Vianna de Carvalho − janeiro/2013
A sociedade hedonista atual,
vinculada ao consumismo exorbitante, no qual parece encontrar segurança em
relação aos conflitos existenciais, mantém atávica resistência a todas e quaisquer
expressões de fé religiosa, buscando mecanismos de fuga da realidade, como
afirmação de liberdade de expressão e de autorrealização.
Nada obstante, avança em
desabalada correria para as fugas psicológicas, tombando, não poucas vezes, no vazio existencial, na
depressão ou no consumo do álcool, do tabaco, das drogas ilícitas, dos
alucinógenos e dos desvios de comportamento sexual.
As castrações decorrentes das
religiões ortodoxas do passado prosseguem afligindo-a de tal forma, que a
simples lembrança de qualquer expressão doutrinária a induz ao pensamento das
imposições asselvajadas dos regimes políticos ditatoriais, ou quando se referem
ao Espírito, ressuma inconsciente aversão, decorrente dos abusos da fé
arbitrária dos tempos recuados.
Pensa-se unicamente em viver-se
as comodidades defluentes da tecnologia e das ciências, sem dúvida, portadoras
de valores inestimáveis, mas nem por isso, únicas proporcionadoras de harmonia
e de completude.
O ser humano renasce para a
conquista da autoconsciência, para a superação dos arquétipos perturbadores que
lhe permanecem no inconsciente impondo diretrizes de libertação que mais o
afligem.
O prazer tornou-se o novo deus,
substituindo os deuses de outrora, e os ases dos esportes, do cinema, da
televisão, do poder, dos divertimentos, das fantasias, tornam-se inspiração
para as buscas atormentadoras, gerando mais conflitos que se tornam epidêmicos.
Eles próprios, os novos
centuriões e gladiadores do Panis et circenses da velha Roma, desfilam nos
carros da alucinação e da glória de um dia, logo substituídos por outros mais
audaciosos, inumeráveis deles, porém, portadores de graves transtornos
psicológicos e psiquiátricos, que se opõem à ordem, à beleza, à estesia,
celebrizando-se pelas alucinações e agressões que lhes retratam a violência e o
desconforto interno.
Pergunta-se: – Para onde
segue a sociedade?
Os padrões éticos destroçam-se
nas aventuras chocantes e desastrosas em que malogram os novos programadores
dos destinos, dando lugar a tragédias contínuas, à violência e à degradação dos
costumes.
A juventude, sem a assistência
da família, opta pelo aproveitamento do tempo para o desordenado jogo do
prazer, especialmente quando os pais imaturos competem com os filhos nos seus
campeonatos de insensatez, entregando-se à exaustão dos vícios, perdendo a
infância que cede lugar ao amadurecimento precoce, invariavelmente resultado da
necessidade de competir desde muito cedo com os mais velhos, aproveitando-se
das oportunidades que lhes chegam…
Os tormentos sexuais
instalam-se-lhes prematuramente e as experiências dessa natureza sucedem-se,
sem qualquer controle, atingindo níveis de elevada frustração e de desencanto.
Sem o amparo do lar, os jovens
formam clãs primitivos, fogem para as ruas do desgoverno social, entregando-se,
na sua ignorância, curiosidade e inexperiência a toda sorte de sensações
apressadas.
Certamente, existem exceções
enobrecedoras, que mantêm o equilíbrio social e trabalham pelo progresso com
elevados sentimentos morais.
Referimo-nos, porém, à
devastadora cultura newtoniana e cartesiana estruturada no conceito da matéria,
cuja máquina expressa na organização física dos seres de todas as espécies,
demanda ao aniquilamento, em razão do desconserto de suas peças.
Como efeito, somente apresenta validade
o que pode ser apalpado, medido, programado, exatamente no momento quando as
conquistas da tecnologia avançada oferecem à reflexão o bóson de Higgs, o
mapeamento do DNA ou código da vida, a visão do universo com os seus bilhões de
galáxias, induzindo o pensamento a uma causalidade não física ou a uma
assinatura de Deus nas expressões mais extraordinárias da energia.
A alucinação pelo conforto, no
entanto, sempre transitório e frustrante, em razão da sua fugacidade, que logo
exige novas expressões mais fortes, deixa o indivíduo distante dessas
referências que induzem ao aprofundamento da mente nas causas da vida e no seu
significado, mantendo-o iludido quanto ao sentido da sua existência planetária
que, não sendo interrompida pela morte, para ela ruma…
Desse modo, quando as forças
físicas e mentais, emocionais e estruturais do corpo diminuem com o advento das
enfermidades inevitáveis e da velhice, a amargura, a revolta ou o desespero
mais se insculpem no âmago do indivíduo, que não se conforma com o aniquilamento,
nem a perda dos recursos propiciatórios dos gozos, agora, mais difíceis…
Para todos os seres humanos,
entretanto, existe o Espiritismo com as suas portentosas demonstrações
positivistas em torno da sobrevivência do ser real, em torno do mundo legítimo
e causal, da programática existencial no cômputo das leis universais perfeitas,
elaboradas pela inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas, que é
Deus.
Aos espíritas cabe a desafiadora
tarefa de apresentar a fé raciocinada e lógica legada pela codificação do
Espiritismo, de maneira a enfrentar o materialismo nos seus significativos
estertores, de maneira a atender a grande massa humana aturdida por haver
perdido o rumo religioso na neblina da ignorância e do dogmatismo.
Observando-se o interesse dos
astrofísicos em constatar a probabilidade de vida em outros planetas ou
quaisquer outros astros do Universo, qual ocorre com as extraordinárias
análises do solo de Marte, ora estudado pelo jipe robô Curiosity, deve o ser
humano reflexionar em torno da vida de maneira mais grave e não
superficialmente com indiferença qual vem ocorrendo com a quase generalidade.
Breve meditação em torno do ser
existencial e logo chega-se à conclusão do sentido da vida na Terra, do seu
magnífico programa educacional e de desenvolvimento da divina fagulha de que se
constitui, despertando-se para os valores éticos e os objetivos reais,
proporcionadores da harmonia interior e do equilíbrio dos sentimentos com a
razão.
A existência terrena é mais do
que um licor ou fel para serem tragados pela imposição nefasta do acaso ou do
destino injustificável.
Pode, sim, tornar-se uma e outra
coisa dependendo de como se considera a experiência fantástica do viver, dela
fazendo um vale de lágrimas das ultrapassadas alegorias religiosas ou um
paraíso de benesses das utopias passadistas…
Desse modo, esta filosofia
científica, em razão dos seus fundamentos poderem ser demonstrados nos
laboratórios das experiências mediúnicas, que é uma ciência filosófica, face
aos seus paradigmas elucidativos em torno do ser, do destino e do sofrimento,
é, também, uma religião de profundos conteúdos psicológicos e éticos centrados
no amor, na autoconquista, na iluminação interior.
Investigá-la com seriedade sem
parcialismo é dever de todo ser inteligente que anela pela autoconsciência, a
fim de viver com discernimento e harmonia.
Vianna de Carvalho
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