Nasceu em Portugal, a
24/11/1908, filha de Armando Pereira da Silva e Ana Correia da Silva.
A infância foi tranquila. Sua
educação iniciou-se em Portugal, num internato de freiras. Veio para o Brasil
com 12 anos de idade. Muito estudiosa, diplomou-se em letras, dominando bem o
inglês e francês. Cursou a antiga Escola Nacional de Música, hoje UFRJ,
formando-se em piano e canto orfeônico pelo Maestro Villa Lobos.
O destino, porém, reservava-lhe
provas duras... A forja do sacrifício pessoal e da resignação fariam parte
também de sua educação, como disciplinas obrigatórias para o bom desempenho de
futura missão.
Logo que chega à idade adulta,
sua mãe contrai uma doença cruel, que produz paralisia progressiva. A jovem e
promissora Armanda abandona, então, todos os projetos pessoais, inclusive o
noivado, para dedicar-se integralmente à mãe. Assim o fez por várias décadas...
Nos últimos anos de vida, sua progenitora só movimentava os olhos.
A esta altura, Armanda já de há
muito procurara ajuda e retempero de forças na doutrina espírita, frequentando
sessões em um centro no Estácio. As muitas horas à cabeceira do leito de sua
mãe eram agora preenchidas com o formidável manancial da literatura espírita,
reconfortando-as e, melhor ainda, iluminando-as.
As dificuldades, porém, só
aumentavam... Embora não lhes faltassem recursos financeiros, esvaziava-se a
cada dia a cooperação humana. Primeiro, seu padrasto adoece; depois, o
casamento dos irmãos (tinha dois, Alexandre e Antônio) e outros colaboradores.
As horas de consolo e refrigério reduziam-se na proporção em que o acúmulo de
tarefas impediam-na de frequentar as reuniões espíritas. A solução foi procurar
um centro mais próximo de sua residência, no bairro de Botafogo. Corria o ano
de 1963 e, assim, Armanda chegou à CRBBM[2].
Sua mãe desencarnou pouco depois, e mais tarde também seu pai também se foi.
Justo seria que a filha
prestimosa, que não teve tempo de ver o tempo passar gozasse, agora, do
merecido descanso, depois de quase trinta anos de sacrifícios e vigílias
noturnas... Armanda, porém, não confundia descanso com ócio, e decidiu
aproveitar as horas, agora livres, dedicando-se à causa espírita. Nessa época,
nosso fundador e orientador geral, Azamor Serrão, já estava quase cego e, por
isso, estudava braile no Instituto Benjamim Constant. Tendo-o acompanhado por
algumas vezes, logo se viu extremamente sensibilizada com as dificuldades dos
deficientes visuais, dispondo-se então a acompanhá-lo no estudo da escrita de
cegos. Em pouco tempo tínhamos uma nova mestra no ensino da matéria, surgindo,
desta maneira, a ideia da Casa formar um grupo de tradutores de livros em
braile, tarefa que desempenhou também com extrema dedicação.
Mal sabia, no entanto, que outra
missão, tão importante quanto a prova em família, que enfrentara com tanto
mérito e dignidade, a aguardava logo em seguida...
É sempre a mesma história: As
pessoas que mais anseiam o poder e o comando são, exatamente, as que se mostram
mais despreparadas para o seu exercício. As que não o esperam, ou que não se
julgam preparadas, quase sempre surpreendem com exemplos de vida, onde
humildade, autodisciplina e perseverança compensam, sobejamente, qualquer
limitação por inexperiência ou despreparo. Nossa irmã Armanda fazia ‒ e ainda
faz! ‒ parte, certamente, do segundo grupo.
Logo em seguida à desencarnação
de nosso fundador e Orientador Geral, Azamor Serrão, em 1969, viu-se guindada à
condição de Orientadora da CRBBM para sua surpresa e ‒ por que não dizer? -
verdadeiro desespero! Tinha então 62 anos! Foram dias e dias de aflição, de
receio de não corresponder às expectativas de todos, de comprometer os destinos
da Casa... Como a missão lhe havia sido conferida por Bezerra de Menezes
(Espírito) e pelo próprio Azamor, juntos, decidiu afinal aceitar o pesado
fardo...
Os anos seguintes foram
testemunhas de uma verdadeira revolução pessoal. Aquela senhora tímida,
solteira, que tinha vivido sempre em prol do lar, que tinha consumido anos e
anos de sua vida cuidando da mãe doente, via-se agora à frente de um centro
espírita com quase 50 médiuns ‒ hoje, são 150 ‒, contas, pagamentos e toda a
sorte de providências que a gestão de uma casa como essa costuma solicitar. Na
tentativa de fazer bem, de acertar sempre, avançava sempre nas horas,
estendendo o dia ao limite das forças físicas. Acordava sempre cedo, em torno
das 5 horas da manhã, trabalhando afanosamente até às 23 horas ou mesmo virando
noites, quando julgava necessário, "para botar o trabalho em dia"!
Adotou a disciplina como bandeira. A insegurança e o medo de errar pareciam-lhe
espinhos permanentemente incrustados na pele... Na dúvida, procurava manter
sempre tudo exatamente como havia recebido, preservando assim com zelo férreo
as atividades, os horários e a cultura interna da Casa, mesmo que a preço da
incompreensão e da crítica dos arautos dos "novos tempos". Quem a via
sempre ali, no posto, rígida, forte, "dura", jamais poderia adivinhar
o coração puro e a alma grandiosa que habitavam aquele corpo tão pequeno e
delicado.
Mais recentemente, aprendeu a
língua internacional ‒ o Esperanto ‒ com mais de 80 anos de idade, passando
então a lecioná-lo semanalmente para um grupo de alunos.
No dia 08 de setembro de 2000,
nossa irmã se foi. O corpo, cansado, não suportou mais a energia intensa desse
espírito tão corajoso, tão digno, tão operoso.
Armanda Pereira da Silva foi, é
e será sempre entre nós... verdadeiro SAL DA TERRA.
[1] http://www.autoresespiritasclassicos.com/Biografias%20Espiritas/A/Biografias%20Esp%C3%ADritas%20Gr%C3%A1tis%20-%20Letra%20A.htm
[2] Casa de Recuperação e Benefícios Bezerra de Menezes -
CRBBM
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