Daniela Migliari - 04.07.2021
“Já vivemos muitas
vezes. Estamos com as pessoas certas para ajustarmos os nossos corações e solucionarmos
os nossos problemas. Na reencarnação, ninguém erra de endereço”.
A frase de Francisco Cândido
Xavier contém o mapa para acessar o tesouro de nossa evolução. É no recanto do
lar que repousa nossa maior missão. Salvo alguns irmãos de caminhada, cuja
tarefa espiritual já se vê ampliada para o serviço junto à família humana, a
imensa maioria de nós encontra, na consanguinidade, sua maior e mais importante
escola.
Em “Jesus no Lar”, de Néio
Lúcio, com psicografia de Chico Xavier, o próprio Cristo nos convoca – logo no
primeiro texto do livro – a internalizar essa verdade que, de tão próxima,
chega a ser óbvia:
“A paz do mundo
começa sob as telhas a que nos acolhemos. Se não aprendemos a viver em paz,
entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações? Se não nos
habituamos a amar o irmão mais próximo, associado à nossa luta de cada dia,
como respeitar o Eterno Pai que nos parece distante”?
O assunto é incômodo para todos
aqueles que escolheram no serviço abnegado e na prática da caridade, o seu leme
de navegação. São tantas e inúmeras as tarefas nos centros e igrejas, que as
pessoas saem de suas casas cedo e retornam tarde, deixando esposos entregues à
solidão, filhos sentindo-se abandonados.
O trabalho em sociedade é
fundamental, escola maravilhosa, a ser vivida sim, mas, antes de tudo, com
lúcido equilíbrio, para que não se transforme num instrumento de fuga do
compromisso no lar. Esse alerta no auxilia a lembrar sempre que a caridade mais
urgente às nossas almas é a caridade moral a ser praticada com todos, mas
especialmente, com o nosso próximo mais próximo.
A advertência não tem o intuito
de julgar ou rotular os trabalhadores incansáveis que desenvolvem suas tarefas
com amor. Mas trazer à tona uma reflexão para descobrir se os nossos desafios
domésticos estão recebendo a mesma entrega e dedicação que oferecemos nas
esferas fora de casa.
Muitas vezes, deixamos de abrir
os olhos e perceber que o local que mais necessita de nossa atenção e serviço
espiritual está ao lado, bem junto de nós: maridos, esposas, filhos, pais,
irmãos.
Em minha experiência pessoal, no
afã da descoberta da doutrina bendita e da mediunidade abençoada, dei início a
um profundo mergulho nos estudos. Ouvindo palestras a todo instante,
maravilhada, inebriada de luz! Quanta paz, quanta benção… Porém, acabava por me
isolar no exagero, e isso causa desequilíbrios familiares.
Por outro lado, percebo que a
atuação em conjunto, no Evangelho no Lar, nas idas às aulas de evangelização,
nas visitas a orfanatos com todos reunidos, a família vai ficando mais forte e
unida. Aos poucos, o equilíbrio vai chegando, e os trabalhos que realizo
sozinha foram restringindo-se a horários em que minha ausência não prejudica o
núcleo.
Esse cuidado de harmonização
trouxe mais felicidade e paz para todos. E mais tempo com aqueles que são os
instrumentos do mais profundo serviço, ao qual a vida nos convida a todo
instante. O trabalho nas casas de estudo espiritual serve de combustível para
que o amor se amplie nas relações familiares. Isso acontece, por exemplo,
quando buscamos nos inspirar na postura de um sábio dialogador para conseguir
orientar uma criança com paciência e amor incondicional.
Cônjuges e filhos não precisam
de uma médium em casa, nem de um palestrante ou evangelizador, ainda que reconheçam
o quanto essas práticas trazem um bem imenso às nossas vidas. Eles precisam,
antes de mais nada, de esposas, maridos, filhos e pais que encontram no terreno
do lar, o arado perfeito para colocar em ação o plantio do amor e da coerência
com seus ideais espirituais.
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