quinta-feira, 1 de agosto de 2024

DUELO[1]

 

Duelo com Mocas, Francisco Goya

Miramez

 

O duelo pode ser considerado como um caso de legítima defesa?

− Não; é um assassínio e um costume absurdo, digno dos bárbaros. Numa civilização mais avançada e mais moral o homem compreenderá que o duelo é tão ridículo quanto os combates antigamente encarados como "o juízo de Deus".

Questão 757 / O Livro dos Espíritos

 

O homem demonstra ter compreendido mal a questão da legítima defesa, ao entender que deve ser praticada com as próprias mãos.

Deus, ao criar tudo que existe, não se esqueceu de estabelecer por leis maiores a defesa contra as investidas da maldade. As defesas são naturais; a própria lei da justiça se encarrega de defender o justo. Se se defende de um ataque com a mesma gana de matar do ofensor, compara-se com ele e pode, dessa forma, tornar-se um assassino, piorando a sua situação como irmão dos que atacam.

Matar é um costume digno dos bárbaros, daqueles que ainda desconhecem que só quem deu a vida pode tirá-la. O duelo, bem sabe o espiritualista, é contrário à lei.

O nosso dever, como filhos de Deus, do modo que respeitamos a Jesus, é observar as leis estabelecidas por Ele, de amar ao Senhor sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Como matar ao nosso irmão, se a lei nos pede para amar o próximo?

A legítima defesa deve ser como as armas da fraternidade para com todos os ofensores, é procurar meios justos de educá-los ante a sociedade, para que sirvam de instrumento da mesma educação, para com os seus irmãos em caminho. Nos tempos passados, quando a brutalidade era campo aberto para todas as criaturas, onde não se entendia o amor, encontrávamos os bárbaros em função da ignorância. Depois de Jesus, Ele, o Mestre dos mestres, veio nos trazer o amor e viver essa virtude incomparável para nos ensinar, pondo um ponto final na ignorância.

Os que acompanham Jesus devem, por obrigação, conhecer o amor e amar a todas as coisas e a todos os seres. As guerras são duelos, por existirem ainda os bárbaros em todas as nações do mundo, mas, com o tempo, esse estado de brutalidade tende a desaparecer por completo da face da Terra. Então, a paz reinará em todas as nações do mundo, onde deverá dominar somente o amor ensinado por Jesus.

Por que duelar? Por que incentivar o duelo, que é prenúncio de morte pela mão do homem, que ainda não sabe o que faz? Por isso voltou Jesus, pelos canais da Doutrina Espírita, a nos ensinar o verdadeiro amor, a nos ensinar toda a ordem de educação, domesticando nossos instintos e transformando-os em caridade e amor para com todos os seres. A legitima defesa é acionada pela educação, pelo trabalho e pelo amor ao próximo como a nós mesmos.

Somente Deus sabe como nos defender, por ter sido Ele que nos criou a todos. Compete-nos trabalhar em favor da paz em todas as direções da vida, para que essa vida nos responda com a mesma paz que distribuímos aos nossos semelhantes. Com o contato que devemos ter com Jesus, a "lepra" da incompreensão desaparecerá dos nossos instintos, como citado por Marcos, no capítulo um, versículo quarenta e dois, assim dizendo:

No mesmo instante lhe desapareceu a lepra e ficou limpo.

Se queremos nos curar de todas as enfermidades, procuremos Jesus, o Cristo de Deus, que pode estabelecer-se dentro de nós mesmos, ensinando-nos como devemos proceder para que a luz venha a se acender dentro do nosso coração, fazendo-nos esquecer por completo a "legítima defesa" que os homens conhecem.

A verdadeira defesa que podemos ter é trabalharmos para o bem comum, vivendo todo o tempo na construção do amor e pelo amor.



[1] FILOSOFIA ESPÍRITA – Volume 15 – João Nunes Maia

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