sexta-feira, 31 de março de 2023

A PROVA DA RIQUEZA[1]

 


Juan Carlos Orozco

 

Pobres e ricos são Espíritos em provação, sendo que a indigência é uma prova dura e a riqueza é uma prova perigosa e muito arriscada, mais perigosa do que a miséria, pelos arrastamentos a que dá causa, pelas tentações que gera e pela fascinação que exerce.

A prova da riqueza não é fácil de ser vencida, pois ela pode estimular a exacerbação das más tendências e o predomínio das paixões inferiores.

O fato de a riqueza tornar difícil a prova de quem a recebe não quer dizer que será impossível superá-la, pois pode servir como meio de salvação àquele que souber dela dar utilidade edificante.

Pelas consequências que ela provoca, a prova da riqueza é um meio concedido por Deus para avaliar a sabedoria e a bondade do ser humano: uma forma de testar-lhe a capacidade moral mediante o uso correto da riqueza na prática do bem e da caridade. Nesse sentido, ela serve de instrumento para impulsionar o progresso espiritual, como tantos outros disponibilizados por Deus.

Em O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, temos alguns esclarecimentos a respeito da prova da riqueza em algumas questões:

 

261. Nas provações por que lhe cumpre passar para atingir a perfeição, tem o Espírito que sofrer tentações de todas as naturezas? Tem que se achar em todas as circunstâncias que possam excitar-lhe o orgulho, a inveja, a avareza, a sensualidade etc.?

Certo que não, pois bem sabeis haver Espíritos que desde o começo tomam um caminho que os exime de muitas provas. Aquele, porém, que se deixa arrastar para o mau caminho, corre todos os perigos que o inçam. Pode um Espírito, por exemplo, pedir a riqueza e ser-lhe esta concedida. Então, conforme o seu caráter, poderá tornar-se avaro ou pródigo, egoísta ou generoso, ou ainda lançar-se a todos os gozos da sensualidade. Daí não se segue, entretanto, que haja de forçosamente passar por todas estas tendências.

 

264. Que é o que dirige o Espírito na escolha das provas que queira sofrer?

Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as que o levem à expiação destas e a progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outros desenvolvem; muitos, finalmente, se decidem a experimentar suas forças nas lutas que terão de sustentar em contacto com o vício.

 

814. Por que Deus a uns concedeu as riquezas e o poder, e a outros, a miséria?

Para experimentá-los de modos diferentes. Além disso, como sabeis, essas provas foram escolhidas pelos próprios Espíritos, que nelas, entretanto, sucumbem com frequência.

 

815. Qual das duas provas é mais terrível para o homem, a da desgraça ou a da riqueza?

São-no tanto uma quanto outra. A miséria provoca as queixas contra a Providência, a riqueza incita a todos os excessos.

 

Na questão 816, Kardec comenta:

A riqueza e o poder fazem nascer todas as paixões que nos prendem à matéria e nos afastam da perfeição espiritual. Por isso foi que Jesus disse: ‘Em verdade vos digo que mais fácil é passar um camelo por um fundo de agulha do que entrar um rico no reino dos céus.

 

O apego aos bens materiais

Muitos depositam tudo na posse de bens materiais, apoderando-se deles como se fossem perenes, deixando-se levar pela ambição, pelo desejo insaciável de acumular bens de fortuna, sem edificar a futura morada pelos verdadeiros valores da vida eterna. Quando menos esperar, em meio aos ambiciosos planos, serão arrebatados para prestar contas da utilização dos bens concedidos pelo Pai.

O vínculo que prende o ser humano fortemente aos bens terrenos desvia-lhe os pensamentos do céu. O avarento será algemado às riquezas que amontoou.

Como depositário desses bens, o ser humano não tem o direito de os esbanjar e nem confiscar em seu proveito.

O amor aos bens terrenos constitui um dos mais fortes óbices ao vosso adiantamento moral e espiritual. Pelo apego à posse de tais bens, destruís as vossas faculdades de amar, com as aplicardes todas às coisas materiais. (...)

Nada vos pertence na Terra, nem sequer o vosso pobre corpo: a morte vos despoja dele, como de todos os bens materiais. Sois depositários e não proprietários, não vos iludais. Deus vo-los emprestou, tendes de lhes restituir; e Ele empresta sob a condição de que o supérfluo, pelo menos, caiba aos que carecem do necessário.

(Espírito Lacordaire. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVI. Desprendimento dos bens terrenos.)

Os bens da Terra pertencem a Deus, que os distribui a seu grado, não sendo o homem senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente desses bens.

(M., Espírito protetor. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVI. A verdadeira propriedade.)

Se Deus lhe outorgou o poder e a riqueza, considera essas coisas como UM DEPÓSITO, de que lhe cumpre usar para o bem. Delas não se envaidece, por saber que Deus, que lhas deu, também lhas pode retirar.

(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Comentário à questão 918.)

 

O desapego aos bens terrenos

O desapego aos bens terrenos consiste em apreciá-los no seu justo valor, em saber servir-se deles em benefício dos outros e não apenas em benefício próprio, em não sacrificar por eles os interesses da vida futura, em perdê-los sem murmurar, caso apraza a Deus retirá-los.

(Espírito Lacordaire. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVI. Não se pode servir a Deus e a Mamon: desprendimento dos bens terrenos.)

Deve-se ponderar que há bens infinitamente mais preciosos do que os da Terra e essa ideia ajudará a se desprender deles.

 

Os bens celestiais

Possuir riquezas terrenas não são condições essenciais para a busca da felicidade.

Devemos acumular os tesouros celestiais e aproveitar as oportunidades que Deus nos oferece para fazer bom uso dos bens materiais concedidos temporariamente como meios de impulsionar a nossa evolução intelectual, moral e espiritual.

Jesus nos adverte de que a verdadeira finalidade da vida terrena é obter a riqueza espiritual. Tão logo chegarmos a compreender que a real felicidade não consiste na posse transitória das coisas do mundo, de bom grado passaremos a trabalhar ativamente para entrarmos na posse dos bens espirituais.

Allan Kardec esclarece:

Se a riqueza é causa de muitos males, se exacerba tanto as más paixões, se provoca mesmo tantos crimes, não é a ela que devemos inculpar, mas ao homem, que dela abusa, como de todos os dons de Deus. Pelo abuso, ele torna pernicioso o que lhe poderia ser de maior utilidade. É a consequência do estado de inferioridade do mundo terrestre. Se a riqueza somente males houvesse de produzir, Deus não a teria posto na Terra. Compete ao homem fazê-la produzir o bem. Se não é um elemento direto de progresso moral, é, sem contestação, poderoso elemento de progresso intelectual.

(O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVI. Utilidade providencial da riqueza: provas da riqueza e da miséria.)

 

Emprego da riqueza

Sendo o homem o depositário, o administrador dos bens que Deus lhe pôs nas mãos, contas severas lhe serão pedidas do emprego que lhes haja Ele dado, em virtude do seu livre-arbítrio. O mau uso consiste em os aplicar exclusivamente na sua satisfação pessoal; bom é o uso, ao contrário, todas as vezes que deles resulta um bem qualquer para outrem. O merecimento de cada um está na proporção do sacrifício que se impõe a si mesmo. A beneficência é apenas um modo de empregar-se a riqueza; ela dá alívio à miséria presente; aplaca a fome, preserva do frio e proporciona abrigo ao que não o tem. Dever, porém, igualmente imperioso e meritório é o de prevenir a miséria.

(Fenelon. Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo XVI. Não se pode servir a Deus e a Mamon: emprego da riqueza.)

 

Consequências do mau uso da riqueza

Os sofrimentos devidos a causas anteriores à existência presente, como os que se originam de culpas atuais, são muitas vezes a consequência da falta cometida, isto é, o homem, pela ação de uma rigorosa justiça distributiva, sofre o que fez sofrer aos outros. Se foi duro e desumano, poderá ser a seu turno tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em humilhante condição; se foi avaro, egoísta, ou se fez mau uso de suas riquezas, poderá ver-se privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer pelo procedimento de seus filhos etc.

(Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Capítulo V. Bem-aventurados os aflitos: causas anteriores das aflições.)

 

A prova da riqueza de Antônio Luiz Sayão, por discípulo Max

Antônio Luiz Sayão pediu ao nosso Criador a maior e a mais perigosa das provas que pode um Espírito pedir: a riqueza material, comprometendo-se, porém, a adquiri-la à custa de muito trabalho e a fazer-se espírita, para pregar a Doutrina de Jesus, pelos exemplos de toda ordem, notadamente pelo desprendimento dos bens terrestres, que lhe fossem proporcionados pela riqueza adquirida. E, de fato, é a riqueza a prova mais perigosa e o compromisso mais sério que pode um Espírito tomar, pelos embaraços cruéis que lhe opõem os dois grandes inimigos da alma: o orgulho e a vaidade, além das exigências a que todo instante nos obriga uma sociedade, como a nossa, sem crença e sem moral!

(Antônio Luiz Sayão. Elucidações evangélicas. O autor da obra. Discípulo de Max.)

 

 

Mensagem final

O Espírito Joanna de Ângelis, em “Vida feliz”, psicografia de Divaldo Pereira Franco, no capítulo LXI, ensina:

A tua posse em relação aos bens terrestres é relativa.

Num mundo transitório, no qual tudo passa, o que agora te pertence amanhã terá mudado de mãos.

Usa, mas não abusa dos recursos de que disponhas.

Não te escravizes ao que deténs por momentos, evitando-te sofrimentos quando se transfiram para outrem.

Os únicos bens de duração permanente são os tesouros dos sentimentos, da cultura e das virtudes.

Acumula tesouros no céu, ensina o Evangelho.

 

Bibliografia:

§  ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de Divaldo Pereira Franco. Vida feliz. 18ª Edição. Salvador/BA: LEAL, 2020.

§  KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

§  KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.

§  SAYÃO, Antônio Luiz. Elucidações evangélicas à luz da Doutrina Espírita. 16ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.



[1] O CONSOLADOR - Ano 16 - N° 816 - 26 de Março de 2023 - http://www.oconsolador.com.br/ano16/816/especial.html

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