Equipes dos Departamentos de Mediunidade e de Doutrina da USE
Este trabalho foi realizado a
partir de um levantamento de dúvidas sobre a obsessão do tipo Fascinação
pelo Departamento de Mediunidade e compilado o texto a partir de pesquisas nas
obras de Allan Kardec pelo Departamento de Doutrina.
O objetivo é fomentar reflexões
sobre esse importante tema, para que os voluntários das tarefas espíritas da
área da mediunidade encontrem tópicos que contribuam para a orientação de suas
tarefas, assim como favoreça observação de situações que possam levar à
obsessão desse tipo em seus diferentes estágios.
A obsessão refere-se ao
domínio/influência que alguns Espíritos exercem sobre pessoas que permitem tal
afinidade. Independe da mediunidade e está, geralmente, ligada a fatores
morais, visto todos serem Espíritos imperfeitos em evolução.
São sempre Espíritos inferiores,
não necessariamente maus, os que exercem esse tipo de domínio/influência que,
muitas vezes, constrangem o obsediado.
Os motivos variam, assim como os
efeitos.
Dada a ainda limitada
compreensão das pessoas, fica bastante difícil em alguns momentos fazer uso dos
critérios de análise importantes para o discernimento a respeito da natureza
dos Espíritos.
Moralidade e inteligência não
caminham lado a lado e os Espíritos que provocam esse tipo de influência, podem
ter bastante desenvolvida a capacidade intelectual.
A obsessão apresenta
características diversas, que resultam do grau de constrangimento e da natureza
dos efeitos produzidos, sendo a mais grave a Fascinação.
Segundo O Livro dos Espíritos,
muitas vezes, Espíritos enganadores se aproveitam do entusiasmo para exercer o
domínio através da Fascinação. Também há pessoas que se comprazem numa
dependência que alimenta e satisfaz gostos e desejos íntimos, ligados às
paixões que todos estão sujeitos.
Tornando assim a Fascinação algo
irresistível, Deus permite que ocorra justamente para servir de experimentação
respeitando a livre escolha de cada indivíduo.
No caso da mediunidade, o médium
obsediado está completamente iludido, o Espírito que o domina e controla, ganha
a sua confiança chegando ao ponto de travar o julgamento quanto as próprias
comunicações que recebe, mesmo as mais estranhas e incoerentes, do ponto de
vista, do bom senso, da lógica, das ciências e mesmo da doutrina espírita.
A Fascinação tem como caráter
principal, provocar no médium uma excessiva suscetibilidade e levá-lo a
acreditar que tudo que escreve ou repassa é bom, justo e verdadeiro e a repelir
toda e qualquer intervenção que diga o contrário, ocorrendo, muitas vezes, o
afastamento dos que pensam de maneira diferente e isolando a si e aos
seguidores que também são envolvidos na Fascinação.
Todo e qualquer conselho e
análise crítica é prontamente rechaçada, rompendo laços de amizade e
convivência fraterna.
Geralmente, o médium fascinado
tem o ímpeto de dominar o grupo ou até a envolver todos os trabalhos e
atividades de uma Casa Espírita em suas ideias, satisfazendo a investida
dominadora e constrangedora do ou dos Espíritos fascinadores, que em muitos
casos se intitulam mentores, guias, orientadores etc.
Provocando grandes males, com orientações
e ideias incoerentes e perigosas, muitas vezes chegam com imposições, com
orientações que se tornam ordens objetivando a obediência cega e subserviente.
Numa análise fluídica bem
sentida e identificada, chega-se a caracterizar uma impressão penosa, fatigante
e bastante desagradável, mas uma vez envolvidos nos laços e domínio do ou dos
fascinadores, essa impressão fica como uma vaga lembrança, sendo necessário se
desvincular dos fluidos deletérios e retomar a razão e bom senso.
Muitas vezes, as comunicações
produzidas por um médium fascinado provocam certa agitação e desordem, lembrando
que os Espíritos fascinadores deixam nas entrelinhas sinais da sua
inferioridade moral e intencional.
Quanto aos motivos, são
variados, desde a uma vingança, passando pelo egoísmo e inveja e até mesmo
sendo motivados pelo prazer que experimentam em dominar e fazer o mal.
Há uma ligação e envolvimento
fluídico que muitas vezes impede uma identificação do médium a respeito da real
natureza do Espírito, sua capacidade de análise crítica também fica
comprometida tendo em vista a ilusão em que é envolvido, isso independe do grau
de instrução e conhecimento do médium, todos podem ser fascinados, com a
ligação fluídica que se faz, pensamento e vontade se confundem.
Os Espíritos que provocam as
obsessões diferente da natureza dos que provocam a Fascinação, muitas vezes,
perversos e malfazejos, ardilosos, inteligentes, sagazes, envolve o fascinado
como numa teia, paralisando a vontade e o juízo. Impele aos que sofrem a sua
ação, pensar, falar e agir dominados pela sua vontade, numa espécie de
catalepsia moral, tornando o indivíduo um instrumento da sua vontade.
O fascinado não tem consciência
dessa ação, dúvida se alguém tenta lhe abrir os olhos, se ofende com a análise
crítica e se afasta de quem possa abrir-lhe os olhos.
Os Espíritos maus intencionados
que levam à Fascinação são inimigos invisíveis perigosos, podem desestabilizar
uma pessoa, um grupo, uma instituição, não há limites para o envolvimento que
ele provoca quando encontra brechas e oportunidades.
Os bons Espíritos não impõem
suas ações, respeitam a escolha do outro, mesmo que esteja inconsciente de
ceder às Fascinações de um mau Espírito.
Para se livrar das obsessões é
preciso uma força moral, uma vontade intensa e ações de mudança de pensamentos
e vontades. É preciso um esforço na transformação interior com humildade,
perseverança e resignação, recolhimento, fluidoterapia e prece, uma verdadeira
ginástica moral, buscando domar a si mesmo, antes de ter a pretensão de domar o
outro. No caso dos médiuns, a abstenção do trabalho mediúnico e o descarte de toda
e qualquer produção realizada por um médium fascinado devem ser levadas em
consideração.
Um dos meios de se identificar a
Fascinação é a insistência do mesmo Espírito em se comunicar, como uma espécie
de obstinação de um Espírito em manter o médium como exclusivo. A Fascinação, como
todas as modalidades de obsessão, atua como as atribulações da vida, devendo
ser considerada como uma prova ou expiação. A obsessão é sempre resultado de
uma imperfeição moral e deve ser combatida com força da autoridade moral.
O fascinado não se considera
enganado, fica envolvido por uma ilusão difícil de se desvencilhar.
O Espírito lhe inspira uma
confiança cega que o impede de identificar a mistificação e influência
perniciosa.
Nas suas mensagens e orientações
abusam de palavras como caridade, amor, humildade apenas para distrair a atenção
de suas verdadeiras intenções.
O que o fascinador mais teme é
alguém que possa desmascará-lo abrindo os olhos dos fascinados quanto ao seu domínio.
Segundo Herculano Pires, a Fascinação
é mais comum do que se imagina, manifestando-se em grande escala no meio
espírita, tanto na literatura como em pregações e orientações de trabalhadores
das instituições espíritas que se consideram devidamente assistidos e aptos a
não só criticarem a doutrina espírita quanto a reformular seus princípios.
Muitas vezes, a Fascinação tem
seu início na obsessão simples caracterizada por ideias estranhas, na
mediunidade observa-se a insistência e constância de um mesmo Espírito se
comunicando através de um ou mais médiuns.
A Fascinação pode levar a graves
desequilíbrios individuais e coletivos. Todas as comunicações e ou produções
mediúnicas devem, segundo a orientação das obras fundamentais da doutrina
espírita, passar por análise criteriosa.
Na Fascinação, o domínio do
Espírito não tem limites. Para o fascinado, suspeitar do seu fascinador é quase
uma profanação.
Nessa espécie de ilusão
produzida pelo fascinador de maneira capciosa e hipócrita, chega-se a enganar
sobre as coisas morais e falsear o julgamento para que se tome o mal pelo bem.
O estudo constante e a análise
de sua própria consciência são pontos importantes para se precaver contra as
obsessões, além dos itens citados anteriormente.
Necessário também acabar com a presunção
da infalibilidade de sua conduta e com a fé cega em relação às suas produções,
as quais devem ser analisadas com frieza e imparcialidade, com astúcia e
sensatez.
Segundo O Livro dos Médiuns:
Aquele que pensa que a luz só foi feita para ele já
está completamente subjugo.
Se leva a mal as observações e as repele, irritando-se
com elas, há dúvida quanto à natureza má do Espírito que o assiste.
Já dissemos que um médium pode carecer dos
conhecimentos necessários para compreender os erros, que pode se deixar enganar
pelas palavras bonitas e pela linguagem pretensiosa, deixando-se seduzir pelos
sofismas, tudo isso na maior boa fé.
Eis porque, na falta de suas próprias luzes, deve
modestamente recorrer às luzes dos outros, segundo os ditados populares de que
quatro olhos veem melhor do que dois e de que ninguém é um bom juiz em causa
própria. É desse ponto de vista que as reuniões são de grande utilidade para o
médium, se ele for bastante sensato para ouvir os conselhos, porque nelas se encontram
pessoas mais esclarecidas do que ele, capazes de perceber os matizes frequentemente
muito delicados, pelos quais o Espírito revela a sua inferioridade.
Todo médium que sinceramente não
queira se transformar em instrumento da mentira deve procurar produzir nas reuniões
sérias, levando para elas o que tiver obtido em particular. Deve aceitar com
reconhecimento, e até mesmo solicitar o exame crítico das comunicações.
Se estiver assediado por
Espíritos enganadores será esse o meio mais seguro de se livrar deles,
provando-lhes que não o podem enganar. Aliás, o médium que se irrita com a
crítica, tanto menos razão tem para isso quanto o seu amor-próprio não está
envolvido no assunto, pois se o que escreve não é dele, ao ler a má comunicação
a sua responsabilidade é semelhante à de quem lesse os versos de um mau poeta.
Insistimos nesse ponto porque se
é ele um tropeço para os médiuns, também o é para as reuniões que não devem
confiar levianamente em todos os intérpretes dos Espíritos. O concurso de
qualquer médium obsedado ou fascinado lhes seria mais prejudicial do que útil.
Elas não devem aceitá-lo.
Julgamos já haver desenvolvido o suficiente para mostrar-lhes que não podem
enganar-se quanto às características da obsessão, se o médium não for capaz de
reconhecê-la por si mesmo. Uma das mais evidentes é sem dúvida a pretensão de
estar sozinho com a razão, contra todos os demais. Os médiuns obsedados que não
querem reconhecer a sua situação assemelham-se a esses doentes que se iludem
quanto à saúde, perdendo-se por não se submeterem ao regime necessário.
Recomenda-se a leitura e estudo
da mensagem de Erasto, item XXVII do capítulo XXXI de O Livro dos Médiuns
e do artigo “Obsedados e subjugados”, da Revista Espírita, de outubro de
1858.
Referências
§
KARDEC, Allan. O
Livro dos Médiuns. Questões 104, 212 ,237 a 240, 244, 250 e 329. Capítulo
XXXI, item 27.
§
KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. Questões 444, 476 e 515.
§
KARDEC, Allan. O
que é o Espiritismo. Capítulo II, item 71.
§
KARDEC, Allan. O
Evangelho segundo o Espiritismo. Capítulo XXVIII, item 81.
§
KARDEC, Allan. Revista
Espírita, Outubro de 1858.
§
KARDEC, Allan. Obras
Póstumas. Manifestação dos Espíritos, VII, item 56.
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