Bruno Abreu[2]
Já alguma vez refletiu como
acontece o crescimento espiritual?
Esta é uma realidade e está a
acontecer, pois este é o sentido da vida.
Nós confundimos o crescimento
espiritual com o crescimento do ser terreno mentalmente ou de
conhecimento. Eles influenciam-se, mas não são o mesmo e um não está dependente
do outro. Pode até acontecer o crescimento de um ser o contrário do outro, e
isso é mais comum do que imaginamos.
Quando aquilo, a que a
psicologia chama de Ego, cresce, normalmente tem um efeito negativo no
Espírito, que irei chamar de consciência, pois aqui na Terra podemos chegar com
alguma facilidade à consciência, mas dificilmente ao Espírito, embora um seja o
espelho do outro. A grande dificuldade de chegar ao espírito está em ele nos
passar completamente despercebido, como é dito em O Livro dos Espíritos,
se para nós nada é, logo não o percebemos.
É fácil percebermos como o ser
terreno cresce: é através do conhecimento. Quanto mais tiver, maior o ser
terreno.
Como acreditamos sermos um
espírito, até dizemos na gíria que temos um, confundimos o crescimento do ser
terreno com o do espírito, mas Jesus foi bem explícito quando separou os
tesouros da Terra dos tesouros do céu.
Depois vemos espíritos
desencarnados, que foram grandes personalidades na Terra, a sentirem-se
pequeninos do outro lado e em situações menos boas.
Podemos ver pessoas com
capacidade em termos de conhecimento em suas profissões, enormes e de uma
humildade muito grande, mas também podemos ver pessoas com capacidades e que se
acham muito importantes.
A importância que damos ao ser
terreno está associada à cegueira espiritual. Por isso, a maior das
virtudes é a tão falada e importante humildade. Esta existe em dimensão no
oposto do Ego.
Temos de crescer na Terra como
seres humanos, para podermos ajudar o melhor possível a humanidade, sem deixar
que nos inflame o Ego. O que é de extrema dificuldade, pois ao sentir-nos
importantes podemos facilmente inflamar o Ego, se esquecermos que a simples
capacidade mental e física vem de um corpo que nos foi colocado à disposição
sem que nós tenhamos feito algo para termos aquelas capacidades. Por isso é
dito, que tudo nos é dado por Deus, momentaneamente, e tudo nos pode ser
retirado.
Jesus chamou de doutores da Lei
aos que sentiam o Ego inflamado no tempo que passou na Terra, por pensarem
saber um pouco mais de religião.
Podemos perceber com facilidade
que a consciência ou alma não cresce pelo aumento de conhecimento na Terra.
Aliás, na próxima reencarnação já não nos lembraremos de nenhum conhecimento
que temos hoje, mas isto não tira a utilidade dele agora, nesta vida.
Como cresce a consciência?
No caminho oposto ao crescimento
do Ego, ou a um Ego forte, como quisermos chamar.
·
Se o Ego forte vive de orgulho, a consciência
cresce com a ausência dele, ou seja, com a humildade.
·
Se um Ego forte vive de egoísmo, a consciência
cresce com a ausência dele, ou seja, na caridade.
·
Se um Ego forte vive de vaidade, a consciência
cresce na ausência dela, isto é, com a humildade.
·
Se um Ego forte vive de ganância, a consciência
cresce da ausência dela, com a caridade.
Ou seja, a consciência cresce no
desapego, na abstinência das más tendências que nos surgem ao longo do caminho,
em especial dos truques que o Ego nos impõe ao longo do tempo.
O Ego pode ser muito sutil. Por
exemplo, todos nós achamos que sabemos lidar com a vida e como tal aconselhamos
e, muitas vezes, nos impomos aos outros. Esta sensação de que sabemos lidar com
a vida nasce do orgulho: “Eu sei”. Onde nasce essa sensação, no Ego ou na
consciência?
A consciência sabe que a vida é
enorme e que cada pessoa pensa ou age a seu modo, de forma diferente, e não
existe nada de errado com isso. Mesmo quando agem de forma errada é porque não
sabiam fazer de outra forma. Pacientemente, a consciência oferece liberdade aos
outros, o Ego impõe.
O crescimento da consciência
passa pelo abandono ou desapego do Ego.
Jesus demonstra isso quando diz
que temos de nos abandonarmos para o seguirmos.
Kardec fala nisso quando nos diz
que temos de domar nossas más
tendências.
O caminho é tão difícil e às
vezes dissimulado para nós, que adoramos o Mamon da importância, que é preciso
muito cuidado com o orgulho que nasce até neste processo de crescimento.
Alguns caem na armadilha do
orgulho, achando-se humildes.
Este jogo é extremamente
difícil, pois as armadilhas para tropeçarmos são muitas e é necessária uma
atenção plena, tal como o mestre aconselhou em olhai, vigiai e orai…
Se lembrarmos que qualquer
importância que possamos ter é apenas um pensamento, uma ideia, perceberemos
que a importância, tal como o orgulho é criado na nossa mente, não tem valor.
Com isto, não quero dizer que
não tenhamos valor, todos temos, nas alturas em que agimos corretamente. O
valor é de cada boa ação que fazemos, ou seja, o valor é da ação, não do
pensamento. Se o pensamento fica a ruminar na ação, então é orgulho. Não saiba
a sua mão esquerda o que faz a direita.
Ao vivermos presentes no dia a
dia, com a mente em cada ação, no silêncio dos pensamentos, afastamo-nos do
orgulho, da vaidade, do egoísmo, diminuímos o Ego e damos liberdade ao espírito
para crescer.
O ser terreno, na forma
como o vivemos, acumula naturalmente e esse acumular de conhecimento cria o
caráter, cria as ideias que lhe fazem parecer saber tudo sobre a vida, que o
leva a viver para uma individualidade psíquica e depois é comandado por esta
através dos desejos e dos impulsos. A consciência ou alma, pode viver absorvida
em paz e amor, que são a sua natureza, se desapegada dos movimentos mentais que
criam o orgulho, o egoísmo, o ódio e todos os outros que nos levam aos
conflitos internos e com os outros.
Por isso, mesmo quando passamos
por um turbilhão, a determinada altura Deus nos ampara e voltamos ao silêncio
do ser, nos encostando a consciência, sentido o amor Divino no silêncio de
nosso interior.
[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 909 - 9 de Fevereiro
de 2025 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/909/ca1.html
[2] Bruno Abreu reside em Lisboa, Portugal.
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