Miramez
Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas
seitas, desde a mais alta Antiguidade?
‒ Perguntais antes
se a palavra é natural e porque Deus a deu. Deus condena o abuso e não o uso
das faculdades por ele concedidas. Não obstante, o silêncio é útil porque, no
silêncio, te recolhes, e teu espírito se torna mais livre e pode, então, entrar
em comunicação conosco. Mas, o voto de silêncio é uma tolice. Sem dúvida, os
que consideram essas privações voluntárias como atos de virtude, têm boa
intenção, mas se enganam por não compreenderem suficientemente as verdadeiras
leis de Deus.
O voto de
silêncio absoluto, da mesma maneira que o voto de isolamento priva o homem das
relações sociais que lhe podem fornecer as ocasiões de fazer o bem e de cumprir
a lei do progresso. (Allan Kardec)
Questão 772/O Livro dos
Espíritos
Outro absurdo
qual o de insulamento! Tudo que vai aos extremos, passa a restringir as
possibilidades do bem. A palavra foi entregue ao homem por Deus para ser usada.
Ela gastou milhões de anos para o devido aprimoramento, tal qual se encontra;
como determinarmos o seu atrofiamento?
O silêncio
comedido, por necessidade do aprendizado, é nobre. O absoluto, entretanto, é
erro gravíssimo, que faz esconder esse dom maravilhoso que pode servir,
ajudando a muitos que sofrem, padecendo os processos de despertamento da alma.
Convém notar que tudo obedece ao tempo para que a harmonia se faça para a
alegria de todos.
Ninguém pode
conversar continuamente e o silêncio é o sal, usado com parcimônia, para que se
possa ser mais útil nos trabalhos que compete a cada um fazer. Estas próprias
letras que estão compondo essa mensagem mostram os traços benfazejos do
silêncio, para que se possa compreender o que queremos dizer nestas páginas. O
espaço entre uma e outra é o silêncio.
Assim é tudo
na vida. No entanto, o que condenamos é o silêncio absoluto, que nada regula,
nem transmite para os que têm necessidade de ouvir.
Voto de
silêncio absoluto é uma forma de discórdia, por vezes mais agressiva do que as
palavras ásperas que maculam o coração. Tudo, em seu lugar e em hora certa, é
harmonia de Deus na expressão de amor.
Se não vos tornastes fiéis na aplicação do
alheio, quem vos dará o que é vosso?[2]
A aplicação
do alheio são as leis de Deus. Se, porventura, entrarmos no silêncio absoluto,
podemos fechar igualmente os ouvidos, porque a lei não vai permitir que também
ouçamos aos outros nas suas necessidades. E aí, o que poderá acontecer conosco?
Passaremos a atrofiar os nossos dons, e depois deles esquecidos pela natureza,
estaremos com nossa vida igualmente atrofiada.
Não se deve
fazer voto de silêncio; ele é necessário, mas onde a parcimônia indicar, com o
equilíbrio que o Cristo nos ensinou em toda a Sua vida divina. Devemos
silenciar sim, quando aparecer oportunidade contrária à caridade, nas linhas do
mal, que não precisamos mencionar para os que já conhecem Jesus. Mas devemos
falar e não calar, quando Jesus usar a nossa boca.
O Evangelho
do Mestre é o código de luz que tem a capacidade de direcionar os homens e
almas para Deus, de modo que a harmonia estabeleça o amor nos corações.
Silenciemos, pois, no mal, mas falemos e não nos calemos no bem, como Jesus
disse a Paulo de Tarso. A palavra é força poderosa, por ter nascido do verbo de
Deus que ecoa em toda a criação. Tudo se comunica, cada ser, cada coisa tem sua
linguagem na escala que a vida maior lhe deu.
As seitas que
estabeleceram o voto de silêncio no passado, não o fizeram visando ao mal para
seus profitentes[3],
mas para fazer calar o mal que eles poderiam fazer uns aos outros; foi a
procura dos meios de educação, que vêm com o tempo, alcançando melhor progresso.
Hoje, não há mais lugar para esse exercício primitivo.
Tornamos a
dizer que é louvável fazer o voto de silêncio no que se refere ao mal; em
outros casos, só aquele silêncio de curtos espaços, para dar melhor tonalidade
e compreensão ao assunto. Tudo regulado, qual o tempero na comida. Que Deus nos
abençoe para melhor compreendermos as leis e a vida.
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