quinta-feira, 29 de abril de 2021

GRADATIVIDADE[1]

 

Miramez

 

Por uma conduta perfeita podemos vencer já nesta vida todos os graus e tornar-nos Espírito puro, sem passar pelos intermediários?

‒ Não, pois o que o homem julga perfeito está longe da perfeição: há qualidades que ele desconhece e nem pode compreender. Pode ser tão perfeito quanto a sua natureza eterna o permita, mas esta não é a perfeição absoluta. Da mesma maneira que uma criança, por mais precoce que seja, deve passar pela juventude, antes de chegar à maturidade, e um doente deve passar pela convalescença, antes de recuperar a saúde. Além disso, o Espírito deve adiantar-se em conhecimento e moralidade, e se ele não progrediu senão num sentido, é necessário que o faça no outro, para chegar ao alto da escala. Entretanto, quanto mais o homem se adianta na vida presente, menos longas e penosas serão as provas seguintes.

a. O homem pode assegurar-se nesta vida uma existência futura menos cheia de amarguras?

‒ Sim, sem dúvida, pode abreviar o caminho e reduzir as dificuldades. Somente o desleixado fica sempre no mesmo ponto.

Questão 192/O Livro dos Espíritos

 

Existem os degraus, como sendo escala de ascensão, para todos os Espíritos no universo de Deus. Ninguém pode, e a razão não ensina o contrário, em somente uma existência, aperfeiçoar-se em todos os rumos. São necessários milhares e milhares delas, com acertos e desacertos, aprendendo e colhendo experiências para o grande celeiro da vida.

Em uma só encarnação, a alma não tem condições de alcançar a perfeição. Seria um contrassenso, uns passarem por caminhos tortuosos, sofrendo e disciplinando-se, e outros tomarem uma evolução reta e com poucos anos atingirem a angelitude. A evolução, ou o despertamento do Espírito, se processa de letra a letra, de passo a passo, de reencarnação a reencarnação.

Não haveria mérito algum para o Espírito se Deus já o fizesse em seu completo despertamento espiritual. Certamente que ele nos fez simples e ignorantes, contudo, os valores que carregamos desde a nossa formação se encontram em estado de sono, uns mais e outros menos, de acordo com a evolução de cada um. O Espírito mais velho, logicamente, tem mais experiência do que o mais novo, mas, todos têm as mesmas oportunidades de ascender para o infinito. A casa do Pai é grandiosa, e acolhe todos os filhos, dando a cada qual o que ele merece na pauta do seu despertamento espiritual.

O estudante da Doutrina dos Espíritos deve orar, meditar nas leis espirituais que, gradativamente, vão trazendo ao seu conhecimento os segredos da vida, e quando passa a conhecê-los, a liberdade vai chegando em seu coração.

Na nossa caminhada espiritual existe algo que deve ser feito por nós, e às vezes esse algo nos pede esforço e sacrifício, renúncia e coragem para vencer problemas inúmeros. A nossa tarefa é lutar, lutar todos os dias, porque toda a luz nasce do movimento e a inércia é a treva no caminho. Tudo que se faz bem feito, parte de um princípio: gradatividade.

Se queres fazer as coisas de uma só vez, sem obedecer à sequência estipulada pela harmonia divina, nada fazes bem. Até a criação de Deus, na sua grandiosidade, rompe em harmonia e dentro da Sua criatividade, Ele trabalha sempre e nada faz de uma vez. Nada se faz, tornamos a repetir, com passe de mágica; mesmo a nossa cooperação, naquilo que devemos cooperar, deve ser feita de acordo com as nossas forças, e o Senhor não nos pede mais, somente o que suportamos em caminho, porém, não devemos fazer menos do que podemos fazer.

O Espírito, desde a sua gênese, vem se despertando lentamente pelos processos estabelecidos pela lei do progresso e, quando chega a razão, aparece a sua parte a ser feita, e que ele deve fazer no âmbito das suas possibilidades. Deus criou a vida e leis para serem obedecidas; Deus criou os mundos e leis que os governam, assegurando a harmonia universal.

Lembremo-nos todos os dias da gradatividade; nunca parar, mas jamais crescer desordenadamente, sem as possíveis seguranças, como viajores de Deus e de Cristo.



[1] Filosofia Espírita – Volume 4 – João Nunes Maia

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