Rogério Miguez
Ora,
também a língua é um fogo.
Tiago, 3:6[2]
A instituição espírita existe,
basicamente, para disseminar o Espiritismo a todos os desejosos em conhecê-lo,
buscando iluminar as consciências, tornando-se pouco a pouco um Educandário da
Alma, mas também atender, espiritualmente, às necessidades de incontáveis
modalidades, considerando que as famílias e os indivíduos se encontram
desnorteados diante de tanta insensatez existente neste avançadíssimo mundo
tecnológico, contudo, imediatista e egoísta ao extremo.
Este apoio espiritual ocorre de
variadas formas e uma das mais importantes se dá pelo uso saudável da palavra.
Recepção fraterna
Alguns templos espíritas mantêm
uma atividade de grande valor proporcionando o primeiro contato com os
visitantes: a recepção fraterna. Esta tarefa é desempenhada por voluntários que
se colocam, literalmente, à frente da instituição endereçando as primeiras
palavras aos interessados em obter as muitas benesses espíritas ou apenas
curiosos em conhecer o Espiritismo.
Cabe a estes trabalhadores criar
a primeira boa impressão aos novatos, sugerindo-lhes que chegaram a um porto
seguro, depois de terem navegado por mares turbulentos, tais os que estamos
tendo que nos acostumar a navegar nestes dias de tantas incertezas, materiais e
espirituais.
Pronunciam as saudações iniciais
aos navegantes que, cansados, buscam explicações e alívio variados para os
problemas diversos que vêm enfrentando no cotidiano.
Secretaria
Setor de relevância para a
instituição onde são equacionadas questões diversas de importância da vida
física da casa. Sem encaminhamento destas tarefas a casa pode ruir
materialmente. Além disso, podem, pela boa e equilibrada palavra, também
envolver o visitante em uma atmosfera de bem-estar, prenunciando os benefícios
que o visitante poderá obter, caso saiba bem aproveitar tudo o que é colocado à
sua disposição.
Os trabalhadores das secretarias
devem manter disciplina no falar e também durante as exposições – caso
permaneçam em seus postos de atuação durante as preleções –, não se deixando
distrair por pensamentos e palavras alheios aos objetivos de qualquer centro
espírita.
Devem permanecer sempre atentos
às muitas dúvidas e dificuldades vividas e relatadas por novos frequentadores
nas lides espíritas, fornecendo também as primeiras explicações sobre o
funcionamento da casa.
Este setor pode absorver a
Recepção Fraterna.
Atendimento fraterno
Não há sombra de dúvida ser esta
particular atividade de alto significado para o sucesso na missão da
instituição. Para realizá-la só devem ser encaminhados trabalhadores que
demonstraram durante alguns anos de serviço e estudos na instituição, de preferência
em diferentes áreas, sólido conhecimento espírita, equilíbrio emocional,
personalidade prestativa, boa vontade, entre outros.
O bom uso da palavra por esses
voluntários é de capital importância, pois deverão construir uma relação de
confiança com os interlocutores, em pouco tempo, de modo que o consulente se
sinta à vontade para expor as variadas apreensões por eles enfrentadas.
Dissemos em pouco tempo, pois
atendimento fraterno não é consulta psicológica de consultório médico. Embora
alguns atendentes tenham tentado capacitar-se para tanto, a sala espírita é um
ambiente de simplicidade e muita sinceridade, construído pelas boas palavras do
atendente, que de modo algum precisa dominar técnicas psicológicas: o
atendimento fraterno não concorre com o consultório psicológico.
A chave mestra para o sucesso
nesta tarefa, que se baseia na boa condução das palavras, é a conexão mental do
voluntário com o seu anjo da guarda para receber e identificar as intuições
necessárias durante os atendimentos. Os Espíritos guias estão de posse de todas
as informações pessoais dos visitantes, sabem exatamente como melhor abordar e
responder aos relatos apresentados.
Nada de irritação, nem de
reprovação, durante o trabalho. Afinal, o atendido deseja encontrar apoio para
as suas dificuldades, possíveis soluções por meio de orientações seguras à luz
do Espiritismo, e esclarecimentos variados sobre o funcionamento das leis de
Deus, perfeitamente explicadas pelo Espiritismo, ou seja, aguardam a frase
compreensiva e conveniente, estimuladora e de esperança.
Esta tarefa não pode ser
franqueada a aventureiros, que mais desejam conhecer a vida alheia do que
sinceramente ajudá-los em seus dilemas. Também não podem ser selecionados e
aceitos por meio de superficiais treinamentos, fornecidos, às vezes, por trabalhadores
que alegam conhecer o tema.
Esta tarefa é muito delicada
para ser desempenhada por trabalhadores despreparados, possuindo apenas e
unicamente a boa vontade, e os dirigentes que permitirem esta situação
responderão por qualquer prejuízo causado por esses aprendizes de atendentes
aos seus inquietos e sofridos consulentes.
Exposições
São os assim chamados carros
chefe do centro espírita. Setor de suma importância, pois por meio das
palavras, ditas durante uma apresentação, os ouvintes podem ser deslocados do
inferno – onde possivelmente se encontram – para o ainda desconhecido céu,
dependendo do tom e do conteúdo apresentado pelo palestrante. Possuem a
capacidade de promover a esperança ou o desalento.
Sinceridade, autoridade,
confiança assumem papel capital nesta atividade, uma vez que a casa pode não
possuir a recepção fraterna, muito menos o atendimento fraterno, mas se a
preleção é de qualidade do ponto de vista espírita, carregada de bons sentimentos,
durante a exposição acontecem as duas tarefas anteriormente citadas, sem que
haja absoluta necessidade da existência de ambas.
Para tanto, o expositor deve
estar muito bem preparado para captar as intuições que chegam à sua mente,
provenientes dos Espíritos dirigentes da Casa Espírita, pois estes sabem com
perfeição o que a audiência precisa efetivamente escutar. É por esta razão que
– e não é incomum – um participante qualquer da assembleia, ao final,
confidenciar ao expositor que escutou exatamente o que precisava ouvir,
justamente o que veio buscar, e não entende como aquilo aconteceu, sem que
sequer o expositor tivesse preparado aquela particular explicação. Estes são
exemplos do auxílio que vêm do Alto.
Em uma situação extrema de falta
de trabalhadores, a única atividade que não pode faltar em uma Instituição de
Espiritismo é a de exposições, pois sem esta a casa não pode atender o seu
objetivo maior que é o de ensinar Espiritismo de modo que os ouvintes –
encarnados ou desencarnados -, ao compreender as explicações e ensinos, possam
buscar por si mesmos respostas ou explicações às suas dúvidas e dificuldades
enfrentadas no cotidiano de suas vidas, sejam elas quais forem.
Os expositores agem como um
semeador de palavras, sendo o campo de cultivo a mente dos ouvintes recebendo
suas ideias e sonhos, portanto é preciso semear com cuidado e zelo de modo a
ver frutificar a sementeira naqueles que os ouvem, motivo pelo qual a cátedra
só deve ser entregue aos realmente capacitados, pois não há improviso nesta
delicada atividade.
Estudos
Toda casa que possuir condições
para tanto deve manter regulares programas de estudos espíritas, formando
grupos de interessados em aprender a Doutrina Espírita. Esta prática facilita o
aprendizado de todos.
Entretanto, o condutor da
palavra espírita, o responsável por catalisar o processo de aprendizado do
grupo, deve ser, como no caso dos expositores, também escolhido a dedo, pois
ele será o intérprete da Doutrina para os novatos e, se ele não tiver condições
de ensinar pela palavra os corretos postulados do Espiritismo, o prejuízo será
enorme. Os aprendizes construirão fundamentos errôneos sobre a Doutrina e,
edificando seus entendimentos sobre castelos de areia, fundados em pilares
movediços, mais cedo ou mais tarde eles ruirão.
Assim, não se entende haver
coordenadores de estudos que sejam homofóbicos, a favor do armamento da
população para assegurar a própria segurança, misóginos, tendentes a dizer que
é tudo a mesma coisa quando se trata das práticas religiosas. Todos esses desvios
de personalidade e caráter não se coadunam com a essência espírita, que segue
integralmente a moral cristã.
As atividades mediúnicas
Nesta área de atuação, a palavra
também se reveste de cuidados especiais.
Para os dialogadores,
doutrinadores ou esclarecedores a boca deve estar higienizada pelo hábito
contínuo do uso da boa palavra. Ao conversar com as entidades desencarnadas,
muitas habituadas a emitir expressões de rancor, reclamações, revestidas de
ódio e mágoas diversas, o trabalhador precisa contrapor-se a essas frequências
maléficas, emitindo boas vibrações pelo emprego do verbo equilibrado, criando
assim melhor potencial para estabelecer sintonia com os interlocutores do lado
de lá e anulando, mesmo que parcialmente, os fluidos negativos que as palavras
torpes de Espíritos revoltados emitem quando se comunicam em uma reunião
mediúnica. Atitudes e palavras violentas, impaciência ou desapreço ao
comunicante precisam ser evitadas. De modo igual à tarefa do atendimento
fraterno, a conversação não será longa em demasia, considerando a questão do
tempo e a existência de outros possíveis comunicantes.
Como importante lembrança, no
caso dos médiuns, alguns deixam escapar palavras rudes e imorais, expressões
obscenas ou injuriosas, gritos ou interjeições grotescas, inadequados em
qualquer situação, ainda mais em um encontro mediúnico, pois não têm domínio
completo sobre si mesmos. E, quando isso ocorre, responsabilizam os Espíritos,
alegando que eles é que desejam usar os chamados palavrões e o médium não
consegue contrapor-se, não obtendo sucesso na filtragem das palavras chulas e
de baixo calão. Com certeza, isso só ocorre por conta de ser o médium
deseducado em sua vida íntima, empregando cotidianamente essas inadequadas
palavras em seus regulares diálogos. Por conta desta realidade é que se pode
afirmar que a mediunidade precisa ser desenvolvida, como qualquer outra
faculdade, enquanto o médium precisa ser educado moralmente. O médium é sempre
responsável pela comunicação que primeiro recebe e depois transmite, mesmo que
seja inteiramente sonâmbulo.
Conclusão
Às áreas da Evangelização
Infantil e de Mocidade se aplicam todas as recomendações anteriormente
listadas, com destaque para a especialização dos trabalhadores para o correto
trato com a mente infantil e juvenil.
Uma especial recomendação a
todos os trabalhadores é não deixar de aderir à prática do que falam, vivendo
aquilo que verbalmente transmitem. O exemplo é o maior agente de convencimento.
Alguns se portam dignamente nas dependências da casa espírita onde militam,
contudo, ao colocarem o pé fora da instituição, esquecem as belas palavras
pronunciadas durante as atividades espíritas e passam a ser do mundo, atuando
conforme o mundo age e pensa. As palavras devem ser confirmadas pelos atos, sem
dúvida.
Quanto mais estivermos
sintonizados com Jesus e seus colaboradores, mais força existirá em nossas
palavras. A energia que passamos a carregar nas expressões verbais utilizadas
na tentativa de nos fazer entender se multiplica e se depura. Passa a atingir em
profundidade os ouvintes, em qualquer situação e local.
Por tudo isso o uso do verbo
equilibrado é receita para o equilíbrio interno, tão escasso neste mar de
vibrações irritantes, desconexas, perturbadas em que nos encontramos imersos,
por conta das palavras rudes, grosseiras, de ódio e de revolta normalmente
pronunciadas pelas massas, incluindo os palavrões deprimentes, agora de uso
generalizado.
Se nos prepararmos melhor
durante o dia, usando o verbo de modo útil e edificante, espalhando palavras de
amor, sadia alegria e esperança aos que nos cercam, além de melhor nos
apresentarmos para o trabalho espírita na casa escolhida – em qualquer setor -,
contribuiremos para sanear a atmosfera psíquica do planeta pela caridade do
verbo, consoante estas oportunas palavras de Emmanuel[3]:
Meditemos, pois, na importância do verbo e roguemos a
Deus nos inspire, a fim de encontrarmos a porta adequada à palavra certa e
sermos úteis aos outros, tanto quanto esperamos que os outros sejam úteis a
nós.
[1] O Consolador - Ano 17 - N° 866 - 17 de Março de
2024 - https://www.oconsolador.com.br/ano17/866/especial.html
[2] BÍBLIA DE JERUSALÉM. Trad. Gilberto da Silva Gorgulho;
et al. 8. ed. São Paulo: Paulus Editora, 2012.
[3] XAVIER, Francisco Cândido. Segue-me. Pelo Espírito
Emmanuel. ed. 15ª. Matão/SP: Casa Editora O Clarim, 2014. A porta da palavra.
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