Levitação de Daniel Dunglas Home
Allan Kardec
Lemos o que se segue em Le
Spiritualiste de la Nouvelle-Orléans, do mês de fevereiro de 1857:
Ultimamente perguntamos se todos os Espíritos,
indistintamente, fazem mover as mesas, produzem ruídos etc.; e logo a mão de
uma dama, bastante séria para brincar com essas coisas, traçou violentamente
estas palavras: “Quem faz dançar os macacos em vossas ruas? Serão os
homens superiores?”
Um amigo, espanhol de nascimento, que era
espiritualista e que faleceu no verão passado, deu-nos diversas comunicações;
em uma delas encontramos a seguinte passagem:
“As manifestações que procurais não se acham no número
das que mais agradam aos Espíritos sérios e elevados. Confessamos, todavia, que
elas têm sua utilidade, porque, talvez mais que nenhuma outra, podem ser úteis
para convencer os homens de hoje.
Para obter tais manifestações é preciso,
necessariamente, que se desenvolvam certos médiuns, cuja constituição física
esteja em harmonia com os Espíritos que possam produzi-las. Ninguém duvida que
os vereis desenvolver-se mais tarde entre vós; e, então, já não serão pequenos
golpes que ouvireis, mas ruídos semelhantes ao crepitar da fuzilaria,
entremeados de tiros de canhão”.
Em uma parte recuada da cidade existe uma casa habitada
por uma família alemã; nela se ouvem ruídos estranhos, enquanto certos objetos
são deslocados; pelo menos foi o que nos asseguraram, porquanto não o
verificamos; mas, pensando que o chefe dessa família nos pudesse ser útil,
convidamo-lo para algumas das sessões que têm por fim este gênero de
manifestações e, mais tarde, a mulher desse bravo homem não quis que ele
continuasse entre nós porque, disse-nos este último, o barulho aumentou em sua
casa. A esse respeito, eis o que nos foi escrito pela mão da senhora ...
Não podemos impedir os Espíritos imperfeitos de fazerem
barulho ou outras coisas que incomodam e mesmo apavoram; mas, o fato de estarem
em contato conosco, que somos bem-intencionados, apenas diminui a influência
que exercem sobre o médium em questão.
Chamamos a atenção para a
perfeita concordância existente entre o que os Espíritos disseram em Nova
Orléans, com respeito à fonte das manifestações físicas, e o que foi dito a nós
mesmos. Com efeito, nada pintaria essa origem com mais energia do que esta
resposta, ao mesmo tempo tão espirituosa e profunda: “Quem faz dançar os
macacos nas ruas? Serão os homens superiores?”
Teremos ocasião de narrar,
conforme os jornais da América, numerosos exemplos desse tipo de manifestações,
bem mais extraordinários do que aqueles que acabamos de citar. Sem dúvida
responder-nos-ão com este provérbio: “A boa mentira vem de longe”. Quando
coisas tão maravilhosas nos vêm de 2.000 léguas e não podemos verificar,
concebe-se a dúvida; mas esses fenômenos atravessaram os mares com o Sr.
Home, que deles nos deu provas.
É verdade que o Sr. Home não foi
para o teatro para operar seus prodígios e que nem todo o mundo, pagando a
entrada, pôde vê-los; por isso muitas pessoas o consideram hábil
prestidigitador, sem refletir que a alta sociedade, que testemunhou esses
fenômenos, não se teria prestado com benevolência a servir-lhe de patrocinador.
Se o Sr. Home fosse um
charlatão, não teria tido o cuidado de recusar as brilhantes ofertas de muitos
estabelecimentos públicos, e teria saído com o ouro a mancheias. Seu
desinteresse é a resposta mais peremptória que se pode dar a seus detratores.
Um charlatanismo desinteressado seria uma insensatez e uma monstruosidade. Mais
tarde falaremos detalhadamente do Sr. Home e da missão que o conduziu à França.
Enquanto aguardamos, eis um fato de manifestação espontânea que médico distinto,
digno de toda confiança, nos relatou, e que é tanto mais autêntico quando as
coisas se passaram com o seu conhecimento pessoal.
Uma família respeitável tinha como empregada doméstica
uma jovem órfã de catorze anos, cuja bondade natural e doçura de caráter
haviam-lhe granjeado a afeição dos patrões. No mesmo quarteirão habitava uma
outra família, cuja mulher, não se sabe por que, havia tomado essa jovem em
antipatia, a tal ponto que não havia mau procedimento de que ela não fosse o
objeto. Um dia, quando voltava, a vizinha aparece furiosa, armada de uma
vassoura, querendo bater-lhe. Assustada, precipita-se contra a porta e quer
tocar a campainha; infelizmente o cordão encontra-se rompido e ela não pode
alcançá-lo; eis, porém, que a campainha se agita por si mesma e vêm abrir-lhe a
porta. Em sua perturbação ela não se deu conta do que se havia passado; mas,
depois, a campainha continuou a tocar de tempo em tempo, sem motivo aparente,
tanto de dia como de noite e, quando se ia ver à porta, não se encontrava ninguém.
Os vizinhos do quarteirão foram acusados de pregar essa peça de mau gosto; foi
dada queixa ao comissário de polícia, que abriu inquérito, investigou se algum
cordão secreto se comunicava com o exterior, mas nada pôde descobrir. As
coisas, porém, persistiam cada vez mais, em prejuízo do repouso de todos e,
sobretudo, da pequena empregada, acusada de ser a causa do barulho. Atendendo
ao conselho que lhes foi dado, os patrões da jovem órfã decidiram afastá-la e a
colocaram no campo, na casa de amigos. Desde então, a campainha permaneceu
quieta e nada de semelhante se produziu em seu novo domicílio.
Esse fato, como muitos outros
que vamos relatar, não se passou às margens do Missouri ou do Ohio, mas em
Paris, na Passagem dos Panoramas. Resta, agora, explicá-lo. A jovem não tocava
a campainha, isso é positivo; estava bastante apavorada com o que se passava
para pensar numa farsa, da qual teria sido a primeira vítima.
Uma coisa não menos positiva é
que o toque da campainha se deveu à sua presença, uma vez que o efeito cessou
quando ela partiu. O médico que testemunhou o fato explica-o por uma poderosa
ação magnética, exercida de forma inconsciente pela jovem criada. Essa
explicação de forma alguma nos parece concludente: por que teria ela perdido
esse poder após a partida? Quanto a isso, diz ele que o terror inspirado pela
presença da vizinha devia produzir na jovem uma superexcitação, susceptível de
desenvolver a ação magnética, e que o efeito cessou com a causa. Confessamos
não estar absolutamente convencidos por esse raciocínio. Se a intervenção de
uma força oculta não está aqui demonstrada de maneira evidente, pelo menos é
provável, conforme fatos análogos que conhecemos. Admitindo, portanto, essa
intervenção, diremos que, nas circunstâncias em que o fato se produziu pela
primeira vez, um Espírito protetor quis, provavelmente, que a jovem escapasse
do perigo que corria; que, apesar da afeição que seus patrões lhe devotavam,
fosse talvez de seu interesse sair daquela casa. Eis por que o ruído continuou
até que ela tivesse partido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário