Miramez
Pois que o Espírito é, em si, alguma coisa, não seria mais
exato e menos sujeito a confusão dar aos dois elementos gerais as designações
de matéria inerte e matéria inteligente?
As palavras pouco nos importam. Compete-vos a vós
formular a vossa linguagem de maneira a vos entenderdes. As vossas
controvérsias provêm, quase sempre, de não vos entenderdes acerca dos termos
que empregais, por ser incompleta a vossa linguagem para exprimir o que não vos
fere os sentidos.
Um fato patente domina
todas as hipóteses: vemos matéria destituída de inteligência e vemos um
princípio inteligente que independe da matéria. A origem e a conexão destas
duas coisas nos são desconhecidas. Se promanam ou não de uma só fonte; se há
pontos de contacto entre ambas; se a inteligência tem existência própria, ou se
é uma propriedade, um efeito; se é mesmo, conforme à opinião de alguns, uma
emanação da Divindade, ignoramos.
Elas se nos mostram como
sendo distintas; daí o considerarmo-las formando os dois princípios
constitutivos do Universo. Vemos acima de tudo isso uma inteligência que domina
todas as outras, que as governa, que se distingue delas por atributos
essenciais. A essa inteligência suprema é que chamamos Deus.(Allan Kardec)
Questão 28/O Livro dos Espíritos
Aconselhamos ao leitor reler,
antes de iniciar esta leitura, o sábio comentário de Allan Kardec referente à
pergunta número vinte e oito, para que tenha força para acalmar o impulso de
saber, até onde deve ser alcançado, porque neste rumo das revelações não temos
outra coisa a dizer além daquilo que ele expõe, inspirado nas mais altas forças
de vida. É bom, e muito bom, que o coração ajude a palavra, inspirando-a na sua
grande missão de falar construindo, e construir falando certo.
O verbo que o homem já domina
com certa facilidade, seu filho de longa data, educado na boca do sábio, tem a
missão junto a todos os seus recursos, de aprofundar-se nos segredos da
natureza e fazer os mesmos homens compreenderem as belezas da criação, porém, é
de ordem comum entre as coisas de Deus, que ele fale com toda a simplicidade,
sem esquecer a clareza dos princípios.
A missão da palavra é sublimada,
desde quando temos outros sentidos desenvolvidos para compreendê-la. Para
tanto, o nosso dever é educá-la, naquela escola cujo Mestre maior é Nosso
Senhor Jesus Cristo. Com Ele a palavra atingiu os cimos da evolução, coroando,
com a mais alta condecoração espiritual, o verbo, ao falar como o fez, quando
da Sua estada divina junto a nós, da mais elevada virtude vivenciada nos
caminhos da Terra: o Amor.
A sabedoria de Deus confunde o
raciocínio humano. A essência divina, ao sair da sua pureza lirial, da sua
unidade absoluta e indivisível, torna-se díade, manifestando-se em tudo com
todos os valores correspondentes às suas mutações, para melhor servir, pela
força e claridade do progresso. A razão é pobre para explicar os segredos do
Criador. A evolução tem o poder de transformar a inteligência em sentido
altamente dominante, na arte de conhecer. Dentro de nós existem, como sabemos,
os talentos divinos, que são favos de luz colocados na nossa consciência pelo
Senhor. Cada vez que são despertados - na expressão filosófica
denominada Evolução -
nos mostram rumos novos da sabedoria.
Deus, na conveniência de Sua
sabedoria, houve por bem criar inúmeras divisões na construção da casa
universal. Cabe a nós outros estudarmos todos os princípios da sabedoria e
procurarmos, com humildade, a obediência às leis naturais, que regem e
sustentam toda a criação divina. Perder tempo com discussões sem sentido
educativo é forçar o inconveniente a transformar-se em ignorância. Se ainda não
entendemos o que almejamos conhecer, é bom guardarmos serenidade, e esperarmos
a oportunidade, que o arcano do tempo tudo nos revelará no momento preciso,
quando as nossas forças suportarem o impacto da verdade.
Tudo que existe obedece a uma
sequência estabelecida pela harmonia. A matéria que tanto estudamos tem sua
vida própria sob a influência do Espírito, e o Espírito vive na atmosfera de
Deus. A independência é, pois, até certo ponto, de concordância e as afinidades
congênitas é que nos garantem a vida, na vida de Deus.
Existe algo de divino dentro da
matéria e outro tanto vibrando no Espírito, que por enquanto desconhecemos. Até
para os grandes benfeitores - pelo menos é o que ouvimos deles
-
Deus é um segredo absoluto. Não podemos decifrá-lo, por faltar em nós as
qualidades de um deus.
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