terça-feira, 12 de outubro de 2021

O GÊNIO[1]

 

Allan Kardec

 

(Douai, 13 de março de 1867 – Médium: Sra. M...)

 

– O gênio é conferido a cada Espírito conforme a sua conquista, ou segundo uma lei divina, em relação com as necessidades de um povo ou da Humanidade?

O gênio, caros filhos, é a irradiação das conquistas anteriores. Essa irradiação é o estado do Espírito no desprendimento ou nas encarnações superiores: há, pois, duas distinções a fazer. O gênio mais comum entre vós é simplesmente o estado de um Espírito, do qual uma ou duas faculdades ficaram desvendadas e em estado de agir livremente; recebeu um corpo que permite sua expansão na plenitude adquirida. A outra espécie de gênio é o Espírito que vem dos mundos felizes e adiantados, onde a aquisição é universal sobre todos os pontos; aonde todas as faculdades da alma chegaram a um grau eminente, desconhecido na Terra. Estas espécies de gênio se distinguem dos primeiros por uma aptidão excepcional para todos os talentos, para todos os estudos.

Concebem todas as coisas por uma intuição segura, e que confunde a ciência ensinada pelos mais sábios. Distinguem-se em bondade, em grandeza de alma, em verdadeira nobreza, em obras excelentes.

São faróis, iniciadores, exemplos. São homens de outras terras, vindos para fazer resplandecer a luz do alto num mundo obscuro, assim como se enviam entre os bárbaros, para instruí-los, alguns sábios de uma capital civilizada. Tais foram entre vós os homens que, em diversas épocas, fizeram avançar a Humanidade, os sábios que alargaram os limites dos conhecimentos e dissiparam as trevas da ignorância. Vieram e pressentiram o destino terrestre, por mais longe que estivessem da realização deste destino. Todos lançaram os fundamentos de alguma ciência, ou foram o seu ponto culminante.

O gênio não é, pois, gratuito e não está subordinado a uma lei; sai do próprio homem e de seus antecedentes. Refleti que os antecedentes são todo o homem. O criminoso o é por seus antecedentes; o homem de mérito, o homem de gênio é superior pela mesma causa. Nem tudo é velado na encarnação a ponto de nada transparecer de nosso ser anterior. A inteligência e a bondade são luzes muito vivas, focos muito ardentes para que a vida terrena os reduza à obscuridade.

As provas a sofrer bem podem velar, atenuar algumas de nossas faculdades, adormecê-las, mas se tiverem chegado a um alto grau, o Espírito não pode perder inteiramente a sua posse e exercício; tem em si a segurança de que os mantém sempre à sua disposição; muitas vezes mesmo não pode consentir em delas se privar. Eis o que causa as vidas tão dolorosas de certos homens adiantados, que preferiam sofrer por suas altas faculdades a deixar que estas se apagassem por algum tempo.

Sim, todos nós somos pela esperança, e alguns pela lembrança, cidadãos dessas altas esferas celestes, onde o pensamento irradia puro e poderoso. Sim, todos seremos Platões, Aristóteles, Erasmos; nosso Espírito não verá mais empalidecer suas aquisições sob o peso da vida do corpo, ou extinguir-se sob o peso da velhice e das enfermidades.

Amigos, eis verdadeiramente a mais sublime esperança.

Que são junto de tudo isto as dignidades e os tesouros que se punham aos pés destes homens! Os soberanos mendigavam suas obras, disputavam a sua presença.

 

– Credes que essas vãs honrarias os lisonjeavam?

‒ Não; a lembrança de sua gloriosa pátria era muito viva. Eles voltaram felizes sobre o raio de sua glória, aos mundos que seus Espíritos desejavam incessantemente.

Terra! Terra! Região fria, obscura, agitada; terra cega, ingrata e rebelde! Não lhes podias fazer esquecer a pátria celeste onde viveram, onde voltariam a viver.

Adeus, amigos! Ficai certos de que todo homem de bem se tornará cidadão desses mundos felizes, dessas Jerusaléns esplêndidas, onde o Espírito vive livre num corpo etéreo, possuindo sem nuvens e sem véus todas as suas conquistas. Então, conhecereis tudo quanto aspirais conhecer, compreendereis tudo quanto procurais compreender, mesmo o meu nome, caro médium, que não te quero dizer.

 

Um Espírito



[1] Revista Espírita – Maio/1867 – Allan Kardec

Nenhum comentário:

Postar um comentário