Allan Kardec
Lê-se no Droit:
O Sr. Jean-Baptiste Sadoux, fabricante de canoas em
Joinville-le-Pont, avistou ontem um jovem que, depois de ter vagueado por algum
tempo sobre a ponte, subiu no parapeito e se jogou no Marne. Imediatamente foi
em seu socorro e, ao cabo de sete minutos, retirou-o. Mas a asfixia já era
completa, tendo sido infrutíferas todas as tentativas feitas para reanimar
aquele infeliz.
Uma carta encontrada com ele revelou tratar-se do Sr.
Paul D..., de vinte e dois anos, residente à rua Sedaine, em Paris. A carta,
dirigida pelo suicida ao seu pai, era extremamente tocante. Pedia-lhe perdão
por o abandonar e dizia que havia dois anos era dominado por uma ideia
terrível, por uma irresistível vontade de se destruir. Acrescentava que lhe
parecia ouvir fora da vida uma voz que o chamava sem tréguas e, malgrado todos
os seus esforços, não podia impedir-se de ir para ela. Encontraram, também, no
bolso do paletó, uma corda nova, na qual tinha sido feito um nó corredio.
Depois do exame médico-legal, o corpo foi entregue à família.
A obsessão aqui está bem
evidente, e o que não o está menos, é que o Espiritismo lhe é completamente
estranho, nova prova de que esse mal não é inerente à crença. Mas, se o Espiritismo
nada tem a ver com o caso, só ele pode dar a sua explicação. Eis a instrução
dada a respeito por um dos nossos Espíritos familiares, e da qual ressalta que,
malgrado o arrastamento a que o jovem cedeu para a sua infelicidade, não
sucumbiu à fatalidade. Tinha o seu livre-arbítrio e, com mais vontade, poderia
ter resistido. Se tivesse sido espírita, teria compreendido que a voz que o
solicitava não podia ser senão a de um Espírito mau e as consequências
terríveis de um instante de fraqueza.
(Paris – Grupo Desliens, 20 de dezembro de 1868 –
Médium: Sr. Nivard)
A voz dizia: Vem! vem! Mas essa voz do tentador teria
sido ineficaz, se a ação direta do Espírito não se tivesse feito sentir.
O pobre suicida era chamado e era impelido. Por quê?
Seu passado era a causa da situação dolorosa em que se achava; apegava-se à
vida e temia a morte. Mas, pergunto, nesse apelo incessante que ouvia,
encontrou força? Não; hauriu a fraqueza que o perdeu.
Superou os temores, porque, enfim, esperava encontrar
do outro lado da vida o repouso que o lado de cá lhe negava. Foi enganado: o
repouso não veio. As trevas o cercam, sua consciência lhe censura o ato de
fraqueza e o Espírito que o arrastou escarnece ao seu redor e o criva de
motejos constantes. O cego não o vê, mas escuta a voz que lhe repete: Vem! vem!
E depois zomba de suas torturas.
A causa deste caso de obsessão está no passado, como
acabo de dizer; o próprio obsessor foi impelido ao suicídio por esse que acaba
de fazer cair no abismo. Era sua mulher na existência precedente e tinha
sofrido consideravelmente com a devassidão e as brutalidades de seu marido.
Muito fraca para aceitar com resignação e coragem a situação que lhe era dada,
buscou na morte um refúgio contra seus males. Vingou-se depois, e sabeis como.
Entretanto, o ato desse infeliz não era fatal; tinha
aceito os riscos da tentação; esta era necessária ao seu adiantamento, porque
só ela podia fazer desaparecer a mancha que havia sujado sua existência
anterior. Aceitara seus riscos com a esperança de ser mais forte e se havia
enganado: sucumbiu. Recomeçará mais tarde; resistirá? Isto dependerá dele.
Rogai a Deus por ele, a fim de que lhe dê a calma e a
resignação de que tanto necessita, a coragem e a força para não falir nas
provas que tiver de suportar mais tarde.
Louis Nivard
Nenhum comentário:
Postar um comentário