sexta-feira, 15 de outubro de 2021

MORTE POR COVID-19: SÓ PRA QUEM MERECE![1]

 

Fernando Rossit

 

A falsa resignação (aceitar passivamente tudo o que acontece) e a fé cega (sem lógica e bom senso) praticadas por muitos seguidores do Espiritismo, associadas a pouco conhecimento Doutrinário, têm favorecido interpretações completamente equivocadas a respeito da Lei de causa e efeito.

Para esses, o que tiver que acontecer vai acontecer, queiramos ou não, pois tudo está programado. Dessa forma, não há nada o que se fazer para impedir.

Assistindo a uma palestra, há poucas semanas, ouvimos de um orador espírita, logo na abertura:

Ninguém tem culpa pela morte de, aproximadamente, 600 mil pessoas por COVID-19 no Brasil. Tudo já estava planejado pela espiritualidade. Ninguém morre antes da hora. Trata-se da Lei de causa e efeito.

Bem, seguindo essa mesma “lógica”, poderíamos dizer também que nada poderia ser feito com relação à morte de 6 milhões de judeus pelos nazistas na segunda guerra mundial, pois estava tudo programado.

Na semana seguinte, um outro orador espírita, arrematou:

As pessoas que estão com mau comportamento na atual existência não serão perdoadas e estão morrendo com a contaminação. Muitos estão sendo levados para planetas inferiores ao nosso.

Não os responsabilizo, total e pessoalmente, por essa interpretação completamente equivocada a respeito da pandemia, da Lei de causa e efeito e da justiça divina – “justiça” essa que pune com a morte pessoas viciosas.

Existem dezenas de médiuns renomados nas redes sociais falando bobagens, expressando opiniões pessoais em discordância com os postulados espíritas. São vídeos e psicografias apócrifas, mistificadoras com relação à autoria espiritual ou com relação à própria e duvidosa produção mediúnica.

No Youtube encontramos uma enxurrada de vídeos e mensagens de péssima qualidade com milhões de visualizações e likes.

Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, nos adverte inúmeras vezes a respeito dessas mensagens, e nos ensina que não importa o médium que serviu de intermediário nem, tampouco, o espírito que assinou a mensagem. O que importa é seu conteúdo.

Alguém aqui já ouviu falar de Allan Kardec? Pois bem, o Codificador da Doutrina Espírita foi colocado num papel de coadjuvante no movimento espírita. Poucos estudam Kardec.

Atualmente mais vale a opinião de um médium famoso que os princípios doutrinários. Não se analisa criteriosamente suas falas e as psicografias por ele produzidas.

Há 40 anos, quando ainda frequentava a mocidade espírita, o coral da juventude cantava, em eventos, uma música que tinha o seguinte refrão: “está faltando Kardec, está faltando Kardec”.

Como vemos, a história é antiga. Deu no que deu!

Com relação às mortes por COVID-19 e falas dos palestrantes, acima mencionadas, podemos asseverar à luz da Doutrina Espírita:

1- Deus não pune, portanto ninguém é castigado;

2- Espíritos evoluídos e responsáveis pelas reencarnações humanas não programam mortes violentas, assassinatos, miséria, fome, estupros e outros, para resgates de espíritos devedores reencarnados na Terra. O meio (a sociedade terrena) favorece o surgimento dessas ocorrências que acabam por alcançar os espíritos devedores, mas que fique claro: o mal é produção humana, não Divina.

3- A morte não é um “castigo” para as pessoas: é a libertação.

 

Fénelon, Espírito[2], apresentou uma breve dissertação sobre um ditado comum usado pelas pessoas quando um homem mal escapa de um perigo.

Fénelon comenta que a lógica é simples:

“Sucede dar Deus a um Espírito de progresso ainda incipiente prova mais longa, do que a um bom que, por prêmio do seu mérito, receberá a graça de ter tão curta quanto possível a sua provação”.

Sim, para o Espiritismo, a vida espiritual é a verdadeira vida da alma, e a vida material é uma oportunidade de provação e aprendizado.

Assim, se a vida de um amigo, familiar ou ente querido foi “tomada” pela COVID-19 ou qualquer outra doença fatal, embora nos solidarizamos ante a tristeza que se faz presente junto aos familiares, considere que sucedeu a Deus tê-lo agraciado com o retorno ao mundo espiritual.

Sobre nós outros, que conseguimos manter o isolamento e evitamos o contágio, ou que nos recuperamos da COVID-19 ou de qualquer outra doença grave, a dissertação de Fénelon convida-nos à reflexão de que a nossa estadia no mundo representa “prova mais longa” para aprendizado moral e intelectual de que ainda necessitamos, pois, afinal, se já fôssemos homens de bem, é bem provável que já tivéssemos morrido...[3]

Acrescenta Fénelon que a vida aqui na Terra é parecida com uma prisão. Quem cumpriu a pena pode ser libertado. Quem ainda tem pena para pagar, continua reencarnado.

Perceberam que é justamente o contrário daquilo que estamos vendo e ouvindo nas redes sociais e tribunas espíritas, em nome do Espiritismo?

Vamos estudar Kardec?

 

 

Fonte: Kardec Rio Preto



[2] Item 22 do cap. V do Evangelho Segundo o Espiritismo.

[3] Alexandre Fontes da Fonseca – espiritualidades.com.br

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