O Invejoso
Allan Kardec
Dissertação Moral ditada pelo Espírito São Luíz ao Sr.
D...
Em uma das sessões da Sociedade,
São Luís nos havia prometido uma dissertação sobre a inveja. O Sr. D..., que
começava a desenvolver a mediunidade e ainda duvidava um pouco – não da
Doutrina, de que é um dos mais ferventes adeptos e que a compreende em sua
essência, isto é, do ponto de vista moral – mas da faculdade que nele se
revelava, invocou São Luís em seu nome particular, dirigindo-lhe a seguinte
pergunta:
– Poderíeis dissipar minhas dúvidas e inquietações a
respeito de minha força mediúnica, escrevendo, por meu intermédio, a
dissertação que havíeis prometido à Sociedade para terça-feira, 1º de junho?
– Sim; para te tranquilizar o farei.
Foi então que o trecho seguinte
foi ditado. Faremos notar que o Sr. D... dirigiu-se a São Luís com um coração
puro e sincero, sem segundas intenções, condição indispensável a toda boa
comunicação. Não era uma prova que fazia: duvidava apenas de si mesmo,
permitindo Deus que fosse atendido, a fim de dar-lhe os meios de tornar-se
útil. Hoje, o Sr. D... é um dos médiuns mais completos, não só pela grande
facilidade de execução, como por sua aptidão em servir de intérprete a todos os
Espíritos, mesmo àqueles de ordem mais elevada, que se exprimem facilmente e de
boa vontade por seu intermédio. São essas, sobretudo, as qualidades, que
devemos procurar num médium e que podem sempre ser adquiridas com paciência,
vontade e exercício. O Sr. D... não necessitou de muita paciência; havia nele a
vontade e o fervor, unidos a uma aptidão natural. Bastaram alguns dias para
levar sua faculdade ao mais alto grau. Eis o ditado que lhe foi dado sobre a
inveja:
Vede este homem: seu espírito está inquieto, sua
infelicidade terrestre está no auge: inveja o ouro, o luxo e a felicidade,
aparente ou fictícia, de seus semelhantes; seu coração está devastado, sua alma
secretamente consumida por essa luta incessante do orgulho e da vaidade não
satisfeita; carrega consigo, em todos os instantes de sua miserável existência,
uma serpente que acalenta no peito e que sem cessar lhe sugere os mais fatais
pensamentos: “Terei essa volúpia, essa felicidade? Não obstante, isso me é
devido como aos outros; sou homem como eles; por que seria deserdado?”
E se debate na sua impotência, atormentado pelo
horrível suplício da inveja. Feliz ainda se essas funestas ideias não o levarem
à beira do abismo. Entrando nesse caminho, ele se pergunta se não deve obter,
pela violência, o que julga ser-lhe devido; se não irá expor, aos olhos de
todos, o horrendo mal que o devora. Se esse infeliz apenas tivesse olhado para
baixo de sua posição, teria visto o número daqueles que sofrem sem se
lastimarem e ainda bendizendo o Criador, porquanto a infelicidade é um benefício
de que Deus se serve para fazer avançar a pobre criatura até o seu trono
eterno.
Fazei vossa felicidade e vosso verdadeiro tesouro na
Terra em obras de caridade e de submissão, as únicas que vos permitirão ser
admitidos no seio de Deus; essas obras do bem farão a vossa alegria e a vossa
felicidade eternas; a inveja é uma das mais feias e mais tristes misérias de
vosso globo; a caridade e a constante emissão da fé farão desaparecer todos os
males, que se irão um a um, à medida que se multiplicarem os homens de boa
vontade que a vós se seguirão.
Amém.
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