terça-feira, 14 de março de 2023

A MELHOR PROPAGANDA[1]

 


Allan Kardec

 

(Sociedade de Paris, 23 de outubro de 1868 – Médium: Sr. Nivard)

 

Se há poucos médiuns esta noite, não é que faltem Espíritos; ao contrário, eles são muito numerosos. Uns são habituais, que vêm instruir-vos ou instruir-se, outros, em grande número, são recém-vindos para vós. Vieram sem carta de entrada, é verdade, mas com o consentimento e o convite dos Espíritos habituais. Muitos desses Espíritos sentem-se felizes por assistir à sessão e o são sobretudo por ver aqui vários espíritas, que eles amam e dirigem, e que tiveram o pensamento de vir entre vós.

Há muitos espíritas no mundo, mas seu grau de instrução sobre a Doutrina está longe de ser suficiente para que se classifiquem entre os espíritas esclarecidos. Sem dúvida têm luzes, mas lhes falta a prática, ou, se praticam, necessitam ser assistidos, a fim de trazer, nos esforços que tentam, mais persuasão e menos entusiasmo. Quando falo de prática do Espiritismo, quero dizer a parte que concerne à propaganda. Pois bem! Para essa parte, mais difícil do que se pensa, é preciso, para a exercer com eficácia, estar bem penetrado da filosofia do Espiritismo e também de sua parte moral. A parte moral é fácil de conhecer; para isto exige pouco esforço; em compensação, é a mais difícil de praticar, porque só o exemplo pode fazer bem compreendê-la. Fareis melhor compreender a virtude dando exemplo do que a definindo. Ser virtuoso é fazer compreender e amar a virtude. Nada há a responder àquele que faz o que aconselha os outros a fazer. Assim, para a parte moral do Espiritismo, nenhuma dificuldade na teoria, muita na prática.

A parte filosófica apresenta mais dificuldades para ser compreendida e, por conseguinte, requer mais esforços. Os adeptos que procuram ser militantes, devem pôr-se à obra para bem conhecê-la, pois é a arma com a qual combaterão com mais sucesso. É útil que não se extasiem com os fenômenos materiais e que deem a sua explicação sem muito desenvolvimento. Devem reservar esses desenvolvimentos para a análise dos fatos de ordem inteligente, sem, contudo, dizer muito, pois não se deve fatigar o espírito das pessoas noviças no Espiritismo. Explicações concisas, exemplos bem escolhidos, adaptando-se bem à questão que se discute, eis tudo o que é preciso. Mas, repito, para ser conciso, não se deve saber menos; para dar exemplos ou explicações bem apropriados ao assunto é necessário conhecer a fundo a filosofia do Espiritismo. Esta filosofia está resumida em O Livro dos Espíritos, e o lado prático em O Livro dos Médiuns. Se conhecerdes bem a substância dessas duas obras, que são obra dos Espíritos, certamente tereis a felicidade de trazer muitos dos vossos irmãos a essa crença tão consoladora, e muitos dos que creem serão postos no verdadeiro terreno: o do amor e da caridade.

Assim, pois, meus amigos, aqueles dentre vós que desejarem, e todos devem desejar, fazer seus irmãos partilharem de suas crenças, que os querem chamar ao banquete de consolação que o Espiritismo oferece a todos os seus filhos, devem moralmente praticar o Espiritismo praticando a sua moral, e intelectualmente espalhando em seu redor as luzes que colheram ou que colherão nas comunicações dos Espíritos.

Tudo isto é fácil, basta querer. Pois bem! Meus caros amigos, em nome de vossa felicidade, de vossa tranquilidade, em nome da união e da caridade, eu vos exorto a querer.

 

Um Espírito



[1] Revista Espírita – Novembro/1868 – Allan Kardec

Nenhum comentário:

Postar um comentário