Expoente da luta
antimanicomial e contrária a métodos agressivos, a alagoana fez da arte uma
aliada no tratamento psiquiátrico no país
Nise da
Silveira foi uma médica psiquiatra brasileira. Reconhecida mundialmente por
sua contribuição à psiquiatria, revolucionou o tratamento mental no Brasil. Foi
aluna de Carl Jung. Nasceu em 15 de
fevereiro de 1905, na cidade de Maceió, Alagoas e faleceu em 30 de outubro de
1999, na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Formada em medicina pela
Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia (1926–1931).
Casada com Mário Magalhães da Silveira[2].
Pioneira da terapia ocupacional,
a alagoana Nise da Silveira mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no
Brasil. Filha de uma pianista com um professor de matemática, ela se rebelou
contra os métodos agressivos aplicados em pacientes com transtornos mentais,
como o eletrochoque e o confinamento.
Única mulher na turma
de Medicina
Antes de revolucionar a
psiquiatria, Silveira já deixava sua marca na Faculdade de Medicina da Bahia,
onde foi a única mulher em uma turma de 158 alunos. Concluiu o curso com o
estudo “Ensaio Sobre a Criminalidade da Mulher no Brasil”.
Presa política no
governo de Getúlio Vargas
Acusada de se envolver com o
comunismo ao manter livros subversivos, a psiquiatra foi presa durante o Estado
Novo de Getúlio Vargas, entre 1936 e 1937, período em que conheceu no presídio
a revolucionária Olga Benário e o autor alagoano Graciliano Ramos. Este chegou
a mencioná-la na obra “Memórias do Cárcere”.
Oposição aos
tratamentos agressivos dos manicômios
Silveira se manifestou contra os
tratamentos agressivos enquanto trabalhava no antigo Centro Psiquiátrico
Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro. Avessa aos eletrochoques, isolamentos,
lobotomias e camisas de força, foi transferida para a área de terapia
ocupacional, considerada uma repreensão. Mas foi lá que a psiquiatra encontrou
o espaço necessário para investir em métodos humanizados na recuperação de
pacientes.
A arte como aliada
Um dos tratamentos desenvolvidos
por Silveira foi a expressão dos sentimentos pelas artes, especialmente em
pinturas. A produção artística de alguns pacientes ganhou reconhecimento pela
qualidade estética, além de ter demonstrado resultados positivos na
recuperação. As obras estão expostas no Museu de Imagens do Inconsciente,
inaugurado em 1952 por Silveira, cinco anos após fundar a Seção de Terapêutica
Ocupacional e Reabilitação no centro onde trabalhava. Elas já haviam ganho
notoriedade ao serem expostas no Museu de Arte Moderna de São Paulo e na Câmara
Municipal do Rio de Janeiro. A instituição Casa das Palmeiras, criada por
Silveira em 1956 e focada em reabilitar sem internação, também investiu no
processo criativo e afetivo dos pacientes.
Os animais também
ajudavam no tratamento
Além da arte, o contato com cães
e gatos também foi um dos tratamentos introduzidos por Silveira no Brasil. Os
pacientes podiam cuidar dos animais que estavam nos espaços abertos do centro,
estabelecendo vínculos afetivos. A psiquiatra escreveu um livro dedicado aos
felinos, chamado “Gatos, a Emoção de Lidar”.
Interesse de Carl
Jung
Um dos mais conhecidos
psiquiatras e psicoterapeutas da história, o suíço se correspondia com a médica
brasileira. Ela chegou a ser convidada a passar um ano estudando no Instituto
Carl Gustav Jung, na Suíça, em 1957. Silveira havia relatado em carta o
tratamento que desenvolveu e encaminhado para Jung fotografias de desenhos
realizados pelos pacientes. Ela se tornou uma das principais precursoras das
práticas junguianas no Brasil e formou o Grupo de Estudos C. G. Jung, além de
ter escrito “Jung: Vida e Obra”.
Sua história virou
filme
Lançado em 2015, “Nise – O
coração da Loucura”, foi dirigido por Roberto Berliner e baseado no livro “Nise
- Arqueóloga dos Mares”, de Bernardo Horta. Ele retrata a importância da
trajetória da psiquiatra alagoana na medicina brasileira.
Frases da Dra. Nise[3]
• "Não se curem além da
conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura.
Vou lhes fazer um pedido: Vivam a
imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca
convivi com pessoas ajuizadas".
• "É necessário se
espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a
realidade..."
• “Para navegar conta a corrente
são necessárias condições raras: espírito de aventura, coragem, perseverança e
paixão”.
• “Todo mundo deve inventar
alguma coisa, a criatividade reúne em si várias funções psicológicas
importantes para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente, é o
estímulo à criatividade”.
• “Desprezo as pessoas que se
julgam superiores aos animais. Os animais tem a sabedoria da natureza. Eu
gostaria de ser como o gato: quando não se quer saber de uma pessoa, levanta a
cauda e sai. Não tem papo”.
• “Eu me sinto bicho. Bicho é
mais importante que gente. Pra mim o teste é o bicho, se não passar por ele,
não tem vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho, é arrogante”.
• “Porque passei pela prisão, eu
compreendo as pessoas e os animais que estão doentes, pobres, que sofrem. Eu me
identifico com eles. Sinto-me um deles”.
• “Só os loucos e os artistas
podem me compreender”.
[1] https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/noticia/2019/09/quem-foi-nise-da-silveira-psiquiatra-que-humanizou-os-tratamentos-no-brasil.html?utm_source=twitter&utm_medium=social&utm_campaign=post
[3] Enciclopédia Nordeste: Biografia de Nise da Silveira -
http://goo.gl/2qnS4f
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