Rogério Coelho
Coadjuvada por Léon
Denis, Yvonne
do Amaral Pereira legou-nos um tratado sobre a questão do suicídio
extremamente realista e esclarecedor, em especial com relação aos seus
desdobramentos no plano espiritual. Falamos do notável livro Memórias de um
Suicida[2],
que merece acurado estudo de todos nós, atualmente reencarnados neste mundo de
crises e escarcéus de variegada ordem.
Quem opta por atravessar a
enganosa porta do suicídio não só aumentará consideravelmente seu próprio
infortúnio como não se safará de um extremo desapontamento, vez que essa solução
não é o fim da linha para os sofrimentos, mas seu agravamento.
A Revista Veja, edição nº 2106,
de 1º/04/2009, apresenta a reportagem intitulada: Mortes Espelhadas, na
qual o autor, Diogo Schelp, faz uma análise das motivações de suicidas em uma
mesma família, contando a história trágica dos Hughes.
É interessante verificar que, em
nenhum momento, cita uma das mais expressivas causas de suicídio: a
interferência de obsessores, inimigos espirituais, embora inclua a opinião de
psiquiatras e coordenadores de núcleos de intervenção em crise e prevenção ao
suicídio. Cita causas como superposição de elementos psicológicos, biológicos,
culturais, ambientais e sociais, respeitáveis, mas não as únicas. Não se
esquece nem mesmo de fazer um esboço histórico do tema desde Platão, passando
pelo Cristianismo, com Tomás de Aquino, pensadores iluministas como o escocês
David Hume (1711-1776) e o sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917). Até
mesmo a opinião do escritor francês Albert Camus que, em O Mito de Sísifo,
ponderou que se a vida não tem sentido, talvez não valha a pena ser vivida.
O bom do livro de Camus é que
ele afirma que o ser humano deve aceitar a tensão de procurar sentido em um
mundo absurdo e caótico, descartando, assim, a opção enganosa e ilusória do
suicídio. O autor arrisca-se até mesmo a oferecer subsídios terapêuticos para
os candidatos ao suicídio: terapia e uso de remédios, saídas mais concretas e
menos filosóficas. Acrescentaríamos a
essas providências, vigilância e oração, componentes muito
concretos, embora suas características metafísicas.
O estudo da Doutrina Espírita é
manancial rico e inesgotável de subsídios para nos auxiliar na romagem
evolutiva, incluindo-se as informações essenciais para fazer face às
tribulações que podem levar-nos a desembocar no delta hiante e sinistro do
suicídio.
As vicissitudes constituem,
segundo os Amigos Espirituais, os espinhos que encontraremos, inevitavelmente,
em nossa caminhada evolutiva. Saber
enfrentá-los ou minimizá-los, tal a atitude que não podemos menoscabar. Também
os autores espirituais não descuidam de nos oferecer informações importantes
nessa área, quais os pontos de vista da nobre Mentora Joanna de Ângelis[3]:
[…] Infortúnio ou desgraça significa tudo que perturba
a comodidade e contraria as ambições imediatas em que se compraz a criatura
humana.
Educada por técnicas de condicionamentos para colimar
resultados utilitaristas, não obstante as vinculações religiosas que se
permite, os seus agitados passos a levam quase sempre aos interesses
materialistas, fazendo-a atormentada,
aflita e infeliz…
Observado, no entanto, do ponto de vista espiritual, o
infortúnio que poderia significar
verdadeira desdita para os
desarmados morais, faculta
aos que sabem entregar-se a Deus, conquistas que
trasladam para a Vida Imortal – a
verdadeira.
As dores de qualquer procedência, as injunções de toda
natureza, as enfermidades ditas incuráveis, a presença da pobreza material, a
ausência dos valores amoedados, a ingratidão das pessoas amadas, representam
apelos ao Espírito calceta e
atrabiliário para cuidar,
quanto antes, da
sua renovação e consequente ascensão moral.
Provas e expiações de qualquer monta são necessidades
elaboradas por nós próprios, a fim de repararmos as faltas
cometidas, encontrando na dor que se
deve superar, os recursos
valiosos para a libertação dos gravames inditosos e a
paz da consciência.
Não são, portanto, desgraças reais os chamados
infortúnios, conforme conceituam as
convenções do utilitarismo e do
imediatismo.
O verdadeiro infortúnio pode ser encontrado na ausência
da fé em Deus com o impositivo
de prosseguir-se caminhando entre
dores e desesperações sem os arrimos
abençoados da crença e da esperança.
[…] Cada um é o artífice do seu próprio destino,
recebendo conforme se produziu. Isso nos
concede a indispensável maturidade para
conscientizar-nos quanto às responsabilidades decorrentes dos nossos
atos.
Assim, a dor e o agravo, a angústia e o desespero são
vigorosas terapêuticas da vida para que o enfermo espiritual inveterado se
preocupe com a cura geral e se volte em definitivo para
os elevados objetivos da Vida Maior, em cujo rumo se encontra desde
agora, lá chegando quando a desencarnação o despir da transitória
indumentária em que marcha tentando a felicidade que
só mais tarde alcançará após
resgatados os compromissos atrasados.
Os momentos de prova e aflição,
portanto, constituem, na verdade, momentos de aferição dos valores morais de
cada um, momentos de verificação da fibra da fé, mediante os quais a criatura
adquire mais amplas e valiosas expressões iluminativas como suportes e lastro
para futuros investimentos evolutivos. Tal o motivo pelo qual somos todos nós
atingidos por tais métodos de purificação.
Não existe nenhuma criatura na Terra que esteja isenta desses períodos
de aferição de valores.
Com seu atilamento psicológico,
Joanna de Ângelis ensina-nos[4]
a enfrentá-los – serenamente – com vistas à aprovação no tentame e a
consequente promoção espiritual que nos elevará aos cimos gloriosos da
emancipação espiritual:
Vigia-te, no momento da aflição e prova, a fim de que
não compliques, por precipitação, o teu estado íntimo.
Suporta o vendaval do testemunho com serenidade; recebe
a adaga da acusação indébita com humildade; aceita o ácido da reprimenda
injusta com nobreza; medita diante do sofrimento com elevação de sentimentos.
Todos os momentos difíceis cedem lugar a outros; os de
paz e compreensão…
Não te desalentes, exatamente quando deves
fortalecer-te para a luta.
É nos instantes difíceis que as resistências morais
devem estar temperadas, suportando as constrições que ameaçam derruir as
fortalezas íntimas.
Quando estiveres a ponto de desfalecer, procura refúgio
na oração.
Orando, renovar-se-ão tuas paisagens mentais e morais,
elevando-te o ânimo e reconfortando-te espiritualmente.
Jesus, que não tinha qualquer
dívida a resgatar e que é o Sublime Construtor da Terra, enquanto conosco, não
esteve isento dos momentos de aflição, demonstrando, amoroso, como vencê-los
todos, e, ao mesmo tempo, ensinando a técnica de como retirar do aparente mal
as proveitosas lições da felicidade.
Considera-Lhe os testemunhos e,
em qualquer momento em que sejas defrontado pela aflição ou prova, enfrenta a
circunstância e extrai do amor a parte da tua tarefa de santificação.
[1] REVISTA MUNDO ESPÍRITA – 11/ 2023 − nº 1672
− Ano 91 − http://www.mundoespirita.com.br/?materia=a-equivocada-opcao-pelo-suicidio
[2] PEREIRA, Yvonne do Amaral. Memórias de um suicida. Rio
de Janeiro: FEB, 1982.
[3] FRANCO, Divaldo Pereira. Após a tempestade. Pelo
Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2000. cap. 11.
[4] ______. Oferenda. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador: LEAL, 1980. cap. Momentos de aflição e prova.
ngelis. Salvador: LEAL, 1980. cap. Momentos de aflição e prova.
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