quinta-feira, 5 de maio de 2022

COMO ORAR[1]

 

Miramez

 

A prece torna o homem melhor?

− Sim, porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um socorro jamais recusado, quando o pedimos com sinceridade.

Como se explica que certas pessoas que oram muito sejam, apesar disso, de muito mau caráter, ciumentas, invejosas, implicantes, faltas de benevolência e de indulgência, que sejam até mesmo viciosas?

− O essencial não é orar muito, mas orar bem. Essas pessoas julgam que todo o mérito está na extensão da prece e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do tempo, mas não um estudo de si mesmas. Não é o remédio que é ineficaz, neste caso, mas a maneira de aplicá-lo.

Questão 660/O Livro dos Espíritos

 

A prece torna melhor o homem, desde que esse homem compreenda a eficácia da oração, fazendo-a no seu sentido real. As preces decoradas, onde somente a boca fala, sem que o coração participe, são vazias e não passam de sons que o verbo articula.

A tua oração deve ser sentida; sempre que puderes, entra para o teu aposento, como ensinou Jesus, e ora ao Pai que se encontra em todo lugar, com sinceridade e amor, com o sentimento de boa vontade, de modo que, ao saíres do transe da oração, passes a esforçar para deixar de lado certos defeitos que atormentam a consciência, e entres com mais rigor na disciplina de hábitos incômodos e vícios perniciosos.

Orar bem é trabalhar constantemente no autoaperfeiçoamento espiritual. Os bons Espíritos não deixam de atender a quem ora com proveito. Este abre sempre um caminho de luz em busca dos benfeitores, e os que não sabem orar devem sofrer as dificuldades para aprenderem que nada vem sem o esforço de cada ser. Se assim não fora, o esforço próprio, empenho grandioso do homem, perde o valor. O mundo espiritual faz questão de que a alma faça a parte dela, que somente ela pode fazer.

O essencial não é orar em demasia, maquinalmente, na inconsciência; é orar com sentimento de ternura, é colocar o coração para falar antes da boca. Quem não se interessa em corrigir os seus deslizes jamais aprende a orar. A prece atrai sempre luz para quem a faz, mas essa luz somente surge pelos canais da reforma, onde dominam o amor e a caridade.

Quem ora para outrem, com interesse em alguma coisa, que não seja o de cumprir o dever com Deus, está se desculpando dos seus malfeitos, querendo ganhar o céu por preces decoradas, ou dinheiro fácil com palavras que somente ele ouve.

Deves orar com amor, aquele que nada exige, que não se compra, que não se vende, que não faz mal juízo, que não pesquisa os defeitos alheios, que não espera recompensa. Se o amor é prece, e das melhores, vejamos o que o Senhor Jesus disse sobre como devemos amá-Lo:

Se me amais, guardareis os meus mandamentos.

João, 14:15

Se orar é amar, devemos orar nos moldes que Jesus ensinou: guardando os Seus mandamentos. Se desejas guardar os mandamentos de Jesus, deves trabalhar em silêncio, no teu mundo interno, no íntimo do teu coração. Desta forma, não sobrará tempo para observares os defeitos do teu próximo. É neste sentido que a prece torna o homem melhor, e tem a força de purificar a alma, de despertá-la para a luz imortal.

O remédio da oração é excelente em todos os casos, para todas as enfermidades morais, no entanto, é necessário que se saiba empregar esse medicamento divino para a cura de todos os males. A prece sincera desperta e ativa energias divinas na consciência e Deus passa a operar por seu intermédio, fazendo prodígios.

Se aprenderes a curar-te a ti mesmo, reunirás condições para libertar teus companheiros dos males que os atormentam. O exemplo é vida que faz crescer.



[1] Filosofia Espírita – Volume 13 – João Nunes Maia

Nenhum comentário:

Postar um comentário