Noeval de Quadros − maio/2023
O medo da crítica nos impede de
fazer muitas coisas.
Quando pensamos no que dirão os
outros, acabamos desistindo do intento e, assim, vamos enterrando ideias que
poderiam ser muito úteis para o progresso geral. Algo semelhante ao conto Uma
ideia toda azul, de Marina Colasanti, a ideia pode ficar adormecida na Sala do
Sono para sempre.
Quando uma pessoa expõe sua
ideia, dá o direito de alguém colocar reparo em sua posição. É natural. Ato de
inteligência não é recusar a intervenção porém, acolher essas observações para
ver se há alguma maneira de podermos melhorar a ideia.
Não devemos, todavia, ter a
pretensão de querer agradar a todos. Não há como agradarmos a pessoas de todos
os cantos porque acabamos nos descaracterizando e perdendo a autenticidade.
Por essa razão, o medo de
desagradar não deve nos paralisar.
O Espírito Joanna de Ângelis
ensina que[2]
Jamais se agradará a todos os indivíduos. Os padrões de
preferência variam ao infinito, nas pessoas que constituem a Humanidade.
Para ser objeto de crítica,
basta destacar-se, sobressair, tornar-se um alvo. É confortador alguém ver-se
sob petardos, significando haver rompido o escudo da mesmice, do igual a todos,
do não chamar a atenção. É ser alguém, ser especial e até ser único.
A Benfeitora anota que
Uma plena conscientização de que todas as pessoas estão
sob o exame de outras – que as criticam por inveja, por despeito, por preguiça
mental, por espírito derrotista de competição, embora diversas o façam com
sincero desejo de auxiliar, pelo direito de submeterem à prova o que se
credencia ao conhecimento público – é de grande utilidade2.
Essas críticas ocorrem na
sociedade, de modo geral, e também no meio espírita. Não é raro encontrar-se o
dirigente, o palestrante, o trabalhador de algum departamento, o atendente
fraterno, sob o olhar menos piedoso de algum companheiro que lhe critica as
atitudes, a evidência, o destaque, as propostas que faz de melhoria dos
trabalhos.
Muitas vezes, trata-se de um
processo de transferência de valores internos, como anota Joanna de Ângelis, de
conflito íntimo, de projeção, mas que chegando ao conhecimento do trabalhador,
causa-lhe profundo desestímulo e, não raro, o abandono da tarefa.
Ideal seria que o trabalhador
não tomasse essas críticas como sentenças irrevogáveis, nem se ofendesse. Pelo
contrário, agradecesse a oportunidade de rever os seus métodos de trabalho e
permanecesse ativo no esforço para ser útil, produtivo e aberto às sugestões.
Pode ser que a crítica seja construtiva. Afinal, todos podemos melhorar as
atividades, desde que tenhamos espírito de humildade para acolher, mesmo as
observações mais acerbas que forem feitas.
Ao invés de recusar ou desistir
da atividade, que possamos vencer os nossos conflitos íntimos e, evitando a
autodepreciação, nos disponhamos a enfrentar as situações com desassombro e
alegria, na certeza de que dispomos dos recursos necessários para a boa
execução dos afazeres.
Ainda é Joanna de Ângelis que
nos diz que
Muito saudavelmente age aquele que está em permanente
esforço para ser melhor, para conquistar novos patamares, reunindo os tesouros
da autoiluminação. Esse não teme obstáculos, não receia os outros, nem se teme.
A autocrítica sincera, os exercícios mentais
encorajadores, as conversações edificantes, a naturalidade diante das censuras,
proporcionam recursos valiosos para o descobrimento do Si, dos seus potenciais
disponíveis e ainda não utilizados2.
Desse modo, cabe ao trabalhador
da Casa Espírita afastar essa insegurança pessoal, monstro que a todos nos
devora e que nos afasta
dos relacionamentos humanos compensadores e das
atividades que promovem a estágios mais avançados e nobres da vida social[3].
Sim, porque a grande meta da
existência humana é a aquisição de infinitos recursos iluminativos, que serão
alcançados passo a passo, dia a dia, por menor seja a tarefa, facultando
conquistar novos patamares de conhecimento e de sentimento, que acabam por nos
fortalecer e facultar mais possibilidade de serem vencidos os novos
enfrentamentos3.
A querida Benfeitora cita a
técnica ericksoniana de que o paciente deve conscientizar-se dos seus valores
positivos, ampliando-os,
assim ajudando-o a trabalhar as incertezas – valores
negativos – por meio da confiança em si mesmo em pequenas doses até alcançar o
nível do bem-estar […] e alegria de viver intensamente, tornando-o membro ativo
e produtivo da sociedade onde se encontra3.
Como é compensador chegar-se ao
final de um trabalho estafante, que exigiu muito esforço e dedicação e que
trouxe um bom resultado. Leva-nos à sensação de dever cumprido, de bem-estar
emocional, de possibilidade de crescimento, de enriquecimento da vida.
Que possamos trabalhar a nossa
insegurança pessoal, conhecendo os limites que nos cumpre superar, de forma
saudável, na certeza de que todos estamos a caminho e de que Jesus é o Caminho
da Verdade e da Vida.
[1] MUNDO ESPÍRITA - Maio de 2023 Número 1666 Ano
91 - http://www.mundoespirita.com.br/?materia=inseguranca
[2] FRANCO, Divaldo Pereira. Autodescobrimento: Uma Busca
Interior. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1995. cap. 11, item
Estar e Ser.
[3] ______. Triunfo pessoal. Pelo Espírito Joanna de
Ângelis. Salvador: LEAL, 2002. cap. 3, item Insegurança pessoal.
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