sábado, 3 de dezembro de 2022

QUEM FOI NISE DA SILVEIRA, PSIQUIATRA QUE HUMANIZOU OS TRATAMENTOS NO BRASIL[1]

 

 

Expoente da luta antimanicomial e contrária a métodos agressivos, a alagoana fez da arte uma aliada no tratamento psiquiátrico no país

 

Nise da Silveira foi uma médica psiquiatra brasileira. Reconhecida mundialmente por sua contribuição à psiquiatria, revolucionou o tratamento mental no Brasil. Foi aluna de Carl Jung.  Nasceu em 15 de fevereiro de 1905, na cidade de Maceió, Alagoas e faleceu em 30 de outubro de 1999, na cidade do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Formada em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia (1926–1931). Casada com Mário Magalhães da Silveira[2].

Pioneira da terapia ocupacional, a alagoana Nise da Silveira mudou os rumos dos tratamentos psiquiátricos no Brasil. Filha de uma pianista com um professor de matemática, ela se rebelou contra os métodos agressivos aplicados em pacientes com transtornos mentais, como o eletrochoque e o confinamento.

 

Única mulher na turma de Medicina

Antes de revolucionar a psiquiatria, Silveira já deixava sua marca na Faculdade de Medicina da Bahia, onde foi a única mulher em uma turma de 158 alunos. Concluiu o curso com o estudo “Ensaio Sobre a Criminalidade da Mulher no Brasil”.

 

Presa política no governo de Getúlio Vargas

Acusada de se envolver com o comunismo ao manter livros subversivos, a psiquiatra foi presa durante o Estado Novo de Getúlio Vargas, entre 1936 e 1937, período em que conheceu no presídio a revolucionária Olga Benário e o autor alagoano Graciliano Ramos. Este chegou a mencioná-la na obra “Memórias do Cárcere”.

 

Oposição aos tratamentos agressivos dos manicômios

Silveira se manifestou contra os tratamentos agressivos enquanto trabalhava no antigo Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, no Rio de Janeiro. Avessa aos eletrochoques, isolamentos, lobotomias e camisas de força, foi transferida para a área de terapia ocupacional, considerada uma repreensão. Mas foi lá que a psiquiatra encontrou o espaço necessário para investir em métodos humanizados na recuperação de pacientes.

 

A arte como aliada

Um dos tratamentos desenvolvidos por Silveira foi a expressão dos sentimentos pelas artes, especialmente em pinturas. A produção artística de alguns pacientes ganhou reconhecimento pela qualidade estética, além de ter demonstrado resultados positivos na recuperação. As obras estão expostas no Museu de Imagens do Inconsciente, inaugurado em 1952 por Silveira, cinco anos após fundar a Seção de Terapêutica Ocupacional e Reabilitação no centro onde trabalhava. Elas já haviam ganho notoriedade ao serem expostas no Museu de Arte Moderna de São Paulo e na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. A instituição Casa das Palmeiras, criada por Silveira em 1956 e focada em reabilitar sem internação, também investiu no processo criativo e afetivo dos pacientes.

 

Os animais também ajudavam no tratamento

Além da arte, o contato com cães e gatos também foi um dos tratamentos introduzidos por Silveira no Brasil. Os pacientes podiam cuidar dos animais que estavam nos espaços abertos do centro, estabelecendo vínculos afetivos. A psiquiatra escreveu um livro dedicado aos felinos, chamado “Gatos, a Emoção de Lidar”.

 

Interesse de Carl Jung

Um dos mais conhecidos psiquiatras e psicoterapeutas da história, o suíço se correspondia com a médica brasileira. Ela chegou a ser convidada a passar um ano estudando no Instituto Carl Gustav Jung, na Suíça, em 1957. Silveira havia relatado em carta o tratamento que desenvolveu e encaminhado para Jung fotografias de desenhos realizados pelos pacientes. Ela se tornou uma das principais precursoras das práticas junguianas no Brasil e formou o Grupo de Estudos C. G. Jung, além de ter escrito “Jung: Vida e Obra”.

 

Sua história virou filme

Lançado em 2015, “Nise – O coração da Loucura”, foi dirigido por Roberto Berliner e baseado no livro “Nise - Arqueóloga dos Mares”, de Bernardo Horta. Ele retrata a importância da trajetória da psiquiatra alagoana na medicina brasileira.

 

Frases da Dra. Nise[3]

• "Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: Vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas ajuizadas".

• "É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade..."

• “Para navegar conta a corrente são necessárias condições raras: espírito de aventura, coragem, perseverança e paixão”.

• “Todo mundo deve inventar alguma coisa, a criatividade reúne em si várias funções psicológicas importantes para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente, é o estímulo à criatividade”.

• “Desprezo as pessoas que se julgam superiores aos animais. Os animais tem a sabedoria da natureza. Eu gostaria de ser como o gato: quando não se quer saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai. Não tem papo”.

• “Eu me sinto bicho. Bicho é mais importante que gente. Pra mim o teste é o bicho, se não passar por ele, não tem vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho, é arrogante”.

• “Porque passei pela prisão, eu compreendo as pessoas e os animais que estão doentes, pobres, que sofrem. Eu me identifico com eles. Sinto-me um deles”.

• “Só os loucos e os artistas podem me compreender”.

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