Allan Kardec
Extraído do Banner of Light, de Boston
(Análise de uma comunicação de Abraão Lincoln por um
médium de Ravenswood)
Quando Lincoln voltou de seu atordoamento
e despertou no mundo dos Espíritos, ficou muito surpreendido e perturbado,
porque não fazia a menor ideia de que estivesse morto.
O golpe que o feriu suspendeu
instantaneamente toda sensação, e ele não compreendeu o que lhe havia
acontecido. Esta confusão e esta perturbação, contudo, não duraram muito. Ele
era bastante espiritualista para compreender o que é a morte e, como muitos
outros, não ficou admirado da nova existência para a qual fora transportado.
Viu-se cercado por muitas pessoas, que sabia mortas há bastante tempo, e logo
soube a causa de sua morte. Foi recebido cordialmente por muita gente por quem
tinha simpatia.
Compreendeu sua afeição por ele
e, num olhar, pôde abarcar o mundo ditoso no qual havia entrado.
No mesmo instante
experimentou um sentimento de angústia pela dor por que devia passar sua
família, e uma grande ansiedade a propósito das consequências que sua morte
poderia acarretar ao país. Esses pensamentos o trouxeram violentamente à Terra.
Tendo sabido que John
Wilkes Booth estava mortalmente ferido, veio a ele e curvou-se sobre seu leito
de morte. Nesse momento, Lincoln tinha recobrado a perfeita consciência e a
tranquilidade de seu Espírito, e esperou com calma o despertar de Booth para a
vida espiritual.
Booth não ficou
espantado ao despertar, porque esperava a morte. O primeiro Espírito que
encontrou foi Lincoln; olhou-o com muita petulância, como se se glorificasse do
ato que havia cometido. O sentimento de Lincoln a seu respeito, entretanto, não
respirava nenhuma ideia de vingança, muito ao contrário; este se mostrou suave
e bom e sem a mais leve animosidade. Booth não pôde suportar este estado de
coisas, e o deixou cheio de emoção.
O ato que ele
cometeu teve vários motivos; primeiro, sua falta de raciocínio, que o fazia
considerar esse ato como meritório e, depois, seu amor desregrado aos louvores
que o tinham convencido de que seria cumulado de elogios e olhado como um
mártir.
Depois de ter
vagado, sentiu-se de novo atraído para Lincoln. Às vezes enchia-se de arrependimento,
outras vezes seu orgulho o impedia de emendar-se. Entretanto compreendia quanto
seu orgulho era vão, sabendo sobretudo que não podia esconder, como em vida,
nenhum dos sentimentos que o agitavam, e que seus pensamentos de orgulho, de
vergonha ou de remorso são conhecidos dos que o cercam. Sempre em presença de
sua vítima, e dela não recebendo senão marcas de bondade, eis o seu estado
atual e a sua punição. Quanto a Lincoln, sua felicidade ultrapassa o que
poderia ter esperado.
Observação – A
situação desses dois Espíritos é, em todos os pontos, conforme àquela que
diariamente vemos exemplos nos relatos de além-túmulo. Ela é perfeitamente
racional e em relação com o caráter dos dois indivíduos.
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