segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

ARMANDA PEREIRA DA SILVA[1]

  


Nasceu em Portugal, a 24/11/1908, filha de Armando Pereira da Silva e Ana Correia da Silva.

A infância foi tranquila. Sua educação iniciou-se em Portugal, num internato de freiras. Veio para o Brasil com 12 anos de idade. Muito estudiosa, diplomou-se em letras, dominando bem o inglês e francês. Cursou a antiga Escola Nacional de Música, hoje UFRJ, formando-se em piano e canto orfeônico pelo Maestro Villa Lobos.

O destino, porém, reservava-lhe provas duras... A forja do sacrifício pessoal e da resignação fariam parte também de sua educação, como disciplinas obrigatórias para o bom desempenho de futura missão.

Logo que chega à idade adulta, sua mãe contrai uma doença cruel, que produz paralisia progressiva. A jovem e promissora Armanda abandona, então, todos os projetos pessoais, inclusive o noivado, para dedicar-se integralmente à mãe. Assim o fez por várias décadas... Nos últimos anos de vida, sua progenitora só movimentava os olhos.

A esta altura, Armanda já de há muito procurara ajuda e retempero de forças na doutrina espírita, frequentando sessões em um centro no Estácio. As muitas horas à cabeceira do leito de sua mãe eram agora preenchidas com o formidável manancial da literatura espírita, reconfortando-as e, melhor ainda, iluminando-as.

As dificuldades, porém, só aumentavam... Embora não lhes faltassem recursos financeiros, esvaziava-se a cada dia a cooperação humana. Primeiro, seu padrasto adoece; depois, o casamento dos irmãos (tinha dois, Alexandre e Antônio) e outros colaboradores. As horas de consolo e refrigério reduziam-se na proporção em que o acúmulo de tarefas impediam-na de frequentar as reuniões espíritas. A solução foi procurar um centro mais próximo de sua residência, no bairro de Botafogo. Corria o ano de 1963 e, assim, Armanda chegou à CRBBM[2]. Sua mãe desencarnou pouco depois, e mais tarde também seu pai também se foi.

Justo seria que a filha prestimosa, que não teve tempo de ver o tempo passar gozasse, agora, do merecido descanso, depois de quase trinta anos de sacrifícios e vigílias noturnas... Armanda, porém, não confundia descanso com ócio, e decidiu aproveitar as horas, agora livres, dedicando-se à causa espírita. Nessa época, nosso fundador e orientador geral, Azamor Serrão, já estava quase cego e, por isso, estudava braile no Instituto Benjamim Constant. Tendo-o acompanhado por algumas vezes, logo se viu extremamente sensibilizada com as dificuldades dos deficientes visuais, dispondo-se então a acompanhá-lo no estudo da escrita de cegos. Em pouco tempo tínhamos uma nova mestra no ensino da matéria, surgindo, desta maneira, a ideia da Casa formar um grupo de tradutores de livros em braile, tarefa que desempenhou também com extrema dedicação.

Mal sabia, no entanto, que outra missão, tão importante quanto a prova em família, que enfrentara com tanto mérito e dignidade, a aguardava logo em seguida...

É sempre a mesma história: As pessoas que mais anseiam o poder e o comando são, exatamente, as que se mostram mais despreparadas para o seu exercício. As que não o esperam, ou que não se julgam preparadas, quase sempre surpreendem com exemplos de vida, onde humildade, autodisciplina e perseverança compensam, sobejamente, qualquer limitação por inexperiência ou despreparo. Nossa irmã Armanda fazia ‒ e ainda faz! ‒ parte, certamente, do segundo grupo.

Logo em seguida à desencarnação de nosso fundador e Orientador Geral, Azamor Serrão, em 1969, viu-se guindada à condição de Orientadora da CRBBM para sua surpresa e ‒ por que não dizer? - verdadeiro desespero! Tinha então 62 anos! Foram dias e dias de aflição, de receio de não corresponder às expectativas de todos, de comprometer os destinos da Casa... Como a missão lhe havia sido conferida por Bezerra de Menezes (Espírito) e pelo próprio Azamor, juntos, decidiu afinal aceitar o pesado fardo...

Os anos seguintes foram testemunhas de uma verdadeira revolução pessoal. Aquela senhora tímida, solteira, que tinha vivido sempre em prol do lar, que tinha consumido anos e anos de sua vida cuidando da mãe doente, via-se agora à frente de um centro espírita com quase 50 médiuns ‒ hoje, são 150 ‒, contas, pagamentos e toda a sorte de providências que a gestão de uma casa como essa costuma solicitar. Na tentativa de fazer bem, de acertar sempre, avançava sempre nas horas, estendendo o dia ao limite das forças físicas. Acordava sempre cedo, em torno das 5 horas da manhã, trabalhando afanosamente até às 23 horas ou mesmo virando noites, quando julgava necessário, "para botar o trabalho em dia"! Adotou a disciplina como bandeira. A insegurança e o medo de errar pareciam-lhe espinhos permanentemente incrustados na pele... Na dúvida, procurava manter sempre tudo exatamente como havia recebido, preservando assim com zelo férreo as atividades, os horários e a cultura interna da Casa, mesmo que a preço da incompreensão e da crítica dos arautos dos "novos tempos". Quem a via sempre ali, no posto, rígida, forte, "dura", jamais poderia adivinhar o coração puro e a alma grandiosa que habitavam aquele corpo tão pequeno e delicado.

Mais recentemente, aprendeu a língua internacional ‒ o Esperanto ‒ com mais de 80 anos de idade, passando então a lecioná-lo semanalmente para um grupo de alunos.

No dia 08 de setembro de 2000, nossa irmã se foi. O corpo, cansado, não suportou mais a energia intensa desse espírito tão corajoso, tão digno, tão operoso.

Armanda Pereira da Silva foi, é e será sempre entre nós... verdadeiro SAL DA TERRA.

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