Ildefonso Pereira Correia foi
industrial, político e ardoroso patriota. Nasceu em Paranaguá, no dia 6 de
agosto de 1845, projetando-se muito jovem no cenário paranaense, passando por
Antonina e radicando-se na Capital.
Espírito progressista e
empreendedor, concluiu seu curso de humanidades em Nova Friburgo, Província do
Rio de Janeiro, com alta distinção.
Com uma esplêndida visão
empresarial, muito avançada para sua época, logo lhe sorriram o sucesso e a
fortuna. Absorveu todas as inovações tecnológicas que surgiam e não eram assimiladas
pelas demais empresas ervateiras.
Não é nenhum exagero afirmar que
Ildefonso Correia é um divisor de águas na produção paranaense. A partir dele
se estabelece uma nova mentalidade empresarial na conjuntura do Estado.
Exerceu funções públicas como a presidência
e vice-presidência da Câmara Municipal de Curitiba, deputado provincial em
várias legislaturas, suplente de juiz em Antonina, assessor do presidente
Taunay.
Nas artes e na cultura foi
tesoureiro da Comissão que em 1885 angariava livros para a Biblioteca Pública.
Fez parte da Comissão Central
que organizou a Pinacoteca Paranaense e colaborou com prêmios para os alunos
que mais se distinguiam na vida estudantil de Curitiba.
Em dezembro de 1886, foi
Delegado Especial de Instrução Primária Secundária, o que equivaleria hoje a
Secretário da Educação.
Sua ação e dinamismo o levaram a
atuar nos setores cultural e social.
Foi presidente do Conselho
Fiscal da Caixa Econômica, dirigiu a Associação de Proteção à Infância
Desamparada. Entre outras entidades que ajudou a fundar, está o Clube
Curitibano, do qual foi o primeiro presidente.
Fundador da Associação Comercial
do Paraná, se tornou o precursor de todas as demais federações, sindicatos
patronais e associações que hoje existem. Plantou idéias e ideais para o
progresso, que sabia poder conquistar para o Paraná que tanto amava.
Pelo esforço, na divulgação da
erva-mate, recebeu em 1887, do Presidente da França a Medalha do Mérito
Agrícola.
Ao longo de sua vida ponteada de
dinâmica ação empresarial sentiram sua presença os setores da erva-mate,
comércio, olaria, banco, transporte em bonde, feiras, exposições,
associativismo e gráfica. Fundou a Impressora Paranaense, gráfica existente até
hoje.
O traço, porém, que lhe ressalta
a fisionomia moral é seu radiante espírito de caridade, seu lado afetivo, sua
natureza sensível e piedosa.
Protegia eficazmente, sem
alardes, nem ostentação, os que recorriam a ele. Antes, com uma modéstia e
discrição de quem cumpre o dever mais simples do mundo. Observando o frio das
crianças a vestir escassa camisa em pleno mês de junho, no inverno paranaense e
a saciar a fome com pinhões somente, decide estabelecer uma serraria, para dar
trabalho e ganho àquela pobre gente. Fundou uma indústria para beneficiar, industrializar
e comercializar o pinho paranaense, entre a Vila de São José dos Pinhais e a
freguesia de Piraquara.
Alma generosa e grande, amando o
bem por índole, praticava a virtude normalmente, sem esforço, sem
contrariedades, como se fizesse isso parte dos deveres de sua vida.
Homem inteligente e culto,
possuía uma preciosa biblioteca, formada de livros na maioria clássicos.
Apreciava a arte, principalmente a arquitetura e a escultura.
Mantinha a simplicidade de uma
vida metódica. Adorava passear pelos jardins da casa, conduzindo pelas mãos os
três filhos: Siroba, Carloca e Ildefonso, como a despertar-lhes o gosto pela
natureza e pelo milagre da criação. O jardim era a sua vida. As camélias
brancas, em especial.
De porte mediano, magro, barba
sempre bem tratada, voz clara, afetado por ligeira surdez, caracterizava-o a
aparência varonil.
Detinha costumes Austeros.
Vestia-se com medida discrição.
O seu ar senhorial não passou
despercebido a D. Pedro II em sua visita ao Paraná. Em 31 de agosto de 1880, o
Imperador o agraciou, pelos relevantes serviços prestados ao Estado, com a
Ordem da Rosa. Era a moeda de honra de que mais se utilizou D. Pedro II,
premiando o professor, o homem de iniciativa na indústria e na lavoura, o
senhor que alforriava escravos. Sintetizava Amor e Fidelidade. A partir daí,
Ildefonso Pereira Correia passaria a usar o título de Comendador.
Tinha satisfação em ser útil. A
sua bondade fez com que se lhe dessem o título póstumo de Pai dos Pobres.
Quando a campanha abolicionista
inflamou a Província do Paraná, o Comendador Ildefonso Pereira Correia tomou-se
de justo entusiasmo e declarou, em um discurso, comprometer-se, na qualidade de
Presidente da Câmara Municipal de Curitiba, a promover a emancipação dos
escravos do município, a fim de que, na futura sessão magna dessa Associação,
se pudesse afirmar que a capital da Província não tinha mais escravos.
Ele passou a comandar a campanha
de arrecadação de fundos, que tantos benefícios prestou à causa da Abolição,
indiferente à crise do pinho no mercado internacional, que o obrigou a liquidar
sua empresa de comercialização de madeiras.
Caráter nobre. Homem laborioso.
Amigo fiel.
Em 8 de agosto de 1888 foi
agraciado pelo Imperador D. Pedro II, seu amigo a quem se devotava, com o
título de Barão do Serro Azul. Reconhecia D. Pedro II todos os serviços
prestados à Coroa pelo ilustre homem.
Como político, embora
pertencesse ao Partido Conservador, foi sempre liberal e patriota. Sem possuir
espírito partidário, procurava sempre conciliar e contornar as situações
difíceis, embora, muitas vezes, prejudiciais aos seus negócios.
Assim aconteceu em janeiro de
1894. O assunto do dia era a Revolução Federalista e a iminente invasão da
cidade. A população se inquietava nas ruas e praças, aterrorizada com as
notícias e boatos que chegavam a todo instante.
Foi neste período que Ildefonso
Pereira Correia exerceu papel de grande relevo, quer junto às forças legais,
quer perante o exército federalista que invadira e dominara o Paraná. Disse o
Barão que não consentiria, tacitamente, que a população indefesa de Curitiba
sofresse as consequências do sítio e do bombardeio, sem empenhar todos os
esforços para evitar essa calamidade.
Estou cumprindo o meu dever de
brasileiro. Foram suas palavras.
Dr. Vicente Machado foi forçado a
abandonar Curitiba, transferindo a capital paranaense para a cidade de Castro.
Nessa dolorosa emergência, Ildefonso Correia tomou todas as providências para o
policiamento da cidade, buscando evitar os inconvenientes da completa ausência
de autoridades.
Para evitar saques, coube-lhe,
como Presidente da Associação Comercial, presidir ao Empréstimo de Guerra
lançado pelos vitoriosos revolucionários.
Colocado diante de um dilema −
saque ou empréstimo de guerra − não vacilou. Aceitou o árduo encargo, lançando
o empréstimo que, nas circunstâncias do momento, não poderia deixar de ser
compulsório.
Era sua ação da não-violência.
Ao irmão escreveria em maio de 1894:
Tenho consciência de que tudo quanto pratiquei, logo
que o nosso Estado foi invadido pelas forças revolucionárias, somente obedeceu
aos mais nobres e puros sentimentos. (...) Os tempos são de provações e eu a
elas me subordino pacientemente.
Com a restauração da legalidade
vieram as medidas de punição para os que tinham contribuído com a Revolução.
Crescia o número de suspeitos e de presos.
O Barão do Serro Azul também foi
feito prisioneiro, junto a outros companheiros. No dia 20 de maio do ano de
1894, às nove da noite, esses prisioneiros foram chamados. Acompanhados por uma
escolta de doze soldados, deixaram o presídio.
Os prisioneiros se comunicavam
silentes, pela expressão dos olhos, com certo ar de espanto. Tinha a marcha um
toque sinistro, misturado ao barulho das espadas resvalando na calçada, em
contraste com o silêncio tumular da noite.
Caía uma chuva fina, hibernal.
Serro Azul parecia tranquilo, escudo e rocha de um grupo de homens
desorientados e perplexos.
A convicção íntima da inocência
infundia-lhes coragem. Poderiam enfrentar, sem receio, os juízes e as leis da
República. Esse convencimento renovava-lhes a fortaleza do espírito e a
confiança no amanhecer de um novo dia.
O que feria, naquela hora, mais
profundamente a Ildefonso Correia era a lembrança da sua mulher grávida e
desesperada, longe dos seus afetos e desvelos, indefesa e frágil na sua
desdita. A criança, depois, nasceria morta.
Às dez e meia estavam no comboio
que partiu da Estação Ferroviária, certos de que iniciavam a viagem ao Rio de
Janeiro onde seriam julgados. Mas não foi tão longe...
O trem parou no Pico do Diabo.
Lá, no silêncio da noite, ouviram-se tiros, gritos e barulho de corpos sendo
arrastados.
O Barão do Serro Azul caiu de
joelhos e orou. Meus filhos, foram suas últimas palavras. Uma descarga
cortou-lhe a prece e a vida.
A notícia segura da execução não
chegou logo a Curitiba. Somente seis dias depois puderam os amigos das vítimas,
com reservas e precaução, ir até o km. 65 da Estrada de Ferro
Curitiba-Paranaguá, para enterrar seus mortos.
Ninguém pode, até hoje, explicar
o motivo de tão sangrento atentado. Todos os mortos eram cidadãos muito
conceituados no Estado do Paraná.
O irmão de Ildefonso Correio
pediu renúncia de seu cargo junto ao governo de Marechal Floriano Peixoto,
ferido mortalmente em seu coração pelo que fizeram a quem tão bem servira à
Pátria e aos homens. Nessa oportunidade, o Marechal Floriano Peixoto afirmou
que jamais dera a ordem para eliminar Ildefonso e seus amigos. Pelo contrário,
mostrou cópia de um telegrama que teria remetido ao Paraná, ordenando que,
entrando triunfantes as tropas do governo, na Província paranaense, o governo
fosse entregue a Ildefonso Pereira Correia.
O que aconteceu ao dito
telegrama nunca se soube. No entanto, o nome de Ildefonso Pereira Correia
deixou de ser pronunciado por décadas, até o momento em que se procedeu a um
resgate de sua memória, conferindo-lhe os méritos de cidadão honrado, político
correto e espírito cristão.
No ano de 1943, quando Centro
Espírita localizado em Curitiba recebeu da Federação Espírita do Paraná a
orientação de alterar a sua denominação, optaram os companheiros de então pelo
nome de Ildefonso Pereira Correia.
Foi na análise da vida de
Ildefonso que encontraram abundantes e sólidos motivos os idealistas daquela
hora para tomar o seu nome para a nova denominação do Centro Espírita nascente:
Centro Espírita Ildefonso Correia, fundado em 22 de setembro de 1936.
A presença serena e amiga de
Ildefonso se faz sentir em dias de dificuldades mais intensas, honrando com sua
palavra esclarecedora de cristão que ama, serve e passa, aos companheiros
daquela Instituição Espírita.
Cidadão do Universo, como
Espírito imortal que é, prossegue vinculado ao Bem e aos seus irmãos encarnados
na Terra.
O Excelentíssimo Presidente da
República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei de nº 11.863, no dia 15
de dezembro de 2008, 187º da Independência e 120º da República, inscrevendo o
nome de Ildefonso Pereira Correia, o Barão do Serro Azul, no Livro dos
Heróis da Pátria, nos seguintes termos:
Art. 1º É inscrito o nome
de Ildefonso Pereira Correia, o Barão de Serro Azul, no Livro dos Heróis da
Pátria, depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília.
Art. 2º Esta Lei entra em
vigor na data de sua publicação.
A publicação se deu no Diário
Oficial da União do dia 16 de dezembro de 2008.
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