Rogério Coelho –
junho/2023
Não é a justiça que depende da paz, senão a paz que
depende da justiça.
Pe. Antônio Vieira.
Em passado não muito distante, vimos, entre
perplexos e horrorizados, pela multimídia, ao vivo e a cores, os cruentos quão
estarrecedores acontecimentos no Oriente Médio…
O que não é capaz de fazer o ser
(humano?!) pelas famigeradas conquistas territoriais, políticas e
econômicas!… Sim, porque, em suma, o que
marcou – essencialmente – a presença norte-americana nos sanguinolentos
cenários do Iraque, isto é, o verdadeiro motivo, além da retaliação pelos
horrores do 11 de Setembro de triste memória, ancora-se em motivações
econômicas (petróleo) e políticas. E, diga-se de passagem, com sucesso absoluto
nesse último item, porque o presidente norte-americano da época atingiu seu
objetivo de ser reeleito, graças ao temor inteligentemente estimulado com
relação aos possíveis ataques terroristas. E para a conquista dessas metas, os
principais interessados fecham os olhos para os pesados ônus, tanto financeiros
quanto em vidas humanas estraçalhadas…
Naqueles tempos de tristes
lembranças, acompanhamos, com apreensão, pela mídia, a efervescência no Irã com
a questão nuclear e a movimentação da União Europeia, apoiada pelos Estados
Unidos, para levar a efeito as sanções econômicas e, possivelmente, o uso da
força, a fim de demover o ditador iraniano de suas intenções de utilização
(para fins pacíficos!?) da energia nuclear e coibir a fabricação de armas de
destruição em massa, fabricação essa que, afinal de contas, nunca ficou
demonstrada.
No século passado, tivemos a
Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que ceifaram incontáveis milhares de
vítimas. Nos tempos hodiernos, vemos a Rússia exacerbando seu instinto
beligerante, protagonizando invasões territoriais na Ucrânia, invasões que
ceifam a vida de crianças, velhos, civis e militares, destruindo tudo que está
ao alcance dos terríveis e certeiros mísseis.
Perguntando aos Benfeitores
Amigos o que é que impele o homem à guerra, Kardec obtém a seguinte resposta[2]:
Predominância da natureza animal sobre a natureza
espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só
direito conhecem – o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de
guerra é um estado normal. (…)
Não basta, portanto, a um povo,
estar tão somente desenvolvido intelectual e tecnologicamente; há que se
enfatizar, também, o desenvolvimento moral. Sem este, aqueles provocam
desastres como os que temos testemunhado.
Se a paz depende da justiça,
conforme o pensamento de Vieira, em epígrafe, como incentivar noções de justiça
nesses povos onde é alto o índice de beligerância?
Resposta: Pela educação!…
Tão somente pela educação – já dizia Vinícius[3]
– se pode incutir as noções de justiça a esses povos, por isso que, o senso
de justiça, como, aliás, de todas as virtudes, nasce, cresce e frutifica no
coração, e não no cérebro.
Continuemos com as lúcidas
ilações de Vinícius:
Educar, formando o caráter,
eis o problema máximo cuja solução o momento reclama.
O que se tem feito até aqui para extinguir de vez a
guerra, tornando-a impraticável?
De prático e eficiente, nada!
Diviniza-se a paz, porém, somente nos lábios, nas
frases literárias, nos discursos políticos mais ou menos demagógicos.
[…]A Guerra, esse avejão sinistro, devorador de vidas
humanas, devastador impenitente dos campos e cidades, anarquizador por
excelência da ordem e do ritmo vital de povos e nações.
Tanto como a paz, resultam das consequências,
inelutáveis e fatais da condição em que se acham estruturadas as organizações
políticossociais do nosso mundo. Enquanto estas forem iníquas, prevalecendo a
força contra o direito, e a impostura contra a verdade, haverá –
inevitavelmente – guerras e convulsões sangrentas.
A paz custa certo preço. Sem o pagarmos, jamais a
teremos. E sabeis qual é o seu preço?!
Eu vo-lo digo sem receio de contestação. Eu, pobre pária, vos afirmo, desafiando a
contradita de todos os magnatas da Política – de ontem, de hoje e de amanhã:
o preço da paz é a justiça, aquela justiça, porém, da qual disse o Mestre
de Nazaré aos Seus discípulos: “Se a vossa justiça não for superior a dos
escribas e fariseus, não entrareis no Reino de Deus”. Sem ela, nunca sairemos
das garras aduncas e ferozes, das guerras periódicas desencadeadas em
determinadas regiões do planeta, evoluindo para as grandes conflagrações, […]
A solução para tão horripilante
situação encontra-se nas seguintes estrofes do imortal vate lusitano, Guerra
Junqueiro:
Acendem-se na rua, à noite,
os candeeiros;
Coloca-se um gendarme à porta
dos banqueiros;
A polícia fareja os becos e
as vielas;
Dobram-se as precauções,
dobram-se as sentinelas;
E apesar disto tudo há feras
pela rua;
O vício não acaba, o roubo
continua,
E é cada vez maior a
criminalidade.
Pois bem; iluminai por dentro
a sociedade:
Ponde o trabalho e a honra
onde estiver a esmola;
Uni o amor ao berço e uni o
berço à escola.
Acendei uma luz em cada
coração.
Tal é o remédio apontado pelo grande pensador, para
debelar o crime e moralizar a sociedade. Realmente, não existe outra panaceia
capaz de conjurar os vetustos e renitentes males sociais, senão essa. Tudo o mais são paliativos, são recursos
efêmeros cujo efeito consiste em adiar as crises da enfermidade moral de que
padecem os homens. E, assim, de delonga em delonga, de adiamento em adiamento,
as doenças do Espírito se radicam e se agravam zombando do curandeirismo irracional
e inócuo, contra elas aplicado.
Vinícius continua[4],
ainda, oferecendo a receita para a reversão dos desesperadores quadros de
miséria moral de nosso tempo. Vejamos:
A nossa sociedade é uma enferma entregue nas mãos de
curandeiros charlatões que se preocupam em combater sintomas, visando com isso
impressionar a doente cujo estado se agrava continuamente.
Todas as perturbações sociais, de caráter nacional ou
internacional, são fenômenos acidentais, revelando um estado mórbido geral e
permanente que ainda não foi focalizado pelos bisonhos terapeutas que rodeiam o
leito da extenuada enferma. A moléstia, no entanto, vai se definindo cada dia
com mais evidência.
Trata-se de
lepra da alma assinalada na insensibilidade moral que caracteriza o homem deste
século.
Eduque-se o sentimento, cultive-se a ciência do bem que
é a ciência do coração, e ver-se-á a moléstia decrescer, e a enferma entrar em
franca convalescença.
Urge dar essa orientação ao problema educacional. A
Humanidade precisa ser reformada. Do interior do homem velho cumpre tirar o
homem novo, a nova mentalidade cujo objetivo será desenvolver o amor na razão
direta do combate às multiformes modalidades em que o egoísmo se desdobra.
A renovação do caráter depende da renovação dos métodos
e processos educativos.
Inspiremo-nos nas seguintes
palavras do inolvidável Apóstolo dos Gentios[5]:
Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos
pela renovação da vossa mente, para que saibais qual é a boa e perfeita vontade
de Deus.
(…) e converterão as suas espadas em enxadas, e as suas
lanças em foices; uma nação não
levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão
mais a guerra.
Miqueias5
[1] MUNDO ESPÍRITA - Junho de 2023 - Número 1668 - Ano 90 - http://www.mundoespirita.com.br/?materia=guerra-sinistro-avejao
[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de
Janeiro: FEB, 1974. pt. 3, cap. VI, q. 742.
[3] VINICIUS (Pedro de Camargo). O Mestre na Educação. Rio
de Janeiro: FEB, 1977. cap. 23.
[4] Op. cit. cap. 22.
[5] BÍBLIA, N. T. Romanos. Português. O novo testamento.
Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica
Brasileira, 1966. cap. 12, vers. 2.
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