segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

ELVIRA MARQUESINI VAZ – Servidora do Bem[1]

 

Por Maria Helena Marcon

 

Ela nasceu em Ponta Grossa, Paraná, distante 117 quilômetros da capital. Era o ano de 1915, período da Primeira Guerra Mundial e, naquele 15 de outubro, sua chegada ao mundo foi saudada pelo pai italiano, Lúcio e a mãe alemã, Madalena.

Teve uma vida de extrema dedicação e nos dá exemplo desses Espíritos que vêm à Terra, não somente para sua própria edificação e progresso, mas para demonstrar como o Bem pode e deve ser feito, a qualquer tempo.

Sua vida física se encerrou aos oitenta anos, no dia 21 de março de 1996.

Foi esposa de Bernardo Vaz. Foi mãe, parteira, professora, enfermeira, cidadã.

Com a administração do Albergue Noturno da Federação Espírita do Paraná – FEP, sob a responsabilidade de seu pai, a partir do ano 1934, Elvira, gradativamente, foi se inteirando daquela atividade e, ao desencarnarem seus pais, a ela foi entregue a administração, prestando serviços por mais de quarenta e cinco anos como Diretora e cinco como Voluntária.

Tendo cursado Magistério e Técnica de Agente Social, correspondente ao 2º grau (atual ensino médio), paralelamente ao trabalho junto ao Albergue, lecionou português e datilografia, durante vinte e cinco anos, na Escola Profissional Maria Ruth Junqueira. Fez o Curso de Enfermagem e atendia os albergados, com verdadeiro esmero.

Criou o Ambulatório Médico do Albergue, tendo como Diretor o Dr. Saluciano Ribeiro, contando com uma equipe de mais de quinze acadêmicos sob sua coordenação.

Durante o seu trabalho no Albergue, realizou quarenta e oito partos, pois muitas vezes não havia tempo para encaminhamento aos Hospitais. Várias dessas crianças eram abandonadas pelas mães, sendo encaminhadas ao Juizado de Menores, para posterior adoção.

Elvira contribuiu para a inserção de inúmeras delas em lares adequados, poupando a dor de muitos seres. Para essa atividade, realizou um Curso de Comissária de Menores, credenciando-se para atuar junto ao encaminhamento de menores abandonados.

Era uma mulher de visão ampla, conforme depoimento do Conselheiro João de Mattos Lima, que teve a felicidade de conhecê-la e com ela desempenhar atividades na Federativa Estadual.

Segundo ele, o primeiro telefone da FEP, o mesmo número até hoje utilizado, foi uma conquista de dona Elvira. Com muita insistência, conseguiu ofício da diretoria da Federativa para ser entregue à TELEPAR, com quem já havia conversado, a fim de conseguir a linha telefônica. Vale lembrar que, à época, não era costume ser disponibilizada, gratuitamente, a instalação da linha para nenhum órgão não oficial. Mas ela o conseguiu.

Em 1969, foi eleita a Mãe Espírita pela Associação Cristã Feminina, em função de sua extrema dedicação ao trabalho junto às crianças e a adoção de algumas como se suas filhas fossem.

Em 1973, no dia 2 de outubro, foi agraciada com o Pinhão de Ouro, numa iniciativa da Associação Feminina e da Prefeitura Municipal de Curitiba. Preocupada com possível discurso que teria que fazer, pediu ao Dr. Walter do Amaral que a acompanhasse a fim de, em seu lugar, realizá-lo. Na solenidade, com representação do Setor Assistencial do Estado do Paraná, recebeu a comenda entre elogios, flores, abraços e palmas.

Conforme pedira, Dr. Walter do Amaral fez os agradecimentos, em nome dela e da Federativa.  Contudo, ela mesma, na sequência, manifestou-se verbalmente e deixou a todos boquiabertos diante das expressões simples, singelas, ditadas com amor, de que se serviu, a todos sensibilizando.

Recebeu o título de Cidadã Honorária de Curitiba e a Câmara Municipal de Curitiba lhe honrou a memória denominando uma rua, no bairro do Sítio Cercado, com seu nome (Rua Elvira Marquesini Vaz – CEP 81900-700).

Em 1974, já viúva, com duas filhas legítimas (Ana Cristina e Tânia Salete) e quatro adotadas (Mariana, Isabel, Denise e Maria Ângela), a edição de 10 de novembro do Jornal Gazeta do Povo lhe conferiu destaque, registrando seus quarenta anos de administração do Albergue Noturno, dizendo de seu expressivo trabalho votado à assistência mensal de seis mil pessoas.

E lhe reproduziu alguns depoimentos:

O Albergue Noturno foi criado em 1915, sempre com os mesmos objetivos, isto é, dar assistência aos necessitados e possivelmente encaminhá-los para o internamento hospitalar; por dia atendemos cerca de trezentas pessoas, após uma rápida entrevista para sabermos se realmente são necessitadas. A maioria vem do Interior do Estado, principalmente da Região Norte, e poucos de outros Estados.

Ao repórter, Elvira falou de algumas das dificuldades enfrentadas com a despesa que girava em torno de quinze mil cruzeiros mensais.

Também não é uma tarefa das mais fáceis, mas com auxílios de um lado e de outro, a gente consegue ir adiante. Da Secretaria do Trabalho e Assistência Social, recebemos mensalmente a quantia de seis mil cruzeiros; depois, há o grupo de associados que contribui com suas mensalidades e doações espontâneas. Por último, a participação principal, que praticamente mantém a instituição, e vem da Federação Espírita do Paraná.

Em outubro de 1995, por seus cinquenta anos de trabalho no Albergue Noturno, a Federação Espírita do Paraná lhe rendeu homenagem, que o Jornal Folha de Londrina registrou, em sua edição do dia 19, assinalando que ela foi responsável, também, ao longo de tantos anos, por vários casamentos. Nas palavras dela: Eu levava os casais no cartório e fui madrinha de muitos deles.

Foi uma mulher abnegada e de um sentimento de fraternidade imensurável. Sua bondade era percebida em cada gesto. Abdicou de uma série de situações supérfluas em benefício das pessoas carentes e necessitadas.

 

 

Fontes:

Jornal Gazeta do Povo, de 10.11.1974.

Jornal Folha de Londrina, de 19.10.1995.

Jornal Mundo Espírita de outubro de 2006, ano LXXIV, número 1487.

Depoimentos escritos e orais de Ana Cristina (filha) e de João Mattos Lima.

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