sexta-feira, 30 de junho de 2023

GUERRA: SINISTRO AVEJÃO! [1]

 

 Peter Paul Rubens - "As consequências da guerra"


 Rogério Coelho – junho/2023

 

Não é a justiça que depende da paz, senão a paz que depende da justiça.

Pe. Antônio Vieira.

 

 Em passado não muito distante, vimos, entre perplexos e horrorizados, pela multimídia, ao vivo e a cores, os cruentos quão estarrecedores acontecimentos no Oriente Médio…

O que não é capaz de fazer o ser (humano?!) pelas famigeradas conquistas territoriais, políticas e econômicas!…  Sim, porque, em suma, o que marcou – essencialmente – a presença norte-americana nos sanguinolentos cenários do Iraque, isto é, o verdadeiro motivo, além da retaliação pelos horrores do 11 de Setembro de triste memória, ancora-se em motivações econômicas (petróleo) e políticas. E, diga-se de passagem, com sucesso absoluto nesse último item, porque o presidente norte-americano da época atingiu seu objetivo de ser reeleito, graças ao temor inteligentemente estimulado com relação aos possíveis ataques terroristas. E para a conquista dessas metas, os principais interessados fecham os olhos para os pesados ônus, tanto financeiros quanto em vidas humanas estraçalhadas…

Naqueles tempos de tristes lembranças, acompanhamos, com apreensão, pela mídia, a efervescência no Irã com a questão nuclear e a movimentação da União Europeia, apoiada pelos Estados Unidos, para levar a efeito as sanções econômicas e, possivelmente, o uso da força, a fim de demover o ditador iraniano de suas intenções de utilização (para fins pacíficos!?) da energia nuclear e coibir a fabricação de armas de destruição em massa, fabricação essa que, afinal de contas, nunca ficou demonstrada.

No século passado, tivemos a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, que ceifaram incontáveis milhares de vítimas. Nos tempos hodiernos, vemos a Rússia exacerbando seu instinto beligerante, protagonizando invasões territoriais na Ucrânia, invasões que ceifam a vida de crianças, velhos, civis e militares, destruindo tudo que está ao alcance dos terríveis e certeiros mísseis.

Perguntando aos Benfeitores Amigos o que é que impele o homem à guerra, Kardec obtém a seguinte resposta[2]: 

Predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem – o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. (…)

Não basta, portanto, a um povo, estar tão somente desenvolvido intelectual e tecnologicamente; há que se enfatizar, também, o desenvolvimento moral. Sem este, aqueles provocam desastres como os que temos testemunhado.

Se a paz depende da justiça, conforme o pensamento de Vieira, em epígrafe, como incentivar noções de justiça nesses povos onde é alto o índice de beligerância?

Resposta: Pela educação!…

Tão somente pela educação – já dizia Vinícius[3]se pode incutir as noções de justiça a esses povos, por isso que, o senso de justiça, como, aliás, de todas as virtudes, nasce, cresce e frutifica no coração, e não no cérebro.

Continuemos com as lúcidas ilações de Vinícius:

Educar, formando o caráter, eis o problema máximo cuja solução o momento reclama.

O que se tem feito até aqui para extinguir de vez a guerra, tornando-a impraticável? 

De prático e eficiente, nada!

Diviniza-se a paz, porém, somente nos lábios, nas frases literárias, nos discursos políticos mais ou menos demagógicos.

[…]A Guerra, esse avejão sinistro, devorador de vidas humanas, devastador impenitente dos campos e cidades, anarquizador por excelência da ordem e do ritmo vital de povos e nações.

Tanto como a paz, resultam das consequências, inelutáveis e fatais da condição em que se acham estruturadas as organizações políticossociais do nosso mundo. Enquanto estas forem iníquas, prevalecendo a força contra o direito, e a impostura contra a verdade, haverá – inevitavelmente – guerras e convulsões sangrentas.

A paz custa certo preço. Sem o pagarmos, jamais a teremos. E sabeis qual é o seu preço?! 

Eu vo-lo digo sem receio de contestação.  Eu, pobre pária, vos afirmo, desafiando a contradita de todos os magnatas da Política – de ontem, de hoje e de amanhã: o preço da paz é a justiça, aquela justiça, porém, da qual disse o Mestre de Nazaré aos Seus discípulos: “Se a vossa justiça não for superior a dos escribas e fariseus, não entrareis no Reino de Deus”. Sem ela, nunca sairemos das garras aduncas e ferozes, das guerras periódicas desencadeadas em determinadas regiões do planeta, evoluindo para as grandes conflagrações, […]

 

A solução para tão horripilante situação encontra-se nas seguintes estrofes do imortal vate lusitano, Guerra Junqueiro:

Acendem-se na rua, à noite, os candeeiros;

Coloca-se um gendarme à porta dos banqueiros;

A polícia fareja os becos e as vielas;

Dobram-se as precauções, dobram-se as sentinelas;

E apesar disto tudo há feras pela rua;

O vício não acaba, o roubo continua,

E é cada vez maior a criminalidade.

Pois bem; iluminai por dentro a sociedade:

Ponde o trabalho e a honra onde estiver a esmola;

Uni o amor ao berço e uni o berço à escola.

Acendei uma luz em cada coração.

Tal é o remédio apontado pelo grande pensador, para debelar o crime e moralizar a sociedade. Realmente, não existe outra panaceia capaz de conjurar os vetustos e renitentes males sociais, senão essa.  Tudo o mais são paliativos, são recursos efêmeros cujo efeito consiste em adiar as crises da enfermidade moral de que padecem os homens. E, assim, de delonga em delonga, de adiamento em adiamento, as doenças do Espírito se radicam e se agravam zombando do curandeirismo irracional e inócuo, contra elas aplicado.

Vinícius continua[4], ainda, oferecendo a receita para a reversão dos desesperadores quadros de miséria moral de nosso tempo.  Vejamos:

A nossa sociedade é uma enferma entregue nas mãos de curandeiros charlatões que se preocupam em combater sintomas, visando com isso impressionar a doente cujo estado se agrava continuamente.

Todas as perturbações sociais, de caráter nacional ou internacional, são fenômenos acidentais, revelando um estado mórbido geral e permanente que ainda não foi focalizado pelos bisonhos terapeutas que rodeiam o leito da extenuada enferma. A moléstia, no entanto, vai se definindo cada dia com mais evidência.

 Trata-se de lepra da alma assinalada na insensibilidade moral que caracteriza o homem deste século.  

Eduque-se o sentimento, cultive-se a ciência do bem que é a ciência do coração, e ver-se-á a moléstia decrescer, e a enferma entrar em franca convalescença.

Urge dar essa orientação ao problema educacional. A Humanidade precisa ser reformada. Do interior do homem velho cumpre tirar o homem novo, a nova mentalidade cujo objetivo será desenvolver o amor na razão direta do combate às multiformes modalidades em que o egoísmo se desdobra.

A renovação do caráter depende da renovação dos métodos e processos educativos.

 

Inspiremo-nos nas seguintes palavras do inolvidável Apóstolo dos Gentios[5]:

Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que saibais qual é a boa e perfeita vontade de Deus.

 

(…) e converterão as suas espadas em enxadas, e as suas lanças em foices;  uma  nação não  levantará  a  espada contra outra nação, nem  aprenderão  mais a guerra.

Miqueias5



[1] MUNDO ESPÍRITA - Junho de 2023 -  Número 1668 - Ano 90 - http://www.mundoespirita.com.br/?materia=guerra-sinistro-avejao

[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de Janeiro: FEB, 1974. pt. 3, cap. VI, q. 742.

[3] VINICIUS (Pedro de Camargo). O Mestre na Educação. Rio de Janeiro: FEB, 1977. cap. 23.

[4] Op. cit. cap. 22.

[5] BÍBLIA, N. T. Romanos. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 12, vers. 2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário