sexta-feira, 30 de maio de 2025

GENERALIZAÇÕES INDEVIDAS DE FATOS CIENTÍFICOS[1],[2]

 


Marco Milani

 

 A ciência busca compreender os fenômenos por meio de investigações que respeitam critérios rigorosos de validade e confiabilidade. Contudo, o acesso facilitado à informação e a crescente demanda por respostas imediatas têm contribuído para interpretações simplificadas e, muitas vezes, equivocadas dos resultados de pesquisas. Quando os achados científicos são utilizados fora de seu contexto original, promovem-se generalizações que, desprovidas do necessário respaldo metodológico, acabam legitimando convicções pessoais e interesses particulares, comprometendo a integridade do discurso científico.

A tendência de resumir dados complexos em mensagens de fácil assimilação e com forte apelo pela atenção tem raízes na cultura contemporânea, onde a velocidade da informação frequentemente se sobrepõe à qualidade do conteúdo divulgado. A redução dos resultados de estudos a afirmações unidimensionais desvirtua o caráter investigativo da ciência e pode levar a interpretações equivocadas, especialmente quando conclusões de pesquisas observacionais são extraídas sem a devida consideração das variáveis intervenientes e limitações metodológicas. Essa prática, difundida em diversas áreas do conhecimento, desde a saúde até as ciências sociais, ratifica ideias preestabelecidas e fortalece a polarização no debate público, dificultando a construção de consensos baseados em evidências.

No meio espírita, esse fenômeno também ocorre, especialmente quando descobertas científicas são divulgadas de forma parcial para validar crenças ou fortalecer a identidade do movimento. Um exemplo clássico foi a repercussão da interessante dissertação de mestrado[3] de Ricardo Monezi Julião de Oliveira, defendida na Universidade de São Paulo (USP) em 2003, que investigou os efeitos da imposição de mãos em camundongos e concluiu que há uma alteração fisiológica decorrente desse ato e que há que se estudar porque ela ocorre. Embora o estudo tenha indicado possíveis benefícios terapêuticos nos sistemas hematológico e fisiológico dos animais, ele não analisou especificamente o passe espírita, nem tinha como objetivo comprovar a eficácia dessa prática no contexto doutrinário. No entanto, na ocasião, diversos grupos espíritas alardearam equivocadamente que a USP havia comprovado cientificamente os efeitos do passe espírita, uma extrapolação indevida que desconsiderava as limitações e o escopo real da pesquisa. Não é pelo fato de um trabalho de pesquisa ser aprovado numa banca de mestrado ou doutorado que a instituição promotora atesta a validade e veracidade do conteúdo do respectivo estudo. A única coisa que a Instituição de Ensino Superior se responsabiliza é o registro público das milhares de defesas que ocorrem regularmente em suas dependências. Certamente a pesquisa de Ricardo Oliveira desperta a atenção de pesquisadores espíritas e deve ser analisada, mas há uma grande distância entre o objeto estudado e as notícias sensacionalistas a respeito.

Recentemente, uma promissora pesquisa liderada pelo médico Alexander Moreira-Almeida analisou diferenças genéticas em supostos médiuns e não-médiuns e foi publicada na Revista Brasileira de Psiquiatria[4]. Trata-se de valioso trabalho sugerindo que podem existir aspectos biológicos associados àqueles que alegam participar de fenômenos mediúnicos. Contudo, a pesquisa não afirma que a mediunidade é determinada geneticamente, nem exclui a influência de outros fatores materiais nos resultados. Mesmo assim, diversos meios de comunicação espíritas divulgaram que "a ciência comprovou que a mediunidade depende de uma condição orgânica", em associação direta com o conhecimento doutrinário espírita, criando uma narrativa simplista com o próprio rigor metodológico adotado no estudo.

É indispensável que se mantenha a clareza na exposição dos limites das investigações, o reconhecimento das incertezas inerentes ao processo científico e a utilização de uma linguagem que preserve a complexidade dos dados.

Corroborando com a prudência necessária, o assessor de ciência e pesquisa da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, Alexandre Fontes da Fonseca, discorre sobre a mesma situação e destaca que “esse trabalho não confirma nenhuma especificidade ou especialidade da glândula pineal com relação à mediunidade”, que é outro assunto bastante discutido em parte do movimento espírita[5].

A educação científica, tanto em ambientes acadêmicos quanto em espaços menos familiarizados com as questões metodológicas da produção do conhecimento, desempenha um papel crucial na formação de uma sociedade crítica e capaz de discernir entre uma ciência robusta e discursos apaixonados pseudocientíficos. Assim, o compromisso com a transparência, a ética e a rigorosidade dos métodos utilizados devem nortear não só a produção científica, mas também sua divulgação, a fim de preservar a credibilidade da ciência e promover um debate público esclarecido, contribuindo para a construção de um ambiente de conhecimento sólido e transformador.



[2] Texto publicado na Revista Dirigente Espírita, n.206, mai/jun 2025, p.34-35

[3] Oliveira, R.M.J. (2003). “Avaliação de efeitos da prática de impostação de mãos sobre os sistemas hematológico e imunológico de camundongos machos”. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5160/tde-23092014-145211/pt-br.php

[4] Gattaz, W. F.  et al. (2025). “Candidate Genes Related to Spiritual Mediumship: A Whole Exome Sequencing Analysis of Highly Gifted Mediums”. Disponível em: https://www.bjp.org.br/export-pdf/3591/bjp3958.pdf

[5] Fonseca, A. F. (2025) “Genes da mediunidade: cautela na forma como divulgar”. Revista Digital Dirigente Espírita. USE. Ed. 205. mar/abr, p.24-25.

quinta-feira, 29 de maio de 2025

PRESIDINDO DESÍGNIOS[1]

 


Miramez

 

 Poderia dar-se não haver Espírito que aceitasse encarnar numa criança que houvesse de nascer?

Deus a isso proveria. Quando uma criança tem que nascer vital, está predestinada sempre a ter uma alma. Nada se cria sem que à criação presida um desígnio.

Questão 336 / O Livro dos Espíritos

 

A formação de uma criança no campo uterino é um milagre da natureza, é prova da existência de Deus e da Sua corte angelical, nos imensuráveis mundos que povoam a criação. Um corpo no seio da mãe, não pode se formar por ele mesmo, sem antes existir uma causa, que é a escolha do Espírito ou dos benfeitores da eternidade. Tudo é o Espírito que comanda, sob a direção de Deus e de Seus agentes de luz mais ligados a Ele.

O corpo em formação obedece à forma perispiritual, por ser uma força poderosa, movida por uma inteligência, que é a alma. Nada acontece por acaso, e quando ocorre o aborto espontâneo, e mesmo o provocado, é o Espírito passando por provas ou resgatando dividas do passado. Tudo que passamos constitui sempre processos de despertar espiritual, até chegarmos àquele estado que todos almejamos, mesmo na inconsciência: a tranquilidade imperturbável da consciência.

Se é Deus, nosso Pai, que preside todos os acontecimentos na criação, desde o nascimento da mônada até a sua corte angélica, desde o vírus aos grandes animais, desde os átomos aos mundos que circulam no universo, porque Ele, o Todo Poderoso, iria abandonar um ato sublime como o é a reencarnação de um Espírito, a formação de um corpo para servir de instrumento para esse? Nada se faz sem a Sua aquiescência.

Um corpo não se forma por acaso; quando se dá esse fato extraordinário, já se encontra escolhida a alma que nele se possa mover. E na hora da concepção que se ligam os primeiros laços vitais no corpo predestinado a nascer. Geralmente o Espírito fica acompanhando os seus futuros pais desde algum tempo, para ir se adaptando fluidicamente, no sentido de que o nascimento não venha com certos problemas.

A vida é toda assistida pelo Criador, sem erros. Em certos casos, diz a medicina oficial do mundo, que a natureza se esquece de fazer isso ou aquilo; engano, dos maiores enganos, pois a natureza é Deus operando, e Ele não Se esquece de nada. O que ocorre são provas que o Espírito tem de passar dentro das formas escolhidas. O esquecimento se houver, foi e é proposital, para que se cumpra a justiça no clima do amor.

Quando a ciência da Terra se interessar pela ciência do céu, tudo vai ser visto com alegria, todos os acontecimentos mostrar-nos-ão a mão de Deus na execução de todos os desígnios. Devemos estudar mais, que no mundo estão registradas todas as respostas para tudo o que desejarmos saber.

Não nos cansamos de mencionar O Livro dos Espíritos, cujas respostas se alinham com todas as leis universais, para quem tem olhos de ver. A sublimidade da Doutrina dos Espíritos é a de reviver o Cristo na sua plenitude, é a de mostrar o Evangelho de Nosso Senhor como ele é e foi no seu esplendor inicial. Entretanto, convém notar-se que a Doutrina é progressiva; ela avança de acordo com a evolução das criaturas. Ela é obediente aos ensinamentos do Mestre, que são dados a cada um segundo o seu merecimento. Deus não é deus de limitação; Ele tudo vê e assiste, ampara e ama todos do Seu rebanho, e Jesus, em se tratando da Terra, é o nosso sol que nos dá vida.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA – Volume 7 – João Nunes Maia

quarta-feira, 28 de maio de 2025

RYAN HAMMONS (caso de reencarnação)[1]

 


James G. Matlock

 

Ryan Hammons é um jovem americano que detém o recorde de número de memórias de uma vida passada relatadas antes da identificação da pessoa anterior. Jim Tucker apresentou o relato inicial deste caso em um livro de 2013. Desde então, o caso tem sido estudado por outros pesquisadores que, ao mesmo tempo em que acrescentam novos detalhes, confirmam plenamente sua descrição e avaliação.

 

Marty Martyn

Marty Martyn nasceu Morris Kolinsky na Filadélfia, Pensilvânia, em 19 de maio de 1903. Seus pais eram judeus ucranianos que haviam emigrado recentemente para os Estados Unidos. Ele tinha duas irmãs, uma das quais faleceu jovem. Na década de 1920, ele e a irmã que sobreviveu foram para Nova York, onde ele sapateou na Broadway como Marty Kolinsky.

Mais tarde, mudou-se para Los Angeles, mudou seu nome para Marty Martyn e tentou fazer sucesso no cinema. Quando sua carreira de ator fracassou, abriu uma agência de talentos, a Marty Martyn Agency. A agência fez sucesso e ele enriqueceu mais tarde.

Martyn era um republicano fervoroso que apreciava restaurantes chineses, gostava de praia e tinha uma extensa coleção de óculos de sol. Ele possuía uma casa grande com piscina ao ar livre na Roxbury Drive, em Beverly Hills. Viajava com frequência para Nova York e, em quatro ocasiões, navegou para a Europa no Queen Mary para visitar sua irmã, que então morava em Paris.

Martyn foi casado quatro vezes, mas teve apenas uma filha, com sua última esposa. Teve cinco enteados, incluindo três meninos que adotou quando se casou pela última vez. Ele foi acometido de leucemia e morreu no hospital em 25 de dezembro de 1964, de hemorragia cerebral, aos 61 anos[2] .

 

Ryan Hammons

Orador falecido

Ryan Hammons nasceu em Muskogee, Oklahoma, em 2004, quase quarenta anos após a morte de Martyn. Seus pais, Cyndi e Kevin, eram cristãos protestantes. Cyndi serviu como escrivã adjunta do condado; Kevin era tenente no departamento de polícia.

Ryan demorou a falar devido ao aumento das adenoides. As adenoides são uma massa de tecido linfático situada entre a parte posterior do nariz e a garganta; ajudam a proteger o corpo contra vírus e bactérias, mas, se inflamadas, podem dificultar a respiração e a fala em crianças pequenas.

Aos quatro anos de idade, as adenoides de Ryan foram removidas. Ele então começou a falar frases completas e logo começou a relatar memórias que, por fim, foram identificadas com Marty Martyn[3]. Seus primeiros comentários se referiam a três filhos adotivos aos quais ele havia dado seu nome. Ele disse que era de Hollywood e implorou a Cyndi que o levasse lá para que pudesse ver sua "outra família".

Ryan disse que tinha uma casa grande com piscina, localizada em uma rua cujo nome tinha a palavra "rock". Ele tinha um carro verde que não permitia que ninguém mais dirigisse. Gostava de ir à praia com as amigas. Ryan era fascinado por óculos de sol e disse que costumava se bronzear na vida que lembrava.

Ele disse que havia trabalhado para uma "agência" onde as pessoas mudavam de nome. Também falou bastante sobre um "Senator Five", que costumava ver em Nova York. Não gostava de Franklin Delano Roosevelt (democrata). Viajou muito, foi de barco pela Europa, visitou Paris e viu a Torre Eiffel.

O auge das memórias de Ryan ocorreu quando ele tinha quatro anos, mas elas continuaram por muitos anos depois. Ele contava suas memórias na creche e também em casa. Embora fizesse muitos comentários em resposta a coisas que via e ouvia durante o dia, ele tinha uma inclinação especial para contar suas histórias na hora do banho, antes de dormir. Às vezes, acordava gritando por causa de pesadelos, embora não conseguisse se lembrar do que eram. Às vezes, ao se levantar, reclamava que seu peito doía e que sentia falta de ar.

Na tentativa de ajudá-lo a se lembrar mais e talvez descobrir a quem se referia, Cyndi começou a pegar livros sobre Hollywood emprestados na biblioteca local. Ryan reconheceu Rita Hayworth e Marilyn Monroe. Então, quando Cyndi trouxe para casa um livro com informações sobre um filme de 1932, Night After Night, Ryan viu a foto de um ator que, segundo ele, era ele mesmo no passado. Infelizmente, esse homem era um figurante no filme. Seu nome nunca foi mencionado e os créditos do filme não deixavam claro quem ele era.

 

A vida no cinema

Em fevereiro de 2010, Cyndi escreveu a Jim Tucker, da Universidade da Virgínia. Ela listou algumas das declarações de Ryan e incluiu a foto do figurante de Night After Night que Ryan havia dito ser sua encarnação anterior.

Um mês antes de receber a carta de Cyndi, Tucker foi contatado por um produtor da série de TV a cabo The UneXplained, que manifestou interesse em documentar sua pesquisa sobre reencarnação. Tucker lhe contou sobre Ryan e recebeu uma câmera para gravar sua primeira entrevista com o garoto, agendada para abril.

Duas semanas após o retorno de Tucker de Oklahoma, os produtores da série decidiram colocar o caso de Ryan em primeiro plano em sua lista de prioridades. Identificaram um ator que acreditavam ser aquele que Ryan se lembrava de ter sido e o levaram de avião para Los Angeles, mas ele não reconheceu nenhuma casa ligada a esse homem. No entanto, reconheceu uma casa que pertencera a outro ator, Wild Bill Elliot, que havia aparecido em Night After Night e que ele havia dito anteriormente ser seu amigo.

Descobriu-se que a equipe de produção havia feito a identificação com base em uma semelhança percebida entre o ator e o figurante de  Night After Night, mas nada em sua biografia correspondia às memórias de Ryan. Um arquivista de filmes contratado para uma segunda investigação conseguiu determinar o nome do figurante – ele era Marty Martyn. Uma pesquisa sobre a vida de Martyn mostrou que ele se encaixava perfeitamente nas memórias de Ryan.

Ryan tinha seis anos quando voou de volta para Los Angeles e fez um tour pelos lugares associados a Marty Martyn. Ele respondeu a todas as perguntas, deixando poucas dúvidas de que essa nova identificação era a correta.

 

Diário de Cyndi

Por sugestão de Kevin, Cyndi registrou as memórias de Ryan em um diário. Ela começou a fazer isso quando Ryan tinha cinco anos, mas antes de contatar Jim Tucker, e continuou depois. Em março de 2016, ela havia listado 230 itens, dos quais 55 (24%) se mostraram corretos e quinze (6,5%) incorretos ou implausíveis para Marty Martyn; com o passar do tempo, a maioria (140, ou 69,5%)[4] tornou-se inverificável .

Oito das declarações corretas de Ryan eram de natureza tão geral que Cyndi conseguiu verificá-las (em livros ou por meio de buscas na internet) antes mesmo de escrever para Tucker. Por exemplo, ela conseguiu confirmar as identidades dos atores que Ryan reconheceu pelo nome nas fotos de Night After Night[5].

Ryan fez cada uma das outras 47 afirmações corretas sobre Marty Martyn antes que seu nome fosse conhecido. Essas 47 afirmações foram extraídas do diário de Cyndi e publicadas em um livro de Leslie Kean[6].

§  Ele é o homem na fotografia do filme Night After Night.

§  Ele morava em Hollywood.

§  Ele morava em algum lugar com a palavra “rock” ou “mount”; um endereço de rua.

§  Ele era muito rico.

§  A casa dele era grande.

§  Havia uma parede de tijolos na casa.

§  Eram três meninos.

§  Ele não achava que os meninos eram seus, mas deu-lhes seu nome.

§  Ele tinha uma filha.

§  Ele trouxe livros de colorir para casa.

§  Ele teve problemas com a enteada mais velha: ela não o ouvia e não o respeitava.

§  Ele tinha uma piscina grande.

§  Sua mãe tinha cabelos castanhos cacheados.

§  Ele tinha uma irmã mais nova.

§  Ele comprou um cachorro para sua filha quando ela tinha cerca de seis anos.

§  Ela não gostou do cachorro.

§  Ele odiava gatos.

§  Ele conhecia o senador Ives (Five).

§  Ele costumava ver o senador Ives em Nova York (encontrado em um mapa).

§  Ele tinha um carro verde.

§  Ele não deixou ninguém mais dirigir o carro verde.

§  Ele tinha muitas esposas.

§  A esposa dele dirigia um belo carro preto.

§  Ele era um agente; ele dirigia uma agência.

§  A agência mudou os nomes das pessoas.

§  Ele dançou sapateado no palco.

§  O palco era na cidade de Nova York.

§  Ele viu o mundo em grandes barcos onde dançou com belas moças.

§  Ele comia muito em Chinatown; seu restaurante favorito era lá.

§  Ele teve “queimaduras na pele” em Hollywood.

§  Ele foi a Paris; viu a Torre Eiffel.

§  Ele levou as namoradas para o oceano.

§  Ele tocava piano e tinha um.

§  Ele tinha uma empregada afro-americana.

§  Ele conhecia Rita Hayworth — ela fazia “bebidas geladas” (reconhecimento de foto).

§  Ele conhecia aquela senhora Mary — você não conseguia chegar perto para falar com ela (reconhecimento de foto, Marilyn Monroe).

§  Pão era sua comida favorita.

§  Ele tinha uma coleção de óculos de sol.

§  Ele era fumante.

§  Ele teve muitas namoradas e casos amorosos, mas nunca teve problemas para conquistar as mulheres.

§  Ele gostava de observar surfistas na praia.

§  Ele possuía armas.

§  Ele não tinha TV quando era pequeno; primeiro eles tinham rádio.

§  Ele odiava FDR (Franklin Delano Roosevelt, um democrata).

§  Você vai para uma sala com números na porta antes de morrer.

§  “Não tenho 5 anos; tenho mais perto de 105 quando estive aqui antes” (teria 106).

§  Ele morreu aos sessenta e um anos.

A afirmação de que ele morreu aos 61 anos é particularmente interessante, pois a certidão de óbito de Martyn indicava sua data de nascimento como 1905, o que significaria que ele tinha apenas 59 anos em 1964. No entanto, pesquisas subsequentes mostraram que, na verdade, Martyn nasceu em 1903, então Ryan estava certo. A data correta consta na biografia[7] online de Martyn no IMDb[8], que não estava disponível para Tucker inicialmente, de modo que ele considerou isso um erro em sua descrição do caso.

Entre as quinze afirmações que se mostraram erradas ou duvidosas para Marty Martyn estavam:

§  Seu pai morreu quando ele era criança (em sua última vida). O pai de Martyn morreu apenas seis anos antes dele.

§  A esposa dele gostava de prender o cabelo da filha em marias-chiquinhas ou rabos de cavalo. Se ele fazia isso, devia ter sido quando ela era bem pequena, pois a filha não se lembrava disso.

§  Ele deu à filha um cão de guarda de que ela não gostava. Martyn de fato comprou para a filha um cão de que ela não gostava, mas era um Yorkshire Terrier, não muito bom cão de guarda.

§  Ele morreu quando seu coração explodiu. A morte de Martyn não foi testemunhada, mas como a causa da morte foi uma hemorragia cerebral, isso parece improvável.

§  Seu corpo foi cremado. A certidão de óbito de Martyn afirma que ele foi enterrado[9].

 

Após a morte

Além de falar sobre a vida de Martyn, Ryan comentou sobre o que acontecia quando alguém morria. Havia uma luz "incrível" em direção à qual se deveria ir, mas todos retornavam em um novo corpo para viver novamente.

Quando morreu, ele havia ido para um lugar de espera, em vez de para o céu. Em outra ocasião, Ryan disse a Cyndi que a vira do céu e que a conhecia de uma vida anterior. Ele disse que a havia escolhido para ser sua mãe para que pudesse cuidar dela nesta vida.

Ryan disse que se lembrava de estar no ventre de Cyndi e perguntou por que ela queria que ele fosse uma menina. Na verdade, Cyndi queria muito ter uma menina. Ryan acrescentou que a viu chorar por muito tempo quando soube que seria um menino.

Esse médico fez um teste e disse que eu era um menino. Você ficou brava e disse que ele estava errado. Você simplesmente sabia que eu seria uma menina. Mamãe, era aniversário do papai, você foi a um restaurante depois comer e chorou por um bom tempo.

Cyndi logo se arrependeu de seu comportamento nessa ocasião, o que a envergonhou tanto que ela raramente falava sobre isso, mas ela não podia negar que o que Ryan havia dito era verdade em todos os aspectos[10] .

 

Transições comportamentais

A identidade de Ryan com Marty Martyn se expressava não apenas em suas memórias, mas também em sua personalidade, emoções e comportamento. Assim como em suas memórias, a maior intensidade de sua identificação comportamental com Martyn ocorreu quando ele tinha quatro anos, mas nunca desapareceu completamente.

Ao narrar suas memórias, Ryan adotou um tom de voz maduro e representou o papel. Certa vez, ele explicou a Cyndi: "Por fora, não sou o mesmo homem da foto, mas por dentro ainda sou aquele homem." Ele era assombrado pelas coisas das quais não conseguia se lembrar. Na maioria das noites, suas principais preocupações eram: O que aconteceu com as crianças? Qual era o nome da minha outra mãe? O que aconteceu com a minha irmã?

Certa vez, Ryan viu um desenho animado que o lembrou do sapateado que ele disse ter praticado em Nova York. Ele começou a cantarolar músicas de shows e sapateou. Pediu à Cyndi que lhe trouxesse sapatos de sapateado e começou uma coreografia no meio da pista, dizendo "Tip tap tip tap" como se estivesse marcando o ritmo.

Ele queria usar o que chamava de "roupas de agente" – ternos, camisas sociais, gravatas – e "óculos de agente" com aros pretos. Pegou um par de óculos 3D infantis, tirou as lentes e os usou em todos os lugares.

Ele brincava de fazer filmes. Numa festa de aniversário, quando tinha quatro anos, reuniu todas as crianças presentes para dirigi-las em seu filme. Gritou com os adultos que precisava de ajuda porque era difícil atuar e dirigir um grande filme ao mesmo tempo.

Ele se lembrou de ter sido arranhado gravemente por um gato; odiava gatos e tinha medo deles. Relatou que gostava de ir a restaurantes em Chinatown. Quando seus pais o levaram a um restaurante chinês pela primeira vez, ele usava habilmente os hashis sem precisar aprender como[11].

 

Testes de reconhecimento de imagem

Quando Marty Martyn foi identificado, Tucker preparou conjuntos de fotos para apresentar a Ryan, a fim de ver se ele conseguia identificar pessoas que Martyn conhecia. Ele fez isso sem deixar Cyndi ou Kevin saberem as respostas corretas, e sem sequer informá-los o nome de Martyn, para garantir que não fizessem nenhuma pesquisa de antecedentes antes dos testes de reconhecimento.

Ryan, que tinha acabado de fazer seis anos, estava de mau humor quando Tucker chegou. Não estava com vontade de fazer os testes e era óbvio que apontava para fotos de qualquer jeito. Depois do jantar, porém, estava pronto. Tucker mostrou-lhe o primeiro conjunto de quatro fotos, de mulheres, e perguntou se alguma lhe parecia familiar. Ryan apontou para uma, mas, quando perguntado, disse que não sabia quem era. Era a quarta esposa de Martyn.

Em seguida, Tucker mostrou a Ryan fotos de quatro homens, um dos quais ele acreditava ser o " Senator Five ". Ryan apontou para uma das fotos. Tucker perguntou se ele tinha certeza, e ele respondeu que sim. A foto era de Irving Ives, senador por Nova York durante a vida de Martyn.

Ryan também identificou corretamente uma foto de Martyn quando jovem, em uma pose e traje muito diferentes de sua aparência em Night After Night. Mas ele começou a errar e, após mais duas tentativas, Tucker interrompeu o experimento.

Em retrospecto, Tucker percebeu que talvez tivesse sido melhor mostrar as imagens a Ryan, uma de cada vez[12]. Ele poderia ter alternado suas iscas com os alvos em ordem aleatória e mostrado todas elas a Ryan, em vez de parar no meio do caminho. Kean observou que, idealmente, alguém que não conhecesse a identidade de nenhum dos indivíduos teria apresentado as imagens, para evitar dar pistas inconscientes a Ryan[13]. Ainda assim, mesmo que os testes de reconhecimento pudessem ter sido mais bem conduzidos, Ryan fez seleções corretas em três de cinco tentativas.

 

Filha de Martyn

Ryan queria muito conhecer os três filhos adotivos de Martyn e reparar o que ele acreditava ter sido um mau tratamento para com eles, mas isso nunca foi possível. No entanto, ele conseguiu conhecer a filha de Martyn, que tinha oito anos quando ele morreu. Ela tinha 57 anos quando Ryan a conheceu e, naturalmente, havia mudado muito nesse ínterim. Ryan reclamou que ela "não havia esperado" por ele; ele reconheceu o rosto dela, disse ele, mas sua energia era diferente, e ele não queria vê-la novamente[14].

Por sua vez, a filha de Martyn tentou ser útil. Ela confirmou a veracidade de muitas das lembranças de Ryan sobre coisas pessoais – por exemplo, que ele dirigia um carro verde que não permitia que ninguém mais dirigisse; que Martyn odiava gatos e havia comprado para ela um cachorro de que ela não gostava; que ele tinha uma grande coleção de óculos de sol. Como ela era jovem quando ele morreu, havia muitas coisas que ela não pôde verificar, mas seu depoimento foi inestimável para avaliar as declarações de Ryan[15].

 

Sentido psíquico

Ryan é incomum entre crianças com memórias de vidas passadas por ter um sentido psíquico bem desenvolvido. Muitos indivíduos com PES em casos de reencarnação o direcionam para membros da família anterior[16], mas o talento de Ryan se concentrava em pessoas e eventos de sua própria vida.

Certa vez, ele conversou com Cyndi sobre um de seus irmãos que havia morrido na infância, algo que não lhe fora dito. Ele continuou falando sobre a necessidade de comprar um relógio para Kevin. Quando Cyndi notou que Kevin já tinha um, Ryan disse que precisaria de um novo até o Dia dos Pais, e, de fato, o relógio de Kevin quebrou na véspera do Dia dos Pais. Em sua primeira viagem a Los Angeles, Ryan previu corretamente que eles ganhariam carros brancos. Houve vários outros incidentes dessa natureza[17].

 

Desenvolvimento posterior

Em sua segunda visita a Los Angeles, Ryan estava animado e feliz por estar de volta aos lugares de que se lembrava, mas a viagem trouxe uma resolução, e depois disso ele conseguiu viver melhor o presente. Depois de conhecer a filha de Martyn, ele raramente mencionava suas memórias, a menos que se lembrasse delas. Certa noite, seis meses após a estreia de The UneXplained: A Life in the Movies, em 30 de abril de 2011, Cyndi entrou em seu quarto e descobriu que ele havia removido todas as decorações relacionadas a Martyn, até mesmo a Torre Eiffel de ferro e as fotos de Nova York. Ele disse a ela que era hora de ser apenas uma criança normal[18].

A influência da personalidade de Martyn persistiu, no entanto, e aos onze anos Ryan ainda amava a música dos anos 1950 e queria ir para Nova York. Ele continuava fascinado por óculos de sol e gostava de usar camisas sociais de botão. Seguia a política e se identificava como republicano. Também se interessara pelo judaísmo, criando tensões em sua família cristã. Mas ele não era mais tão hostil aos gatos; embora não fossem seus bichinhos favoritos, agora conseguia tolerá-los sem ansiedade[19].

 

Análise

O caso de Ryan é semelhante a outros casos de reencarnação, mas a penetração de memórias, emoções e comportamentos imaginados é incomumente forte. A princípio, isso parece curioso, pois crianças que começam a falar sobre suas memórias tão tarde quanto Ryan normalmente têm menos memórias e heranças comportamentais do que crianças que começam a compartilhar suas memórias um ou dois anos antes. Isso pode ser um efeito de suas adenoides aumentadas, que o impediam de se envolver plenamente com o mundo ao seu redor, permitindo que suas memórias de Martyn fossem retidas com mais clareza e por um período mais longo do que com outras crianças pequenas[20].

Ryan foi observado por tantas pessoas que a possibilidade de o caso ter sido uma farsa inventada por seus pais para publicidade ou ganho financeiro pode ser descartada. É difícil imaginar como Cyndi poderia tê-lo alimentado com informações ou moldado seu comportamento, mesmo que tivesse descoberto secretamente a identidade de Martyn antes que ela se tornasse pública. De qualquer forma, a maioria das informações sobre Martyn agora disponíveis na internet não existiam enquanto o caso se desenvolvia. Kean observa que Cyndi "foi forçada a suportar o trauma junto com ele. Seu principal objetivo era encontrar paz para Ryan[21]".

Mas Ryan demonstrou fortes habilidades psíquicas. Poderia ele ter aprendido o que sabia sobre Martyn por meio da percepção extra-sensorial, em vez de reencarnação e memória? Sua turbulência emocional, sua saudade do passado, seus pesadelos e suas brincadeiras que lembram Martyn sugerem algo mais profundo e abrangente do que a aquisição de informações por meio da percepção extra-sensorial, e a percepção extra-sensorial de Ryan estava direcionada à sua vida presente de qualquer maneira. Embora a possibilidade de um mecanismo psíquico incomum não possa ser descartada, parece improvável que tenha desempenhado algum papel no caso de Ryan[22].

 

Literatura

§  Hammons, C. (2017). “The old me.” In Surviving Death: A Journalist Investigates Evidence for an Afterlife by L. Kean, 54-66. New York: Penguin Random House.

§  Haraldsson, E., & Matlock, J.G. (2016). I Saw a Light and Came Here: Children’s Experiences of Reincarnation. Hove, UK: White Crow Books.

§  Kean, L. (2017). Surviving Death: A Journalist Investigates Evidence for an Afterlife. New York: Penguin Random House.

§  Matlock, J.G. (2019). Signs of Reincarnation: Exploring Beliefs, Cases, and Theory. Lanham, Maryland, USA: Rowman & Littlefield.

§  Tucker, J. B. (2013). Return to Life: Extraordinary Cases of Children who Remember Past Lives. New York: St. Martin’s Press.

 

Traduzido com Google Tradutor



[2] Haraldsson e Matlock (2016), 214-18; Tucker (2013), 88-119.

[3] Haraldsson & Matlock (2016), 215. O relato a seguir reúne detalhes fornecidos por Tucker (2013), Haraldsson & Matlock (2016), Hammons (2017) e Kean (2017). Para outro resumo do caso, consulte https://uvamagazine.org/articles/the_science_of_reincarnation .

[4] Haraldsson e Matlock (2016), 217.

[5] Kean (2017), 70.

[6] Kean (2017), 70-72.

[8] Para uma discussão sobre o erro na certidão de óbito e sua correção, veja Kean (2017, 78-79).

[9] Kean (2017), 72.

[10] Tucker (2013), 97.

[11] A principal fonte para esta seção é Hammons (2017), com elementos extraídos de Haraldsson & Matlock (2016) e Tucker (2013).

[12] Tucker (2013), 105-7.

[13] Kean (2017), 77.

[14] Tucker (2013), 108-9.

[15] Hammons (2017), 65.

[16] Matlock (2019), 135.

[17] Tucker (2013), 113-16.

[18] Tucker (2013), 117-19; Hammons (2017), 66.

[19] Haraldsson e Matlock (2016), 217-18.

[20] Matlock (2019), 203.

[21] Kean (2017), 77.

[22] Kean (2017), 76-78.