Allan Kardec
Por que todas as
mães que choram seus filhos, e que ficariam felizes se com eles se
comunicassem, muitas vezes não o podem? Por que a visão deles lhes é recusada,
mesmo em sonho, não obstante seu desejo e suas preces ardentes?
Além da falta de aptidão
especial que, como se sabe, não é dada a todos, por vezes há outros motivos,
cuja utilidade a sabedoria da Providência aprecia melhor que nós. Essas
comunicações poderiam ter inconvenientes para as naturezas muito
impressionáveis; certas pessoas poderiam delas abusar e a elas se entregarem
com um excesso prejudicial à saúde. A dor, em semelhante caso, sem dúvida é
natural e legítima; mas algumas vezes é levada a um ponto desarrazoado.
Nas pessoas de caráter fraco,
muitas vezes essas comunicações tornam mais viva a dor, em vez de acalmá-la,
razão por que nem sempre lhes é permitido receber, mesmo por outros médiuns,
até que se tenham tornado mais calmas e bastante senhoras de si para dominar a
emoção. A falta de resignação, em semelhante caso, é quase sempre um motivo de
retardamento.
Depois, é preciso dizer que a
impossibilidade de comunicar com os Espíritos que mais se ama, quando se o pode
com outros, é muitas vezes uma prova para a fé e a perseverança e, em certos
casos, uma punição. Aquele a quem esse favor é recusado deve, pois, dizer-se
que sem dúvida mereceu; cabe-lhe procurar a causa em si mesmo, e não atribui-la
à indiferença ou ao esquecimento do ser lamentado.
Finalmente, há temperamentos que,
não obstante a força moral, poderiam sofrer o exercício da mediunidade com
certos Espíritos, mesmo simpáticos, conforme as circunstâncias.
Admiremos em tudo a solicitude
da Providência, que vela sobre os mínimos detalhes, e saibamos submeter-nos à
sua vontade sem murmurar, porque ela sabe melhor que nós o que nos é útil ou
prejudicial. Ela é para nós como um bom pai, que nem sempre dá a seu filho o
que ele deseja.
Dão-se as mesmas razões no que
concerne aos sonhos.
Os sonhos são as lembranças do
que a alma viu no estado de desprendimento, durante o sono. Ora, essa lembrança
pode ser interdita. Mas aquilo de que não nos lembramos não está, por isto,
perdido para a alma; as sensações experimentadas durante as excursões que ela
faz no mundo invisível, deixam ao despertar impressões vagas; e não referimos
pensamentos e ideias cuja origem muitas vezes não suspeitamos. Podemos, pois,
ter visto durante o sono os seres aos quais nos afeiçoamos, com os quais nos
entretemos e não lhes guardar a lembrança. Então dizemos que não sonhamos.
Mas se o ser lamentado não pode
manifestar-se de uma maneira ostensiva qualquer, nem por isso estará menos
junto aos que o atraem por seu pensamento simpático. Ele os vê, ouve as suas
palavras e, muitas vezes, adivinhamos a sua presença por uma espécie de
intuição, uma sensação íntima, algumas vezes até por certas impressões físicas.
A certeza de que não está no nada; de que não está perdido nas profundezas do
espaço, nem nos abismos do inferno; de que é mais feliz, agora isento dos sofrimentos
corporais e das tribulações da vida; de que o veremos, depois de uma separação
momentânea, mais belo, mais resplandecente, sob seu envoltório etéreo
imperecível, e não sob a pesada carapaça carnal – eis a imensa consolação que
recusam os que creem que tudo acaba com a vida; e é o que dá o Espiritismo.
Em verdade, não se compreende o
encanto que se pode encontrar em se comprazer na ideia do nada para si mesmo e
para os seus, e a obstinação de certas pessoas em repelir até a esperança de
que pode ser diferente, e os meios de adquirir a sua prova. Diga-se a um doente
agonizante: “Amanhã estareis curado, vivereis ainda muitos anos, alegre,
saudável”, ele aceitará o augúrio com alegria; o pensamento da vida espiritual,
indefinida, isenta de enfermidades e preocupações da vida, não é muito mais
satisfatória?
Pois bem! O Espiritismo dela não
dá apenas a esperança, mas a certeza. É por isto que os espíritas consideram a
morte completamente diferente da maneira por que o fazem incrédulos.
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