sexta-feira, 24 de novembro de 2023

A EQUIVOCADA OPÇÃO PELO SUICÍDIO[1]

 


Rogério Coelho

 

Coadjuvada por Léon Denis, Yvonne do Amaral Pereira legou-nos um tratado sobre a questão do suicídio extremamente realista e esclarecedor, em especial com relação aos seus desdobramentos no plano espiritual. Falamos do notável livro Memórias de um Suicida[2], que merece acurado estudo de todos nós, atualmente reencarnados neste mundo de crises e escarcéus de variegada ordem.

Quem opta por atravessar a enganosa porta do suicídio não só aumentará consideravelmente seu próprio infortúnio como não se safará de um extremo desapontamento, vez que essa solução não é o fim da linha para os sofrimentos, mas seu agravamento.

A Revista Veja, edição nº 2106, de 1º/04/2009, apresenta a reportagem intitulada: Mortes Espelhadas, na qual o autor, Diogo Schelp, faz uma análise das motivações de suicidas em uma mesma família, contando a história trágica dos Hughes.

É interessante verificar que, em nenhum momento, cita uma das mais expressivas causas de suicídio: a interferência de obsessores, inimigos espirituais, embora inclua a opinião de psiquiatras e coordenadores de núcleos de intervenção em crise e prevenção ao suicídio. Cita causas como superposição de elementos psicológicos, biológicos, culturais, ambientais e sociais, respeitáveis, mas não as únicas. Não se esquece nem mesmo de fazer um esboço histórico do tema desde Platão, passando pelo Cristianismo, com Tomás de Aquino, pensadores iluministas como o escocês David Hume (1711-1776) e o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917). Até mesmo a opinião do escritor francês Albert Camus que, em O Mito de Sísifo, ponderou que se a vida não tem sentido, talvez não valha a pena ser vivida.

O bom do livro de Camus é que ele afirma que o ser humano deve aceitar a tensão de procurar sentido em um mundo absurdo e caótico, descartando, assim, a opção enganosa e ilusória do suicídio. O autor arrisca-se até mesmo a oferecer subsídios terapêuticos para os candidatos ao suicídio: terapia e uso de remédios, saídas mais concretas e menos filosóficas.  Acrescentaríamos a essas providências, vigilância e oração, componentes muito concretos, embora suas características metafísicas.

O estudo da Doutrina Espírita é manancial rico e inesgotável de subsídios para nos auxiliar na romagem evolutiva, incluindo-se as informações essenciais para fazer face às tribulações que podem levar-nos a desembocar no delta hiante e sinistro do suicídio.

As vicissitudes constituem, segundo os Amigos Espirituais, os espinhos que encontraremos, inevitavelmente, em nossa caminhada evolutiva.  Saber enfrentá-los ou minimizá-los, tal a atitude que não podemos menoscabar. Também os autores espirituais não descuidam de nos oferecer informações importantes nessa área, quais os pontos de vista da nobre Mentora Joanna de Ângelis[3]:

[…] Infortúnio ou desgraça significa tudo que perturba a comodidade e contraria as ambições imediatas em que se compraz a criatura humana.

Educada por técnicas de condicionamentos para colimar resultados utilitaristas, não obstante as vinculações religiosas que se permite, os seus agitados passos a levam quase sempre aos interesses materialistas, fazendo-a   atormentada, aflita e infeliz…

Observado, no entanto, do ponto de vista espiritual, o infortúnio que poderia  significar verdadeira desdita  para  os  desarmados  morais,  faculta  aos  que   sabem entregar-se a Deus, conquistas que trasladam para a Vida  Imortal – a verdadeira.

As dores de qualquer procedência, as injunções de toda natureza, as enfermidades ditas incuráveis, a presença da pobreza material, a ausência dos valores amoedados, a ingratidão das pessoas amadas, representam apelos ao  Espírito calceta  e  atrabiliário  para  cuidar,  quanto  antes,  da   sua renovação e consequente ascensão moral.

Provas e expiações de qualquer monta são necessidades elaboradas por nós próprios, a fim de repararmos  as faltas  cometidas,  encontrando  na dor que se  deve  superar,  os recursos  valiosos para a libertação dos gravames inditosos  e  a paz da consciência.

Não são, portanto, desgraças reais os chamados infortúnios, conforme  conceituam  as  convenções   do utilitarismo e do imediatismo.

O verdadeiro infortúnio pode ser encontrado na ausência da  fé em Deus com o  impositivo  de  prosseguir-se caminhando entre dores e desesperações sem os arrimos  abençoados da crença e da esperança.

[…] Cada um é o artífice do seu próprio destino, recebendo conforme se produziu.  Isso nos concede a indispensável  maturidade  para   conscientizar-nos quanto às responsabilidades decorrentes dos nossos atos.

Assim, a dor e o agravo, a angústia e o desespero são vigorosas terapêuticas da vida para que o enfermo espiritual inveterado se preocupe com a cura geral e se volte em definitivo  para  os elevados objetivos da Vida Maior, em cujo rumo se encontra desde agora, lá chegando quando a desencarnação o despir da transitória indumentária  em  que marcha tentando a felicidade  que  só  mais tarde alcançará após resgatados os compromissos atrasados. 

Os momentos de prova e aflição, portanto, constituem, na verdade, momentos de aferição dos valores morais de cada um, momentos de verificação da fibra da fé, mediante os quais a criatura adquire mais amplas e valiosas expressões iluminativas como suportes e lastro para futuros investimentos evolutivos. Tal o motivo pelo qual somos todos nós atingidos por tais métodos de purificação.  Não existe nenhuma criatura na Terra que esteja isenta desses períodos de aferição de valores.

Com seu atilamento psicológico, Joanna de Ângelis ensina-nos[4] a enfrentá-los – serenamente – com vistas à aprovação no tentame e a consequente promoção espiritual que nos elevará aos cimos gloriosos da emancipação espiritual:

Vigia-te, no momento da aflição e prova, a fim de que não compliques, por precipitação, o teu estado íntimo.

Suporta o vendaval do testemunho com serenidade; recebe a adaga da acusação indébita com humildade; aceita o ácido da reprimenda injusta com nobreza; medita diante do sofrimento com elevação de sentimentos.

Todos os momentos difíceis cedem lugar a outros; os de paz e compreensão…

Não te desalentes, exatamente quando deves fortalecer-te para a luta.

É nos instantes difíceis que as resistências morais devem estar temperadas, suportando as constrições que ameaçam derruir as fortalezas íntimas.

Quando estiveres a ponto de desfalecer, procura refúgio na oração.

Orando, renovar-se-ão tuas paisagens mentais e morais, elevando-te o ânimo e reconfortando-te espiritualmente.

Jesus, que não tinha qualquer dívida a resgatar e que é o Sublime Construtor da Terra, enquanto conosco, não esteve isento dos momentos de aflição, demonstrando, amoroso, como vencê-los todos, e, ao mesmo tempo, ensinando a técnica de como retirar do aparente mal as proveitosas lições da felicidade.

Considera-Lhe os testemunhos e, em qualquer momento em que sejas defrontado pela aflição ou prova, enfrenta a circunstância e extrai do amor a parte da tua tarefa de santificação.



[1] REVISTA MUNDO ESPÍRITA – 11/ 2023 − nº 1672 −  Ano 91 − http://www.mundoespirita.com.br/?materia=a-equivocada-opcao-pelo-suicidio

[2] PEREIRA, Yvonne do Amaral. Memórias de um suicida. Rio de Janeiro: FEB, 1982.

[3] FRANCO, Divaldo Pereira. Após a tempestade. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2000. cap. 11.

[4] ______. Oferenda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1980. cap. Momentos de aflição e prova.

ngelis. Salvador: LEAL, 1980. cap. Momentos de aflição e prova.

Nenhum comentário:

Postar um comentário