sexta-feira, 30 de agosto de 2024

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E REFERÊNCIAS ESPÍRITAS[1],[2]

 


Marco Milani

 

O uso massivo da inteligência artificial (IA) apresenta um enorme potencial transformador nas atividades humanas, assim como proporciona desafios significativos em diferentes aspectos éticos e práticos. Certamente, não se trata de uma panaceia, capaz de resolver todos os problemas individuais e coletivos, mas é muito mais que um simples avanço tecnológico.

O desenvolvimento da IA depende fortemente do conhecimento acumulado. Os algoritmos são criados, treinados e refinados por cientistas e engenheiros que utilizam princípios da matemática, estatística, neurociência e outras disciplinas. Isso não significa, entretanto, que ela possua a capacidade de raciocinar de forma profunda e abstrata, como os seres humanos fazem. A capacidade de resolver problemas complexos que exigem pensamento criativo e flexível ainda é um desafio para a IA.

Ao se explorar o conhecimento espírita com as atuais ferramentas de IA, identifica-se uma valiosa contribuição para a análise dos objetos em pauta, porém, também se evidenciam algumas fragilidades decorrentes da base de dados que os algoritmos de IA se servem para a geração de respostas. Uma dessas fragilidades advém da própria concepção do que seria uma informação legitimamente considerada “espírita”.

Sob o aspecto doutrinário, a fonte fidedigna de informações é, certamente, o conjunto das obras de Allan Kardec, com destaque para as chamadas obras fundamentais que reúnem o ensino dos Espíritos que passou pelo critério metodológico da universalidade. Todas as complexas relações inerentes aos princípios e conceitos sistematizados e organizados por Allan Kardec, embora com clareza e objetividade típicos de um exímio educador, exigem atenção e maturidade cognitiva.

Algoritmos de IA que não diferenciarem a excelência metodológica do ensino dos Espíritos validados pelo critério kardequiano da universalidade e não as priorizarem hierarquicamente diante de outras fontes rotuladas como “espíritas”, poderão cometer graves erros doutrinários e distorcerem as informações geradas.

Se as respostas geradas pela IA como representativas do conhecimento espírita contiverem informações contraditórias aos princípios e conceitos doutrinários apresentados por Kardec, então induzir-se-á ao erro de se aceitar algo não-espírita como espírita. O usuário da informação falsa que confiar imprudentemente nesse algoritmo de IA desenvolverá e disseminará um conhecimento pseudoespírita.

Não basta ser classificada como uma fonte mediúnica para as informações ali obtidas serem tomadas como integrantes do conhecimento espírita, pois para isso deveriam ter sido validadas metodologicamente e não aceitas como verdades apenas confiando-se em falaciosos argumentos de autoridade.

Textos romanceados, ficcionais e opinativos, os quais abundam o mercado editorial voltado ao público espiritualista, ainda que possam tratar de edificantes valores morais e tentem ilustrar as relações entre os mundos físico e invisível, costumeiramente carregam generosas inserções lúdicas e fantasiosas. Tais fontes não deveriam, portanto, ser tomadas pelos algoritmos de IA como referências do mesmo nível de validade do conteúdo apresentado por Allan Kardec.

Assim, as ferramentas de IA são muito bem-vindas e poderão contribuir em muito para as reflexões e construções de argumentos espíritas, tomando-se o cuidado de identificar conceitualmente o que são, de fato, informações espíritas e não-espíritas sob parâmetros doutrinários.

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