terça-feira, 12 de agosto de 2025

CONVERSAS FAMILIARES DE ALÉM TÚMULO: Hitoti, Chefe Taitiano[1]


Allan Kardec

 

Um oficial da marinha, presente à sessão da Sociedade no dia 4 de fevereiro último, mostrou desejo de evocar um chefe taitiano chamado Hitoti, que conhecera pessoalmente durante sua passagem na Oceania.

1. Evocação.

– Que quereis?

2. Poderíeis dizer-nos por que preferistes abraçar a causa francesa na Oceania?

– Eu gostava dessa nação. Aliás, meu interesse a tanto me obrigava.

3. Ficastes satisfeito com a viagem à França que facultamos ao vosso neto e com os cuidados que lhe dispensamos?

– Sim e não. Talvez essa viagem tenha aperfeiçoado bastante o seu Espírito, mas o tornou completamente estranho à sua pátria, facultando-lhe certas ideias que jamais brotariam dele.

4. Das recompensas que recebestes do governo francês, quais as que vos deram maior satisfação?

– As condecorações.

5. E entre essas condecorações, qual a que preferis?

– A da Legião de Honra.

 

Observação – Essa circunstância era ignorada do médium e de todos os assistentes; foi confirmada pela pessoa que fazia a evocação. Embora o médium que servia de intermediário fosse intuitivo, e não mecânico, como tal pensamento poderia ser dele mesmo? Poder-se-ia admiti-lo em se tratando de uma pergunta banal, mas isso não seria admissível quando se trata de um fato positivo, do qual nada podia dar-lhe uma ideia.

 

6. Sois mais feliz agora do quando éreis vivo?

– Sim, muito mais.

7. Em que estado se encontra o vosso Espírito?

– Errante; mas devo reencarnar brevemente.

8. Quais as vossas ocupações nessa vida errante?

– Instruir-me.

 

Observação – Essa resposta é quase geral em todos os Espíritos errantes; os que se acham mais avançados moralmente acrescentam que se ocupam em fazer o bem, assistindo os que necessitam de seus conselhos.

 

9. De que maneira vos instruís, porquanto não deveis fazê-lo da mesma maneira que o fazíeis quando vivo?

– Não; trabalho meu Espírito; viajo. Para vós, compreendo que isto é pouco inteligível; mais tarde vireis a sabê-lo.

10. Quais as regiões que frequentais com mais boa vontade?

– Regiões? Persuadi-vos de que não viajo mais à vossa Terra. Vou mais alto, mais baixo, acima e abaixo, moral e fisicamente. Vi e examinei com o maior cuidado mundos ao nascente e ao poente e que ainda se acham em estado de terrível barbárie e outros que se encontram imensamente acima de vós.

11. Dissestes que em breve reencarnaríeis; sabeis em que mundo?

– Sim; nele já estive várias vezes.

12. Podereis designá-lo?

– Não.

13. Por que em vossas viagens negligenciais a Terra?

– Já a conheço.

14. Embora não viajeis mais pela Terra, pensais ainda em algumas pessoas que nela amastes?

– Pouco.

15. Não vos ocupais, portanto, das pessoas que vos dispensaram afeição?

– Pouco.

16. Lembrai-vos delas?

– Muito bem; mas nós nos veremos e espero pagar tudo isso. Perguntam-me se me preocupo com isso? Não; mas nem por isso os esqueço.

17. Não revistes esse amigo ao qual eu aludia há pouco e que, como vós, está morto?

– Sim; mas nós nos veremos mais materialmente: encarnaremos na mesma esfera e nossas existências se aproximarão.

18. Nós vos agradecemos por terdes atendido ao nosso apelo.

– Adeus. Trabalhai e pensai.

 

Observação – A pessoa que fez a evocação e que conhece os costumes desses povos, declara que esta última frase está de acordo com os seus hábitos; entre eles é uma locução de uso um tanto banal, e que o médium não podia adivinhar.

Reconhece também que a entrevista, na sua inteireza, condiz com o caráter do Espírito evocado, e que sua identidade é evidente.

A resposta à pergunta 17 oferece uma particularidade notável: Encarnaremos na mesma esfera e nossas existências se aproximarão. É evidente que os seres que se amaram encontrar-se-ão no mundo dos Espíritos; mas, segundo várias respostas análogas, algumas vezes parece que eles podem seguir-se numa outra existência corporal, na qual as circunstâncias os aproximam sem que de nada desconfiem, quer por laços de parentesco, quer por relações amigáveis. Isto nos dá a razão de certas simpatias.



[1] REVISTA ESPÍRITA – março/1859 – Allan Kardec

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