que as orações dos povos.
“As vossas preces e as vossas esmolas subiram como um memento perante Deus.” Deveis recordar-vos destas palavras ditas pelo Anjo a Cornélio. Muitas vezes se passa por elas sem as compreender, como sobre a descrição literal das preces e boas obras, que eram apresentadas àquele Anjo e enviadas a mais altas regiões, provavelmente por eles e seus auxiliares. É como se ele tivesse dito: “As vossas preces e esmolas vieram perante a minha comissão e foram tomadas na devida consideração pelo seu merecimento. Passamo-las adiante por serem dignas e recebemos notificação dos Oficiais que se acham acima de nós, de que elas são de mérito excepcional e requerem tratamento especial. Por isso fui comissionado a vir até vós.”
Se examinardes outros exemplos de prece, na Bíblia, sob aquele aspecto, podereis ter alguns vislumbres da realidade, tal como é compreendida por nós, em nossa própria terra. E o que se refere à prece pode também ser aplicado ao exercício da vontade em direções não tão legítimas.
O ódio, a impureza, a ganância e outros pecados do espírito e do cérebro, concretizam-se aqui, por forma que não pode ser vista nem imaginada da vossa esfera, sendo também todos eles aqui tratados conforme a sua importância.
Os que dizem que os Anjos não se podem entristecer, conhecem bem pouco o nosso amor pelos nossos irmãos que ainda lutam na Terra. Pudessem eles ver como sentimos quando se abusa das dádivas do Pai, e seria bem possível que nos amassem mais e nos exaltassem menos.
Deixamos-vos agora o direito de aprofundar este assunto livremente, se entenderdes que vale a pena; ...



[1] Psicografia recebida pelo Reverendo G. Vale Owen, em 07/10/1913, do espírito Astriel.

Aspectos da vida dos recém-desencarnados[1]



"À proporção que se liberta, a alma encontra-se numa situação
comparável àquele que desperta de profundo sono. Bem diverso é,
contudo, esse despertar".
Allan Kardec

Através das instruções de pesquisadores, dos conhecimentos hauridos em diálogos com Espíritos desencarnados, que já alcançaram certo grau de independência e evolução, e da vivência frequente com Espíritos enfermos nas sessões mediúnicas de tratamento, podemos afirmar a existência de um princípio geral, que orienta a situação do Espírito, após seu retorno ao plano extrafísico: ao deixar a vida material, gravita automaticamente para a posição que lhe seja peculiar.
Evidentemente, o tempo em que isto ocorre é extremamente variável, dependendo dos fatores que influenciaram a desencarnação, do móvel moral/intelectual conquistado durante a experiência terrena que acabou de deixar, e do acervo remanescente das existências anteriores, referentes ao comprometimento com o automatismo da lei de causa e efeito.
A situação em que a alma se encontrará não lhe acrescentará poder, conhecimento ou liberdade, além do que já possua. Apenas certa agudez de percepção lhe fará sentir-se diferente da condição anterior de encarnada.
A invisibilidade e a intangibilidade serão as características comuns a todos os desencarnados, com relação aos que deixaram na retaguarda, passando a perceber, com nitidez, os também desencarnados que estejam na sua situação evolutiva, ou abaixo dela.
Quanto aos Espíritos de grau superior, somente são vistos ou percebidos, se assim o desejarem. O abalo da desencarnação, em muitos casos, não deixa o Espírito perceber a realidade da própria situação, isto é, não acredita que morreu, tal a identidade entre a aparência do corpo físico e a do espiritual, que é semelhante.
Como no mundo espiritual "o pensamento é tudo", o Espírito reforça a realidade físico-espiritual em que se encontra, consolidando a forma ideoplástica do próprio aspecto com que se sente exteriorizar na nova situação.
À vontade, que é a força modeladora do pensamento, dependendo de sua intensidade, promoverá a consecução dos objetivos que o Espírito pretenda alcançar. O retorno ao reduto doméstico, por exemplo, algumas vezes é conseguido pelo anseio forte que o desencarnado demonstre, embora ele não perceba como o conseguiu.
O pensamento, sendo a força por excelência na vida extrafísica, aqueles que se mantenham preocupados com os assuntos e bens da vida material recém-abandonada conservam-se presos a eles, o que lhes dificulta sobremaneira a ascensão a patamares espirituais mais elevados.
Uma expressiva quantidade de recém-libertos do corpo se compraz em manter-se ligada às sensações da vida física, na ilusão de que assim prolongariam a condição de "vivos". Para conseguir tais sensações, alimentam-se das energias sugadas dos encarnados, que se lhes assemelham, moral e intelectualmente.
 Esses encarnados funcionam como "pontes vivas". Os que se viciaram no álcool, nas drogas ou nos desvios da sensualidade conseguem justapor-se aos seus "hospedeiros", sugando-lhes as energias encharcadas daquele estado vibratório que os satisfaz.
Ao desencarnar, os órgãos permanecem existindo no corpo espiritual, arrastando consigo as necessidades próprias de cada um. Com a natural evolução da alma, a satisfação das necessidades exigidas por eles vai desaparecendo, com tempo muito variável, de um Espírito para outro, até extinguir-se, já que o Espírito se mantém com outros recursos de alimentação energética, como a respiração e a absorção pranaiama.
Os desencarnados que fazem a passagem em elevado estado de debilidade são recolhidos a hospitais espirituais existentes nas regiões próximas à Crosta, onde são tratados quase como se encarnados fossem, e alimentados normalmente com caldos, sucos etc. Na verdade, a necessidade desses recursos existe mais por causa do estado mental dos pacientes do que por exigência do corpo espiritual.
Não é imediatamente que o Espírito se liberta da escravidão dos sentidos. Somente à proporção que o domínio mental se vai ampliando e intensificando é que ele vai se inteirando da nova realidade, e eles, os sentidos, irão deixando de atuar como necessidade imperiosa.






[1] Mauro Paiva Fonseca - Revista Reformador, dezembro/2006

sexta-feira, 29 de maio de 2015

ANENCEFALIA [1] - Joanna de Ângelis

Reencarnação do pequeno Grayson James Walker
(Foto: Google)


Nada no Universo ocorre como fenômeno caótico, resultado de alguma desordem que nele predomine. O que parece casual, destrutivo, é sempre efeito de uma programação transcendente, que objetiva a ordem, a harmonia.
De igual maneira, nos destinos humanos sempre vige a Lei de Causa e Efeito, como responsável legítima por todas as ocorrências, por mais diversificadas apresentem-se.
O Espírito progride através das experiências que lhe facultam desenvolver o conhecimento intelectual enquanto lapida as impurezas morais primitivas, transformando-as em emoções relevantes e libertadoras.
Agindo sob o impacto das tendências que nele jaz, fruto que são de vivências anteriores, elabora, inconscientemente, o programa a que se deve submeter na sucessão do tempo futuro.
Harmonia emocional, equilíbrio mental, saúde orgânica ou o seu inverso, em forma de transtornos de vária denominação, fazem-se ocorrência natural dessa elaborada e transata proposta evolutiva.
Todos experimentam, inevitavelmente, as consequências dos seus pensamentos, que são responsáveis pelas suas manifestações verbais e realizações exteriores.  Sentindo, intimamente, a presença de Deus, a convivência social e as imposições educacionais, criam condicionamentos que, infelizmente, em incontáveis indivíduos dão lugar às dúvidas atrozes em torno da sua origem espiritual, da sua imortalidade.
Mesmo quando se vincula a alguma doutrina religiosa, com as exceções compreensíveis, o comportamento moral permanece materialista, utilitarista, atado às paixões defluentes do egotismo.
Não fosse assim, e decerto, muitos benefícios adviriam da convicção espiritual, que sempre define as condutas saudáveis, por constituírem motivos de elevação, defluentes do dever e da razão.  Na falta desse equilíbrio, adota-se atitude de rebeldia, quando não se encontra satisfeito com a sucessão dos acontecimentos tidos como frustrantes, perturbadores, infelizes...
Desequipado de conteúdos superiores que proporcionam à autoconfiança, o otimismo, a esperança, essa revolta, estimulada pelo primarismo que ainda jaz no ser, trabalhando em favor do egoísmo, sempre transfere a responsabilidade dos sofrimentos. Dos insucessos momentâneos aos outros, às circunstâncias ditas aziagas, que consideram injustas e, dominados pelo desespero fogem através de mecanismos derrotistas e infelizes que mais o degrada, entre os quais o nefando suicídio.
Na imensa gama de instrumentos utilizados para o autocídio, o que é praticado por armas de fogo ou mediante quedas espetaculares de edifícios, de abismos, desarticula o cérebro físico e praticamente o aniquila...
Não ficariam aí, porém, os danos perpetrados, alcançando os delicados tecidos do corpo perispiritual, que se encarregará de compor os futuros aparelhos materiais para o prosseguimento da jornada de evolução.
É inevitável o renascimento daquele que assim buscou a extinção da vida, portando degenerescências físicas e mentais, particularmente a anencefalia.  Muitos desses assim considerados, no entanto, não são totalmente destituídos do órgão cerebral.  Há, desse modo, anencéfalos e anencéfalos. Expressivo número de anencéfalos preserva o cérebro primitivo ou reptiliano, o diencéfalo e as raízes do núcleo neural que se vincula ao sistema nervoso central…
Necessitam viver no corpo, mesmo que a fatalidade da morte, após o renascimento, reconduza-os ao mundo espiritual. Interromper-lhes o desenvolvimento no útero materno é crime hediondo em relação à vida. Têm vida sim, embora em padrões diferentes dos considerados normais pelo conhecimento genético atual...
Não se tratam de coisas conduzidas interiormente pela mulher, mas de filhos, que não puderam concluir a formação orgânica total, pois que são resultado da concepção, da união do espermatozóide com o óvulo. Faltou na gestante o ácido fólico, que se tornou responsável pela ocorrência terrível.
Sucede, porém, que a genitora igualmente não é vítima de injustiça divina ou da espúria Lei do Acaso, pois que foi corresponsável pelo suicídio daquele Espírito que agora a busca para juntos conseguirem o inadiável processo de reparação do crime, de recuperação da paz e do equilíbrio antes destruído.
Quando as legislações desvairam e descriminam o aborto do anencéfalo, facilitando a sua aplicação, a sociedade caminha, a passos largos, para a legitimação de todas as formas cruéis de abortamento. E quando a humanidade mata o feto, prepara-se para outros hediondos crimes que a cultura, a ética e a Civilização já deveriam haver eliminado no vasto processo de crescimento intelecto-moral.
Todos os recentes governos ditatoriais e arbitrários iniciaram as suas dominações extravagantes e terríveis, tornando o aborto legal e culminando, na sucessão do tempo, com os campos de extermínio de vidas sob o açodar dos mórbidos preconceitos de raça, de etnia, de religião, de política, de sociedade...
A morbidez atinge, desse modo, o clímax, quando a vida é desvalorizada e o ser humano torna-se descartável. As loucuras eugênicas, em busca de seres humanos perfeitos, respondem por crueldades inimagináveis, desde as crianças que eram assassinadas quando nasciam com qualquer tipo de imperfeição, não servindo para as guerras, na cultura espartana, como as que ainda são atiradas aos rios, por portarem deficiências, para morrer por afogamento, em algumas tribos primitivas.
Qual, porém, a diferença entre a atitude da civilização grega e o primarismo selvagem desses clãs e a moderna conduta em relação ao anencéfalo?
O processo de evolução, no entanto, é inevitável, e os criminosos legais de hoje, recomeçarão, no futuro, em novas experiências reencarnacionistas, sofrendo a frieza do comportamento, aprendendo através do sofrimento a respeitar a vida...
Compadece-te e ama o filhinho que se encontra no teu ventre, suplicando-te sem palavras a oportunidade de redimir-se.
Considera que se ele houvesse nascido bem formado e normal, apresentando depois algum problema de idiotia, de hebefrenia, de degenerescência, perdendo as funções intelectivas, motoras ou de outra natureza, como acontece amiúde, se também o matarias?
Se exercitares o aborto do anencéfalo hoje, amanhã pedirás também a eliminação legal do filhinho limitado, poupando-te o sofrimento como se alega no caso da anencefalia.
Aprende a viver dignamente agora, para que o teu seja um amanhã de bênçãos e de felicidade.



[1] Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na reunião mediúnica da noite de 11 de abril de 2012, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

Resignação Espírita[1]



Uma das acusações que se fazem ao Espiritismo é a de levar o homem ao conformismo. “Os espíritas se conformam com tudo – escrevem-nos -, e dessa maneira acabarão impedindo o progresso, criando entre nós um clima de marasmo, favorável às tiranias políticas do Oriente. A ideia da reencarnação é o caldo de cultura do despotismo, pois as massas crentes se entregam a qualquer jugo”.
Muitos confundem a resignação espírita com o conformismo religioso. Mas, contraditoriamente, acusam o Espiritismo e não acusam as religiões. Por outro lado, tiram conclusões teóricas de fatos que podem ser observados na prática. A ideia da reencarnação não é nova, não nasceu com o Espiritismo, e não precisamos teorizar a respeito, pois temos toda a história da humanidade ante os olhos, para nos mostrar praticamente os seus efeitos.
Vamos, entretanto, por ordem. E trataremos, primeiro, da resignação e do conformismo. A resignação espírita decorre, não de uma sujeição místico-religiosa a forças incontroláveis, mas de uma compreensão do problema da vida. Quando o espírita se resigna, não está se submetendo pelo medo, mas apenas aceitando uma realidade à qual terá de sujeitar, exatamente para superá-la, para vencê-la. Não é, pois, o conformismo que se manifesta nessa resignação, mas a inteligente compreensão de que a vida é um processo em desenvolvimento, dentro do qual o homem tem de se equilibrar.
Acaso não é assim que fazemos todos, espíritas e não-espíritas, em nossa vida diária? O leitor inconformado não é também obrigado, diariamente, a aceitar uma porção de coisas a que gostaria de furtar-se? Mas a diferença entre a resignação ou aceitação, de um lado, e conformismo, de outro, é que a primeira atitude é ativa e consciente, enquanto a segunda é passiva e inconsciente. O Espiritismo nos ensina a aceitar a realidade para vencê-la.
“Se a doença o acossa – dizem -, o espírita entende que está sendo vítima do fatalismo cármico, do destino irrevogável. Se a morte lhe rouba um ente querido, ele acha que não deve chorar, mas agradecer a Deus. Se o patrão o pune, ele se submete; se o amigo o trai, ele perdoa; se o inimigo lhe bate na face esquerda, ele lhe oferece a direita. O Espiritismo é a doutrina da despersonalização humana”.
Mas acontece que essa despersonalização não é ensina pelo Espiritismo, e sim pelo Cristianismo. Quando o Espiritismo ensina a conformação diante da doença e da morte, o perdão das ofensas e das traições, nada mais está fazendo do que repetir as lições evangélicas. Ora, como o leitor acusa o Espiritismo em nome do Cristianismo, é evidente que está em contradição. Além disso, convém esclarecer que não se trata de despersonalização, mas de sublimação da personalidade. O que o Cristianismo e o Espiritismo querem é que o homem egoísta, brutal, carnal, agressivo, animalesco seja substituído pelo homem espiritual. A “personalidade” animal deve dar lugar à verdadeira personalidade humana.
Quanto ao caso das doenças, seria oportuno lembrar ao leitor as curas espíritas. Não chega isso para mostrar que não há fatalismo cármico? O que há é a compreensão de que a doença tem o seu papel na vida humana. Mas cabe ao homem, nesse terreno, como em todos os demais, lutar para vencê-la. O Espiritismo, longe de ser uma doutrina conformista, é uma doutrina de luta. O espírita luta incessantemente, dia e noite, para superar o mundo e superar-se a si mesmo. Conhecendo, porém, o processo da vida e as suas exigências, não se atira cegamente à luta, mas procurando realizá-la com inteligência, num constante equilíbrio entre as suas forças e o poder dos obstáculos.



[1] O Homem Novo – J. Herculano Pires, 5ª. Edição – São Bernardo do Campo: Correio Fraterno, 2008

quinta-feira, 28 de maio de 2015

As Mulheres têm Alma?[1]


 Alma Feminina - Lina Miotta

As mulheres têm alma? Sabe-se que a coisa nem sempre foi tida por certa, pois, ao que se diz, foi posta em deliberação num concílio. A negação ainda é um princípio de fé em certos povos.

Sabe-se a que grau de aviltamento essa crença as reduziu na maior parte dos países do Oriente. Embora hoje, nos povos civilizados, a questão esteja resolvida em seu favor, o preconceito de sua inferioridade moral perpetuou-se a tal ponto que um escritor do século passado, cujo nome não nos vem à memória, assim definia a mulher: “Instrumento de prazer do homem”, definição mais muçulmana que cristã. Desse preconceito nasceu a sua inferioridade legal, ainda não apagada de nossos códigos. Durante muito tempo elas aceitaram essa submissão como uma coisa natural, tão poderosa é a força do hábito. Dá-se o mesmo com os que, votados à servidão de pai a filho, acabam por se julgar de natureza diversa da dos seus senhores.
Não obstante, o progresso das luzes resgatou a mulher na opinião. Muitas vezes ela se afirmou pela inteligência e pelo gênio e a lei, conquanto ainda a considerasse menor, pouco a pouco afrouxou os laços da tutela. Pode-se considerá-la como emancipada moralmente, se não o é legalmente. É a este último resultado que ela chegará um dia, pela força das coisas.
Ultimamente lia-se nos jornais que uma jovem senhorita de vinte anos acabava de defender o bacharelado com pleno sucesso perante a faculdade de Montpellier. Dizia-se que era o quarto diploma concedido a uma mulher. Ainda não faz muito tempo foi agitada a questão de saber se o grau de bacharel podia ser conferido a uma mulher. Embora a alguns isto parecesse uma monstruosa anomalia, reconheceu-se que os regulamentos sobre a matéria não faziam menção às mulheres e, assim, elas não se achavam excluídas legalmente. Depois de terem reconhecido que elas tinham alma, lhes reconheceram o direito à conquista dos graus da Ciência, o que já é alguma coisa. Mas a sua libertação parcial é apenas resultado do desenvolvimento da urbanidade, do abrandamento dos costumes ou, se quiserem, de um sentimento mais exato da justiça; é uma espécie de concessão que lhes fazem e, é preciso que se diga, que lhes regateiam o mais possível.
Hoje, pôr em dúvida a alma da mulher seria ridículo; mas outra questão muito séria sob outro aspecto, aqui se apresenta, e cuja solução só pode ser estabelecida se a igualdade de posição social entre o homem e mulher for um direito natural, ou uma concessão feita pelo homem. Notemos, de passagem, que se esta igualdade não passar de uma concessão do homem por condescendência, aquilo que ele der hoje pode ser retirado amanhã, e que tendo para si a força material, salvo algumas exceções individuais, em massa ele sempre levará vantagem. Ao passo que se essa igualdade estiver na Natureza, seu reconhecimento será o resultado do progresso e, uma vez reconhecido, será imprescritível.
Teria Deus criado almas masculinas e femininas, fazendo estas inferiores àquelas? Eis toda a questão. Se assim fosse, a inferioridade da mulher estaria nos decretos divinos e nenhuma lei humana poderá transgredi-los. Tê-las-ia, ao contrário, criado iguais e semelhantes? Nesse caso as desigualdades, baseadas na ignorância e na força bruta, desaparecerão com o progresso e o reinado da justiça.
Entregue a si mesmo, o homem não podia estabelecer a respeito senão hipóteses mais ou menos racionais, mas sempre questionáveis. Nada no mundo poderia dar-lhe a prova material do erro ou da verdade de suas opiniões. Para se esclarecer, seria preciso remontar à fonte, pesquisar nos arcanos do mundo extracorpóreo, que não conhece. Estava reservado ao Espiritismo resolver a questão, não mais pelos raciocínios, mas pelos fatos, quer pelas revelações de além-túmulo, quer pelo estudo que diariamente pode fazer sobre o estado das almas depois da morte. E, coisa capital, esses estudos não são o fato nem de um só homem, nem das revelações de um só Espírito, mas o produto de inúmeras observações idênticas, feitas todos os dias por milhares de indivíduos, em todos os países, e que assim receberam a sanção poderosa do controle universal, sobre o qual se apoiam todas as doutrinas da ciência espírita. Ora, eis o que resulta dessas observações.
As almas ou Espíritos não têm sexo. As afeições que os unem nada têm de carnal e, por isto mesmo, são mais duráveis, porque fundadas numa simpatia real e não são subordinadas às vicissitudes da matéria.
As almas se encarnam, isto é, revestem temporariamente um envoltório carnal, para elas semelhante a uma pesada vestimenta, de que a morte as desembaraça. Esse invólucro material, pondo-as em contato com o mundo material, nesse estado elas concorrem ao progresso material do mundo que habitam; a atividade a que são obrigadas a desenvolver, seja para a conservação da vida, seja para alcançarem o bem-estar, auxilia-lhes o avanço intelectual e moral. A cada encarnação a alma chega mais desenvolvida; traz novas ideias e os conhecimentos adquiridos nas existências anteriores. Assim se efetua o progresso dos povos; os homens civilizados de hoje são os mesmos que viveram na Idade Média e nos tempos de barbárie, e que progrediram; os que viverem nos séculos futuros serão os de hoje, porém mais avançados, intelectual e moralmente.
Os sexos só existem no organismo; são necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão pela qual os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.
Os Espíritos progridem pelos trabalhos que realizam e pelas provas que devem sofrer, como o operário se aperfeiçoa em sua arte pelo trabalho que faz. Essas provas e esses trabalhos variam conforme sua posição social. Devendo os Espíritos progredir em tudo e adquirir todos os conhecimentos, cada um é chamado a concorrer aos diversos trabalhos e a sujeitar-se aos diferentes gêneros de provas. É por isso que, alternadamente, nascem ricos ou pobres, senhores ou servos, operários do pensamento ou da matéria.
Assim se acha fundado, sobre as próprias leis da Natureza, o princípio da igualdade, pois o grande da véspera pode ser o pequeno do dia seguinte e reciprocamente. Desse princípio decorre o da fraternidade, visto que, em nossas relações sociais, reencontramos antigos conhecimentos, e no infeliz que nos estende a mão pode encontrar-se um parente ou um amigo.
É com o mesmo objetivo que os Espíritos se encarnam nos diferentes sexos; aquele que foi homem poderá renascer mulher, e aquele que foi mulher poderá nascer homem, a fim de realizar os deveres de cada uma dessas posições, e sofrer-lhes as provas.
A Natureza fez o sexo feminino mais fraco que o outro, porque os deveres que lhe incumbem não exigem igual força muscular e seriam até incompatíveis com a rudeza masculina. Nela a delicadeza das formas e a finura das sensações são admiravelmente apropriadas aos cuidados da maternidade. Aos homens e às mulheres, são, pois, atribuídos deveres especiais, igualmente importantes na ordem das coisas; são dois elementos que se completam um pelo outro.
Sofrendo o Espírito encarnado a influência do organismo, seu caráter se modifica conforme as circunstâncias e se dobra às necessidades e exigências que lhe impõe esse mesmo organismo. Esta influência não se apaga imediatamente após a destruição do envoltório material, assim como não perde instantaneamente os gostos e hábitos terrenos. Depois, pode acontecer que o Espírito percorra uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa. Somente quando chegado a um certo grau de adiantamento e de desmaterialização é que a influência da matéria se apaga completamente e, com ela, o caráter dos sexos. Os que se nos apresentam como homens ou como mulheres, é para nos lembrar a existência em que os conhecemos.
Se essa influência se repercute da vida corporal à vida espiritual, o mesmo se dá quando o Espírito passa da vida espiritual à vida corporal. Numa nova encarnação ele trará o caráter e as inclinações que tinha como Espírito; se for avançado, será um homem avançado; se for atrasado, será um homem atrasado.
Mudando de sexo, sob essa impressão e em sua nova encarnação, poderá conservar os gostos, as inclinações e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres.
Não existe, pois, diferença entre o homem e a mulher, senão no organismo material, que se aniquila com a morte do corpo; mas quanto ao Espírito, à alma, ao ser essencial, imperecível, ela não existe, porque não há duas espécies de almas. Assim o quis Deus em sua justiça, para todas as suas criaturas. Dando a todas um mesmo princípio, fundou a verdadeira igualdade. A desigualdade só existe temporariamente no grau de adiantamento; mas todas têm direito ao mesmo destino, ao qual cada uma chega por seu trabalho, porque Deus não favoreceu ninguém à custa dos outros.
A doutrina materialista coloca a mulher numa inferioridade natural, da qual só é elevada pela boa vontade do homem. Com efeito, segundo essa doutrina, a alma não existe ou, se existe, extingue-se com a vida ou se perde no todo universal, o que vem a dar no mesmo. Assim, só resta à mulher a sua fraqueza corporal, que a põe sob a dependência do mais forte. A superioridade de algumas não passa de uma exceção, de uma bizarria da Natureza, de um jogo de órgãos, e não poderia fazer lei.
A doutrina espiritualista vulgar reconhece a existência da alma individual e imortal, mas é impotente para provar que não há diferença entre a do homem e a da mulher e, por conseguinte, uma superioridade natural de uma sobre a outra.
Com a Doutrina Espírita, a igualdade da mulher não é mais uma simples teoria especulativa; já não é uma concessão da força à fraqueza, mas um direito fundado nas próprias leis da Natureza. Dando a conhecer essas leis, o Espiritismo abre a era da emancipação legal da mulher, como abre a da igualdade e da fraternidade.




[1] Revista Espírita – Janeiro de 1866

POR QUE MINHA VIDA ESTÁ EMPERRADA[1]?


Oswaldo Shimoda

Muitas pessoas querem entender racionalmente e buscam respostas lógicas do por que suas vidas estarem bloqueadas em algumas áreas, ou mesmo em todas as áreas. Assim, fazem a si próprias as seguintes indagações: “Por que apesar de ser uma mulher bonita, inteligente, simpática, agradável, bom nível sociocultural e educacional os homens me abandonam, não consigo me firmar afetivamente?”;
Por que apesar de ser uma pessoa esforçada, dedicada, competente profissionalmente, bom relacionamento com as pessoas, não prospero financeira e profissionalmente?
Por que não consigo poupar, juntar dinheiro, apesar de não esbanjar e de ganhar relativamente bem?
Por que minha vida financeira é de altos e baixos, não consigo ter uma estabilidade financeira?
Por que desde criança sempre tive uma saúde precária, vivo doente?
Por que sinto um vazio, solidão, apesar de estar rodeado (a) de pessoas?
Por que me sinto perdido (a), desorientado (a), não sei que rumo tomar em minha vida?
Por que minha vida está bloqueada, nada dá certo?
Qual é o meu verdadeiro caminho profissional?
 
Após ter conduzido mais de 15 mil sessões de regressão de memória, constatei nos relatos de meus pacientes (a experiência nos ensina) 5 causas que os levam a ter suas vidas bloqueadas:

1.      Causa interna (psicológica): são experiências traumáticas, dolorosas, vividas pelos pacientes nessa vida (infância, nascimento, útero materno) ou num passado mais remoto, longínquo, isto é, em outras vidas. Exemplo: A paciente sabota de forma inconsciente, propositadamente, seus relacionamentos afetivos atraindo homens não disponíveis, problemáticos, complicados, que não querem nada com nada, com medo de se envolver e vir a ser rejeitada e abandonada, como ocorreu numa vida passada;
2.      Causa externa (espiritual): é provocada por um fator externo, isto é, espiritual (popularmente conhecido como ”encosto”, que são seres desencarnados das trevas – desafetos espirituais dos pacientes – que querem ajustar contas, se vingar por terem sido prejudicados numa vida passada. Por isso, esses seres espirituais obsessores sabotam suas vidas de todas as formas possíveis e inimagináveis aos olhos de um encarnado. Além dos desafetos espirituais (obsessores espirituais), há também os trabalhos feitos (magia negra, despachos, amarração, etc.) por inimigos encarnados dos pacientes na vida atual, que fazem com que suas vidas fiquem bloqueadas, bastante prejudicadas;
3.      Causa mista (psicológica e espiritual); nesse caso, o fator espiritual (obsessor espiritual), agrava, potencializa, a causa psicológica do paciente.
4.      Causa cármica (ação e reação): é um resgate cármico, ou seja, o problema financeiro, por exemplo, que o paciente apresenta na vida atual é consequência, resultado da ação que ele cometeu numa vida passada (pode ter roubado, extorquido, explorado, feito mal uso de seu dinheiro ou do dinheiro alheio na encarnação passada);
5.      Causa consensual: no plano espiritual, antes de reencarnar, o paciente fez um acordo, consentiu com seu mentor espiritual (o paciente não se lembra desse acordo por conta do “véu do esquecimento” do passado que o impede de recordar suas encarnações passadas, bem como do plano espiritual de onde veio) de passar por determinadas experiências de vida no plano terreno.

Eu me recordo de uma paciente que veio revoltada, inconformada ao meu consultório por ter perdido seu filho de 16 anos (ele teve um infarto fulminante logo após deixá-lo na porta do colégio).
Por isso, ela queria saber por que perdera o filho daquela forma e tão precocemente.
Numa das sessões de regressão, seu filho falecido apareceu em espírito e lhe disse (o “véu do esquecimento” do passado não lhe deixava lembrar) que no astral, no plano espiritual, antes dos dois reencarnarem, concordaram em passar por essa experiência terrena para o adiantamento espiritual de ambos.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Silêncio para ouvir Deus[1]

Joanna de Ângelis.

Em todos os tempos, os emissários de Deus recomendaram o silêncio profundo, a fim de que se possa ouvir-Lhe a voz e senti-lO mais intimamente.
Os ruídos e tumultos desviam o pensamento que se deve fixar no elevado objetivo de comunhão com a Divindade, para poder-se haurir energias vitalizadoras capazes de sustentar o Espírito nos embates inevitáveis do processo de evolução.
Quando se mergulha no mundo íntimo, encontram-se as mensagens sublimes da sabedoria, aquelas que constituem o alimento básico de sustentação da vida e, sem as quais, os objetivos essenciais da existência cedem lugar aos prazeres trêfegos e enganosos.
Os distúrbios externos, produzidos pela balbúrdia, desviam a mente para os tormentos exteriores, que tornam a marcha física insuportável, quando se constata a fragilidade das suas construções emocionais.
Em tentativa de atender a todas as excentricidades do vozerio do mundo, a mente desloca-se da meta essencial e perde o foco que lhe constitui o objetivo fundamental.
Quando o Espírito se encontra atordoado pela balbúrdia, o discernimento faz-se confuso e os componentes mentais e emocionais deslocam-se da atenção que deve ser concedida ao essencial, em benefício das aquisições secundárias, sempre incapazes de acalmar o coração.
Algumas vezes, alcança-se o topo do triunfo, meta muito buscada, a fama ligeira, a posição de destaque no grupo social, o riso bajulador e mentiroso, sob o pesado tributo dos conflitos internos que permanecem vorazes e desconhecidos, sempre em agitação.
Deus necessita do silêncio humano, a fim de fazer-se ouvido por quem deseje manter contato com a Sua Paternidade.
A Sua mensagem sempre tem sido transmitida após a transposição dos abismos externos e dos tumultos das paixões desarvoradas, permanecendo no ar, aguardando ser captada.
No imenso silêncio do monte Sinai, a Sua voz transmitiu a Moisés as regras de ouro do Decálogo, mas não deixou de prosseguir enviando novas instruções para a conquista da harmonia, da plenitude.
Na antiguidade oriental, a Sua palavra fazia-se ouvir através dos sensitivos de vária denominação, conclamando à paz, à vitória sobre os impositivos exteriores predominantes no ser.
Nas furnas e nas cavernas, nas paisagens ermas desvelava-se, oferecendo o conhecimento da verdade que deveria ser assimilado, lentamente, através dos tempos.
Mesmo Jesus, após atender as multidões que se sucediam esfaimadas de pão, de paz, de luz, buscava o refúgio da solidão para, em silêncio, poder ouvi-lO no santuário íntimo.
Robustecido pelas poderosas energias da comunhão com o Pai, volvia ao tumulto e desespero das massas insaciáveis, a fim de diminuir-lhes as dores e a loucura que tomava conta do imenso rebanho.
Simultaneamente, porém, proclamou que o Reino dos Céus encontra-se no coração, no intimo do ser.
Nestes dias agitados, faz-se necessário que se busque o silêncio para renovar-se as paisagens íntimas e ouvi-lO atentamente, pacificando-se.
À semelhança das ondas que permitem a comunicação terrestre, imprescindível que haja conexão para serem captadas. Estão carregadas de mensagens de todo jaez, mas, sem a sintonia apropriada, nada transmitem, parecendo não existir.
Habitua-te ao silêncio que faz muito bem.
Não temas a viagem interior, o encontro contigo mesmo, nas regiões profundas dos arcanos espirituais.
Necessitas ouvir-te para bem te conheceres e traçares os caminhos por onde deverás seguir com segurança e otimismo.
Observarás que és um enigma para ti mesmo, que te encontras oculto sob sucessivas camadas de disfarces que te impedem apresentar a autenticidade.
De essência divina, possuis o conhecimento e és dotado de sabedoria que aguardam o momento de desvelar-se.
Reflexiona, portanto, quanto possas, a fim de libertar-te das algemas que te escravizam à aparência, sem conceder-te o conforto do autoaprimoramento.
A multiplicidade das vozes que gritam em torno de ti, impedem-te a conscientização dos valores que dignificam a existência.
Quando te habitues ao silêncio, sentir-te-ás luarizado pelas claridades sublimes do amor de Deus e ser-te-á muito fácil a travessia pelas estradas perigosas dos relacionamentos humanos.
Compreenderás que a paz defluente da autoconquista, nada consegue abalar.
Com segurança e serenidade agirás em qualquer circunstância, feliz ou tormentosa, sem desespero, com admirável harmonia.
Torna o silêncio uma necessidade terapêutica, abençoando-te a jornada, ao mesmo tempo em que te propicia alegria de viver.
Desfrutarás de contínua alegria, sem galhofas nem vulgaridades, em situação de bem-estar natural.
São Francisco de Assis buscava o acume dos montes e as cavernas para, em silêncio, ouvir Deus.
Mas, não somente ele.
Todos aqueles que aspiram a plenitude atendem aos deveres do mundo e refugiam-se no silêncio para os colóquios com Deus.
A exaustão que te toma o corpo e a mente, o vazio existencial que te visita com frequência, a apatia que te surpreende, a ansiedade que te aturde, são frutos espúrios da turbulência que te atinge.
Busca o silêncio e alcança-o.
Acalma-te e isola-te da multidão, uma e outra vez, e viaja calmamente no rumo do ser que és, e descobrirás tesouros imprevisíveis aguardando-te no interior.
Criado o hábito de incursionar, banhar-te-ás nas claridades refulgentes da palavra de Deus falando-te ao coração.
Não postergues a luminosa experiência, iniciando-a quanto antes.



[1] Psicografia de Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica - da noite de 9 de fevereiro de 2015, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

MENSAGEM AOS JOVENS[1]



Que Deus abençoe a juventude!
Os jovens são as primeiras luzes do amanhecer do futuro.
... Cuidar de os preservar para os graves compromissos que lhes estão destinados constitui o inadiável desafio da educação.
Criarem-se condições apropriadas para o seu desenvolvimento intelecto-moral e espiritual, é o dever da geração moderna, de modo que venham a dispor dos recursos valiosos para o desempenho dos deveres para os quais renasceram.
Os jovens de hoje são, portanto, a sociedade de amanhã, e essa, evidentemente, se apresentará portadora dos tesouros que lhes sejam propiciados desde hoje para a vitória desses nautas do porvir.
Numa sociedade permissiva e utilitarista como esta vigoram os convites para a luxúria, o consumismo, a excentricidade irresponsável.
Enquanto as esquinas do prazer multiplicam-se em toda parte, a austeridade moral banaliza-se a soldo das situações e circunstâncias reprocháveis que lhes são oferecidas como objetivos a alcançar.
À medida que a promiscuidade torna-se a palavra de ordem, os corpos jovens ávidos de prazer afogam-se no pântano do gozo para o qual ainda não dispõem das resistências morais e do discernimento emocional.
Os apelos a que se encontram expostos desgastam-nos antes do amadurecimento psicológico para os enfrentamentos, dando lugar, primeiro, à contaminação morbosa para a larga consumpção da existência desperdiçada.
Todo jovem anseia por um lugar ao Sol, a fim de alcançar o que supõe ser a felicidade.
Informados equivocadamente sobre o que é ser feliz, ora por castrações religiosas, familiares, sociológicas, outras vezes, liberados excessivamente, não sabem eleger o comportamento que pode proporcionar a plenitude, derrapando em comportamentos infelizes…
Na fase juvenil o organismo explode de energia que deverá ser canalizada para o estudo, as disciplinas morais, os exercícios de equilíbrio, a fim de que se transforme em vigor capaz de resistir a todas as vicissitudes do processo evolutivo.
Não é fácil manter-se jovem e saudável num grupo social pervertido e sem sentido ou objetivo dignificante…
Não desistam os jovens de reivindicar os seus direitos de cidadania, de clamar pela justiça social, de insistir pelos recursos que lhe são destinados pela Vida.
Direcionando o pensamento para a harmonia, embora os desastres de vário porte que acontecem continuamente, trabalhar pela preservação da paz, do apoio aos fracos e oprimidos, aos esfaimados e enfermos, às crianças e às mulheres, aos idosos e aos párias e excluídos dos círculos da hipocrisia, é um programa desafiador que aguarda a ação vigorosa.
Buscar a autenticidade e o sentido da existência é parte fundamental do seu compromisso de desenvolvimento ético.
A juventude orgânica do ser humano, embora seja a mais longa do reino animal, é de breve curso, porquanto logo se esboçam as características de adulto quando os efeitos já se apresentam.
É verdade que este é o mundo de angústias que as gerações passadas, estruturadas em guerras e privilégios para uns em detrimento de outros, quando o idealismo ancestral cedeu lugar ao niilismo aniquilador e a força do poder predominava, edificaram como os ideais de vida para a Humanidade.
É hora de refazer e de recompor.
O tempo urge no relógio da evolução humana.
Escrevendo a Timóteo, seu discípulo amado, o apóstolo Paulo exortava-o a ser sóbrio em todas as coisas, suportar os sofrimentos, a fazer a obra dum evangelista, a desempenhar bem o teu ministério. (*)
Juventude formosa e sonhadora!
Tudo quanto contemples em forma de corrupção, de degredo, de miséria, é a herança maléfica da insensatez e da crueldade.
Necessário que pares na correria alucinada pelos tóxicos da ilusão e reflexiones, pois que estes são os teus dias de preparação, a fim de que não repitas, mais tarde, tudo quanto agora censuras ou te permites em fuga emocional, evitando o enfrentamento indispensável ao triunfo pessoal.
O alvorecer borda de cores a noite sombria na qual se homiziam o crime e a sordidez.
Faze luz desde agora, não te comprometendo com o mal, não te asfixiando nos vapores que embriagam os sentidos e vilipendiam o ser.
És o amanhecer!
Indispensável clarear todas as sombras com a soberana luz do amor e caminhar com segurança na direção do dia pleno.
Não te permitas corromper pelos astutos triunfadores de um dia. Eles já foram jovens e enfermaram muito cedo, enquanto desfrutas do conhecimento saudável da vida condigna.
Apontando o caminho a um jovem rico que O interrogou como conseguir o Reino dos Céus, Jesus respondeu com firmeza: - Vende tudo o que tens, dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos Céus, depois vem e segue-me... iniciando o esforço agora.
Não há outra alternativa a seguir.
Vende ao amor as tuas forças e segue o Mestre Incomparável hoje, porque amanhã, possivelmente, será tarde demais. Hoje é o teu dia. Avança!
Joanna de Ângelis
a

Notas da autora espiritual
(*)II Timóteo 4:5.
(1) Mateus 19:21.



[1] Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na sessão mediúnica da noite de 22 de julho de 2013, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia, quando o Papa Francisco chegou ao Brasil, para iniciar a 28ª Jornada Mundial da Juventude.