Miguel Vives y Vives
Sim, um tesouro! E tão difícil
de avaliar no seu justo valor, que a imaginação mais ampla e a inteligência
mais lúcida só poderão apreciá-lo na superfície. Os reis da Terra dão aos seus filhos
o nome de príncipes, e os príncipes dão aos seus filhos os títulos de duques,
condes, e outros. E o fazem por causa das grandes riquezas e títulos
nobiliárquicos que possuem. Mas todos os reis e príncipes, duques e condes
juntos, não possuem as riquezas e os títulos de nosso pai, que é Deus.
Se juntarmos as riquezas de toda
a aristocracia do mundo, nada serão em comparação com as de nosso Pai. E todas
elas foram criadas para nós, seus filhos, que as recebemos em propriedade e as
desfrutaremos eternamente. Os reis vestem os seus príncipes com ouro e
pedrarias, mas nosso Pai nos vestirá de luz imortal. Os reis dão aos seus
príncipes carruagens faustosas, para viajarem através dos seus reinos. E o Pai
nos dará asas e meios etéreos, para viajarmos com a rapidez do pensamento, sem
encontrar obstáculos. Os reis querem dar aos seus príncipes todas as formas de
felicidade, mas não podem evitar as enfermidades e os incômodos, que,
irremissíveis, acompanham a matéria. Nosso Pai nos dará uma condição em que não
haverá enfermidades nem incômodos. Os reis não podem evitar o cansaço, o sono,
o frio, nem o calor, para os seus filhos. Nosso Pai nos dará uma vida em que
não teremos de dormir, nem nos cansaremos, nem sentiremos jamais frio ou calor.
Ah, meus irmãos, como é grande o
que nos aguarda! Isso, porém, pelo cumprimento das leis divinas, e não por
capricho.
Por ato de justiça e por
necessidade, pois sem a lei não haveria ordem, sem ordem não haveria harmonia,
e sem ordem e harmonia não haveria felicidade. Assim, pois, para que todos
sejamos felizes, temos de ajustar-nos à lei, à harmonia, à ordem.
Dessa maneira, para onde formos,
levaremos ordem e harmonia, e os que viverem conosco levarão harmonia e ordem,
e todos juntos cumpriremos a lei, e todos seremos felizes.
No entanto, para fazer tudo
isso, temos de compreender a lei, que implica o respeito ao que é grande,
sublime e justo; implica virtude, caridade, amor, justiça, abnegação. E como
essa lei divina e universal está demonstrada e explicada pelo Espiritismo, por
isso dizemos: Nós, os espíritas, temos um tesouro em nossas mãos. É
preciso acentuar isto, porque nem todos estão em condições de compreender o
Espiritismo, e menos ainda de praticá-lo. Não podemos compreender a verdade,
enquanto não nos despojarmos de muitos erros, enquanto o nosso amor e a nossa
bondade não tenham atingido um certo grau.
Nós, os espíritas, que ainda não
podemos chamar-nos de bons, estamos no nível comum das criaturas. Assim, já
podemos calcular o número de existências que tivemos de passar, para chegar a
esse nível? Não, mil vezes não! Primeiro, dominou-nos o instinto; depois, as
paixões; logo, os vícios; e através de grandes lutas chegamos a merecer que nos
contassem no grande apostolado desta época, que se chama Espiritismo. Temos,
porém, de considerar que do instinto, das paixões e dos vícios nos sobraram
resíduos, e aqui está o nosso tesouro, e não podemos possuí-lo se não soubermos
arrancar pela raiz esses resíduos, para nos tornarmos dignos dele.
Assim, pois, nós, os espíritas,
chegamos a entrar no caminho que conduz à realização de todos os progressos,
que leva o espírito a herdar toda a felicidade. Esse caminho é o Espiritismo,
que nos alforria de todas as dúvidas, liberta de todos os erros, ilumina-nos a
inteligência, fortalece-nos o espírito na luta contra todas as preocupações. De
maneira que, se o espírita não for indolente, pode realizar tudo quanto deseja
para o seu bem. E por isso vos digo que nós, os espíritas, temos um tesouro nas
mãos.
A extinção completa dos resíduos
que nos ficaram dos instintos, das paixões e dos vícios é um trabalho de
gigante. E por isso entendo que todo espírita deve estudar-se a si mesmo, para
chegar a conhecer-se, coisa que é às vezes um pouco difícil, mormente se o
instinto do orgulho e da vaidade predomina em nós. Mas, pedindo e estudando,
chegaremos ao conhecimento de nós mesmos.
O espírita deve observar se
facilmente se ofende por qualquer contrariedade ou palavra que o mortifique. Se
isso acontece, é que o amor-próprio desmedido, sinônimo de vaidade, está
enraizado em seu espírito. Deve então dirigir toda a sua atenção em por às
claras essa tendência ou instinto que vem do passado.
A seguir, deve submeter-se às
humilhações, evitando que estas o magoem, prosseguindo na prática, até aprender
a sofrer desprezos e desenganos sem perder a serenidade. Porque muitos dos
desprezos, desenganos, juízos injustos, que nos atingem, ferem mais ao nosso
amor-próprio do que nos causam danos.
Quando é assim, não devemos
duvidar de que, se o nosso amor próprio fosse menor, suportaríamos tudo aquilo
sem grande ressentimento. Não diremos que não existam desenganos que não firam
aos mais humildes, mas que devemos suportá-los com resignação, pagando sempre o
mal com o bem. A segurança que o Espiritismo nos dá, de que essa espécie de
sofrimento acarreta grande progresso para o nosso espírito, quando o sabemos
suportar, nos dará a força necessária.
Se o espírita sente que possui
alguma paixão ou vício que o pode levar à queda, terá de ser valente e, mesmo
que lhe custe a vida, terá de cortá-lo pela raiz. Porque mais vale sofrer
muito, para aniquilar um vício e adquirir uma virtude, do que nada sofrer dando
rédeas à paixão. Aqui está o trabalho de gigante do espírita, porque, quando
quer enfrentar o passado, o espírito do mal, que vai perder todo domínio sobre
ele, resiste e tudo faz para não deixar escapar a presa. Para isso, valem-se de
todos os meios, até mesmo dos sonhos, para lhe preparar a nova emboscada. Mas o
espírita que quer libertar-se deve resistir, dizendo no seu íntimo:
Tudo por Deus e pela prática da sua lei! Vale mais
sofrer do que sucumbir. Antes a morte do meu corpo, do que a perturbação e o
atraso do meu espírito.
Com essas determinações, o
espírito tentador é rechaçado, perde a sua influência, e o espírita recobra a
sua liberdade e triunfa.
No tocante aos pequenos defeitos
e dificuldades da vida, que todos temos e havemos de enfrentar, vale muito a
prática constante da virtude, da abnegação e da caridade. O espírita não deve
ser impertinente, nem ter mau gênio, nem ser precipitado, nem murmurar, mas há
de ser paciente, saber perdoar as faltas alheias, amável quanto possível,
serviçal, e deve procurar o bem de seus subordinados, seja na família ou na sua
posição social.
Deve, pois, criar uma auréola de
boa influência e de confiança; consolar os que sofrem, até onde suas forças o
permitam. Assim conseguirá revelar esse grande tesouro que temos em nossas
mãos, dando-lhe realidade.
Para conseguir essa vida
ascendente de perfeição, não podemos esquecer que necessitamos da proteção dos
grandes Espíritos, e que não devemos duvidar deles, sempre que nos coloquemos
em condições de receber as suas influências.
Porque, à medida que avançamos
nesse caminho, chamamos de maneira poderosa a atenção dos bons Espíritos, que
nos amam e se interessam por nós, pelo nosso progresso e nossa felicidade.
Portanto, podemos contar com a
sua influência, com o seu amor.
E se os nossos propósitos forem
realmente grandes e os pusermos em prática, então eles se apossarão de nós de
tal maneira, que nos farão objeto dos seus desejos e da sua vontade,
beneficiando a Humanidade por nosso intermédio.
Não duvideis, irmãos, de que a
nós, espíritas, só nos faltam a vontade e os bons desejos, para realizarmos
maravilhas e prodígios. Encontrareis no Espiritismo criaturas que, antes de
serem espíritas, ninguém as conhecia, e hoje têm um nome universal. E mesmo que
a Humanidade atual não faça caso de seus escritos e seus livros, chegará o dia
em que a Humanidade, já menos incrédula e mais adiantada, buscará esses
trabalhos e os aplicará na prática. É que essas criaturas constituem a
vanguarda do progresso, porque, em virtude de seus trabalhos e anseios
elevados, estão inspiradas pelo Espírito da Verdade, que as induz à moral e à
ciência do futuro.
Irmãos, muito podereis fazer, se
tiverdes vontade. Não deveis olvidar que os que foram contados para este
apostolado do Espiritismo são distinguidos pelo Alto. Os jovens, que na idade
da inquietude, das quedas, das distrações, se dedicam à propaganda e à prática
do Espiritismo, se perseverarem, chegarão muito rápidos. Vós sois uma esperança
para os velhos espíritas, e elementos de grande valor para os Espíritos que
trabalham em favor da Humanidade. Sereis os mestres espíritas do futuro. Sede
constantes na tarefa iniciada, sede fortes, praticai os ensinamentos espíritas,
sede bons discípulos, obedientes e respeitosos, que mais tarde sereis bons
mestres.
É verdade que no Espiritismo,
humanamente falando, não há categorias. Mas, espiritualmente, sim: elas são
muito conhecidas no mundo dos Espíritos, e infeliz daqueles que não souberem
respeitá-las, pois pouco se adiantarão na existência terrena, e por mais que
tentem levantar-se, nunca o lograrão. Farão como os negociantes de gêneros,
que, sem conhecerem as classificações, não podem fazer negócios, pois tomam as
últimas pelas primeiras. Assim, pois, se quereis ser bons mestres no futuro,
sede agora bons discípulos, até que a Providência vos chame a desempenhar mais
alta missão.
As pessoas entendidas e
virtuosas fazem muita falta em nosso meio, para espargirem uma luz tão radiante
como a do Espiritismo. Essas pessoas são muito procuradas e assistidas pelos
bons Espíritos. Assim, pois, quando chegar a vossa hora de ascender, sereis
chamados de maneira poderosa. Vós, porém, podeis perguntar-nos: E como
conhecer essa hora? Quando a Providência quer que alguma coisa se realize,
nada nem ninguém o pode evitar. Quando um de vós for chamado, tudo se fará de
tal maneira, que vós mesmos não podereis evitá-lo, a menos que quisésseis fugir
a todos os deveres, precipitando-vos num abismo.
De minha parte, quero dizer-vos que embora pouco tenha
sido no Espiritismo, quando a Providência quis chamar-me para o insignificante
posto que ocupo há trinta e dois anos; primeiro me tirou a saúde e a alegria.
E quando eu já me considerava verdadeiramente perdido e
desgraçado, então me apresentaram o Espiritismo, e não pude esquivar-me de
vê-lo e praticá-lo. Porque era, então, a minha única salvação.
E quando me instruí o suficiente para dirigir e
orientar naqueles tempos a propaganda do Espiritismo em Tarrasa, repentinamente
faleceu Joaquim Rovira Fradera, antigo e ilustrado espírita. Então, não pude
evitar que a presidência do Centro Fraternidade Humana viesse parar nas minhas
mãos, e nunca a exerci por direito, mas apenas de fato.
Digo isto porque, sempre que foi necessário
apresentar-me como tal, pedi a algum de meus irmãos, por certo muito digno, que
se apresentasse em meu lugar. Quanto à propaganda, sempre ocupei o meu posto.
Assim, quando virdes sinais e
acontecimentos extraordinários, que não possais evitar, ainda que eles vos contrariem
e prejudiquem, e tiverdes diante de vós o chamado do Espiritismo para o seu
serviço, aceitai-o com gosto. Não olheis para trás, nem para o que vos
prejudica, porque às vezes, ao começar o desempenho de tão útil missão, faz-se
presente a cruz, pois há de carregá-la quem tenha a missão de ensinar e
conduzir os seus irmãos. Porque já sabemos qual é a condição humana: sacrificar
os que nos beneficiam, e embora os espíritas se tenham adiantado um pouco sobre
o comum das criaturas, sabemos que ainda guardamos resquícios do passado e
temos de lutar.
Quando, jovens de hoje, fordes
chamados a desempenhar cargos de pequenos mentores, lembrai-vos que chegou a
hora da abnegação, do sacrifício e da humildade, e que deveis possuir essas
virtudes no máximo grau. Nada de vos ofenderdes pelo que vos fizerem de mal.
Vossa paciência há de ser a toda prova, e a única prática possível é a de pagar
o mal com o bem. Que importam todos os sacrifícios feitos, ainda que vos paguem
mal e vos caluniem, dizendo de vós todo o mal?
Há um grande Mestre que é o guia
de todos os que ensinam e praticam as suas leis. A esse exemplo devereis
dirigir toda a vossa vontade. E, se o seguirdes, Ele se encarregará de defender-vos,
e aquelas angústias que os que ainda não aprenderam a gratidão vos fariam
sofrer vos levarão à felicidade futura. Não vos aflijais nunca pelas angústias
que vos possam causar: bendizei-as.
Eu bendigo a língua que me quis ferir, durante o
exercício do meu cargo. Eu bendigo todas as provas que, no transcurso de tantos
anos, me fizeram passar. Benditas sejam, mil vezes, pois se algumas sofri sem
motivo, não perderei a recompensa. Esses sofrimentos são grandemente recompensados
no Reino de Deus. Todo o tempo que se passa na Terra, e que não serviu para o
adiantamento do nosso espírito, é tempo perdido.
Animai-vos, pois, Juventude
Espírita! Aprendei bastante no caminho da virtude e dos conhecimentos e
práticas espíritas, pois necessitamos de muitos mestres para o futuro. Aprendei
dos vossos mestres de agora, e assim, esse tesouro que tendes nas mãos, e que
se chama Espiritismo, vos revestirá de esplendores eternos no Reino de Deus.
Por fim, eu, o mais
insignificante, o menos apto, e o menos autorizado, me atrevo a dar-vos um
conselho: Tudo quanto tendes, sois e possuís deveis a Deus, o Pai infalível
e universal, autor de toda a Criação. Portai-vos, pois, como bons filhos.
Lembrai-vos que quando éreis pequenos Ele vos deu o encanto da selva virgem;
quando já um pouco mais iniciados nos conhecimentos humanos, vos pôs em
sociedade, para que desenvolvêsseis as afeições de vossa alma, nela encontrando
amigos, esposa e filhos; e hoje, que já estais aptos a conhecer um princípio de
verdade, vos chamou para este apostolado do Espiritismo. Amai-o, pois, amai-o
mais do que a vós mesmos, mais do que a vossas esposas e a vossos filhos; adorai-o
na Criação, já que tantas grandezas criou, para que sejam, quando as
alcançardes, a vossa paz e a vossa eterna felicidade.
O Pai está em toda parte, sabe o
que pensais, vos vê e vos ama. Sede constantes admiradores d’Ele e adorai-o
muitas vezes ao dia, que Ele vos ouve e sabe o que pedis e o que desejais.
Assim como tanto vos deu quando
não lhe pedíeis, e não tínheis fé nem esperança n’Ele, hoje, que o amais e lhe
pedis, vos dará tudo quanto vos for justo e conveniente.
Lembrai-vos que o maior dos
irmãos, que é o Mestre Sublime, o Senhor dos senhores, antes que vós o
conhecêsseis, antes que lhe désseis atenção, quando estávamos todos perdidos em
veleidades e caprichos, deixou a Morada da Luz, afastou-se da felicidade e
desceu para sofrer a brutalidade humana.
Enquanto estávamos entregues à
libertinagem, Ele sofreu cruentos martírios, sem pronunciar uma queixa, sem
dizer uma palavra, dando-nos exemplo de caridade, de indulgência, de perdão, de
amor e de sacrifício. Nada disso chamou a nossa atenção naquela época. Hoje,
porém, é o exemplo em que mantemos fixos os nossos olhos e a nossa atenção,
porque é o único caminho que nos conduzirá à conquista da nossa felicidade.
Quando fordes pequenos mestres,
tomai por Mestre o Senhor.
Segui-o e amai-o muito, porque
sem abnegação e sacrifício não podereis entrar no Reino de Deus. E, quando
chegarem as horas de grandes provas, se o tomardes por Mestre, não ficareis
órfãos da sua proteção.
Ele veio bem antes, para
preparar os que deviam passar pelo sacrifício. Veio antes, para que, ao chegar
a hora do Calvário para cada um de nós, pudéssemos vê-lo à frente com a sua
cruz, a sua coroa de espinhos, suas carnes flageladas. E depois ficou, para
guiar-nos no caminho. Não o duvideis, jovens espíritas, o Senhor paira acima do
apostolado espírita e se serve de todos os que amam e praticam a lei com
justiça.
Ah!, Senhor, quando os homens vos conhecerão? Quando se
lembrarão que Aquele que deu a própria vida para ensinar-lhes o caminho não
pode abandoná-los? Quando compreenderão que a vossa humildade e o vosso amor
são superiores à vossa grandeza? Quando compreenderão que, à medida que
avançam, os espíritos mais se aproximam de Vós, e que cada espírito que alcança
a felicidade eterna é um prêmio para Vós, que nos ensinastes o caminho?
Graças vos dou, Senhor meu, porque me destes a compreender
quanto nos amais! Graças, Mestre, que, compadecido de minha pequenez, me destes
alento! Minha vida vos pertence, pois nunca poderei pagar-vos toda a solicitude,
tanto amor e o bem que me fizestes. Vossa humildade não tem limites, e aquele
que vos ama e se esforça por praticar a vossa lei, não o deixais desalentado.
Tanto entrais na cabana do camponês como no palácio do potentado.
Não fazeis acepção de pessoas, mas apenas de virtudes.
Ali, Senhor, onde o amor, a virtude e a caridade têm a
sua morada, ali é a vossa morada, ali atendeis, dando coragem, esperança e paz
de espírito.
Confiemos n’Ele, juventude
espírita, e não desmaiemos no caminho! Adoremos ao Pai por sua grandeza, e
amemos ao Senhor por seu grande amor.
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