Cláudio C.Conti
Considerando a estrutura da
psique conforme apresentada por Carl G. Jung e conceitos da Doutrina Espírita,
podemos dizer que, em algum ponto na caminhada evolutiva, ocorreu uma ruptura
em nosso psiquismo e, neste evento, deveríamos ter buscado a reparação que,
certamente, deve estar disponível para todos. Todavia, em nosso caso, uma vez
que nos encontramos ligados à um mundo de expiações e provas, não tomamos a
postura adequada diante do ocorrido, o que promoveu o aumento dessa ruptura.
Nesse desenrolar, surge o ego e,
assim, perdemos a consciência da finalidade da criação e a substituímos pelas
sensações da matéria, tomando a segunda pela primeira. Como consequência da
postura egocentrista, surge o apego, depois, o orgulho e, por último, o
egoísmo.
Nessa concepção limitada de si
mesmo, de que tudo está relacionado com o seu corpo, o espírito aqui vivente
crê que, quando dorme, ao “perder" os sentidos físicos, se encontra em
completa inconsciência e, por isso, inativo.
Dessa forma, podemos entender as
palavras de Léon Denis, quando diz que “o homem é para si mesmo um mistério
vivo. De seu ser não se conhece nem utiliza senão a superfície. Há em sua
personalidade profundezas ignoradas em que dormitam forças, conhecimentos,
recordações acumuladas no curso das anteriores existências, um mundo completo
de ideias, de faculdades, de energias, que o envoltório carnal oculta e apaga,
mas que despertam e entram em ação no sono normal e no sono magnético[2]”.
Encontramos, na Codificação
Espírita, informação pertinente e clara para o entendimento do que seja o sono
e, também, da sua necessidade para o espírito encarnado.
Partindo do conceito de que
somos constituídos de três partes fundamentais: espírito, perispírito e corpo
físico, Kardec, mostrando clareza profunda, faz um questionamento muito
interessante:
O Espírito encarnado
permanece de bom grado no seu envoltório corporal? A resposta, todavia, é
inesperada, pois, os espíritos responsáveis pela Codificação dizem que é como se perguntasses se ao encarcerado
agrada o cárcere…[3].
Assim, precisamos perguntar que
tipo de espírito se sente num cárcere, porque, em geral, não nos sentimos
assim. Não nos sentirmos em um cárcere será bom ou não? Para respondermos a
essa pergunta, é preciso diferenciar os níveis evolutivos.
Em O Livro dos Espíritos, encontramos a seguinte afirmação:
O sono liberta a
alma parcialmente do corpo. Quando dorme, o homem se acha por algum tempo no
estado em que fica permanentemente depois que morre. Tiveram sonos inteligentes
os espíritos que, desencarnando, logo se desligam da matéria. Esses espíritos,
quando dormem, vão para junto dos seres que lhes são superiores. Com esses
viajam, conversam e se instruem... Ainda esta circunstância é de molde a vos
ensinar que não deveis temer a morte, pois que todos os dias morreis... Isto,
pelo que concerne aos espíritos elevados[4].
Vemos, por esta colocação, que,
para aqueles que se reconhecem como espíritos, o sono é uma oportunidade de se
juntar aos mais evoluídos e aproveitar a oportunidade para o próprio
aperfeiçoamento. Espíritos de um certo nível evolutivo anseiam pela
oportunidade de trabalhos mais elevados. Para aqueles que desejam trabalhar
pela própria evolução, a ligação com o corpo é um tipo de cárcere.
Na continuação do texto em O Livro dos Espíritos, temos que:
Pelo que respeita ao
grande número de homens que, morrendo, têm que passar longas horas na
perturbação, na incerteza de que tantos já vos falaram, esses vão, enquanto
dormem, ou a mundos inferiores à Terra, onde os chamam velhas afeições, ou em
busca de gozos quiçá mais baixos do que os em que aqui tanto se deleitam. Vão
beber doutrinas ainda mais vis, mais ignóbeis, mais funestas do que as que
professam entre vós….
Estando ligados a um mundo na
categoria de expiações e provas, como é o caso do planeta Terra, e em
decorrência do que foi apresentado no início deste texto, a vida orgânica é
tudo o que conhecemos e, por isso, não conseguimos vislumbrar a potencialidade
que todos possuem enquanto espíritos, pois, afinal, somos Criações de Deus e,
como consta no livro A Gênese,
participamos dos atributos da Divindade[5].
Atendo-nos às questões materiais, permanecemos ligados às sensações de prazeres
mais grosseiros.
Revisitando a pergunta sobre
quem se sente num cárcere, fica claro que a resposta positiva ou negativa, para
perceber-se como tal é decorrente do tipo de interesse com que o espírito se
ocupa. Dessa forma, cabe-nos conduzir a mente para interesses cada vez mais
elevados, a fim de que possamos utilizar as horas de sono de forma mais
proveitosa à nossa caminhada na senda evolutiva.
Fonte: Correio Espírita
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