Orson Peter Carrara
Peço ao leitor raciocinar
comigo. O texto apresenta uma argumentação que pode ser encarada como um pedido
de alguém que deseja acertar, que procura entender, que faz um esforço por ser melhor.
E mais: enquadra-se perfeitamente em nosso tempo. Tanto nos conflitos e
questionamentos interiores que todos fazemos como na realidade do cotidiano
nacional e mundial, diante dos desmandos humanos. A tradução é de Salvador
Gentile.
Acompanhe comigo. Diz o texto:
(…) Afastai também de nosso espírito o pensamento de
negar a vossa justiça, vendo a prosperidade do mau e a infelicidade que oprime,
por vezes, o homem de bem. Sabemos agora, graças às novas luzes que vos aprouve
dar-nos, que a vossa justiça se cumpre sempre e não falta a ninguém; que a
prosperidade material do mau é efêmera como a sua existência corporal, e que
terá terríveis reveses, ao passo que a alegria reservada àquele sofre com
resignação será eterna. (…).
O trecho, que é parcial dentro
de uma análise mais longa de mais de uma página, enquadra-se na realidade do
que estamos vivendo no planeta. A prosperidade desonesta desenfreada e gerada
pela ambição desmedida, em prejuízo de outros que se esforçam no trabalho e na
honestidade, com infelicidade, indignação e as vezes até revoltas com os abusos
de toda ordem.
Por outro lado, a constatação
dessas ilusões que passam com a mesma rapidez com que passa a vida. E, claro,
com as consequências advindas dos abusos e arbitrariedades praticadas com ou
sem consciência dos malefícios que espalham.
Não falamos apenas das crises
políticas que perduram. Falamos de nós mesmos, seres humanos que se permitem
abusos, ilusões, desejando a todo custo a felicidade ou a prosperidade, mesmo
que a custo do prejuízo alheio ou da infelicidade de outras pessoas, ainda que
não diretamente.
Mas, o raciocínio é claro. Que
nos afastemos do pensamento de achar que a justiça maior não age, nem é
indiferente. Existe um comando para a vida que estabeleceu leis que geram consequências
toda vez que ultrapassamos o dever de amar e respeitar a integridade alheia, em
todos os sentidos, repetimos, ainda que indiretamente.
A justiça sempre se fará
presente, senão pelos frágeis mecanismos humanos, mas perene nos tribunais da
Divina Consciência.
Referida exortação é um convite
para que não nos revoltemos com as injustiças, com os desmandos, com os abusos.
Antes que tenhamos compaixão com os que ignoram a Lei de Amor que rege os
destinos humanos. Nem duvidemos da justiça perene que comanda vida, anda que
desrespeitada. As consequências dos abusos serão sempre amargas, exigindo
reparações no tempo e no espaço.
Por isso muito mais sábio a
resignação que aguarda, que tem compaixão e ainda ora em favor daqueles que se
perdem nos equívocos.
O citado e brilhante trecho está
no capítulo XXVIII na apreciação de Kardec, em O Evangelho Segundo o
Espiritismo, e contido no contexto que estuda a “Prece Dominical”,
perfeitamente enquadrado no quesito Dai-nos o pão de cada dia. Como a
indicar que o pão de cada dia também é essa postura de resignação e confiança
na Paternidade Divina que tudo comanda, não abandona seus filhos e ainda
permite os abusos para que aprendamos finalmente a respeitar e cumprir a Lei de
Amor, mandamento máximo das leis divinas.
Dai-nos, pois, Pai, o pão da compreensão com as fraquezas,
equívocos e abusos alheios a que todos estamos sujeitos, mas também o pão da
fortaleza que alimenta para não cairmos nessas tolas e vazias ilusões do poder,
da ganância, da vaidade, da ambição.
É o pão que alimenta em todos os sentidos, perde seu sentido
figurado para ganhar em extensão de autêntico significado espiritual para o
equilíbrio de nossas vidas.
Fonte : Kardec Rio Preto
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