quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

RESPONSABILIDADE[1]

 

Miramez


Se uma fortuna foi mal adquirida, os herdeiros serão responsáveis por isso?

‒ Sem dúvida eles não são responsáveis pelo mal que outros tenham feito, tanto mais que o podem ignorar, mas fica sabendo que muitas vezes uma fortuna se destina a um homem para lhe dar ocasião de reparar uma injustiça. Feliz dele se o compreender! E se o fizer em nome daquele que cometeu a injustiça a reparação será levada em conta para ambos, pois esse mesmo quase sempre é quem a provoca.

Questão 809/O Livro dos Espíritos

 

Em tudo o que fazemos, a responsabilidade se apruma a nossa frente, pedindo, no silêncio da nossa imaginação, que entendamos este compromisso. Todos o entendem, mais ou menos, desde quando não deixem se perder as ondas emitidas pela consciência ao raciocínio.

No caso de herança, muitas vezes não se conhece a origem da fortuna herdada, mas, mesmo sem o beneficiário o saber, já é um compromisso assumido, ao pôr as mãos em dinheiro que não nasceu dos próprios esforços. O rico tem oportunidades inúmeras de ajudar aos que sofrem, pela caridade bem conduzida, aquela que não fica somente ciando pão aos que têm fome, mas que lhes ensina quando oportuno, a plantar o trigo.

Riqueza soma responsabilidades no caminho do seu portador. Ela é um empréstimo valioso de Deus para que se possa despertar no coração os sentimentos do amor, através do bem comum que se pode fazer. Quantas riquezas, observamos, estão sendo desperdiçadas em mãos invigilantes, em passeios desnecessários, que em muitos casos complicam a vida, em luxo extravagante que aumenta o orgulho da família, desperta a vaidade e traz sempre junto o egoísmo!

Se veio às tuas mãos a riqueza, pelo trabalho ou por herança, medita nos bens materiais e o porquê da sua existência em teu caminho. Analisa os homens generosos, estuda as grandes vidas e passa a copiar os ensinamentos dos grandes benfeitores da humanidade. O ouro é cego; o seu guia é que responde pelos seus feitos.

Disse Jesus que dificilmente entraria um rico no reino dos Céus, mas, isso nunca é impossível, porque não existe o impossível, onde a caridade é o clima e o amor o alimento. Jesus tem o poder de a tudo transformar, e sempre para melhor.

O rico tem muitas oportunidades de salvar-se porque, pelas suas possibilidades de conhecimento e de vigiar por toda parte, tem oportunidades variadas de perceber com maiores detalhes a vida de Jesus e os benefícios por Ele criados. Certamente que não lhes falta a oportunidade de acesso a muitas obras que falam sobre a vida do Guia Espiritual da Terra, e de perceber, por toda parte, os sinais dos Seus fenômenos. João anotou, no capítulo seis, versículo trinta e seis:

 

Porém, eu já vos disse que, embora me tenhais visto, não credes.

 

A riqueza, para quem tem olhos para ver, permite observar com facilidade a bondade de Deus por toda parte, e o próprio Jesus de braços abertos a chamar para o melhor trabalho que existe na Terra: ensinar aos outros, sem ostentação, a ganhar o seu próprio pão. A agricultura, a fruticultura, a floricultura e outros poderiam ser processos da multiplicação dos pães em tempos novos, promovida pelos ricos, para que os homens vissem o amor de Deus para com Seus filhos.

Também os ricos de conhecimento e de recursos intelectuais deveriam saber como guiar aos que lhes buscam orientação. Entretanto, parece que não veem que todos os meios de comunicação que têm em suas mãos são possibilidades de guiar a humanidade, esquecendo, muitas vezes, seus deveres de verdadeiros guias, lembrando-se apenas de sua posição.

Observemos as responsabilidades dessas heranças, que se não forem bem aplicadas, poderão ser atrofiadas pelo tempo e pela justiça.

Se a herança partiu de uma fonte injusta, pode-se transformá-la em ouro de luz, que ilumina os próprios pervertidos para, no amanhã, corrigirem seus deslizes.



[1] Filosofia Espírita – Volume 16 – João Nunes Maia

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