Allan Kardec
(Sociedade de Paris, 23 de outubro de 1868 – Médium:
Sr. Nivard)
Se há poucos médiuns esta noite, não é que faltem Espíritos;
ao contrário, eles são muito numerosos. Uns são habituais, que vêm instruir-vos
ou instruir-se, outros, em grande número, são recém-vindos para vós. Vieram sem
carta de entrada, é verdade, mas com o consentimento e o convite dos Espíritos habituais.
Muitos desses Espíritos sentem-se felizes por assistir à sessão e o são sobretudo
por ver aqui vários espíritas, que eles amam e dirigem, e que tiveram o
pensamento de vir entre vós.
Há muitos espíritas no mundo, mas seu grau de instrução
sobre a Doutrina está longe de ser suficiente para que se classifiquem entre os
espíritas esclarecidos. Sem dúvida têm luzes, mas lhes falta a prática, ou, se
praticam, necessitam ser assistidos, a fim de trazer, nos esforços que tentam,
mais persuasão e menos entusiasmo. Quando falo de prática do Espiritismo, quero
dizer a parte que concerne à propaganda. Pois bem! Para essa parte, mais difícil
do que se pensa, é preciso, para a exercer com eficácia, estar bem penetrado da
filosofia do Espiritismo e também de sua parte moral. A parte moral é fácil de
conhecer; para isto exige pouco esforço; em compensação, é a mais difícil de
praticar, porque só o exemplo pode fazer bem compreendê-la. Fareis melhor compreender
a virtude dando exemplo do que a definindo. Ser virtuoso é fazer compreender e
amar a virtude. Nada há a responder àquele que faz o que aconselha os outros a
fazer. Assim, para a parte moral do Espiritismo, nenhuma dificuldade na teoria,
muita na prática.
A parte filosófica apresenta mais dificuldades para ser
compreendida e, por conseguinte, requer mais esforços. Os adeptos que procuram
ser militantes, devem pôr-se à obra para bem conhecê-la, pois é a arma com a
qual combaterão com mais sucesso. É útil que não se extasiem com os fenômenos
materiais e que deem a sua explicação sem muito desenvolvimento. Devem reservar
esses desenvolvimentos para a análise dos fatos de ordem inteligente, sem,
contudo, dizer muito, pois não se deve fatigar o espírito das pessoas noviças
no Espiritismo. Explicações concisas, exemplos bem escolhidos, adaptando-se bem
à questão que se discute, eis tudo o que é preciso. Mas, repito, para ser
conciso, não se deve saber menos; para dar exemplos ou explicações bem apropriados
ao assunto é necessário conhecer a fundo a filosofia do Espiritismo. Esta
filosofia está resumida em O Livro dos Espíritos, e o lado prático em O
Livro dos Médiuns. Se conhecerdes bem a substância dessas duas obras, que
são obra dos Espíritos, certamente tereis a felicidade de trazer muitos dos
vossos irmãos a essa crença tão consoladora, e muitos dos que creem serão
postos no verdadeiro terreno: o do amor e da caridade.
Assim, pois, meus amigos, aqueles dentre vós que desejarem,
e todos devem desejar, fazer seus irmãos partilharem de suas crenças, que os
querem chamar ao banquete de consolação que o Espiritismo oferece a todos os
seus filhos, devem moralmente praticar o Espiritismo praticando a sua moral, e intelectualmente
espalhando em seu redor as luzes que colheram ou que colherão nas comunicações
dos Espíritos.
Tudo isto é fácil, basta querer. Pois bem! Meus caros amigos,
em nome de vossa felicidade, de vossa tranquilidade, em nome da união e da
caridade, eu vos exorto a querer.
Um Espírito
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