Por Maria Helena Marcon
Ela nasceu em Ponta Grossa,
Paraná, distante 117 quilômetros da capital. Era o ano de 1915, período da
Primeira Guerra Mundial e, naquele 15 de outubro, sua chegada ao mundo foi
saudada pelo pai italiano, Lúcio e a mãe alemã, Madalena.
Teve uma vida de extrema
dedicação e nos dá exemplo desses Espíritos que vêm à Terra, não somente para
sua própria edificação e progresso, mas para demonstrar como o Bem pode e deve
ser feito, a qualquer tempo.
Sua vida física se encerrou aos
oitenta anos, no dia 21 de março de 1996.
Foi esposa de Bernardo Vaz. Foi
mãe, parteira, professora, enfermeira, cidadã.
Com a administração do Albergue
Noturno da Federação Espírita do Paraná – FEP, sob a responsabilidade de seu
pai, a partir do ano 1934, Elvira, gradativamente, foi se inteirando daquela
atividade e, ao desencarnarem seus pais, a ela foi entregue a administração,
prestando serviços por mais de quarenta e cinco anos como Diretora e cinco como
Voluntária.
Tendo cursado Magistério e
Técnica de Agente Social, correspondente ao 2º grau (atual ensino médio),
paralelamente ao trabalho junto ao Albergue, lecionou português e datilografia,
durante vinte e cinco anos, na Escola Profissional Maria Ruth Junqueira. Fez o
Curso de Enfermagem e atendia os albergados, com verdadeiro esmero.
Criou o Ambulatório Médico do
Albergue, tendo como Diretor o Dr. Saluciano Ribeiro, contando com uma equipe
de mais de quinze acadêmicos sob sua coordenação.
Durante o seu trabalho no
Albergue, realizou quarenta e oito partos, pois muitas vezes não havia tempo
para encaminhamento aos Hospitais. Várias dessas crianças eram abandonadas
pelas mães, sendo encaminhadas ao Juizado de Menores, para posterior adoção.
Elvira contribuiu para a
inserção de inúmeras delas em lares adequados, poupando a dor de muitos seres.
Para essa atividade, realizou um Curso de Comissária de Menores,
credenciando-se para atuar junto ao encaminhamento de menores abandonados.
Era uma mulher de visão ampla,
conforme depoimento do Conselheiro João de Mattos Lima, que teve a felicidade
de conhecê-la e com ela desempenhar atividades na Federativa Estadual.
Segundo ele, o primeiro telefone
da FEP, o mesmo número até hoje utilizado, foi uma conquista de dona Elvira.
Com muita insistência, conseguiu ofício da diretoria da Federativa para ser
entregue à TELEPAR, com quem já havia conversado, a fim de conseguir a linha
telefônica. Vale lembrar que, à época, não era costume ser disponibilizada,
gratuitamente, a instalação da linha para nenhum órgão não oficial. Mas ela o
conseguiu.
Em 1969, foi eleita a Mãe
Espírita pela Associação Cristã Feminina, em função de sua extrema dedicação ao
trabalho junto às crianças e a adoção de algumas como se suas filhas fossem.
Em 1973, no dia 2 de outubro,
foi agraciada com o Pinhão de Ouro, numa iniciativa da Associação Feminina e da
Prefeitura Municipal de Curitiba. Preocupada com possível discurso que teria
que fazer, pediu ao Dr. Walter do Amaral que a acompanhasse a fim de, em seu
lugar, realizá-lo. Na solenidade, com representação do Setor Assistencial do
Estado do Paraná, recebeu a comenda entre elogios, flores, abraços e palmas.
Conforme pedira, Dr. Walter do
Amaral fez os agradecimentos, em nome dela e da Federativa. Contudo, ela mesma, na sequência,
manifestou-se verbalmente e deixou a todos boquiabertos diante das expressões
simples, singelas, ditadas com amor, de que se serviu, a todos sensibilizando.
Recebeu o título de Cidadã
Honorária de Curitiba e a Câmara Municipal de Curitiba lhe honrou a memória
denominando uma rua, no bairro do Sítio Cercado, com seu nome (Rua Elvira
Marquesini Vaz – CEP 81900-700).
Em 1974, já viúva, com duas
filhas legítimas (Ana Cristina e Tânia Salete) e quatro adotadas (Mariana,
Isabel, Denise e Maria Ângela), a edição de 10 de novembro do Jornal Gazeta do
Povo lhe conferiu destaque, registrando seus quarenta anos de administração do
Albergue Noturno, dizendo de seu expressivo trabalho votado à assistência
mensal de seis mil pessoas.
E lhe reproduziu alguns
depoimentos:
O Albergue Noturno
foi criado em 1915, sempre com os mesmos objetivos, isto é, dar assistência aos
necessitados e possivelmente encaminhá-los para o internamento hospitalar; por
dia atendemos cerca de trezentas pessoas, após uma rápida entrevista para
sabermos se realmente são necessitadas. A maioria vem do Interior do Estado,
principalmente da Região Norte, e poucos de outros Estados.
Ao repórter, Elvira falou de
algumas das dificuldades enfrentadas com a despesa que girava em torno de
quinze mil cruzeiros mensais.
Também não é uma tarefa das mais
fáceis, mas com auxílios de um lado e de outro, a gente consegue ir adiante. Da
Secretaria do Trabalho e Assistência Social, recebemos mensalmente a quantia de
seis mil cruzeiros; depois, há o grupo de associados que contribui com suas
mensalidades e doações espontâneas. Por último, a participação principal, que
praticamente mantém a instituição, e vem da Federação Espírita do Paraná.
Em outubro de 1995, por seus
cinquenta anos de trabalho no Albergue Noturno, a Federação Espírita do Paraná
lhe rendeu homenagem, que o Jornal Folha de Londrina registrou, em sua edição
do dia 19, assinalando que ela foi responsável, também, ao longo de tantos
anos, por vários casamentos. Nas palavras dela: Eu levava os casais no cartório
e fui madrinha de muitos deles.
Foi uma mulher abnegada e de um
sentimento de fraternidade imensurável. Sua bondade era percebida em cada
gesto. Abdicou de uma série de situações supérfluas em benefício das pessoas
carentes e necessitadas.
Fontes:
Jornal Gazeta do Povo, de
10.11.1974.
Jornal Folha de Londrina,
de 19.10.1995.
Jornal Mundo Espírita de
outubro de 2006, ano LXXIV, número 1487.
Depoimentos escritos e orais
de Ana Cristina (filha) e de João Mattos Lima.
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