sexta-feira, 19 de maio de 2023

INSEGURANÇA[1]

 

"Insegurança" -  J. Scott Wheeler


Noeval de Quadros − maio/2023

 

O medo da crítica nos impede de fazer muitas coisas.

Quando pensamos no que dirão os outros, acabamos desistindo do intento e, assim, vamos enterrando ideias que poderiam ser muito úteis para o progresso geral. Algo semelhante ao conto Uma ideia toda azul, de Marina Colasanti, a ideia pode ficar adormecida na Sala do Sono para sempre.

Quando uma pessoa expõe sua ideia, dá o direito de alguém colocar reparo em sua posição. É natural. Ato de inteligência não é recusar a intervenção porém, acolher essas observações para ver se há alguma maneira de podermos melhorar a ideia.

Não devemos, todavia, ter a pretensão de querer agradar a todos. Não há como agradarmos a pessoas de todos os cantos porque acabamos nos descaracterizando e perdendo a autenticidade.

Por essa razão, o medo de desagradar não deve nos paralisar.

O Espírito Joanna de Ângelis ensina que[2]

Jamais se agradará a todos os indivíduos. Os padrões de preferência variam ao infinito, nas pessoas que constituem a Humanidade.

Para ser objeto de crítica, basta destacar-se, sobressair, tornar-se um alvo. É confortador alguém ver-se sob petardos, significando haver rompido o escudo da mesmice, do igual a todos, do não chamar a atenção. É ser alguém, ser especial e até ser único.

A Benfeitora anota que

Uma plena conscientização de que todas as pessoas estão sob o exame de outras – que as criticam por inveja, por despeito, por preguiça mental, por espírito derrotista de competição, embora diversas o façam com sincero desejo de auxiliar, pelo direito de submeterem à prova o que se credencia ao conhecimento público – é de grande utilidade2.

Essas críticas ocorrem na sociedade, de modo geral, e também no meio espírita. Não é raro encontrar-se o dirigente, o palestrante, o trabalhador de algum departamento, o atendente fraterno, sob o olhar menos piedoso de algum companheiro que lhe critica as atitudes, a evidência, o destaque, as propostas que faz de melhoria dos trabalhos.

Muitas vezes, trata-se de um processo de transferência de valores internos, como anota Joanna de Ângelis, de conflito íntimo, de projeção, mas que chegando ao conhecimento do trabalhador, causa-lhe profundo desestímulo e, não raro, o abandono da tarefa.

Ideal seria que o trabalhador não tomasse essas críticas como sentenças irrevogáveis, nem se ofendesse. Pelo contrário, agradecesse a oportunidade de rever os seus métodos de trabalho e permanecesse ativo no esforço para ser útil, produtivo e aberto às sugestões. Pode ser que a crítica seja construtiva. Afinal, todos podemos melhorar as atividades, desde que tenhamos espírito de humildade para acolher, mesmo as observações mais acerbas que forem feitas.

Ao invés de recusar ou desistir da atividade, que possamos vencer os nossos conflitos íntimos e, evitando a autodepreciação, nos disponhamos a enfrentar as situações com desassombro e alegria, na certeza de que dispomos dos recursos necessários para a boa execução dos afazeres.

Ainda é Joanna de Ângelis que nos diz que

Muito saudavelmente age aquele que está em permanente esforço para ser melhor, para conquistar novos patamares, reunindo os tesouros da autoiluminação. Esse não teme obstáculos, não receia os outros, nem se teme.

A autocrítica sincera, os exercícios mentais encorajadores, as conversações edificantes, a naturalidade diante das censuras, proporcionam recursos valiosos para o descobrimento do Si, dos seus potenciais disponíveis e ainda não utilizados2.

Desse modo, cabe ao trabalhador da Casa Espírita afastar essa insegurança pessoal, monstro que a todos nos devora e que nos afasta

dos relacionamentos humanos compensadores e das atividades que promovem a estágios mais avançados e nobres da vida social[3]. 

Sim, porque a grande meta da existência humana é a aquisição de infinitos recursos iluminativos, que serão alcançados passo a passo, dia a dia, por menor seja a tarefa, facultando conquistar novos patamares de conhecimento e de sentimento, que acabam por nos fortalecer e facultar mais possibilidade de serem vencidos os novos enfrentamentos3.

A querida Benfeitora cita a técnica ericksoniana de que o paciente deve conscientizar-se dos seus valores positivos, ampliando-os,

assim ajudando-o a trabalhar as incertezas – valores negativos – por meio da confiança em si mesmo em pequenas doses até alcançar o nível do bem-estar […] e alegria de viver intensamente, tornando-o membro ativo e produtivo da sociedade onde se encontra3.

Como é compensador chegar-se ao final de um trabalho estafante, que exigiu muito esforço e dedicação e que trouxe um bom resultado. Leva-nos à sensação de dever cumprido, de bem-estar emocional, de possibilidade de crescimento, de enriquecimento da vida.

Que possamos trabalhar a nossa insegurança pessoal, conhecendo os limites que nos cumpre superar, de forma saudável, na certeza de que todos estamos a caminho e de que Jesus é o Caminho da Verdade e da Vida.



[1] MUNDO ESPÍRITA - Maio de 2023 Número 1666 Ano 91 - http://www.mundoespirita.com.br/?materia=inseguranca

[2] FRANCO, Divaldo Pereira. Autodescobrimento: Uma Busca Interior. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 1995. cap. 11, item Estar e Ser.

[3] ______. Triunfo pessoal. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2002. cap. 3, item Insegurança pessoal.

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