sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

TRABALHO – DUAS QUESTÕES[1]

 


Antônio Moris Cury - Dezembro/2018

 

Conhecemos algumas pessoas que acham o trabalho pura perda de tempo. Outras, que se dizem religiosas, acham que o trabalho é um castigo divino. Outras, ainda, que não o definem, mas que têm urticária só em ouvir a palavra trabalho, tais o desapreço e a preguiça que têm para com ele, nada obstante vejam que é o meio mais comum para obter o ganha pão de cada dia, assim como conhecemos inumeráveis criaturas (que certamente representam a maioria esmagadora da população) que têm prazer em trabalhar, e através do trabalho obtêm o seu sustento e o de seus familiares, de modo digno. Dão o melhor de si no desempenho de suas atividades, agindo com boa vontade, com competência, com capricho, com esmero e com amor, na certeza de estarem cumprindo, e bem, esta parte que lhes compete realizar.

Como se sabe, vivemos no planeta Terra em regime de interdependência, de tal modo que todos dependemos uns dos outros, direta ou indiretamente. Exatamente por essa razão todos os trabalhos (todas as tarefas, todas as atividades, sejam quais forem), dos mais simples aos mais complexos, são importantes, muito importantes, para que haja o equilíbrio necessário e indispensável às relações humanas e sociais.

A veneranda Doutrina Espírita deixa muito claro que o trabalho é uma Lei Natural e constitui uma necessidade: O trabalho é Lei da Natureza, por isso mesmo constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos[2]. E à questão: Por trabalho só se devem entender as ocupações materiais?[3] esclarece que não, que o Espírito trabalha assim como o corpo, acrescentando algo da maior significância: Toda ocupação útil é trabalho3.

Sendo assim, aqueles que têm aversão ao trabalho, que nele enxergam um castigo, e até mesmo um castigo divino, ou para quem acha que trabalhar é pura perda de tempo, é de todo conveniente registrar com ênfase que o trabalho é uma Lei da Natureza. Acreditemos ou não, enxerguemos ou não, percebamos ou não, queiramos ou não, fato é que somos regidos pelas Leis da Natureza, que valem e se aplicam a todos, sem exceção, que são perfeitas e por isso mesmo imutáveis. Permitimo-nos sugerir a leitura e o estudo da Lei do Trabalho[4], composta por doze perguntas e respostas, acrescidas de comentário pessoal do Professor Rivail, o nosso Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, a fim de que nos inteiremos (e nos esclareçamos) de seu valioso conteúdo e passemos a aplicá-lo em nosso dia a dia, podendo extrair conclusões de enorme importância para a nossa atual existência terrena.

A civilização obriga o homem a trabalhar mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos2, observação feita bem no começo da segunda metade do século XIX, época em que nem mesmo a luz elétrica existia (Edson obteve a lâmpada incandescente apenas em outubro de 1878).  A afirmação estava correta naquela altura do século XIX e, mais fácil de entender ainda, continua correta no atual século XXI, diante do impressionante avanço da Ciência e da Tecnologia, sobretudo nos últimos vinte e cinco anos. O surgimento da Tecnologia da Informação, por exemplo, disseminada por todos os quadrantes da Terra, obriga o ser humano a trabalhar mais, se e quando a desejar ter disponível (e, muitas vezes na atualidade, passa a ser indispensável a sua aquisição e utilização para o cumprimento das tarefas e dos compromissos profissionais de variadíssima ordem) e, por esse modo, aumenta-lhe obrigatoriamente a necessidade de trabalhar. Outras vezes, quando o uso dos equipamentos se destina ao lazer e ao entretenimento, há o aumento da despesa com a sua aquisição (o que exige mais trabalho) e também a fruição dos gozos correspondentes.

Por outro lado, o trabalho, qualquer trabalho, muito contribui para o nosso desenvolvimento, para o nosso aperfeiçoamento pessoal e, como claramente explicado pelo Espiritismo, toda ocupação útil é trabalho, de tal maneira que por trabalho não se devem entender apenas as ocupações materiais, uma vez que o Espírito trabalha, assim como o corpo3.

Além do desafio que por si representa, o trabalho exige de quem o realiza: conhecimento, atenção, cuidado, esmero, aplicação, boa vontade, de tal modo que seja realizado do melhor jeito possível, e de preferência que seja útil. Representa também a oportunidade de aprender cada vez mais e melhor, com o que estaremos nos aperfeiçoando continuamente, ainda que devagarinho, a pouco e pouco. Além de aprender, e podemos aprender todos os dias, por menor que seja o aprendizado, o trabalho em muito auxilia o desenvolvimento de nossa capacidade de pensar, da nossa inteligência, do nosso discernimento.

Feliz, pois, quem trabalha, quem pode trabalhar (porque suas forças o permitem). Ganha o pão de cada dia, de modo respeitável e digno, que o sustenta e à sua família, cumpre a parte que lhe cabe, é útil e cada vez mais útil à sociedade de que faz parte e, por decorrência natural (repetimos para enfatizar e memorizar), aprimora a sua capacidade de pensar e desenvolve cada vez mais a sua inteligência.



[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos - 33ª ed. - Rio de Janeiro: FEB, 1974 - pt. 3, cap. III, perg. 674.

[3] ______. Op. cit. pt. 3, cap. III, perg. 675.

[4] .______. Op. cit. pt. 3, cap. III.

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