Miguel Vives y Vives
Sabemos que a Terra é lugar de
expiação e dor, como sabemos que a dor purifica e eleva. A dor é um dos meios
pelos quais progredimos mais rapidamente. Como, pois, devemos encarar as dores
e os sofrimentos físicos da vida? Com calma, resignação, e até com alegria,
lembrando sempre que a dor é o caminho mais rápido para a nossa ascensão às
mais altas regiões, e o meio mais seguro de afastar-nos das veleidades humanas.
Temos visto espíritas que
souberam sofrer com resignação e alegria. Embora nos momentos de paroxismo da
dor estivessem quietos e sérios, e às vezes cansados, o que é muito natural,
uma vez passados esses momentos estavam relativamente tranquilos e alegres. E
quando a doença lhes dava tréguas, mostravam-se expansivos e dispostos a
exaltar a Justiça de Deus. Foram poucos os que vimos. Mas os que desencarnaram,
e dos quais pudemos saber posteriormente, mostravam-se sempre num estado muito
feliz no mundo espiritual, satisfeitos por haverem sabido sofrer com serenidade
as dores da existência material.
Vimos outros espíritas que,
embora aparentassem resignação, também choravam e lamentavam seus muitos
sofrimentos.
Entendo que esses espíritas não
andavam bem, e não estavam livres de cair. Porque a tristeza engendra o mau
humor, que pode dar lugar à murmuração contra o destino. E quando chegamos à
murmuração, estamos a um passo da revolta. Um espírita nesse estado revela
atraso moral e desconhecimento da lei divina. Que diríamos de um comerciante
que reclamasse de ter muitos negócios a realizar, ganhando muito dinheiro?
Diríamos que era um mau comerciante, incapaz de aproveitar as boas
oportunidades. Assim são os espíritas que, diante das dores da vida, se
entristecem ou se atribulam, e às vezes se revoltam.
O espírita deve encarar a
existência material como um curso de provas de toda espécie: físicas e morais,
que servem para levá-lo a um verdadeiro progresso. Nunca deve confundir essa
existência com a verdadeira vida, mas encará-la como um período de estudos e
provas, em que se prepara com vistas a esta última, que se encontra na
erraticidade. Cada dia que passamos na carne corresponde a milhares de anos que
iremos viver no Espaço. Que significam, pois, estes pequenos períodos que
chamamos de vida material, diante da vida espiritual que nos aguarda? Se a lei
nos obriga a sofrer, porque nada na Criação escapa à Justiça, devemos fazê-lo
com a maior serenidade. Pois sabemos que isso constitui para nós um grande bem,
e que chegamos à hora de provar se o Espiritismo mergulhou em nosso interior ou
se permanece apenas superficial. Se é superficial, não podemos chamar-nos
espíritas. Se estiver arraigado no mais fundo de nossa alma, saberemos encarar
as provas e dores da existência como necessárias, e honraremos a doutrina que
professamos.
Nenhum espírita deve duvidar que
no Reino de Deus não se entra de surpresa, nem se atinge a felicidade senão
depois da purificação. Assim é que as comodidades, as alegrias mundanas, os
gozos da Terra, não são os caminhos indicados para alcançarmos a felicidade no
espaço. Também não deve duvidar que, quanto mais próximo se acha da sua
felicidade espiritual, mais submetido será a todas as provas terrenas. Basta
recordar a vida dos mártires, dos justos, dos humildes e dos bons, e compará-la
com a maneira de viver dos grandes do mundo, dos opulentos, dos potentados,
para ver que enquanto os primeiros tem os olhos voltados para o futuro, os
segundos não veem mais do que as delícias mundanas. Disso nos dá uma excelente
prova o Senhor e Mestre, em seus mandamentos e em seus atos:
Bem-aventurados os que
sofrem, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os aflitos,
porque serão consolados.
Bem-aventurados os limpos de
coração, porque eles verão a Deus.
Estas são as palavras do Senhor.
Confiemos n’Ele. Sigamos seu exemplo. Todo espírita submetido a grandes dores
mantenha-se forte, cheio de clama, de amor ao Pai, de resignação e de submissão
à Justiça Divina. E se às vezes a tentação o envolver, que se defenda com a
prece, com o amor pelos que sofreram antes dele, não esquecendo jamais que por
trás da dor suportada com alegria e calma virá a felicidade na vida eterna.[2]
[1] O TESOURO DOS ESPÍRITAS – Miguel Vives y Vives
[2] Devemos lembrar ainda que a revolta aumenta a dor,
intensifica o sofrimento, enquanto a resignação favorece a ação benéfica dos
bons Espíritos, sempre prontos a auxiliar os que sofrem. A prece é o grande
lenitivo das dores sem remédio. Por ela, o espírito em provas estabelece
ligação fluídica com os seus Benfeitores Espirituais, que lhe darão o alívio
possível e a força moral necessária para suportar a provação até o fim. (N.T.)
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