João Márcio F. Cruz
Existe uma herança medieval que
se manifesta como “atavismo palingênico” nos confrades espíritas: “Medo de
dinheiro”...
Talvez por experiências mal
sucedidas em encarnações passadas, por ideologias totalitárias baseadas em
utopias sociológicas, por religiosismo maniqueísta... muitas podem ser as
causas.
Independente da etiologia dessa
“fobia financeira”, ainda encontramos nas casas doutrinárias tarefeiros que
acreditam que o TER IMPEDE O SER DE EVOLUIR, O DINHEIRO É A CAUSA DE TODA
MAZELA SOCIAL, QUEM PROSPERA É EGOÍSTA...
Chavões alienantes e tácitos,
muitas vezes presentes como doutrinas moralistas e politicamente correta, na vã
tentativa de convencer dos males do dinheiro e de como devemos, para lograr
nossa evolução espiritual, afastar-nos de seus tentáculos sórdidos e mundanos.
O TER nunca foi, realmente, um
problema. PRIORIZAR O TER sim...
Baseado em utopias irrealistas,
que tolhem a liberdade em prol de uma suposta e absolutista igualdade social,
seria um crime e uma profunda violência contra as possibilidades de evolução
das almas. Os espíritos veneráveis asseveram que existem dois tipos de
desigualdade: fruto da injustiça social (essa deve ser combatida e denunciada)
e fruto das diferenças de capacidade (essa deve ser preservada e celebrada). E
mais. Em O Livro dos Espíritos é dito que se der 100 moedas a duas
pessoas, com o tempo uma terá mil moedas, a outra terá apenas 10. Cada uma as
administrará conforme sua capacidade, compreensão e espírito empreendedor.
Aqueles que foram empobrecidos,
e por isso vítimas de uma sociedade injusta e elitizante, precisam ser
amparados pela caridade familiar, social e do estado.
E os princípios legais embora
imorais precisam ser extirpados. A raiz da injustiça social é uma chaga aberta
e coloca a fome como uma consequência coletiva da negligência e egoísmo
coletivo.
Por outro lado, se a
inteligência criou a bomba atômica, não é sendo burro que vamos resolver. Da
mesma forma, se a acumulação de riqueza causa a fome, não é todo mundo virando
miserável que vamos resolver o problema. Os espíritos veneráveis nos alertam sobre
“o uso” da propriedade privada, não sobre sua existência...
Em termos materiais...
A MAIOR CARIDADE QUE SE PODE
FAZER A SUA FAMÍLIA É PROSPERAR.
Se numa família 5 pedem esmola,
passam fome, estão na miséria, se um prospera, agora serão apenas quatro na
mendicância. Que maravilha!
Mesmo que esse filho próspero
não ajude o resto da família, só em ele prosperar já diminuiu o sofrimento do
mundo. É menos um passando fome.
Toda luta do governo para
oferecer “universidade para todos”, é uma tentativa de dar, de forma
equitativa, oportunidades democráticas e justas para uma vida digna. A alegria
imensa de uma família quando seu filho passa no vestibular. Quando ele se
forma... Quando ele ingressa no mercado de trabalho...
São rituais socializantes...
O espírita que acredita que todo
próspero financeiramente é um explorador da pobreza, além de sofrer de algum
transtorno medieval neurótico, ainda tenta inculcar nos outros uma profunda
culpa e medo autodestruidores.
Uma sociedade perfeita, ideal,
seria um mundo de pessoas prósperas, onde todos têm o que comer, onde morar,
saúde e educação de qualidade, conseguir viajar, relacionamentos saudáveis e
não precisa de ajuda financeira dos outros.
SIM, É MUITO DIFÍCIL UM RICO
ENTRAR NO REINO DOS CÉUS, MAS NÃO É IMPOSSÍVEL.
Aqueles que temem o dinheiro,
fogem de uma grande oportunidade de evoluir moralmente e intelectualmente. Ser
um bom administrador é uma qualidade ética que pode transformar a vida de toda
a sua comunidade. Geralmente, nos centros espíritas, ninguém quer cuidar da
parte financeira. Os mentores espirituais nos dizem que são, justamente,
aqueles que abusaram da riqueza que evitam o dinheiro e, por outro lado,
aqueles que tomam conta das finanças, da contabilidade, pagar água e luz,
comprar cadeiras, trocar lâmpadas, são os espíritos mais honestos daquele
grupo.
Allan Kardec esclarece: “Se a
riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca
mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela
abusa, como de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que
lhe poderia ser de maior utilidade. É a consequência do estado de inferioridade
do mundo terrestre. Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a
teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem. Se não é um
elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de
progresso intelectual[2].”
[1] O CONSOLADOR - Ano 18 - N° 879 - 7 de Julho de
2024 - https://www.oconsolador.com.br/ano18/879/ca5.html
[2]
KARDEC, Allan - O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XVI. “Utilidade
providencial da riqueza: provas da riqueza e da miséria”.
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