Giovana Maldini[2]
Até quando essa emoção pode ser considerada natural e saudável?
Entenda o medo, seus sinais e quando é necessário procurar um
especialista
A pandemia causada pela covid-19
colocou toda a população mundial em alerta. A iminência de contágio por uma
doença desconhecida fez com que os indivíduos se sentissem receosos com o
incerto e as consequências futuras que trará para suas vidas. Esse medo,
provocado pela situação estressante, é normal e saudável, segundo os
especialistas, desde que não seja excessivo.
“No contexto atual, o perigo é
invisível e, por também ser desconhecido, os indivíduos não estão preparados
para lidar com ele, já que, na nossa cultura, não há disponível um repertório
transmitido simbolicamente para enfrentá-lo”, comenta o professor do
Departamento de Psicologia da UFMG, Gilson Iannini.
O professor também aponta o
atual perigo iminente da morte como fator causador do medo. “Sempre denegamos a
morte, pois, no nosso inconsciente, somos imortais. Pensar sobre a própria
morte pode ser muito difícil e insuportável. Neste momento, estamos diante
dela. Por isso, é impossível não pensar sobre”, complementa.
É a diferença deste período em
relação as outras situações já vivenciadas que o torna um fator estressante,
capaz de desencadear reações emocionais e efeitos físicos no corpo. Então como
o medo atua nesse caso? Segundo Maila, é necessário entender que, por advertir
sobre uma potencial ameaça, o medo é considerado evolutivamente benéfico. É um
mecanismo de proteção que prepara o corpo para ação ou fuga diante de perigos.
De acordo com Maila de Castro[3],
“esse momento histórico é ímpar. Outras pandemias já existiram, mas nenhuma com
essa característica da globalização, de compartilhamento de informações
instantâneas e de como as pessoas mantêm seus relacionamentos sociais
atualmente. É também um período extremamente delicado. Estamos vivendo um momento
de vulnerabilidade das nossas emoções”.
Reconheça os efeitos
do medo
Alguns medos são inespecíficos
ou inconscientes, assim os sinais de alerta são variáveis. Mas é possível
apontar alguns sintomas: tais como:
o
Paralisia
o
Respiração ofegante
o
Tremores
o
Pelos arrepiados
o
Taquicardia
o
Aumento da pressão sanguínea
o
Pupilas dilatadas
o
Sudorese
o
Falta de ar
No caso de uma pandemia, além
das manifestações físicas, o medo é capaz de aumentar os níveis de ansiedade e
estresse em indivíduos saudáveis ou de intensificar os sintomas daqueles com
transtornos psiquiátricos pré-existentes, como relata um artigo da Revista Brasileira de Psiquiatria.
Então há perigo no
medo?
Mesmo que funcione como um
alerta para o perigo próximo e que leve o corpo a agir, o medo pode ser experimentado
como uma reação mais intensa e desequilibrar emocionalmente o indivíduo. “Isso
dificulta o entendimento do momento e altera a capacidade de atenção,
entendimento e racionalização. Pode também produzir sofrimento além do
suportável, trazendo sensação de insegurança, dúvida, impaciência e
irritabilidade”, discorre Helian.
Cada indivíduo reage de maneira
singular a essa emoção. Alguns podem ficar ansiosos, angustiados, irritados ou
agressivos. O professor lembra que o medo também pode abalar as relações
familiares, afetar a qualidade do sono, o apetite, repercutir no ânimo e
vontade dos indivíduos e desencadear problemas de saúde, como depressão e
pânico, e em casos mais graves, as tentativas de autoextermínio.
Sobre a ansiedade, o professor
Gilson Iannini diz que pode ser vista como uma reação de medo que foi
manifestada cedo demais e/ou diante de um perigo imaginário. Isso acontece
porque a resposta para o medo também pode ser disparada na ausência de perigo
real e muito antes ou depois dele.
“Nosso aparelho psíquico nem
sempre sabe reconhecer um perigo real ou imaginário. Isso não é um problema
apenas de natureza cognitiva, como se não pudéssemos processar corretamente uma
informação. Estão envolvidos aspectos afetivos singulares, além de processos
inconscientes e reações atávicas (hereditárias)”, explica Gilson.
Ele ainda informa que o aparelho
psíquico também pode falhar em reconhecer perigos externos e internos, como com
a angústia, que pode ser vista como um tipo de medo disparado mesmo na ausência
de um perigo externo. “É como um impulso interno inconsciente que nos incomoda
ou que não reconhecemos como nosso ou que não sabemos direito o que é”.
De acordo com Helian Nunes[4],
algumas pessoas podem achar que o medo é uma fraqueza, um problema da inteligência
ou até religioso. Elas ignoram que o medo é uma reação normal, mas que pode se
intensificar e prejudicar o indivíduo. Por isso, merece atenção e cuidado.
Como lidar?
Nem sempre é fácil equilibrar as
emoções. Mas, até durante o isolamento social, manter a rotina e adotar alguns
hábitos são formas benéficas para enfrentar o medo e suas consequências ou
distrair a mente de preocupações excessivas.
Recursos para líder com o medo
durante o isolamento social:
o
Práticas de meditação e yoga (há vídeos na
internet ou aplicativos)
o
Oração de qualquer religião
o
Exercícios físicos e dança em casa
o
Atividades artísticas (pintar, escrever, cantar
etc.)
o
Atividades laborais (trabalhos manuais ou
intelectuais)
o
Cozinhar
o
Costurar
o
Cuidar de si e dos outros
o
Cuidar da casa
o
Retomar hábitos antigos
o
Escrever posts, diário, poemas
o
Conversar com familiares e amigos
o
Evitar bebidas estimulantes (café, guaraná e chá
preto)
o
Evitar uso excessivo de mídias sociais
o
Delimitar uma rotina
o
Brincar com as crianças
“Retomar velhos hábitos
esquecidos também pode ser benéfico. Aquele violão que você não toca há anos ou
aquela aula de inglês que desistiu… talvez seja a hora de retomar. Aquele amigo
que você não fala há muito tempo. Inclusive, falar é importante, seja conversar
com alguém ou escrever alguma coisa (um diário, um poema, um post). Além disso,
anotar e compartilhar os sonhos também é positivo”, sugere o professor Gilson
No caso das crianças, a melhor
forma de lidar com seus medos, principalmente relacionado à pandemia, é conversar
sobre o que está acontecendo. “A conversa precisa ser adaptada para cada idade,
sempre sinalizando sentimentos de positividade e de esperança. É necessário,
também, ouvir o que elas estão sentindo e pensando, fazer com que elas consigam
ressignificar esse momento”, observa Maila.
Gilson Iannini acrescenta que,
dependendo da idade, a criança se expressa melhor desenhando. Além da conversa,
a família pode pedir que ela desenhe o que está lhe causando medo e, a partir
disso, conversar.
Para auxiliar nesse momento de
diálogo, a família também pode utilizar alguns materiais infantis sobre o
coronavírus. Dentre eles, o livro
infantil da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o livreto desenvolvido por professores do Departamento de Pediatria
da Faculdade de Medicina da UFMG.
Nenhum comentário:
Postar um comentário