quinta-feira, 13 de julho de 2023

NADA HÁ INÚTIL[1]

 

"THE STEELWORKS" - Maximilien Luce


Miramez

 

Há pessoas para as quais a vida flui numa serenidade perfeita; que, não tendo necessidade de fazer qualquer coisa para si mesmas, estão livres de cuidados. Essa existência feliz é uma prova de que nada têm a expiar de uma existência anterior?

− Conheces muitas assim? Se o acreditas, enganas-te. Em geral essa serenidade não é mais do que aparente. Podem ter escolhido essa existência, mas, quando a deixam, percebem que ela não os ajudou a progredir: então, como os preguiçosos, lamentam o tempo perdido. Sabei que o Espírito não pode adquirir conhecimentos e se elevar senão através da atividade; se ele adormece na despreocupação, não se adianta. É semelhante àquele que, de acordo com os vossos costumes, tem necessidade de trabalhar e vai passear ou dormir para nada fazer.

Sabei também que cada qual terá de prestar contas da inatividade voluntária durante a sua existência; essa inutilidade é sempre fatal à felicidade futura. A soma da felicidade futura está na razão da soma do bem que se tiver feito; a da desgraça, na razão do mal e dos infelizes que se tenham feito.

Questão 988/O Livro dos Espíritos

 

Compreendemos que nada há inútil na criação de Deus. Tudo tem uma razão de ser, nos caminhos que percorremos. Se passamos por existências nas quais nada sofremos, como se diz na Terra, na paz de Deus, isto pode ser um descanso da alma, para depois, em outras etapas, suportar o peso de tribulações sem conta.

A vida tem regras para todas as criaturas; por que Deus iria delinear roteiros para uns e para outros não? Onde estaria a justiça do Criador? Os preguiçosos estão em um processo em que, no amanhã, encontrarão as lutas com mais intensidade.

Se a Doutrina Espírita nos manda encarar tudo frente a frente com a razão, essa razão nos pede para observarmos a própria natureza. Cada alma, cada ser vivente, se encontra em uma escala de progresso. A natureza não violenta a vida, porque Deus não é violento.

O preguiçoso, aparentemente, é calmo, no entanto, dentro dele estão fomentando forças, para eclodir energias para o futuro, em direção à libertação espiritual. Não podemos julgar a ninguém, nem homens, nem Espíritos fora da carne. Há muita coisa encoberta na natureza humana e espiritual Não sabemos o que sucederá no amanhã, cuja destinação está entregue a Deus.

Vós não sabeis o que sucederá amanhã.

Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece por instante e logo se dissipa.

Tiago, 4:14

Já pensaste na tua vida, nas tuas ideias, naquilo que afirmas ser a verdade? Cada criatura cria seu mundo próprio e nele vive. Depois, com o progresso, a neblina nas concepções mudará, e nesse tempo somente a verdade ficará de pé, no dizer evangélico.

A evolução da alma tem muitas nuances que deveremos considerar, e se não encontramos a verdade total na Terra, certamente que ela não está também naquilo que se escreve, mesmo nos livros espíritas. Nas mensagens que enviamos para os homens, com o tempo aparecerão outras facetas que o progresso ativará, por necessidade dos Espíritos, pelo alcance do seu despertamento espiritual.

Estamos com isso apenas alertando para a necessidade de estudo e do acompanhamento da força de Deus nas modificações de tudo que existe. As Suas próprias leis são eternas e imutáveis, no entanto, cada alma, no seu porte espiritual, assimila somente o que condiz com a sua ascensão. Com isso, não estamos apoiando a inércia, mas ampliando o entendimento, porque muitas criaturas se encontram neste estágio. Vamos orar todos juntos para melhor assimilarmos a verdade que surgirá para nós na gradatividade que podemos suportar.

Peçamos a Deus que nos abençoe sempre nestas lutas de crescimento, que são para todos.

Ninguém para no caminho; os mais despertados caminham mais depressa, os mais lentos são almas que estão em caminho, como os outros estiveram. Mas, o destino de todos é o mesmo: tornarem-se sóis ante a Majestade Divina, tornando-se livres, com o Cristo em alta frequência nos corações.



[1] Filosofia Espírita – Volume 20 – João Nunes Maia

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