Encarnado a 23 de outubro de
1895 na cidade do Patrocínio do Muriaé (MG), filho do Capitão Joaquim Olinto de
Freitas e de D. Virgínia Maria de Freitas, e desencarnado aos 11 de março de
1974, no Rio de Janeiro (RJ). Foi de muita luta a sua vida, pois ficara órfão
de pai aos 5 anos de idade, e de mãe, aos 22, mas graças à ajuda dos irmãos
pôde diplomar-se em Farmácia em 1913, na então famosa Escola de Farmácia e
Odontologia de “O Granbery”, de Juiz de Fora (MG). Após dirigir farmácias em
várias cidades mineiras, veio para o Rio de Janeiro em 1924, aí se instalando
como farmacêutico-industrial.
Casou em 1919 com D. Zilfa
Fernandes de Freitas, com quem teve sete filhos, e sobre a qual externou este
agradecimento: “(...) sua valiosa cooperação muito contribuiu para o meu
encorajamento nos momentos difíceis da vida”.
Leitor assíduo de tudo que
dissesse respeito a religiões e filosofias, nelas buscava, em vão, a doutrina
que realmente atendesse aos seus mais recônditos anseios, tornando-se até mesmo
meio cético de tudo, até que em 1932, convidado por um velho amigo para
assistir a uma sessão espírita, aí presenciou tantos fatos inexplicáveis que
ele resolveu estudar o Espiritismo, fazendo-o meses e meses seguidos, através
de incansável leitura de um sem-número de obras espíritas, entre nacionais e
estrangeiras. Surgiu, ao mesmo tempo, no seu próprio lar, uma série de
fenômenos mediúnicos, de indiscutível força comprobatória da teoria haurida nos
livros. Tomou-se, então, um espírita convicto.
Ainda em 1932, ingressou como
sócio remido da Federação Espírita Brasileira. Já em 1933 participava como
delegado de uma Associação Espírita do Rio de Janeiro no Conselho Federativo da
FEB. Eleito sócio efetivo em 1936, Guillon Ribeiro, então Presidente da Casa
Máter, vendo nele um espírita de vasto cabedal de conhecimentos doutrinários,
muito ativo e possuidor de lúcida inteligência, convidou-o às eleições de 9 de
agosto de 1936, sendo eleito e empossado no cargo de Gerente de Reformador,
onde ficou até 1943, quando ascendeu à presidência da Casa de Ismael, neste
posto permanecendo até 22 de agosto de 1970, ininterruptamente reeleito todos
os anos, quase sempre por unanimidade. Foi Presidente da Federação Espírita
Brasileira durante vinte e sete anos consecutivos.
As realizações de Antônio
Wantuil de Freitas dentro do Espiritismo são de uma riqueza extraordinária. Sua
enorme capacidade de trabalho, aliada a invejável descortino intelectual, fê-lo
uma das mais destacadas figuras no Movimento Espírita nacional, um verdadeiro
líder, no mais alto sentido.
Em eruditas e substanciosas
conferências pronunciadas da tribuna da FEB; em escorreitos escritos, sob
variados temas, estampados em Reformador com seu próprio nome ou sob mais de
uma dezena de pseudônimos; em livros, opúsculos, folhetos editados pela FEB,
Wantuil sempre se revelou uma personalidade forte, intransigente na defesa da
verdade, de grande discernimento e de um raciocínio rápido e decisivo.
Em 13 de junho de 1939, ele,
sozinho, defendeu o Espiritismo na Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de
Janeiro, da qual era sócio, contra acirrada campanha movida por alguns dos seus
membros, que até dirigiram moções de desagrado ao Presidente da República e ao
Ministro da Justiça. O acontecido foi amplamente noticiado por importantes
jornais da época, que elogiaram a atitude desassombrada daquele ousado
desconhecido.
Outro fato que repercutiu na
imprensa de então e demonstrou uma vez mais a coragem, o destemor, à impavidez
do Presidente Wantuil de Freitas passou-se no Governo de Getúlio Vargas, entre
1941 e 1945. Recrudescia, nesses anos, mediante Portarias do Chefe de Polícia,
um clima de cerceamento, de perseguição às Sociedades Espíritas, inclusive com
o fechamento, no Rio de Janeiro, de todas elas (também a Federação Espírita
Brasileira), tendo sido criado até mesmo um cadastro policial para o fichamento
dos dirigentes espíritas. Tais absurdos levaram uma comissão febiana, em março
de 1945, à presença do chefe de Polícia, Ministro João Alberto. Wantuil foi o
porta-voz intimorato na defesa dos direitos do Espiritismo, conseguindo
derrubar as infelizes Portarias que impediam às Instituições Espíritas o
direito de se organizarem e funcionar livremente, como a Constituição
prescrevia. Antes disso, certa feita Wantuil teve de comparecer ao Ministério
da Justiça, onde seria interrogado por um verdadeiro tribunal, composto de um
General, de um Almirante e do próprio Ministro. Ele não se intimidou. Falou o
que tinha para falar e, em dado momento, se não fora à intervenção
conciliatória do Ministro, Wantuil seria preso pelo Almirante.
Entretanto, ainda pendiam sobre
a cabeça dos espíritas os artigos 282 e 284 do Código Penal, podendo ser
aplicados a qualquer hora e a bel-prazer das autoridades públicas. Wantuil não
aceitava isto, e, a 16 de julho de 1945, estava frente a frente com o
Presidente da República, Getúlio Vargas, em audiência no Palácio do Catete. Da
conversa que manteve, sanadas as incompreensões, resultou um clima menos
inflexível para com os adeptos do Espiritismo e, se não fora à deposição de
Getúlio, em outubro de 1945, talvez caíssem por terra os tais famigerados
artigos do Código Penal.
Wantuil de Freitas foi diretor
de Reformador durante os vinte e sete anos de sua presidência, levando esse
órgão da Federação a uma tiragem recorde, naquele tempo, de 40.000 exemplares,
tiragem que ele alcançou graças a uma escolha ponderada de todos os artigos,
submetidos a uma revisão rigorosa, seja quanto ao fundo, seja quanto à forma.
Em 1946 criou o Departamento
Editorial da FEB, no bairro de S. Cristóvão, iniciando a construção de prédios
que formariam a “Cidade do Livro”, como ele denominou o conjunto das
edificações. Em 1948 (9 de setembro) começaram a funcionar ali as máquinas
impressoras, “dando início ao período áureo da divulgação do livro e a
incrementação da propaganda em geral”. Só esse empreendimento seria suficiente
para consagrar-lhe à memória ao agradecimento de todos os espíritas.
Outro acontecimento, de
importância vital no Movimento Espírita Brasileiro, foi à realização, a 5 de
outubro de 1949, da Grande Conferência Espírita, no Rio de Janeiro, de que
resultou a Ata de Unificação, pouco depois denominada “Pacto Áureo”. Wantuil foi
o autor dos dezoito itens com que se lavrou essa Ata. Entre suas disposições
estava a criação do Conselho Federativo Nacional, oficialmente instalado em lº
de janeiro de 1950, que continua a pautar suas atividades dentro do que disse
Leopoldo Machado: “Unidade de ação para maior expansão e esplendor da Doutrina
que a todos nos irmana.” Desde a sua instalação até 1º de agosto de 1970
Wantuil presidiu-lhe as então reuniões mensais, com dedicação e sabedoria, com
paciência, bom ânimo e firmeza.
A ele se devem os únicos quatro
selos postais espíritas emitidos no Mundo, tendo o primeiro, de grande tiragem,
sobre o Centenário da Codificação do Espiritismo, em 1957, alcançando
retumbância internacional, através da imprensa e dos mais importantes meios
filatélicos do Planeta. Para conseguir esse selo, Wantuil chegou a ir
pessoalmente ao Diretor Geral dos Correios e ao próprio Ministro das
Comunicações.
Em 1944 surgiu o rumoroso “caso
Humberto de Campos”, em que a viúva do escritor promoveu em Juízo uma ação
declaratória contra a Federação Espírita Brasileira e Francisco Cândido Xavier.
Wantuil imediatamente se pôs em ação, coordenou um grupo de valiosos
colaboradores para ajudarem o patrono da causa, Dr. Miguel Timponi, na defesa,
que ficou pronta em pouco mais de dez dias e fez parte do livro “A Psicografia
ante os Tribunais”. Poucos sabem que durante esse período Wantuil varou noites
adentro no exame de toda a matéria que lhe chegava às mãos, alterando,
acrescentando, suprimindo, sugerindo, para que a peça contestatória fosse
jurídica e doutrinariamente uma obra impecável.
Graças aos esforços do
Presidente Wantuil, assessorado por dedicados companheiros como Antônio
Fernandes Soares, nasceu a sede da Federação Espírita Brasileira em Brasília
(DF), num terreno doado pela Novacap, com escritura assinada, em 1965. A partir
de 1984, a sede central da Federação transferiu-se para Brasília, ficando no
Rio de Janeiro sua sede seccional.
Vários outros episódios em que
Wantuil tomou parte relevante estão arrolados no histórico do Espiritismo no
Brasil, conquanto alguns só sejam conhecidos de reduzido número de espíritas[2].
“Deve-se a Wantuil, com seu
largo tirocínio administrativo e impressionante intuição dos acontecimentos
futuros, a sólida estrutura montada na FEB para servir à Doutrina e ao
Movimento”, assim se expressou o atual Presidente Juvanir Borges de Souza.
Cinco dias antes de sua
desencarnação, Bittencourt Sampaio, pelo médium Olímpio Giffoni, declarava:
“Podemos afirmar-vos que bem
poucos deram tanto em favor da causa espírita: sua dedicação transformou-se em
renúncia do homem comum, para tão somente cuidar da Casa de Ismael”.
E pela médium Maria Cecília
Paiva, um dia após a desencarnação de Wantuil, assim finalizava Bezerra de
Menezes uma mensagem:
“Possa o nosso irmão Wantuil ser
lembrado como o discípulo fiel do Senhor, abençoado por suas mãos generosas e
divinas”.
[1]
http://www.autoresespiritasclassicos.com/Biografias%20Espiritas/A/Biografias%20Esp%C3%ADritas%20Gr%C3%A1tis%20-%20Letra%20A.htm
[2] Para maior e mais detalhado conhecimento da vida e
obra de Wantuil de Freitas, indicamos os seguintes números de REFORMADOR: 1970,
pág. 239; 1974, págs. 101, 112,139; 1976, págs. 63, 93 e 131.
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