terça-feira, 7 de junho de 2022

FASCINAÇÃO: Modalidade[1]

 

Equipes dos Departamentos de Mediunidade e de Doutrina da USE

 

Este trabalho foi realizado a partir de um levantamento de dúvidas sobre a obsessão do tipo Fascinação pelo Departamento de Mediunidade e compilado o texto a partir de pesquisas nas obras de Allan Kardec pelo Departamento de Doutrina.

O objetivo é fomentar reflexões sobre esse importante tema, para que os voluntários das tarefas espíritas da área da mediunidade encontrem tópicos que contribuam para a orientação de suas tarefas, assim como favoreça observação de situações que possam levar à obsessão desse tipo em seus diferentes estágios.

A obsessão refere-se ao domínio/influência que alguns Espíritos exercem sobre pessoas que permitem tal afinidade. Independe da mediunidade e está, geralmente, ligada a fatores morais, visto todos serem Espíritos imperfeitos em evolução.

São sempre Espíritos inferiores, não necessariamente maus, os que exercem esse tipo de domínio/influência que, muitas vezes, constrangem o obsediado.

Os motivos variam, assim como os efeitos.

Dada a ainda limitada compreensão das pessoas, fica bastante difícil em alguns momentos fazer uso dos critérios de análise importantes para o discernimento a respeito da natureza dos Espíritos.

Moralidade e inteligência não caminham lado a lado e os Espíritos que provocam esse tipo de influência, podem ter bastante desenvolvida a capacidade intelectual.

A obsessão apresenta características diversas, que resultam do grau de constrangimento e da natureza dos efeitos produzidos, sendo a mais grave a Fascinação.

Segundo O Livro dos Espíritos, muitas vezes, Espíritos enganadores se aproveitam do entusiasmo para exercer o domínio através da Fascinação. Também há pessoas que se comprazem numa dependência que alimenta e satisfaz gostos e desejos íntimos, ligados às paixões que todos estão sujeitos.

Tornando assim a Fascinação algo irresistível, Deus permite que ocorra justamente para servir de experimentação respeitando a livre escolha de cada indivíduo.

No caso da mediunidade, o médium obsediado está completamente iludido, o Espírito que o domina e controla, ganha a sua confiança chegando ao ponto de travar o julgamento quanto as próprias comunicações que recebe, mesmo as mais estranhas e incoerentes, do ponto de vista, do bom senso, da lógica, das ciências e mesmo da doutrina espírita.

A Fascinação tem como caráter principal, provocar no médium uma excessiva suscetibilidade e levá-lo a acreditar que tudo que escreve ou repassa é bom, justo e verdadeiro e a repelir toda e qualquer intervenção que diga o contrário, ocorrendo, muitas vezes, o afastamento dos que pensam de maneira diferente e isolando a si e aos seguidores que também são envolvidos na Fascinação.

Todo e qualquer conselho e análise crítica é prontamente rechaçada, rompendo laços de amizade e convivência fraterna.

Geralmente, o médium fascinado tem o ímpeto de dominar o grupo ou até a envolver todos os trabalhos e atividades de uma Casa Espírita em suas ideias, satisfazendo a investida dominadora e constrangedora do ou dos Espíritos fascinadores, que em muitos casos se intitulam mentores, guias, orientadores etc.

Provocando grandes males, com orientações e ideias incoerentes e perigosas, muitas vezes chegam com imposições, com orientações que se tornam ordens objetivando a obediência cega e subserviente.

Numa análise fluídica bem sentida e identificada, chega-se a caracterizar uma impressão penosa, fatigante e bastante desagradável, mas uma vez envolvidos nos laços e domínio do ou dos fascinadores, essa impressão fica como uma vaga lembrança, sendo necessário se desvincular dos fluidos deletérios e retomar a razão e bom senso.

Muitas vezes, as comunicações produzidas por um médium fascinado provocam certa agitação e desordem, lembrando que os Espíritos fascinadores deixam nas entrelinhas sinais da sua inferioridade moral e intencional.

Quanto aos motivos, são variados, desde a uma vingança, passando pelo egoísmo e inveja e até mesmo sendo motivados pelo prazer que experimentam em dominar e fazer o mal.

Há uma ligação e envolvimento fluídico que muitas vezes impede uma identificação do médium a respeito da real natureza do Espírito, sua capacidade de análise crítica também fica comprometida tendo em vista a ilusão em que é envolvido, isso independe do grau de instrução e conhecimento do médium, todos podem ser fascinados, com a ligação fluídica que se faz, pensamento e vontade se confundem.

Os Espíritos que provocam as obsessões diferente da natureza dos que provocam a Fascinação, muitas vezes, perversos e malfazejos, ardilosos, inteligentes, sagazes, envolve o fascinado como numa teia, paralisando a vontade e o juízo. Impele aos que sofrem a sua ação, pensar, falar e agir dominados pela sua vontade, numa espécie de catalepsia moral, tornando o indivíduo um instrumento da sua vontade.

O fascinado não tem consciência dessa ação, dúvida se alguém tenta lhe abrir os olhos, se ofende com a análise crítica e se afasta de quem possa abrir-lhe os olhos.

Os Espíritos maus intencionados que levam à Fascinação são inimigos invisíveis perigosos, podem desestabilizar uma pessoa, um grupo, uma instituição, não há limites para o envolvimento que ele provoca quando encontra brechas e oportunidades.

Os bons Espíritos não impõem suas ações, respeitam a escolha do outro, mesmo que esteja inconsciente de ceder às Fascinações de um mau Espírito.

Para se livrar das obsessões é preciso uma força moral, uma vontade intensa e ações de mudança de pensamentos e vontades. É preciso um esforço na transformação interior com humildade, perseverança e resignação, recolhimento, fluidoterapia e prece, uma verdadeira ginástica moral, buscando domar a si mesmo, antes de ter a pretensão de domar o outro. No caso dos médiuns, a abstenção do trabalho mediúnico e o descarte de toda e qualquer produção realizada por um médium fascinado devem ser levadas em consideração.

Um dos meios de se identificar a Fascinação é a insistência do mesmo Espírito em se comunicar, como uma espécie de obstinação de um Espírito em manter o médium como exclusivo. A Fascinação, como todas as modalidades de obsessão, atua como as atribulações da vida, devendo ser considerada como uma prova ou expiação. A obsessão é sempre resultado de uma imperfeição moral e deve ser combatida com força da autoridade moral.

O fascinado não se considera enganado, fica envolvido por uma ilusão difícil de se desvencilhar.

O Espírito lhe inspira uma confiança cega que o impede de identificar a mistificação e influência perniciosa.

Nas suas mensagens e orientações abusam de palavras como caridade, amor, humildade apenas para distrair a atenção de suas verdadeiras intenções.

O que o fascinador mais teme é alguém que possa desmascará-lo abrindo os olhos dos fascinados quanto ao seu domínio.

Segundo Herculano Pires, a Fascinação é mais comum do que se imagina, manifestando-se em grande escala no meio espírita, tanto na literatura como em pregações e orientações de trabalhadores das instituições espíritas que se consideram devidamente assistidos e aptos a não só criticarem a doutrina espírita quanto a reformular seus princípios.

Muitas vezes, a Fascinação tem seu início na obsessão simples caracterizada por ideias estranhas, na mediunidade observa-se a insistência e constância de um mesmo Espírito se comunicando através de um ou mais médiuns.

A Fascinação pode levar a graves desequilíbrios individuais e coletivos. Todas as comunicações e ou produções mediúnicas devem, segundo a orientação das obras fundamentais da doutrina espírita, passar por análise criteriosa.

Na Fascinação, o domínio do Espírito não tem limites. Para o fascinado, suspeitar do seu fascinador é quase uma profanação.

Nessa espécie de ilusão produzida pelo fascinador de maneira capciosa e hipócrita, chega-se a enganar sobre as coisas morais e falsear o julgamento para que se tome o mal pelo bem.

O estudo constante e a análise de sua própria consciência são pontos importantes para se precaver contra as obsessões, além dos itens citados anteriormente.

Necessário também acabar com a presunção da infalibilidade de sua conduta e com a fé cega em relação às suas produções, as quais devem ser analisadas com frieza e imparcialidade, com astúcia e sensatez.

Segundo O Livro dos Médiuns:

Aquele que pensa que a luz só foi feita para ele já está completamente subjugo.

Se leva a mal as observações e as repele, irritando-se com elas, há dúvida quanto à natureza má do Espírito que o assiste.

Já dissemos que um médium pode carecer dos conhecimentos necessários para compreender os erros, que pode se deixar enganar pelas palavras bonitas e pela linguagem pretensiosa, deixando-se seduzir pelos sofismas, tudo isso na maior boa fé.

Eis porque, na falta de suas próprias luzes, deve modestamente recorrer às luzes dos outros, segundo os ditados populares de que quatro olhos veem melhor do que dois e de que ninguém é um bom juiz em causa própria. É desse ponto de vista que as reuniões são de grande utilidade para o médium, se ele for bastante sensato para ouvir os conselhos, porque nelas se encontram pessoas mais esclarecidas do que ele, capazes de perceber os matizes frequentemente muito delicados, pelos quais o Espírito revela a sua inferioridade.

Todo médium que sinceramente não queira se transformar em instrumento da mentira deve procurar produzir nas reuniões sérias, levando para elas o que tiver obtido em particular. Deve aceitar com reconhecimento, e até mesmo solicitar o exame crítico das comunicações.

Se estiver assediado por Espíritos enganadores será esse o meio mais seguro de se livrar deles, provando-lhes que não o podem enganar. Aliás, o médium que se irrita com a crítica, tanto menos razão tem para isso quanto o seu amor-próprio não está envolvido no assunto, pois se o que escreve não é dele, ao ler a má comunicação a sua responsabilidade é semelhante à de quem lesse os versos de um mau poeta.

Insistimos nesse ponto porque se é ele um tropeço para os médiuns, também o é para as reuniões que não devem confiar levianamente em todos os intérpretes dos Espíritos. O concurso de qualquer médium obsedado ou fascinado lhes seria mais prejudicial do que útil.

Elas não devem aceitá-lo. Julgamos já haver desenvolvido o suficiente para mostrar-lhes que não podem enganar-se quanto às características da obsessão, se o médium não for capaz de reconhecê-la por si mesmo. Uma das mais evidentes é sem dúvida a pretensão de estar sozinho com a razão, contra todos os demais. Os médiuns obsedados que não querem reconhecer a sua situação assemelham-se a esses doentes que se iludem quanto à saúde, perdendo-se por não se submeterem ao regime necessário.

Recomenda-se a leitura e estudo da mensagem de Erasto, item XXVII do capítulo XXXI de O Livro dos Médiuns e do artigo “Obsedados e subjugados”, da Revista Espírita, de outubro de 1858.

 

Referências

§  KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Questões 104, 212 ,237 a 240, 244, 250 e 329. Capítulo XXXI, item 27.

§  KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Questões 444, 476 e 515.

§  KARDEC, Allan. O que é o Espiritismo. Capítulo II, item 71.

§  KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XXVIII, item 81.

§  KARDEC, Allan. Revista Espírita, Outubro de 1858.

§  KARDEC, Allan. Obras Póstumas. Manifestação dos Espíritos, VII, item 56.



[1] Revista Dirigente Espírita – USE - https://usesp.org.br/wp-content/uploads/2022/05/de189.pdf

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