Allan Kardec
O Sr. J..., um de nossos colegas
da Sociedade, por diversas vezes tinha visto chamas azuis passeando sobre o seu
leito.
Certo de que se tratava de uma
manifestação, no dia 20 de janeiro último tivemos a ideia de evocar um desses
Espíritos, a fim de nos instruirmos sobre a sua natureza.
1. Evocação.
– Que queres de
mim?
2. Com que objetivo te manifestaste na casa do Sr. J...?
– Que te importa?
3. A mim pouco importa, é verdade; mas para ele é diferente.
– Ah! Bela razão!
Observação – Essas primeiras perguntas foram
feitas pelo Sr. Kardec. O Sr. J... prosseguiu com o interrogatório.
4. É que não recebo de bom grado qualquer pessoa em minha
casa.
– Não tens razão; sou muito bom.
5. Dize, então, por favor o que vinhas fazer em minha casa?
– Por acaso
acreditas que, pelo fato de ser bom, eu te deva obedecer?
6. Disseram-me que és um Espírito muito leviano.
– Julgaram-me muito mal a esse respeito.
7. Se é uma calúnia, prova-o.
– Não me incomodo.
8. Eu poderia empregar um meio para obrigar-te a dizer quem
és.
– Palavra de
honra, isso não poderia senão me divertir um pouco.
9. Intimo-te a dizer-me o que vens fazer em minha casa.
– Não tinha senão
um propósito: divertir-me.
10. Isso não tem relação com o que me foi dito pelos
Espíritos superiores.
– Fui mandado à tua casa e já conheces a razão. Estás
satisfeito?
11. Mentiste, pois?
– Não.
12. Não tinhas, então, más intenções?
– Não; disseram-te o mesmo que eu.
13. Poderias dizer-nos qual é a tua posição entre os
Espíritos?
– Tua curiosidade me agrada.
14. Pois que pretendes ser bom, por que me respondes de
maneira tão pouco conveniente?
– Acaso eu te insultei?
15. Não; entretanto, por que respondes de maneira evasiva,
recusando-te a dar as informações que te peço?
– Sob o comando de certos Espíritos, sou livre para fazer
o que quiser.
16. Ora, ora, vejo que começas a ficar mais razoável e
imagino que iremos ter relações mais amigáveis.
– Deixa de palavreado: será muito melhor.
17. Sob que forma te apresentas aqui?
– Não tenho mais forma.
18. Sabes o que é o perispírito?
– Não; a menos que seja o vento.
19. Que poderia eu fazer para te ser agradável?
– Já te disse: cala-te.
20. A missão que vieste cumprir em minha casa fez que
avançasses como Espírito?
– Isto é outra coisa; não me faças tais perguntas. Já
sabes que obedeço a certos Espíritos; dirige-te a eles. Quanto a mim, peço para
ir embora.
21. Acaso teríamos tido más
relações em outra existência e seria isso a causa do teu mau humor?
– Não te lembras de quanto disseste mal de mim, a quem
quisesse ouvir? Cala-te, digo-te eu.
22. De ti não falei senão o que foi dito pelos Espíritos
superiores a teu respeito.
– Disseste também que eu te havia obsidiado.
23. Ficaste satisfeito com o resultado que obtiveste?
– Isso não é contigo.
24. Preferes então que eu conserve de ti uma má impressão?
– É possível. Vou-me embora.
Observação – Pelas conversas relatadas podemos
constatar a extrema diversidade que existe na linguagem dos Espíritos, conforme
o seu grau de elevação. A dos Espíritos desta natureza é quase sempre
caracterizada pela grosseria e pela impaciência. Quando são chamados às
reuniões sérias sentimos que não comparecem de bom grado; têm pressa de partir
porque não se sentem à vontade no meio de seus superiores e das pessoas que os
embaraçam com perguntas. Não se dá o mesmo nas reuniões frívolas, onde nos
divertimos com as suas facécias: estão no seu próprio ambiente e o aproveitam
com alegria.
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