Fernando Rossit
A falsa resignação (aceitar
passivamente tudo o que acontece) e a fé cega (sem lógica e bom senso)
praticadas por muitos seguidores do Espiritismo, associadas a pouco
conhecimento Doutrinário, têm favorecido interpretações completamente
equivocadas a respeito da Lei de causa e efeito.
Para esses, o que tiver que
acontecer vai acontecer, queiramos ou não, pois tudo está programado. Dessa
forma, não há nada o que se fazer para impedir.
Assistindo a uma palestra, há
poucas semanas, ouvimos de um orador espírita, logo na abertura:
Ninguém tem culpa
pela morte de, aproximadamente, 600 mil pessoas por COVID-19 no Brasil. Tudo já
estava planejado pela espiritualidade. Ninguém morre antes da hora. Trata-se da
Lei de causa e efeito.
Bem, seguindo essa mesma
“lógica”, poderíamos dizer também que nada poderia ser feito com relação à
morte de 6 milhões de judeus pelos nazistas na segunda guerra mundial, pois
estava tudo programado.
Na semana seguinte, um outro
orador espírita, arrematou:
As pessoas que estão
com mau comportamento na atual existência não serão perdoadas e estão morrendo
com a contaminação. Muitos estão sendo levados para planetas inferiores ao
nosso.
Não os responsabilizo, total e
pessoalmente, por essa interpretação completamente equivocada a respeito da
pandemia, da Lei de causa e efeito e da justiça divina – “justiça” essa que
pune com a morte pessoas viciosas.
Existem dezenas de médiuns
renomados nas redes sociais falando bobagens, expressando opiniões pessoais em
discordância com os postulados espíritas. São vídeos e psicografias apócrifas,
mistificadoras com relação à autoria espiritual ou com relação à própria e duvidosa
produção mediúnica.
No Youtube encontramos uma
enxurrada de vídeos e mensagens de péssima qualidade com milhões de
visualizações e likes.
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, nos adverte
inúmeras vezes a respeito dessas mensagens, e nos ensina que não importa o
médium que serviu de intermediário nem, tampouco, o espírito que assinou a
mensagem. O que importa é seu conteúdo.
Alguém aqui já ouviu falar de
Allan Kardec? Pois bem, o Codificador da Doutrina Espírita foi colocado num
papel de coadjuvante no movimento espírita. Poucos estudam Kardec.
Atualmente mais vale a opinião
de um médium famoso que os princípios doutrinários. Não se analisa
criteriosamente suas falas e as psicografias por ele produzidas.
Há 40 anos, quando ainda
frequentava a mocidade espírita, o coral da juventude cantava, em eventos, uma
música que tinha o seguinte refrão: “está faltando Kardec, está faltando
Kardec”.
Como vemos, a história é antiga.
Deu no que deu!
Com relação às mortes por
COVID-19 e falas dos palestrantes, acima mencionadas, podemos asseverar à luz
da Doutrina Espírita:
1- Deus não pune, portanto ninguém é castigado;
2- Espíritos evoluídos e responsáveis pelas reencarnações
humanas não programam mortes violentas, assassinatos, miséria, fome, estupros e
outros, para resgates de espíritos devedores reencarnados na Terra. O meio (a
sociedade terrena) favorece o surgimento dessas ocorrências que acabam por
alcançar os espíritos devedores, mas que fique claro: o mal é produção humana,
não Divina.
3- A morte não é um “castigo” para as pessoas: é a
libertação.
Fénelon, Espírito[2],
apresentou uma breve dissertação sobre um ditado comum usado pelas pessoas
quando um homem mal escapa de um perigo.
Fénelon comenta que a lógica é
simples:
“Sucede dar Deus a
um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do que a um bom
que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter tão curta quanto
possível a sua provação”.
Sim, para o Espiritismo, a vida
espiritual é a verdadeira vida da alma, e a vida material é uma oportunidade de
provação e aprendizado.
Assim, se a vida de um amigo,
familiar ou ente querido foi “tomada” pela COVID-19 ou qualquer outra doença
fatal, embora nos solidarizamos ante a tristeza que se faz presente junto aos
familiares, considere que sucedeu a Deus tê-lo agraciado com o retorno ao mundo
espiritual.
Sobre nós outros, que
conseguimos manter o isolamento e evitamos o contágio, ou que nos recuperamos
da COVID-19 ou de qualquer outra doença grave, a dissertação de Fénelon
convida-nos à reflexão de que a nossa estadia no mundo representa “prova mais
longa” para aprendizado moral e intelectual de que ainda necessitamos, pois,
afinal, se já fôssemos homens de bem, é bem provável que já tivéssemos
morrido...[3]
Acrescenta Fénelon que a vida
aqui na Terra é parecida com uma prisão. Quem cumpriu a pena pode ser
libertado. Quem ainda tem pena para pagar, continua reencarnado.
Perceberam que é justamente o
contrário daquilo que estamos vendo e ouvindo nas redes sociais e tribunas
espíritas, em nome do Espiritismo?
Vamos estudar Kardec?
Fonte: Kardec Rio Preto
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