"À proporção que se liberta,
a alma encontra-se numa situação
comparável àquele que desperta de
profundo sono. Bem diverso é,
contudo, esse despertar".
Allan
Kardec
Através das
instruções de pesquisadores, dos conhecimentos hauridos em diálogos com
Espíritos desencarnados, que já alcançaram certo grau de independência e
evolução, e da vivência frequente com Espíritos enfermos nas sessões mediúnicas
de tratamento, podemos afirmar a existência de um princípio geral, que orienta
a situação do Espírito, após seu retorno ao plano extrafísico: ao deixar a vida
material, gravita automaticamente para a posição que lhe seja peculiar.
Evidentemente, o
tempo em que isto ocorre é extremamente variável, dependendo dos fatores que
influenciaram a desencarnação, do móvel moral/intelectual conquistado durante a
experiência terrena que acabou de deixar, e do acervo remanescente das
existências anteriores, referentes ao comprometimento com o automatismo da lei
de causa e efeito.
A situação em
que a alma se encontrará não lhe acrescentará poder, conhecimento ou liberdade,
além do que já possua. Apenas certa agudez de percepção lhe fará sentir-se
diferente da condição anterior de encarnada.
A invisibilidade
e a intangibilidade serão as características comuns a todos os desencarnados,
com relação aos que deixaram na retaguarda, passando a perceber, com nitidez,
os também desencarnados que estejam na sua situação evolutiva, ou abaixo dela.
Quanto aos
Espíritos de grau superior, somente são vistos ou percebidos, se assim o
desejarem. O abalo da desencarnação, em muitos casos, não deixa o Espírito
perceber a realidade da própria situação, isto é, não acredita que morreu, tal
a identidade entre a aparência do corpo físico e a do espiritual, que é
semelhante.
Como no mundo
espiritual "o pensamento é tudo", o Espírito reforça a realidade
físico-espiritual em que se encontra, consolidando a forma ideoplástica do
próprio aspecto com que se sente exteriorizar na nova situação.
À vontade, que é
a força modeladora do pensamento, dependendo de sua intensidade, promoverá a
consecução dos objetivos que o Espírito pretenda alcançar. O retorno ao reduto
doméstico, por exemplo, algumas vezes é conseguido pelo anseio forte que o
desencarnado demonstre, embora ele não perceba como o conseguiu.
O pensamento,
sendo a força por excelência na vida extrafísica, aqueles que se mantenham
preocupados com os assuntos e bens da vida material recém-abandonada
conservam-se presos a eles, o que lhes dificulta sobremaneira a ascensão a
patamares espirituais mais elevados.
Uma expressiva
quantidade de recém-libertos do corpo se compraz em manter-se ligada às
sensações da vida física, na ilusão de que assim prolongariam a condição de
"vivos". Para conseguir tais sensações, alimentam-se das energias
sugadas dos encarnados, que se lhes assemelham, moral e intelectualmente.
Esses encarnados funcionam como "pontes
vivas". Os que se viciaram no álcool, nas drogas ou nos desvios da
sensualidade conseguem justapor-se aos seus "hospedeiros",
sugando-lhes as energias encharcadas daquele estado vibratório que os satisfaz.
Ao desencarnar,
os órgãos permanecem existindo no corpo espiritual, arrastando consigo as
necessidades próprias de cada um. Com a natural evolução da alma, a satisfação
das necessidades exigidas por eles vai desaparecendo, com tempo muito variável,
de um Espírito para outro, até extinguir-se, já que o Espírito se mantém com
outros recursos de alimentação energética, como a respiração e a absorção
pranaiama.
Os desencarnados
que fazem a passagem em elevado estado de debilidade são recolhidos a hospitais
espirituais existentes nas regiões próximas à Crosta, onde são tratados quase
como se encarnados fossem, e alimentados normalmente com caldos, sucos etc. Na
verdade, a necessidade desses recursos existe mais por causa do estado mental
dos pacientes do que por exigência do corpo espiritual.
Não é
imediatamente que o Espírito se liberta da escravidão dos sentidos. Somente à
proporção que o domínio mental se vai ampliando e intensificando é que ele vai
se inteirando da nova realidade, e eles, os sentidos, irão deixando de atuar
como necessidade imperiosa.
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